HISTÓRIA DO PUNK ROCK PELOS SEX PISTOLS



Na segunda metade da década de 70 o rock vivia uma crise de estagnação. Com o sucesso de bandas progressivas como Yes, Pink Floyd, Emerson, Lake and Palmer e Genesis, o rock and roll deixou de ser um ritmo para o corpo, onde os shows eram uma festa para todo mundo, e passou a ser uma espécie de ritual onde o máximo de participação permitida era... ouvir. Os shows dos progressivos eram apoteóticos. Não era só a música que importava, mas também as roupas coloridas e brilhantes, os efeitos de iluminação, os cenários luxuosos e as limusines para quando o show acabasse. O rock tinha se tornado um produto caro, muito caro. Roqueiros não eram mais roqueiros, e sim rock stars. Estrelas, como as de Hollywood. O showbiz era mais importante que a música. Mas, como o mundo é cíclico e as gerações se sobrepõem, surge na Inglaterra, em 1975, o movimento Punk. Um brado de resistencia juvenil contra o cheiro de mofo no rock. A fonte musical do movimento eram os pioneiros do rock e sua música energética, básica, dançante. Três acordes e uma vontade de atingir o convencional, quebrar as regras, desmistificar o "agradável", mostrar a outra face do mundo. IDÉIAS NA CABEÇA E UMA GUITARRA NA MÃO A palavra punk quer dizer algo como lixo, sujo, tosco. Tudo a ver com a garotada inglesa que iniciou a história, e que àquela época vivia uma fodida crise de desemprego, enquanto a rainha em seu palácio usufruia do bom e do melhor. Eles prcisavam fazer alguma coisa para chamar a atenção e a maneira de fazer isso foi via música, e deu certo. A sede do movimento punk foi a loja "Sex", do produtor Malcom McLaren e da estilista Vivienne Westwood, casal prafrentex e cheio de idéias de vanguarda. A "Sex" ficava na parte pobre do elegante bairro londrino Chelsea, e era frequentada por artistas marginais e afins, que adquiriam as criações de Vivienne: roupas de couro negro a acessórios inspirados na arte sadomasoquista. Um dos vendedores da Sex era Glen Matlock, baixista e com uma certa formação musical. Matlock teve a idéia de montar uma banda e convidou dois frequentadores do pedaço: Steve Jones (bateria) e Paul Cook (guitarra). Os três começaram a ensaiar um repertório que ia de Jerry Lee Lewis a The Who, passando por Chuck Berry, Lou Reed, Little Richard e Small Faces. Faltava um vocalista, que apareceu na figura de um garoto franzino com cara de doente mental, mas com uma potente voz: John Lydon. Por ter um dos dentes da frente podre, John começa a ser tratado como Johnny Rotten (Joãozinho Podre) e aceita o novo apelido. McLaren, que já tinha alguma experiência em produção, se encarrega de empresariar a banda que recebe o nome de Sex Pistols (Pistolas Sexuais). Estamos no final de 1975, e os Pistols tocam em todos os lugares possíveis, criando um público interessado naquela música simples, mas tocada num volume ensurdecedor e num ritmo pra lá de rápido. Outro dado importante são as letras, que não deixam pedra sobre pedra, falando de sexo, violência contra a violência, aborto e racismo, num momento em que as pessoas pareciam querer tapar os ouvidos para essas "sujeiras". Com tanto auê em torno da banda, logo pinta a EMI-Odeon interessada em gravá-los. Contrato assinado, a gravadora os leva a um programa de televisão onde vão explicar o que é punk. No meio do papo, Johnny Rotten grita "fuck"(foda-se) se referindo a uma pergunta do entrevistador e com isso o programa é tirado do ar. A TV inglesa tem fama de ser muito careta, e a frase, soou como uma agressão. Agora, todo mundo sabia o que era o movimento punk. Quem não gostou da história foi a EMI-Odeon, que rescindiu o contrato, pagando uma boa bolada à banda. NÃO ESQUENTE OS CULHÕES Os Pistols ganham um novo baixista, Sid Vicious, no lugar de Matlock, que sai "por saber música demais", e passam para a gravadora Virgin, mais aberta à vanguarda. Aqui, gravam o primeiro LP: Never Mind the Bollocks Here's The Sex Pistols (Não esquente os culhões aqui estão as Pistolas Sexuais)(77). Com o disco abriram caminhos para outras bandas da mesma geração e com os mesmos propósitos. O Clash é um deles. Formado por Joe Strummer, Mick Jones, Topper Headon e Paul Simenon, foi a primeira banda a ser contratada por uma multinacional, a CBS. Diferente dos Pistols, o Clash quer falar de política. Entre seus discos mais importantes estão Sandinista! e London Calling. Com o lema do punk, "Do it yourself" (faça você mesmo), ficou fácil para qualquer garoto ou garota montar sua banda. Outro ganho dessa geração foi a confecção de fanzines, uma revista feita de fã para fã, cujo principal objetivo era divulgar idéias e pensamentos, sem interferência de terceiros ou da grande imprensa. Os Pistols acabam em 78, depois de uma turnê pelos Estados Unidos. Johnny, que reassume o sobrenome Lydon, monta a banda Pil, e em 79, Sid Vicious morre de overdose de heroína. O PUNK SOBREVIVE! Em 1981, o movimento punk ressurge no mundo inteiro. Agora com uma maior conciência política e uma música mais veloz ainda. As bandas se chamam Exloited, Discharge, 4-Skins, Vice Squad, Conflict, GBH, The Partisans, Disorder, dentre outras. O público também cresceu, vai aos concertos, compra os discos e fanzines. Também nessa época, o punk se instala no Brasil pra ficar. A cidade é São Paulo, e o local onde se encontram os seus representantes é o centro. Principalmente as grandes galerias, onde predominam as lojas de discos especializadas em rock. A maioria que vai aos encontros já tem suas próprias bandas. E estas possuem nomes bem condizentes com o movimento e com a situação nacional: Olho Seco, Cólera, Lixomania, Ratos de Porão, Indigentes, Negligentes, Extermínio, Zona X, Anarcóolatras e Detenção. O punk nacional aborda os mesmos assuntos que as bandas inglesas, holandesas ou filandesas. A identificação é geral, já que a crise mundial, ou como declarou um representante do movimento no livro "O que é Punk" de Antônio Bivar (Ed. Brasiliense/82): "O punk surgiu na época de crise e desemprego, e com tal força, que logo espalhou-se pelo mundo. E que cada um, à sua realidade, adotou o protesto punk, externação de um sentimento de descontentamento que já existia atravessado na garganta de uma certa ala jovem, das classes menos privilegiadas do mundo".


VOLTAR