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Estudo
Literário - Iracema Iracema (1865) Em Como e porque sou romancista (1873), Alencar externa a opinião de que o fato de ele haver-se casado aos 20 de janeiro de 1864 (mais uma vez ele estava errado: segundo R. Magalhães e Viana Filho ele casou-se a 20 de junho de 1864!), apesar da importância desta data para sua "história individual", não teria tido nenhuma influência sobre a sua "crônica literária", já que também antes ele não fora nenhum boêmio (I, 119s.). Alencar tinha 35 anos e Georgiana Cochrane 18. Já seu primeiro biógrafo, Araripe Júnior é de outra opinião:
Somente a sua nova experiência do "amor de esposo" é que teria possibilitado que desta lenda jorrasse sobre o leitor "um tom inimitável" e "um sopro cheio de um quid divino" :
Em sua auto biografia, Alencar nada diz sobre as circunstâncias em que Iracema foi escrito, de modo que poderiam surgir mal-entendidos sobre o local de sua criação. Madre Maria Celeste Ferreira, em seu trabalho O Indianismo na Literatura Romântica Brasileira (1949), afirma que Alencar teria escrito esta obra no Ceará. Provavelmente ela se deixou levar a esta afirmação pela suposta "Carta ao Dr. Jaguaribe". Lemos aí:
Porém ele prossegue:
Pela biografia de Viana Filho sabemos que Alencar passou os meses de dezembro a março na propriedade de seu sogro, a "acolhedora mansão dos Cochranes", o Castelo. Este "sítio" encontra-se na "Gávea Pequena", uma região hoje chamada "Alto da Boa Vista". Na região do sopé do Corcovado, a atual "Paineiras", ele passara os meses de janeiro a março de 1864 no hotel de Mr. Bennett, já que depois de Diva, Lucíola e dos primeiros capítulos de As Minas de Prata os médicos lhes haviam prescrito absoluto repouso, pois os sinais de avanço, da tuberculose estavam se tornando cada dia mais nítidos. Num de seus passeios ele conhecera seu futuro sogro, o médico e comerciante, inglês Thomas Cochrane, que havia casado com uma brasileira abastada e convidara Alencar ao seu "sítio", arranjado ao gosto dos ingleses. Aí o pobre advogado apaixonou-se pela filha mais velha do abastado inglês e foi aceito na família, que era servida por grande número de escravos. Como disse Viana Filho, com isto aquela região arborizada e montanhosa, para Alencar, transformou-se de um "sanatório" em um paraíso inesquecível." Alguns anos mais tarde Alencar descreve uma parte do seu próprio "romance" no romance Sonhos dOuro, cujo cenário é parcialmente a "Tijuca", isto é, o atual parque nacional da "Floresta da Tijuca". Alencar diz neste romance que primeiramente a Tijuca teria sido ocupada pelos franceses, mas que agora os ingleses dela se teriam apossado, pois, da mesma forma que os jesuítas, eles teriam rapidamente descoberto onde é que se encontram os mais belos e saudáveis recantos do Brasil: "a nossa Tijuca" seria um deles:
Aqui, como ele próprio diz, Alencar escreveu Iracema:
O frescor do ar e o farfalhar das árvores, que a gente parece perceber em Iracema, quando Iracema, a virgem dos lábios de mel, encontra-se com Martim no sertão, reproduz, portanto, a atmosfera do "Alto da Boa Vista" e da "Floresta de Tijuca", a região de lazer próxima ao Rio de Janeiro, onde a temperatura está sempre alguns graus mais baixa que na cidade. No tórrido estado do Ceará uma tal atmosfera é uma raridade, mesmo nas serras do Maranguape ou da Ibiapaba. Sob esse aspecto Alencar criou um "mito", de certa forma um "mito de ambiente", com o qual, ao que parece, de início ninguém no Ceará conseguiu se identificar, pois, de acordo com Araripe Júnior, ele teria sido recebido com muita frieza numa estada posterior em sua terra natal (1873) Araripe Júnior será o primeiro, cerca de dez anos mais tarde (1882), a denominar a província do Ceará "a terra de Iracema". Os pormenores da criação de Iracema são descritos por Alencar em Como e porque sou Romancista:
Também a atitude das rodas literárias é descrita por ele, embora com palavras algo enigmáticas:
Esta obra, no entanto, teria sido bem recebida por todos os jornais e teria inspirado Machado de Assis a uma de suas mais elegantes "revistas bibliográficas" (no sentido de "resenha"):
Também a discussão com Pinheiro Chagas é mencionada com simpatia:
Estas duas primeiras reações se tornaram desde então pares inseparáveis de Iracema; porém, a de um venezuelano, vinda a lume logo após a publicação da lenda numa revista de Venezuela, ficou no esquecimento até que Cavalcanti Proença a descobrisse em 1956, numa reimpressão da revista, e incluísse um fac-símile na "edição crítica" de Iracema.
Opinião de Rachel de Queiroz(1951) Outra prova da profunda atuação e popularidade de Alencar é fornecida por sua conterrânea e parente afastada Rachel de Queiroz (nasc. 1910) num artigo escrito igualmente para a edição completa de 1951 na Editora José Olympio (vol. VIII, Iracema e Ubirajara), e que também foi incluído na "Edição do Centenário de Iracema" de 1965 (José Olympio) e na Edição Crítica de 1979. Rachel de Queiroz refere (1951) que as obras de Alencar (ela tem em mente antes de tudo O Guarani e Iracema) são continuamente publicadas em todas as formas possíveis:
Rachel de Queiroz cita Silvio Romero, que já velho teria dito que Alencar não teria feito mais que criar novos nomes, pois por toda parte andavam "as Iracema, e os Moacires que abundam". (E isto já em vida de Silvio Romero!) Rachel de Queiroz acrescenta que Alencar não apenas haveria difundido estes dois nomes, mas que "chegou a revolucionar os livros de batistério nacionais!" De Norte a Sul existem aos milhares "os Peris, Araquém, Caubi, Jacaúna, Irapuã, Ubirajara, Jurandir, Jandira, Araci". Até nomes comuns de objetos foram usados como nomes de pessoas, como "Juçara, Jacira, Ubiratã". Mesmo o cão Japi teria encontrado "homônimos cristãos", igualmente o adjetivo "Diva" se haveria difundido como nome de pessoa, da mesma forma que Lucíola. Existiriam até lugares no Brasil em que nome Iracema seria o segundo na ordem de freqüência, perdendo apenas para Maria. C. Proença, em 1965, refere sobre a difusão deste nome também entre os emigrantes alemães no Sul, citando o jornalista Fernando Carneiro:
Rachel de Queiroz acha que não se pode pôr em dúvida que Alencar teria criado "tipos que saíram definitivamente do papel impresso para o coração das gentes". Ele teria criado figuras as quais "o sentimento popular" confere uma "existência real":
O povo as teria aceito da maneira como Alencar as criou, mesmo achando os sábios que o seu "indianismo romântico" seria "falso". Com toda a falsidade do seu indianismo romântico, o fato é que o povo não as acha falsas, ama-as e as aceita como perfeitas. Estas figuras aparecem nas "toadas sertanejas", nas cantorias, "nas canções de carnaval, nas anedotas". Também nos lugares relacionados com estas figuras em sua "suposta vida" elas estariam presentes como "fantasmas permanentes". Assim, Parangaba continua a ser "a lagoa onde Iracema se banhava", e a praia onde ela sofreu e morreu chama-se "Praia de Iracema". Frases e pedaços de frases desta poesia teriam passado para a "linguagem comum" transformando-se em clichês que os bons escritores precisam evitar:
Nem sequer Machado de Assis, o "ídolo dos letrados", poderia concorrer com esta "afeição popular". Rachel de Queiroz refere sobre um programa de rádio que ela teria ouvido a pouco, intitulado "Curiosidades Literárias ou coisa parecida". Tratava-se de um programa de auditório com perguntas e respostas. O público deste programa comumente consiste de "elementos das classes trabalhadoras e das chamadas pequena classe média, de instrução em geral primária, quando a tem alguma"; eles seriam:
O locutor apresentou a primeira pergunta:
Ninguém sabia, "o gongo tocou e ninguém identificou Capitu" (a personagem principal de Dom Casmurro - 1900 - de Machado de Assis). Mas quando o locutor, aos gritos, porque estava certo do sucesso, perguntou:
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