Novamente os Mestres - sim ou não?

O exercício da pedagogia desenrola-se como “tecnologia”, privilegiando nas actividades a “autonomia concretizante” e a “directividade concretizante” (Legrand, in Houssaye, 1996), isto é, o aluno realiza o seu trabalho, não apenas na presença de outro, mas com outro. Nessa medida, surge a tendência para a avaliação/validação de “opiniões e atitudes pessoais” em comparação com atitudes e opiniões de outros. Ora, se por um lado há que encurtar distâncias para que a formação tenha lugar, por outro, a comparação é tanto menos provável quanto maiores forem as diferenças entre um indivíduo e outro. A “ruptura da comparação”, todavia, longe de, por si só, irmanar, pode fazer-se acompanhar por uma “vontade de humilhação”. Assim, há que assimilar o “assemelhável”, procurar similitudes a partir de estatutos socio-profissionais e cognitivos díspares. Em geral, a comparação é ascendente (olhando “para cima”, o indivíduo auto-avalia-se) e descendente (olhando “para baixo” abre-se caminho à auto-valorização). Frequentemente, porém, a comparação ascendente reporta-se a outros “semelhantes a si”, enquanto a comparação descendente coloca sempre o outro em posição desfavorável, ou seja, “a estratégia da comparação ascendente” é “principalmente utilizada em situações em que domina uma norma competitiva” e é tanto “mais sistemática quanto os resultados do sujeito são inferiores aos do alvo”, o que pode desencadear um reforço de “empenhamento”, se não forem deixados ao acaso os ingredientes perversos de certo modo inerentes a todo o processo de comparação. É exactamente o anonimato que melhor interage com a individuação, já que é aí que a ausência de êxito se torna mais mobilizável para a mudança.

A actividade de cooperação implica que não se atinja o objectivo se o outro não o atingir, pois o objectivo é o mesmo, ainda que variem os modos de o alcançar. Se houver distribuição de tarefas “estritamente definidas à partida e diferentes para cada um, a cooperação perde a sua eficácia”. Os meios de expressão cooperativos ganham plena dimensão se se oferece “um espaço de diferenciação e de confrontações interindividuais”, onde surgem eventuais pontos de vista opostos, engendrados numa visão “minimal” do trabalho e susceptíveis de facilitar as “construções cognitivas”, em complemento duma “interdependência funcional” ela própria organizada cognitivamente. Por outras palavras, o espaço em que decorre o trabalho apresenta as características de um espaço social (Monteil, in Houssaye, 1996).

Carlos Sambade, professor da E. S. do Cerco, 17 de Janeiro de 2001


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