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Iracema
Texto do trabalho: Iracema

VIDA E OBRA DO AUTOR

Biografia:

1829: nasce em Mecejana, Estado do Ceará, no dia 1º de maio, José de Alencar, filho do político José Martiniano de Alencar e de D. Ana Josefina de Alencar.

1834: seu pai, já eleito senador, assume a Presidência da Província do Ceará. Deixará o governo em 1837, e reassumirá o posto em 1840, abandonando-o de novo em 1841.

1844: José de Alencar transfere-se para São Paulo, onde cursa os preparatórios para a Faculdade de Direito.

1845: Liga-se de amizade com outros estudantes, escrevendo poemas dentro das convenções da época: o estilo byroniano. Com os seus colegas de 1º ano de Direito, funda a revista Ensaios literários em 1846,
onde publica uma biografia do índio Poti, posteriormente personagens de Iracema.

1848 Já no 3º ano, transfere-se para a Faculdade de Direito de Olinda. Sintomas precoces da doença que finalmente o vitimaria faz com que retorne a São Paulo.

1850: forma-se em Direito, em São Paulo.

1851: inicia a carreira no Rio de Janeiro.

1854: começa a publicar folhetins no Correio Mercantil. Como folhetinista o encontraremos mais tarde nas páginas do Diário do Rio de Janeiro.

1856: dirigiu o Diário do Rio.

1860: como candidato a deputado, viaja ao Ceará para a campanha eleitoral, tendo então conhecido Araripe Júnior, que mais tarde seria seu primeiro e mais completo biógrafo (ver bibliografia).

1861: José de Alencar, deputado conservador.

1864: casa-se com D. Ana Cochrane.

1868: ministro da Justiça do Gabinete Itaboraí.

1870: Alencar, senador, toma atitude de oposição ao Imperador.

1871:Nascimento do seu filho, Mário, futuro escritor.

1875: agrava-se a tuberculose.

1876: viagem à Europa para tratamento de saúde.

1877: no dia 12 de dezembro, morre José de Alencar.

Tido como o consolidador do romance brasileiro, Alencar, Cearense, ocupa lugar alto e central dentro de nosso Romantismo; suas obras influenciaram muito para que fosse definido a formação literária nacional. Seu estilo, um espelho para futuros escritores. O Brasil já não é o mesmo; Alencar, aproveita o ar de autonomia de nosso país, no campo político e intelectual. Ele polarizou a sua personalidade, de forma, que diversas correntes, numa encruzilhada da história literária brasileira, eram a síntese de uma arte tipicamente brasileira. Ele dá o ponta pé inicial, com novas fórmulas, valorizando os assuntos nacionais, na ficção, nas idéias críticas, no ambiente de nosso país. Ele centrou nos temas históricos, regionais ou populares, com sua consciência técnica e artesanal, de forma que os que lhe seguiram só tiveram o trabalho de aperfeiçoar. O debate de Alencar é tão presente, que não se esgota, com contribuição até lingüística, que merece estudo qualificado. Alencar, esqueceu Portugal, na forma de escrever; sua linguagem sintática é simples e de grande força poética. Suas características, marcantes e literárias mostram o aproveitamento de vocábulos, expressões e fraseados nacionais, a valorização da fauna e botânica do país, a ênfase a fantasia nos seus romances regionais, ao seu estilo épico e ao desejo de lançar fundamentos da literatura nacional. O seu estilo, dentro da literatura brasileira, é como o canto do Uirapuru das selvas amazônicas. Lê-lo é ficar, para sempre, extasiado, como se estivéssemos ouvindo-o, por que as suas harmonias têm qualquer coisa de extra-humano, de quase divino.

Alencar não é só isso, é líder da terceira geração de poetas românticos, formada pelo grupo condoreiro, desenvolve uma poesia de cunho político e social. Sendo a maior expressão deste grupo, está vivenciando no Brasil um clima de intensa agitação interna: é guerra do Paraguai, é lutas abolicionistas e propaganda republicana. Ele é um porta-voz das aspirações sociais e seus versos são armas usadas nas lutas liberais.

Alencar se destaca no romance e no teatro.

Produção literária:
1856: Cinco minutos (romance).
1857: O guarani (romance indianista) - Verso e reverso (peça).
1858: O demônio familiar (peça).
1860: Mãe (peça) - A viuvinha (romance) - As asas de um anjo(peça).
1862: Lucíola (romance urbano).
1864: Diva (romance urbano).
1865: Iracema (lenda) -(romance indianista); 1865-66 - As minas de prata
(romance histórico).
1866: Porque sou romancista (ensaio).
1867: A expiação (peça).
1870: A pata da gazela (romance urbano) - O gaúcho (romance
regionalista).
1871: O tronco do ipê (romance regionalista).
1872: Sonhos d'ouro (romance urbano) - Til (romance regionalista).
1873: Alfarrábios (romance) - Guerra dos mascates (1º volume, romance
histórico ) - O jesuíta (peça).
1874 - Guerra dos mascates (2º volume, romance histórico) - Ubirajara
(lenda).
1875 - O sertanejo (romance regionalista) - Senhora (romance urbano).

 

ANÁLISE DA ESTRUTURA DA OBRA

Resumo:

Num Brasil primitivo, no passado histórico do começo da civilização, em plena mata tropical, o português Martim Soares conhece a bela indígena Iracema; ela é uma índia tabajara que, ao ver Martim, um branco de "cabelos cor de sol", atira-lhe uma flecha. Mas logo a seguir quebra a flecha e o salva, levando Martim ao abrigo na taba de seu pai, Araquem, pajé dos tabajaras; Martim é bem recebido por Araquem e mostra conhecer bem os índios.

Iracema e Martim se apaixonam, apesar deste ter uma noiva lhe esperando. Iracema e Martim vivem um amor proibido, pois Iracema era destinada a guardar o segredo das folhas de Jurema, isto é, zelar pelas tradições de seu grupo, o que a obrigava a manter a virgindade.

O interesse entre os dois provoca o ciúme de Irapuã, cacique dos tabajaras, que também desejava a "virgem dos lábios de mel". Por isso, o cacique intima Martim para um combate, que é impedido por Iracema.

Tentando preservar o amado, a heroína propõe uma fuga, contando, neste caso com o auxílio do amigo de Martim: Poti, chefe dos pitiguaras, inimigos dos tabajaras. Apesar dos pretendentes e de Caubi, seu irmão, Iracema foge com Martim, com a ajuda de Poti, um índio potiguara, amigo de Martim e inimigo dos tabajaras. (Poti é um personagem histórico: viria a se tornar Felipe Camarão, um dos combatentes que expulsaram os holandeses do Brasil.)

Na véspera da fuga, a indígena dá a Martim o licor de Jurema, bebida alucinógina que facilita o encontro amoroso dos amantes. Perdendo, portanto, a virgindade, Iracema transgride as regras de suas tradições e partem com Martim, provocando a perseguição de sua gente (os tabajaras). Em seguida, trava-se a luta entre as tribos inimigas (tabajaras e pitiguaras), ocorrendo o aniquilamento dos tabajaras.

Livres dos perseguidores, os amantes se instalam no litoral cearense, vivendo uma vida tranqüila.

Apesar de sentir saudade de sua tribo massacrada, Iracema vivia feliz, enquanto Martim, para saciar sua alma aventureira, viajava com freqüência, acompanhando Poti nas batalhas.

Iracema e Martim vivem felizes no começo. Um dia Iracema engravida e logo11 depois Martim viaja para a guerra. Durante uma dessas viagens Iracema dá a luz à Moacir, "filho do sofrimento" na linguagem tupi. Martim volta, meses mais tarde, da guerra, deprimido e com saudades da terra; entristece involuntariamente Iracema. Ele e Poti lutam mais uma guerra enquanto Iracema dá a luz e é visitada por seu irmão, Caubi, que a perdoa. Quando Martim e Poti voltam, encontram Iracema morrendo, devido à dor e à fraqueza.

Moacir, fica aos cuidados de Martim, que finalmente leva seu filho para a Europa, voltando anos depois, com sacerdotes que convertem seus amigos índios, inclusive Poti(nome cristão: Antônio Felipe Camarão).

Principais personagens:

Iracema, protagonista da história, a idealizada "virgem dos lábios de mel"; não consegue resistir aos encantos de Martim, abrindo mão da tradição de sua tribo, de guardar o segredo das folhas de Jurema, o que a obriga a manter a virgindade; a se apaixona por Martim; Iracema dá alucinógino a Martim, para ele voltar, via sonho a sua pátria; Iracema não resiste e se relaciona sexualmente com Martim. Mais tarde, Iracema ganha um filho de Martim.

Iracema é heroína típica do Romantismo, em torno dela agrupam-se as mais diversas qualidades: graça, beleza, coragem, desenvoltura e dedicação. Martim, Europeu colonizador, é o outro protagonista da obra. Também idealizado, herói branco e de olhos azuis é culto e cristão. Entre outros atributos, encontramos nele a coragem, a lealdade e a honra. Irapuã, cacique dos tabajara, que também desejava Iracema. Araquem, pagé dos Tabajaras, pai de Iracema, que abriga Martim. Poti, amigo de Martim; guerreava e caçava junto com ele.

 

Tempo:

O tempo é psicológico, não dá para precisar, pois o autor, ora é onisciente, ora onipresente. Como narrador intruso, Alencar é do século XIX e a obra Iracema retrata o século XVII.

Espaço:

No capítulo XXXIII, no final do romance, consta que o fato se deu no nordeste do Brasil, cerca do litoral.

"...Martim partiu das praias do Ceará, levando no frágil barco o filho e o cão fiel". (p.40) José de Alencar

Narrador:

Conforme Silviano Santiago (p.15), Iracema foi contada por um narrador, ora onipresente, ora onisciente; no primeiro capítulo, com a palavra "nasci"(verbo na primeira pessoa): "...Uma história que me contaram nas lindas várzeas onde nasci,..."; o narrador se inscreve a si mesmo no texto (cf. o pronome "me" e o verbo na primeira pessoa, "nasci") e dá como origem do relato uma "história" que lhe foi contada à calada da noite, etc.

Conforme Carla Mano (p. 26), no capítulo XXII (o narrador onisciente, em 3ª pessoa, fala da vida tranqüila dos heróis no Ceará e descreve a natureza); "Quadro luas tinham...", "A alegria morava em sua
alma...", "...ela descorria as amenas campinas"; nos mostrando que o narrador prevalece mais em 3ª pessoa.

 

O ROMANTISMO BRASILEIRO E O COMENTÁRIO DA OBRA

O romantismo brasileiro:

Os temas explorados pelo Neoclassicismo já não desperta interesse pelo homem do século XVII, que se mostra descontente, por motivos de transformações na sua mentalidade; a imaginação, sensibilidade e o emocional predominam, em detrimento iluminista. A alma, as paixões, o inconsciente, que são elementos espirituais que criam realidade própria.

O romantismo foi-se espalhando através da Europa, chegando à América e definindo-se no Brasil em 1836, quando Gonçalves Magalhães lançou o seu Suspiros Poéticos e Saudades.

O romantismo chega junto com a Corte Portuguesa (1808), desempenhando prosperidade sócio-cultural na Colônia. A sede do governo e do romantismo é o Rio de Janeiro; este é o centro literário e artístico, com criação da Impressa Régia, da Academia Real de Belas-artes, da Biblioteca Real, do Horto Real e muito mais melhorias. A imprensa da época contribuiu de forma extraordinária para difundir os livros publicados em forma de folhetins, forma esta da divulgação das obras, que eram aceitos pela sociedade do perímetro urbano.

A literatura romântica estava impregnada de nacionalismo, por motivo da independência que se conquistou neste ínterim, com exaltação à pátria, sua história, a natureza selvagem, o índio(símbolo nacional), o sertão, o regionalismo e a vida urbana. Nossos escritores, devido a liberdade nacional dos parâmetros literários estrangeiros, no que tange ao romantismo, criam estilo e vida própria a partir de 1870. Com isto, os brasileiro tiram suas obras das gavetas(que muitas vezes servia até para fazer cigarro com o papel das obras), valorizando-as, não sendo apenas movimento literário, mas um grande marco político e social, que desabrocha a cada dia em nosso solo americano, os ideais de liberdade, com as nossas maneiras próprias de viver com as nossas próprias forças.

Comentário da obra:

Conforme Silvio Santiago (p.10), no prólogo, da primeira edição, José Alencar explica que Iracema é baseada na "inspiração da pátria":

"Essa onda é inspiração da pátria que volve a ela, agora e sempre, como volve de contínuo o olhar do infame para o materno semblante que lhe lhe sorri". (p.10) José de Alencar

Em uma lenda sobre a colonização cearense, que teve como personagem-real o português Martim Soares, regido pelo instinto da nacionalidade, inscrevendo-se de vez no nacionalismo romântico, buscando identidade na obra Iracema, retornando ao passado histórico, da valorização da natureza; trata também da união do homem branco Europeu com uma índia brasileira, bem como foi a origem do estado do Ceará, também no prólogo do livro;

"O livro é cearence". (p.10) José de Alencar

uma tentativa de criar uma lenda para a origem do Ceará, já que Moacir, filho de Iracema e Martim, é o primeiro habitante do Ceará. A descrição da terra é minuciosamente ufanista e as qualidades e linguagem indígenas lembram as de cavaleiros medievais.

Sobre o trabalho: Iracema (Créditos, Introdução, Conclusão, Bibliografia)

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