Autora: Tayana
Classificação: shipper
Censura: 16
Spoiler: -
Sinopse: O amor consome a alma de Mulder e Scully, mas há
algo que os
separa. Tudo conspira para que se afastem cada vez mais. É
preciso lutar
pela felicidade.
Obs.: A história passa-se na década de 1890. Os personagens
são todos os
mesmos, mesmos nomes, mesmas personalidades, mesmo físico. Só
o que muda
é a a situação e a época. O conflito amoroso é basicamente o
mesmo. Os
motivos é que são diferentes. Tente transportar-se para a
data. As
roupas, os costumes, os diálogos. É uma viagem interessante à
sociedade
novaiorquina do final do século retrasado.
Disclaimer: As personagens presentes nessa fanfic são de
propriedade de
CC, da 1013 e da Fox Network. Utilizados apenas com o intuito
de divertir
os milhões de fãs. Sem fins lucrativos.
Feedbacks: tay.fm@bol.com.br. Por favor, é minha quinta fic e
nunca
recebi um e-mail. Preciso saber se escrevo tão mal assim.
Escrevam
falando o que quiserem, ou apenas para manter um contato e
bater uns
papos
Estrelas
Ele desabou seu corpo ao lado do dela, sobre a cama grande,
respirando
profundamente. Ela sabia como proporcionar-lhe prazer.
Acariciou-a e
olhou para os lábios dela, tencionando beijá-la. Ela
novamente olhava
pela janela aberta do terceiro andar.
"Dana, será que podia prestar mais atenção quando estamos na
cama?" – ele
perguntou grosseiro, sem parecer nem um pouco magoado com a
atitude
displicente dela.
"Não me perturbe, foi uma noite cheia."- ela olhava para as
estrelas,
como sempre.
"Dana, acho que não percebe que é pior pra você me provocar
do jeito que
faz." – ele acariciava-a passando a mão grande pela barriga
delicada
dela.
"Alex, se não está contente, levante-se e não volte mais.
Procure outra
tola para satisfazer-lhe." – ela tinha ódio em seu olhar.
"Não lhe darei esse prazer, Dana Scully." – ele levantou-se e
começou a
vestir-se. – "Não encontrarei uma prostituta tão boa como
você em lugar
nenhum de Nova York." – ele dirigiu-se para varanda onde ela
já estava,
enrolada em seu robe.
"Já que vai passar 3 meses na Europa, procure uma por lá."
"Mas é claro que procurarei."- ele beijou o ombro dela e
virou-se para ir
embora. – "Mas quando voltar ainda será minha. SÓ minha." –
ele abriu a
porta sorrindo. – "Venho amanhã ainda. Quero despedir-me de
você."
Ele bateu a porta. Ela virou-se para ter certeza de que
finalmente estava
sozinha. "Maldito!" E dirigiu-se para sua cama. Precisava
esquecer o
pesadelo que era sua vida.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Na noite seguinte, o Salão Star of the World, estava aberto
para receber
as celebridades que o frequentavam, há mais de 5 anos. Era o
salão mais
conhecido de Nova York. Um lugar refinado, discreto, caro e
divertido.
Permitido somente aos banqueiros, fazendeiros, doutores,
industriais, e
tantos outros ricaços da sociedade novaiorquina da década de
1890.
As meninas que trabalhavam ali eram escolhidas por sua beleza
e classe.
Cada uma pertencia a um dos frequentadores e algumas
divertiam-se com
todos. O preço delas era alto. Eram ao todo 23 meninas, Susi,
a mais
velha de todas, profissional há muito tempo, e Scully, dona
do salão.
Ele entrou, trajando um smoking simples, e sentou-se em uma
das mesas do
canto, pedindo uma taça de champagne. Observava aquele local
tão odiado
pelas mulheres e tão desejado pelos homens. Teve vontade de
conhecê-lo
assim que chegou de sua viagem, mas devido ao luto, teve que
aguardar uma
semana. Agora estava ali, reconhecendo as celebridades da
cidade, que
apresentavam-se nos bailes nobres com suas esposas, mas
passavam a semana
na cama das cocotes caríssimas.
Era um ambiente animado, um pianista divertido, mulheres
belíssimas,
muito charuto, jogo e bebida. No segundo andar,
provavelmente, ficariam
os quartos.
Um homem aproximou-se de sua mesa.
"Com licença?"
"Sim?" – ele observou o baixinho de smoking.
"Não costuma frequentar a casa, não é?"
"Não costumo. Cheguei há uma semana, estava em uma longa
viagem pelo
Oriente..."
"Não sei se sabe, mas não são todos que podem entrar aqui." –
o baixinho
parecia querer ser gentil.
"Tenho dinheiro suficiente para entrar onde quiser." – ele
foi seco.
"Então faz parte da sociedade novaiorquina?"
"Quem é o senhor?" – preguntou encarando-o duramente.
"Oh. Perdão. Esqueci de apresentar-me: Frohike Underwood, ao
seu dispor."
– O sr. esticou a mão para cumprimentá-lo.
"Fox Mulder. Prazer em conhecê-lo."
"Posso sentar-me?" – e diante da afirmativa de Mulder,
sentou-se. – "Pois
não conhece o salão? Vai adorar... se tiver dinheiro pra
gastar. Eu venho
em busca da alegria e do champagne... Estou um pouco velho
para orgias
sexuais. Mas verás como há mulheres belas aqui. Precisa ver
Dana. Ah,
isso sim é que é mulher. Ela tem algo de..." – calou-se pois
a própria
descia.
Trajava um vestido azul-marinho, todo em veludo, pois a noite
de
primavera era fria. Um decote generoso deixava-a sedutora,
mas a rosa
branca presa entre os seios dava-lhe um ar de inocência.
Adornada com os
diamantes, do colar, brinco e pente, que luziam à luz dos
candelabros. A
boca vermelha parecia uma fruta exótica, pedindo uma mordida.
Ele olhava-a como se não acreditasse no que via. Era como se
adorasse a
Vênus de Milo. Sentiu-se prender por aqueles olhos da cor do
céu.
Suspendeu a respiração. E só voltou a respirar quando notou
aquele homem
aos pés da escadaria, oferecendo uma das mãos a ela. Viu
quando o sorriso
dela extinguiu-se e ela tocou a mão dele. Foi recebida com um
beijo e
conduzida pelo salão.
"É Dana." – Frohike falou.
"É uma cocote?" – ele perguntou, perdendo-a de vista.
"Não fale assim aqui dentro. Há homens que matam por elas."
"Como assim?"
"É apenas um conselho para que não se meta com ela. Pode
aproximar-se,
reverenciá-la, sorrir-lhe. Mas nada mais. Ela é de Krycek,
Alex Krycek. É
apenas o conselho que lhe dou, se é que tens amor à vida."
"Dana, o nome dela?"
"Dana Katherine Scully. É a dona deste salão. Os homens que
sonham com
ela e tentam aproximar-se, passam horas sob as janelas do
quarto dela, no
terceiro andar, esperando vê-la na varanda. Mas ela o ama.
Ama Krycek
mais do que a si mesma. Não há homem que desvirtue-a de seu
amor."
"Ela não parece feliz com ele."
"Ora, como pode garantir isso. Eu, sim, posso garantir-lhe
que ela o
venera. Nunca esteve na cama com outro homem, desde que o
Star of the
World abriu, há cinco anos. Ela o obedece e lhe dá prazer.
Creio que só
amando-o poderia suportar ser a segunda na vida dele."
"Segunda?"
"Ele é casado. E tem filhos."
"Mas ela não é feliz..."
"Por acaso é astrólogo para saber sobre os sentimentos da
moça?"
"Não. Sou psicólogo. Formei-me em Oxford, há seis anos."
"E pode ler as almas?"
"Não. Posso ler as expressões. Com licença. Tenha uma boa
noite." – e
retirou-se, não sem antes lançar um último olhar à moça de
cachos ruivos
que ria abertamente, cercada por suas meninas.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Dana penteava-se em frente ao espelho, tinha acabado seu
banho e deveria
arrumar-se. Era a primeira noite dela sem Krycek, o que a
deixava muito
feliz. Susi bateu na pesada porta de madeira do único quarto
do terceiro
andar.
"Dana?"
"Entre, querida."
"Chegaram flores."
"Não encomendei, você mudou o dia de encomendas?"
"Não, Dana. Não são as flores para o adorno dosalão. São para
você."
Scully virou-se no banquinho da penteadeira para fitar a
amiga.
"Para mim? Krycek não me manda flores."
"Não são de Krycek. Olhe só." – e adentrou o quarto com duas
dúzias de
rosas brancas. – "A letra no cartão não é dele."
"E o que diz o cartão?"
"Para Dana Katherine Scully. Apenas isso." – disse entregando
o bouquet à
amiga. – "São lindas..."
"Coloque-as no vaso do piano e jogue o cartão fora. Se Alex
ver, vamos
ter problemas..."
"Alex já embarcou rumo a Europa. Pare com essa paranóia e
aproveite estes
3 meses de liberdade, Dana."
"Sabe que tenho medo dele..."
"Depois de tudo o que passou não deveria temer nem o
inferno." – Susi
finalizou retirando-se.
Naquela noite, o vestido era de cor creme, adornado de flores
do campo
laranjadas, que contrastavam com os corais que pendiam em seu
colo e
destacavam os seios alvos que saltavam pelo corpete. Dessa
vez quem foi
recebê-la foi um senhor calvo, de óculos redondos. Dessa vez
ela não
desmanchou o sorriso. Tratou-o com dois beijos estalados na
face. Podia-
se ver como eram amigos. Frohike aproximou-se de Mulder.
"Mister Mulder! Achei que não viesse." – eles trocaram um
aperto de mãos.
"Não pretendia, mas vim."
"Não conseguiu esquecer-se dela não é? Venha, vou apresentar-
lhe as
moças, querem lhe conhecer."
"Quem é o careca?"
"Walter Skinner. Banqueiro. Dono do Sant Carmen. Grande amigo
de Krycek,
e grande amigo dela, consequentemente. Frequenta o salão
desde que
abriu."
O Sr. Underwood apresentou Mulder às meninas que logo deram
mostras de
gostarem do porte do forasteiro. Logo que foi apresentado ao
primeiro dos
homens, ele foi reconhecido:
"Mulder? É o sobrinho de J. Tompson Mulder?" – perguntou o
juiz dando uma
tragada em seu charuto.
"Sim, senhor."
"Mas era um garoto a última vez que lhe vi. Já fazem mais de
10 anos.
Onde esteve?" – ele levava-o para junto dos homens que
estavam em uma
grande mesa com algumas garotas no colo.
"Oxford. Formei-me Doutor em psicologia. Depois estive nas
Índias,
durante seis anos."
"Voltou pela morte de seu tio?"
"Não. Não sabia que havia morrido. Soube assim que aportei,
mas já iam
duas semanas do óbito."
"Meus pêsames. Pretendes tocar a fábrica de têxteis de teu
tio, no
Canadá?"
"Ainda não sei o que farei."
"Pois deixe-me apresentá-lo: Sr. Skinner e Helena, Sr. Kersh
e Louise,
Sr. Damon e Mary, Sr. Glaston, Sr. Devire, Sr. Calmon."
Mulder cumprimentou a todos e sentou-se, aceitando o convite
para uma
taça de champagne. A discussão sobre a evolução das fábricas
estava
acirrada, alguns eram contra a implantação de um novo tipo de
imposto,
outros a favor, uns falavam mal dos ingleses, outros
defendiam-nos.
Mulder deu sua opnião:
"Generalizam demais. Não estou defendendo os ingleses porque
sou um, ou
porque estive lá mais de 5 anos. O que digo é que acho que o
imposto
deveria ser igual para todos os países. Se cobramos tanto da
França,
devemos cobrar tanto da Inglaterra. É algo lógico e justo
se..." – Mulder
foi interrompido por alguém que aproximava-se da mesa.
"Pois temos cá um defensor da coroa?" - Dana disse
sarcasticamente.
Ele olhou-a ligeiramente assustado. Finalmente ela trocava
uma palavra
com ele. Encararam-se. Sr. Spender quebrou o gelo.
"Mister Mulder, esta é a Senhorita Dana Scully, proprietária
do Star of
the World." – ela apenas acenou com a cabeça e lançou-lhe um
olhar
maldoso. Ele permaneceu embevecido. Tomou uma atitude:
levantou-se, pôs-
se à frente dela e beijou-lhe cortesmente a mão.
"Senhorita..."
"Perguntei-lhe se veio ao meu salão defender a rainha?" – ela
parecia
satisfeita em provocar-lhe.
"Não venho defendê-la, mas também não a ataco. Não tenho
motivos. A
senhorita os tem?" – era ele quem fazia uma pergunta
constrangedora.
"Eu os tenho." - ela respondeu pra a surpresa dele. – "Foram
os malditos
ingleses que mataram meu pai. Antes disso, mataram quase
todos os meus
familiares que habitavam o leste europeu. Preciso de mais
motivos para
odiá-los?" – ela falava com ódio.
"Desculpe-me, madame. Não pretendia remetê-la à tão duras
lembranças." –
ele tinha uma expressão serena e olhava-a no fundo dos olhos.
Aquilo
desarmou-a e ela perdeu o semblante irritadiço que
sustentava.
"Não há problema." – chegou a sorrir. – "Também não posso
desrespeitar
seu direito de dizer o que pensa."
"Agora peço licença. Tenho muito o que fazer pela manhã." –
ele levantou-
se. – "Senhores, senhoritas." – e inclinou-se, despedindo-se.
– "Madame."
– e sorriu-lhe, retirando-se em seguida. Ela não pôde evitar
acompanhá-lo
com os olhos. Aproximou-se de Susi.
"Viu-o?" – perguntou Scully.
"Vi. E vi a ti, também." – a amiga sorria disfarçadamente.
"O que quer dizer?"
"Achei-o delicioso. Deu-me vontade de mordê-lo." – e passou a
língua nos
lábios, sedutoramente. – "Viu os olhos dele?"
"Não." – Dana parecia irritar-se com a conversa.
"Pois então viu. Sei quando muda de humor por causa de
homens. Ele parece
saber como alterá-la. Como é o nome dele?" – ela perguntava
provocando a
amiga.
"Ora Susi, não me atormente." – e apanhou uma taça de
champagne virando-a
rapidamente.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
No dia seguinte um novo ramalhete chegou, eram flores do
campo. A mesma
letra, mas sem assinatura.
Naquela noite ela presenteou os olhos de Mulder com um belo
vestido verde
da Prússia, de cetim. Seus cabelos vinham adornados por
pequenas rosas
vermelhas e as jóias eram esmeraldas escuras com brilhantes.
No meio da
noite, Mulder estava em uma das janelas do grande salão,
observando algo
que dominava toda sua mente, tanto que ele não percebeu
quando ela se
aproximou.
Dana tinha uma taça nas mãos, e balançava o champagne sem
vontade de
sorvê-lo. Olhou para o forasteiro, a 3 janelas de distância,
assumiu a
mesma posição dele e passou a observar as estrelas do céu
limpo, de final
de primavera. Ele virou a cabeça para ela, mas não fez menção
de
aproximar-se. Ignorou-a. Ela notou a atitude a dirigiu-se à
janela ao
lado dele, fingindo que não o via, também. Encostou-se no
parapeito e
deixou a brisa sacudir-lhe os cachos compridos.
"Tens saudades da Inglaterra?" – ela perguntou sentindo
necessidade de
conversar, mas não virou-se para ele. Quem os visse não
acharia que
estavam trocando algumas palavras.
"Nenhuma." – ele respirou profundamente. – "E tu, tens
saudades de teu
namorado?"
"O que faz aqui? É mesmo sobrinho de J. Mulder?" – ela não
respondeu à
pergunta dele. E sobrepôs com outra pergunta.
"Conheceu-o?" – nenhum dos dois estava disposto a abrir-se.
"Com licença, acho que não estás disposto a conversar." – ela
apanhou a
taça sobre o parapeito.
"Fique, quero conversar." – ele disse com um tom de voz quase
suplicante
o que a fez parar. – "Sou sobrinho dele sim. Estava em
Oxford, e, depois
de uma longa viagem, resolvi voltar para vê-lo. Mas cheguei
tarde."
"Agora é o responsável pelas fábricas?"
"Sou tudo o que restou da família. Ele não teve herdeiros e
deixou todos
os seus bens para mim." – ele não parecia nem triste, nem
alegre.
"Então deve estar alegre pela morte do velho..." – ela
parecia querer
provocar.
"Pode não lhe parecer, mas não sou como os homens que
frequentam este
salão. Meu tio era tudo o que tinha. Nunca tive pai ou mãe e
no entanto
ele criou-me como seu sucessor, sem nunca exigir-me nada. Eu
pouco dei em
troca." – agora ele parecia triste.
"E no entanto passou onze anos fora, sem nem ao menos vir
fazer-lhe uma
visita."
"Como sabe que estive onze anos fora?" – ele irritava-se.
"Ouvi dizer."
"Quem lhe disse não conhece os meus motivos."
"E quais são seus motivos?" – ela perguntou com um sorriso
maldoso,
esperando pela desculpa dele.
"Porque lhe contaria, se tudo o que fizeste, desde que
aproximou-se de
mim, é tratar-me mal e arranjar motivos para discutir?" – ele
estava
realmente desconfortável com a conversa, mas não conseguia
afastar-se
dela.
"Desculpe, mas creio que tu é quem provoca essa situação." –
ela havia
perdido seu sorriso.
"E eu creio madame, que tu procuras tratar mal àqueles que
não se jogam
aos teus pés, pura e simplesmente, por prazer." – ela
irritou-se e
entornando a taça cheia que estava em suas mãos respondeu-lhe
a altura.
"E eu creio, senhor, que os anos de clausura em Oxford,
fizeram de ti um
homem grosso e intratável." – ela retirou-se.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
No dia seguinte, enquanto Calih, empregada de Dana, fechava o
espartilho
de sua senhora, Susi adentrou o quarto com um sorriso.
"Adivinhe só o que acabou de chegar?"
"O que, querida?" – Dana sorria de um modo safado.
"Três dúzias de rosas vermelhas anãs. Olhe só." – e expôs o
gigantesco
bouquet.
"E, novamente, um estranho as manda?"
"Exatamente. Sem nome, sem endereço."
"Percebeu alguma coisa?"
"Como o que, por exemplo?"
"São as flores que eu uso no salão na noite anterior. Rosas
brancas,
flores do campo e rosas anãs."
"É verdade..." – Susi sorria. – "Então ele é um homem
observador."
"Vejamos se repara nas de hoje." – Dana sorria, marota.
"E quais serão?"
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Mulder teve inveja de Skinner quando Dana pousou suas mãos na
mão do
velho. Ela trajava um azul bebê de bordados ingleses e
jasmins que
desciam pelos cachos ruivos. As pedrarias eram azuis também.
Água-
marinha. Ela sorria para todos e dirigiu, ao forasteiro, um
sorriso doce,
como se não se doe-se pelo desentendimento da noite passada.
Antes do fim da noite, quando todos disputavam uma intensa
partida de
pôquer ele aproximou-se dela, que estava ao piano tocando uma
antiga
canção. Ele notou que ela já havia tomado 3 taças de
champagne, pois
estavam vazias, sobre o tampo do piano.
"Senhorita?" – ela não respondeu, apenas manteve seu olhar
fixo nas rosas
anãs, concentrada na melodia. – "Confesso que pensei no que
disseste
ontem. Acho que devo-lhe desculpas."
"Apenas mude seu modo de tratar-me. Assim compensará suas
grosserias."
"Sinto-a como uma menina bem criada, prendada, cheia de
dotes. Creio que
tens estudo." – ele apoiou-se no piano fitando-a docemente.
"Se acha que, só porque sou uma mulher de diversões, não sou
culta, está
enganado. Tive uma vida normal até a morte de meu pai." – ela
evitava o
olhar dele.
"Foram os ingleses que o mataram?"
"Meu pai era capitão da marinha americana. Os ingleses
afundaram o navio
dele."
"Porque?"
"Sinceramente, não sei. Não estávamos em guerra e poucas
explicações nos
foram dadas. Deixaram a mim, a minha mãe a a minha irmã,
entregues a um
mundo ao qual não podíamos sobreviver sem ele. Não só pela
pessoa que
era, mas também pela renda." – ela parecia triste com as
lembranças e
fixava os olhos num ponto distante, do outro lado do salão.
"Quando foi isso?"
"Há mais de dez anos."
"E sua mãe e sua irmã?"
"Morreram." – ela parecia cada vez mais irritada, errando as
notas da
canção.
"E você?" – ele parecia querer aprofundar-se na vida dela.
"Morri também." – ela respondeu, parando a música e
levantando-se. Virou
mais uma taça cheia.– "Não gosto desse assunto."
"Com licença." – ele fez menção de retirar-se, bastante
sério.
"Não, fique. Não quis dizer que não queria conversar. Apenas
mudemos de
assunto." – ela apontou para as janelas ao fundo.
"Tens o Star of the World há cinco anos?" – ele perguntou
sorrindo.
"Tenho." – ela sorriu também. Não pôde evitar perder-se no
sorriso dele,
nos lábios carnudos. Respirou profundamente. – "Eu e Susi
viemos para
NovaYork, compramos a casa, decoramos, escolhemos as meninas.
Desde que
abrimos é o local mais bem frequentado da cidade, nem o
teatro reúne
tantas celebridades." – ela divertia-se com o assunto.
"Conheci um salão na Inglaterra onde todas as meninas eram
africanas e
asiáticas, a decoração era indiana. Confesso que foi daí que
surgiu minha
curiosidades pelo Oriente." – ele entregou-lhe mais uma taça
de
champagne.
"Apaixonou-se por uma delas?" – ela sorria.
"Nunca me apaixonei, senhorita. Mas souberam como atiçar
minhas vontades.
Assim que conclui Oxford fui às Índias." – ele admirava a
beleza dela por
trás daquele sorriso alegre.
"Conhece Calicute, então?" – ela parcecia maravilhada.
"Morei alguns meses por lá. Mas andei muito pelo interior,
conheci as
pobrezas daquela terra, milhares de pessoas passando fome.
Mas conheci a
riqueza cultural, as religiões, as festas. É um lugar
maravilhoso." – ele
gostava do assunto.
"Uma vez li na Georgia um livro sobre o Oriente. Confesso que
tive
vontade de conhecer o lugar."
"Morou na Georgia?"
"Algum tempo, antes de vir pra cá." - ela demonstrou o
desconforto que a
pergunta lhe provocou. Tomou vários goles do líquido que
borbulhava em
sua taça. – "E o que fazia lá?" – ela voltou à conversa
anterior.
"Não pude exercer a psicologia. Mas fiz estudos interessantes
junto aos
ministros ingleses e à igreja."
"E bandonou tudo?"
" Não. Decidi que era hora de voltar."
"Então, fugiu." – ela sorria, divertida. Apanhando mais
bebida. Começava
a ficar alta.
"Sou um homem de caráter, porque acha que eu fugiria de um
país tão
fascinante?" – ele também sorria divertido.
"Talvez tenha tentado algo contra uma dama e fugiu do
casamento?..." –
ela brincava insinuante. Mas o sorriso que ele mantinha
desapareceu
rapidamente. Ele ficou um pouco nervoso.
"Porque dizes isso?"
"Porque disse que nunca se apaixonou, mas provavelmente já
deve ter tido
problemas com moças que se apaixonaram por ti." – ela, mesmo
séria,
mantinha um olhar penetrante. Toda a conversa era travada
olho no olho,
como se quisessem saber quem era mais forte e sustinha por
mais tempo o
olhar atrevido do outro.
"Realmente, mas não criei problemas na Índia." – foi a vez
dele
demonstrar o quanto a conversa lhe era desagradável. -
"Conhece a
América do Sul?"
"Não. Mas já ouvi algo sobre o calor e a riqueza. Nosso café
é de lá,
não?"
"Sim. Tenho vontade de conhecer o Brasil. Espero poder viajar
o mais
breve possível. Conhecer paraísos perdidos."
"Sinto em você um espírito de liberdade." – ela tinha um
olhar doce.
"Tens boa intuição. Mas também sinto isso em ti." – ele
sugava o doce da
expressão dela.
"Um homem como tu não poderá se casar..."
"Um homem como eu precisa, antes de mais nada, antes da
própria
liberdade, encontrar alguém que lhe dê uma razão para viver."
– ambos
estavam sérios, olhando-se fixamente. Ela preparou-se para
dizer algo,
mas foi interrompida:
"Dana?..." – era Susi quem chamava de longe. Scully acenou em
resposta e
dirigiu-se a Mulder.
"Eu... volto logo. Tenho que despedir-me de alguns senhores."
– ela
parecia não ter gostado da intromissão.
"Eu preciso ir também. Tenho providências a tomar sobre a
questão da
fábrica de meu tio." – ele mostrava, em seu olhar, o quanto
queria ficar.
"Voltas amanhã?" – ela parecia pedir.
"Farei o possível para vir..." – eles não queriam separar
seus olhos.
"Eu o aguardarei... gosto de conversar com o senhor." – ela
completou a
frase.
"Também posso dizer o mesmo." – e tomando a mão delicada,
curvou-se e
depositou um beijo delicado. Ela retribuiu com um sorriso e
conduziu-o
até a saída.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Os dias passavam normais, com todos os afazeres do salão. A
flor sempre
chegava antes do almoço. Era sempre um bouquet das mesmas
flores que ela
usava na noite anterior. A noite era preenchida por longas
conversas com
o forasteiro que, apesar de contar muitas coisas
interessantes, parecia
evitar aprofudar-se em sua vida. Mas ela reagia da mesma
forma e ele
pouco sabia do passado dela.
Não havia uma noite, durante algumas semanas, que eles não
tivessem uma
grande discussão. Mas também, não havia uma noite em que a
troca de
olhares fosse intensa. Principalmente após muita bebida,
quando ela
permitia demonstrar alguma coisa. A relação tornou-se uma
intensa amizade
que já não passava despercebida a nenhum dos frequentadores
do Star of
the World.
Scully, ao mesmo tempo que necessitava de Mulder, como amigo,
como
companhia, como confidente, temia que a proximidade caísse
nos ouvidos de
Krycek. Ainda faltava um mês e meio até que ele chegasse, mas
o risco era
grande, independente do tempo. Ela temia Alex de qualquer
modo.
Quando Mulder, por algum raro motivo, faltava às recepeções
da noite,
Susi percebia o quanto o humor de Dana alterava e ela se
tornava
irritadiça e tinha dores de cabeça. Ela deixava o salão e
refugiava-se em
seu quarto, sem admitir uma causa concreta para seu estado.
Durante um dos almoços na casa, o assunto que formou-se entre
as meninas,
foi o forasteiro dos olhos verdes. Dana permaneceu a parte,
concentrada
em sua refeição, mas quando comentaram o fato de ele não
pedir nenhuma
das garotas para sua cama, o que provocou um riso geral e
apostas de quem
seria a primeira a tê-lo, Scully levantou-se furiosa,
derrubando sua
cadeira para trás.
"Respeitem a mesa em que comem. Vou lhes dizer uma coisa: não
quero
comentários sobre Fox Mulder durante o dia, em nossa casa. E
também não
as quero envolvidas com ele." – finalizou a ordem retirando-
se.
"O que houve com ela?" – Mary perguntou, assustada com a
reação absurda
dela.
"Obedeçam-na. Eu vou ver o que há." – Susi foi atrás da
amiga.
"Claro está que o forasteiro lhe provoca mudanças..." –
Helena sorria.
"Mais claro está que o problema é ciúme." – Lia provocou.
"Independente do que for, é melhor esquecermos o que
aconteceu. Se Krycek
souber de algo, Dana terá sérios problemas." - Louise
terminou a
conversa maldosa.
Susi nada conseguiu arrancar da amiga, tudo que obteve foi
uma briga
homérica. Os gritos eram ouvidos do térreo. A amiga pedia
para que Dana
abandona-se a prisão em que vivia e permitisse que um
sentimento bom a
invadisse. A ruiva, por sua vez, dizia que havia sofrido
demais e,
consequentemente, aprendido muito, para deixar-se levar pela
vida e
cometer os mesmos erros. Nessa noite ela não desceu e Mulder
ficou a
esperá-la assistindo às partidas de cartas, entediado.
Pediu a Susi para vê-la, mas a loira foi delicada, dizendo-
lhe que não
haveria como, ela dormia. Ele fez então um bilhete e pediu
que fosse
entregue. Foi embora.
No dia seguinte, quando Dana leu a pequena carta, reconheceu,
imediatamente, a letra. Quando um bouquet de dentes-de-leão
chegou, antes
do almoço elas perceberam que as flores vinham sendo enviadas
por Mulder.
O bilhete pedia um encontro. Ele disse que estaria no salão
às 2 da
tarde.
Mulder foi pontual e esperou-a numa pequena sala ao lado do
salão
principal. Ela aproximou-se feliz.
"Mister Mulder?" – ele levantou-se e apanhou a pequena mão,
levando-a em
direção aos lábios, os quais prendiam a atenção de Dana.
"Já lhe disse que fica linda de azul?" – ela sorriu
timidamente.
"Nunca."
"Mas fica, combina com seus olhos. Há muito tempo não via
olhos azuis. O
povo oriental tem olhos escuros." – ela sorria. – "Vim saber
se está bem.
Não desceu ontem."
"Estou, tive dor de cabeça, achei melhor dormir." – ela
sentou-se na
cadeira a frente dele. – "Porque dentes-de-leão?" – ela
sorriu, marota.
Ele surpreendeu-se.
"Descobriu?" – ele parecia ligeiramente sem-graça. – "Não
achei que fosse
perceber. Foi a letra do bilhete, não?" – e diante da
afirmativa dela,
completou. – "Como não sabia que flores mandar, pois não
tinhas usado
nenhuma, uma vez que não desceu para a recepção, mandei
flores alegres,
para colocar um sorriso em seu rosto."
"Tens razão. São coloridas, alegraram meu quarto." – ela
tinha um olhar
profundo de agradecimento. Era incrível como em tão pouco
tempo eles
entendiam-se tão perfeitamente, só com os olhos.
"Sabe, Dana... eu estive pensando, e queria contar-lhe algo."
– ele
parecia confuso.
"Pode falar o que quiser..." – ela sentiu um certo medo das
revelações
que estavam por vir.
"Eu..." – ele não sabia por onde começar. – "Nunca lhe contei
sobre minha
vida, não é?"
"Eu sempre notei que o assunto lhe fazia mal, por isso nunca
insisti. Mas
não nego que tenho certa curiosidade..." – ela queria ajudá-
lo a se
abrir.
"Eu sou filho de ingleses, mas meus pais morreram muito cedo
e meus tios
criaram-me, como um filho. Ao completar vinte anos fui
mandado a Oxford.
Meu tio tinha um verdadeiro império no Canadá, podia exigir
de mim que
ficasse e tomasse conta de tudo, mas, ao invés disso,
conduziu-me para a
carreira que tanto me fascinava."
"Dava mostras, desde cedo, de querer a psicologia?" – ela
estava
interessada.
"Dava, lia muito sobre o assunto. Ele pagou todo o custo do
meu luxo e eu
fiquei por lá cinco anos, apenas estudando. Confesso que
estudava um
período e fazia farra nos outros dois. Durante todos esses
anos eu tive
muitas mulheres em minha cama, não posso nem sequer fazer as
contas. Mas
antes de me formar, conheci um moça, filha de um lorde, era
uma amiga,
fingia-se de ingênua mas era uma peste. Disse-me que tinha
dezenove anos
e nós quase nos aproximamos de um relacionamento. Até que eu
fui
convidado para o baile de debutante dela."
"Ela tinha 14 anos?" – Dana divertiu-se.
"Tinha. Me enganou durante 3 meses. Mas não aparentava em
nada uma
menina. No dia do baile o pai anunciou o casamento dela com
um rico
industrial. Eu, obviamente, afastei-me dela. Mas perseguia-me
onde eu ia.
Até que embebedou-me e acabamos na cama. Disse que, caso eu
não me
casasse com ela, contaria ao pai. E foi o que ela fez, diante
da minha
recusa, mas o velho lorde contrariou os planos dela. Ela
casaria com o
ricaço, pois o pai estava individado e eu seria assassinado."
– ele
notava o interesse faiscando nos olhos dela. – "Eu tive tempo
de formar-
me. Apanhei meu diploma e embarquei para Calicute, onde
fiquei seis
anos." – ele finalizou.
"Então só teve problemas com mulheres na Inglaterra?" – ela
divertiu-se.
"Somente. Cuidei para que nada disso acontecesse na Índia."
"Não casou-se, então?" – ela parecia mais interessada ainda.
"Não. Confesso que, até hoje, as mulheres só tem me criado
complicações."
– tinham os olhos fixos um no outro.
"E por isso tornou-se esse homem distante, recluso, quase
intratável?"
"Tenho tratado-a mal, madame?" – ele perguntou bastante
sério.
"Não precisa zangar-se. Gosto de como travamos nossos
contatos." – ela
sabia como ser insinuante. - "Só acho que tens medo das
mulheres, depois
que uma complicou-lhe a vida."
"Não tenho medo e não estou zangado. Porque acha que me
zangaria com o
que dizes?" – ele estava ficando com raiva.
"Porque chamou-me madame." – ela ria. – "Ora, vamos. Falemos
sobre você."
"E o que quer saber?" – ele acalmou-se.
"Conte-me sobre Oxford."
"Foi uma época mágica. Aprendi muito, descobri muitas coisas,
tornei-me
um homem cheio de conhecimentos acerca dos mais veriados
temas..." – ele
não concluiu a frase.
"E..." – ela perguntou.
"E nada. Acho que nada disso fez alguma diferença em minha
vida. Cumpri
uma fase e me vi sem perspectivas. Não havia porque continuar
em Londres.
A Índia foi uma bela saída."
"E lá encontrou-se?"
"Menos ainda."
Susi aproximou-se fazendo um sinal à Dana. Ela levantou-se e
dirigiu-se à
amiga.
"São seis horas. Acho melhor mandá-lo embora." – Dana
suspirou e
dispensou-a.
"Fox, tenho que retirar-me." - ele pôs-se de pé. - "Temos uma
recepção
fechada amanhã e depois, para uns industriais italianos.
Tenho o que
fazer." – ele parecia descontente mas compreendeu
perfeitamente.
"Está bem. Agradeço por ter ouvido minha história." – e tomou
a mão
enluvada, inclinando-se sem tocá-la, olhando-a profundamente.
– "Espero
que tenha uma recepção agaradável."
"Duvido muito, mas saberei suportar." – ela sorriu. – "E não
ache que
suas histórias são enfadonhas, pelo contrário, gosto de ouví-
lo."
"Espero pelo momento em que eu possa ouví-la." – ela tornou-
se séria, mas
ele fingiu não notar. – "Senhorita." – e retirou-se, montando
em seu
cavalo negro e partindo.
Ela subiu as escadas com o semblante fechado. Tinha medo do
forasteiro.
Sim, era o que ele era. Alguém que conhecera há pouco mais de
dois meses
e que a tinha envolvido completamente, e, a cada minuto, ela
se via
entregando-se a ele, contando sua vida, seus ensejos, seus
pesadelos e
seus sonhos. Mas como podia? Ele era apenas um desconhecido
que começava
a ser seu amigo.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
A noite seguinte foi chatíssima. Os industriais divertiram
muito às
meninas, mas Scully viu-se cercada pelos mesmos homens de
sempre, que só
sabiam falar de dinheiro, política e jogos. Sentiu, durante
toda a
recepção, uma falta enorme de uma conversa descontraída e ao
mesmo tempo
inteligente com Mister Mulder. O pior é que nenhum era como
ele. Ela
havia conhecido tantos homens, e eles eram sempre iguais, mas
Fox tinha
algo, ou melhor, quase tudo diferente. O que estava
acontecendo?
Quando fecharam as portas naquela noite, Dana foi para seus
quarto,
trocou-se e deitou. Mas o cansaço não foi suficiente para
fazê-la dormir.
Rolou sobre os lençóis frios durante quase uma hora, até que
ouviu um
estranho barulho e lembrou-se de que a janela estava aberta,
como de
costume, afinal estava no terceiro andar. O barulho repetiu-
se, mais
próximo e ela, num giro, sentou-se na cama empunhando um
punhal que
estava sobre o criado-mudo. Na escuridão pôde divisar a
silhueta do homem
sentado na janela.
"Dana?" – ele perguntou.
"Fox?" – ela tinha dúvidas.
"Não queria acordá-la."
"O que faz aqui?" – ela ainda empunhava a arma.
"Apenas vim vê-la."
"Mas vimo-nos ontem à tarde." – ela estava desconfiada.
"Mas precisava vê-la." – ele tinha uma estranha entonação,
como se
pedisse pra que ela consentisse com seu pedido.
"O que houve Fox?" – ela deixou o punhal sobre o criado e
levantou-se,
dirigindo-se à ele.
"É que vemo-nos quase todos os dias e ficar dois dias sem vê-
la é muito."
– ele parecia uma criança declarando seus sentimentos. Ela
tocou a mecha
castanha que caía sobre a testa dele. Tirou a mão.
"E se alguém tiver visto você entrar?" – ela parecia
apreensiva.
"Ninguém viu, juro. Não precisa preocupar-se, já é tarde e
não há ninguém
nas ruas." – ele parecia querer tocá-la como ela havia feito.
"Aconteceu alguma coisa? Estou te achando tão diferente..." –
ela podia
ver o brilho dos olhos dele, mesmo na penumbra do quarto.
"Venha cá." – ele foi até a cama dela e retirou a coberta,
embolando-a em
seus braços e dirigindo-se à janela.
"O que está fazendo?" – ela recuou, receosa.
"Acalme-se." – ele saltou a janela, ficando na varanda e
estendeu a mão
para ela seguí-lo. Ela enrolou a camisola nas mãos e pulou
com a ajuda
dele. Pela varanda, subiram as escadas que davam para o
quarto andar. Era
um grande retângulo, que era apenas a fundação de um quarto
andar e que
foi transformado por ela, quando comprou a casa, em um
pequeno jardim,
com vasos de plantas e mesas fixas de mármore. Mulder
estendeu a coberta
ali e subiu na mesa, convidando-a a juntar-se à ele. Ela
continuou
receosa, sem saber o que ele pretendia. Ele sorriu encarando-
a nos olhos.
– "Não vou nem sequer tocá-la. Não tenha medo de mim." – ela
pensou
durante um segundo e aproximou-se, sentando-se ao lado dele,
sobre as
macias cobertas.
"O que pretende, Mister Mulder?"
"Pretendo conversar." – ele divertia-se com a apreensão dela.
- "Vamos,
Dana. Queria apenas vê-la." – ela sorriu, deixando-se levar
pelo gostoso
clima que formava-se ali. – "E então, como foi a recepção?"
"Terrível!" – ela deu uma gargalhada. – "Não imaginava que
pudessem ser
tão insuportáveis esses industriais. É algo inacreditável!" –
ele sorriu
largamente.
"Pois sou um, se esquece-se."
"Ora, Fox, você é diferente. Os italianos que vieram são tão
enfadonhos
que peguei Susi cochilando enquanto um dos velhos falava." –
ela
divertia-se com a narração. Ele estava maravilhado diante da
espontaneidade dela.
"E porque organizou a recepção?"
"Foi um pedido de Skinner, bêbados eles fazem acordos mais
generosos com
os banqueiros americanos. Foi um favor."
"Para eles, obviamente." – ela sorriu diante do comentário
"Obviamente." – e riram juntos. – "Não há quem não queira
conhecer o Star
of the World."
"E sua dona." – ele sorriu, galanteador. Ela fez um gesto
agradecendo com
um sorriso malicioso. Ele perguntou. – "Porque Star of the
World?" – ela
demorou a responder.
"Porque gosto de estrelas." – ela diminuiu visivelmente o
sorriso.
"E qual delas gosta mais?" – ele levantou a sobrancelha,
apontando o céu.
Ela olhou para cima, diretamente para uma estrela.
"Aquela." – e apontou uma que brilhava intensamente.
"É Sirius." – e ela virou-se surpresa para ele.
"Sabe o nome da estrela?" – ela parecia maravilhada.
"Sim, é Sirius." – e desprendendo-se dos olhos que brilhavam
a sua
frente, apontou o outro lado. – "Aquela é a Estrela Polar." –
ela deitou-
se no cobertor para observar toda a abóbada celeste. Ele
continuou sem
saber se a olhava ou às estrelas. – "Ela e mais aquelas seis
fazem parte
da Constelação de Ursa Menor. Aquelas ali são as Plêiades. E
do lado a
constelação de Touro." – eles se olharam.
"É incrível! Conhece todas."
"Conheço várias. Sabia que no Egito, Amon-rá, o Deus dos
deuses, o Deus-
Sol, teve, no início de tudo, uma filha, o céu, que se
curvava, com seus
corpo negro coberto de estrelas, sobre seus irmão, o Deus da
Terra. Dessa
aproximação, surgiu uma paixão, e então Amon mandou o ar para
separá-los.
Eles nunca poderiam unir-se e consumar o seu amor."
"Esteve no Egito?"
"Estive, durante umas férias de Oxford. Passei algumas
semanas lá. É algo
inacreditável, um país belíssimo, coberto de areia, cercado
de desertos."
– ele aproximou-se do rosto dela e apontou um pouco acima do
horizonte. -
"Aquela ali é o rabo da Baleia."
"Baleia?" – ela perguntou olhando para o rosto próximo ao seu
e virando-
se para onde ele apontava.
"É toda aquela constelação ali que leva o nome do peixe." – e
fez o
desenho da forma da Baleia. – "Ali perto de Sirius, Orion."
"E as estrelas cadentes?" – ela parecia uma criança ingênua
perguntando.
"O que tem?"
"Sabe sobre elas?"
"São pedaços de pedras que caem na Terra ou passam muito
próximas a
atmosfera, e como caem muito rápido, incandescem-se e deixam
para trás um
rabo luminoso."
"E as estrelas, porque brilham?"
"São gases e explosões, se não me engano. Estão tão distantes
de nós que
muitas delas já não existem mais, mas ainda vemos seu
brilho."
"Como assim?" – ela parecia a neta e ele o avô que contava as
peripécias
de infância.
"Elas mandam seu brilho em direção a Terra, mas demora tanto
tempo para
chegar, que elas já morreram e nós ainda estamos achando que
estão
brilhando." – ela parecia emocionada.
"Elas não são eternas, então?"
"Não, Dana. Mas se isso te preocupa, saiba que sua Ursa Menor
estará aí
enquanto você viver. Elas levam séculos para desaparecer." –
ele deitou-
se ao lado dela. Apontou para cima. – " Ali, Pégaso e ali,
Peixes."
Durante toda noite ele contou-lhe sobre as lendas que
envolviam as
estrelas, sobre as constelações e o por que dos nomes que
lhes foram
atribuídos.
"Fox, como sabe de tantas coisas? Porque não fez astronomia?
Parece
gostar tanto disso..." – ela tinha uma voz doce.
"Em Oxford há uma biblioteca gigantesca. Então eu apanhava
alguns livros
e passava toda a tarde deitado nos campos que cercavam a
cidadela. Os
meus preferidos eram os livros de mitologia, em particular a
egípcia, e
astronomia. Confesso que a melhor diversão naqueles tempos
eram meus
livros."
"E as farras que disse fazer?"
"As fiz. Mas chega uma hora que a bebida, o jogo e as
mulheres não podem
mais satisfazer. Chega a hora em que percebemos a falta que
algo nos
faz." – ele parecia realmente triste. – "Os livros eram uma
boa companhia
mas eles não podiam falar, não me contavam seus problemas." –
ela sentiu
a indireta. – "Era preciso alguém. Alguém com quem conversar,
alguém com
quem contar, uma pessoa que estivesse, não atrás de mim, ou
na minha
frente, ou em cima de mim, mas alguém que estivesse ao meu
lado." –
respiraram profundamente. Ela deu-se conta que estava ali, ao
lado dele,
no sentido real da palavra, um ao lado do outro. Mas, e no
sentido
figurado? Ela seria capaz, ela poderia, ela queria ser essa
pessoa?
"Fox, está amanhecendo. Tenho que deitar-me." – ela levantou-
se
bruscamente, fugindo da situação.
"Dana?" – ela olhou para ele assim que desceu da mesa. Ele
desceu também.
– "O que é que tanto te atormenta?" – ela puxou as cobertas e
dobrou-as.
"Nada. Porque pergunta?" – ela queria sair dali o mais rápido
possível.
"Não há nada que queira me contar? Parece que carrega dentro
de si um
verdadeiro medo de ser sincera..." – ele segurou-a pelo
braço.
"Não tenho motivos para tal." – tentou soltar-se com um gesto
leve. Ele
aumentou a pressão.
"Não confia em mim, não é?" – ele parecia magoado.
"Solte-me." – ela exigiu sem olhá-lo nos olhos. Ele soltou. –
"Boa-noite,
Mister Mulder." – desceu pelas escadas e correu para a
varanda sem olhar
para trás. Quando deitou-se pôde ouvir o cavalo que descia a
rua a
galope, em direção ao fim da cidade. Ele havia ido embora.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Foram três terríveis dias para Scully. Ela era obrigada a
receber aqueles
homens que haviam se tornado insuportáveis para ela, e não
podia, nem
sequer pensar, que existia um forasteiro, do outro lado da
cidade, que
estava enlouquecendo-a. Mulder era uma verdadeira obsessão.
Scully
agradecia o fato de Susi não importuná-la com indiretas sobre
o
relacionamento dos dois, mas sabia que os fatos estavam
visíveis a quem
quer que prestasse a menor atenção ao humor dela quando
Mister Mulder
estava ao seu lado, ou longe dela.
Durante esse período que ele simplesmente desapareceu do
salão que
frequentava quase todos os dias, Dana permitiu abrir-se com a
amiga e
declarou o quanto o forasteiro dos olhos verdes mexia com
ela.
"Não sei o que acontece, Susi. Tenho vontade de deitar-me no
colo dele,
de tocar seu rosto, acariciar a mecha que cai sobre a testa,
uma vontade
de contar-lhe toda minha vida e saber se ele seria capaz de
me apoiar." –
Susi acabou de abrir o espartilho e olhou nos olhos tristes
da amiga.
"Dana, você sabe o que é isso, não? Sabe que está apaixonada
e que ele a
enfeitiçou." – disse estendendo a camisola de Scully. – "Acho
que deveria
permitir-se conhecer novos homens, vocês dois formam um belo
casal."- e
sorriu.
"Eu estou falando sério, Susanna. Tenho Krycek. Não posso nem
sequer me
imaginar com Mister Mulder." – ela acabou de vestir-se e
puxou as
cobertas de sua cama.
"Mas eu também falo sério. Você se julga propriedade de
Krycek, mas o
odeia. Não poderá viver assim o resto da vida, querida.
Experimente uma
sensação de segurança ao lado de Fox. Seria possível?"
"É possível. Desde o primeiro instante que trocamos um olhar
eu me senti
segura como nenhum outro homem deixou-me sentir. Mas você
sabe que não há
como..."
"Então você não quer. Pense bem se não está jogando fora sua
única
oportunidade de ser feliz ao lado de um homem. Boa-noite,
querida."
"Qualquer problema pode me chamar."
"Não se preocupe. Quem preguntar pela dona do salão eu digo
que ela está
com enxaquecas."
"Todos os dias..."
"Precisa resolver isso, amiga. Não pode fugir a vida
inteira." – e saiu
triste, deixando Dana mergulhada em seus pesadelos.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
No dia seguinte, após o almoço, Dana saiu em seu coche em
direção ao
outro lado da cidade. Observou o céu negro, carregado.
"Preciso voltar
antes da chuva." Desceu em frente a uma gigantesca mansão
toda de pedras,
tocou o sino e foi recebida pelo mordomo.
"Boa-tarde, Mister Mulder está?" – ela parecia insegura
apesar da
cordialidade do mordomo.
"Entre, por favor." – o homem deu-lhe passagem. – "Quem
gostaria?"
"É... Dana Scully." – e precisou erguer o queixo e tomar
coragem para não
fugir dali diante da expressão do empregado. Ele sabia quem
era ela.
Sabia que ela era uma cocote.
"Acompanhe-me." – e conduziu-a à uma saleta. – "Vou avisá-lo,
apesar de
ele estar muito ocupado."
Ela foi obrigada a esperar uma eternidade. Ali dentro, com
sua angústia,
o tempo não passava. Mas ele finalmente adentrou a sala e
encarou-a muito
sério, sem aproximar-se.
"Madame." – e fez um gesto com a cabeça.
"Mulder...." – ele a deixava mais nervosa ainda encarando-a
com um certo
rancor. Ela não sabia por onde começar. – "Eu... Você sumiu."
"Tenho muito trabalho. Não tenho todo tempo do mundo para
divertir-me,
beber e conversar." – falava como se quisesse ferí-la.
"Entendo. Acho melhor retirar-me. Não quis atrapalhá-lo." –
ela entendeu
o recado e dirigiu-se para a saída, mas ele reteve-a pelo
braço.
"Espere... Desculpe. Venha comigo." – e conduziu-a para uma
enorme
biblioteca.
Sentaram-se frente a frente, ele ofereceu-lhe whisky, ela
recusou.
"Não quis ser rude. Mas entenda que afastei-me apenas para
não perturbá-
la. Ainda creio que não confias em mim."
"Confio, Fox. Só que nunca abri-me com ninguém. Apenas Susi e
Krycek
sabem de toda minha vida. Eu e Susanna nos conhecemos há
quase oito anos
e Krycek, há cinco. Não sabia se poderia ser sincera com um
homem que
conheço há dois meses e meio." – ela evitava os olhos dele.
"Não a pressionarei. Nunca. Ao menos comigo quero que se
sinta a vontade
para dizer o que pensa, o que sente e o que quer." – ela
ficou um longo
tempo em silêncio, brincando com suas luvas salmon, da cor do
vestido.
"Meu pai morreu quando eu completei doze anos. Eu, minha mãe
e minha
irmã, Melissa, passamos a viver sozinhas em nossa casa e logo
a situação
foi ficando complicada. Não havia trabalho para mulheres.
Tentamos tudo
mas nada conseguimos. Passamos fome. Minha mãe faleceu de
desgosto e
tristeza. Ela vinha morrendo desde que meu pai tinha perdido
a vida para
o mar. Sobrou eu e Melissa. Ela, então, contava 18 anos e eu
15.
Sobrevivíamos da pior forma possível, mas sobrevivíamos. Até
que Cissa
adoeçeu, quando completei 16 anos. Eu trabalhava como podia
para dar a
ela um mínimo de conforto, mas mesmo assim ela insistia,
levantava-se da
cama e passava o dia atrás de algumas moedas. Quando a
situação tornou-se
insuportável ela caiu de cama e não pôde mais levantar-se.
Ela precisava
de um médico. Eu consegui um. Ele atendeu-a e quando
terminou, cobrou-me
a consulta. Eu disse que não tinha como pagar, e ele disse
que um dia
viria buscar o pagamento. Melissa aguentou pouquíssimos dias.
Ajuntei
tudo o que tinha e dei-lhe um enterro decente. Em sua missa
de sétimo
dia, eu jurei a Deus que nunca mais sofreria, porque eu me
mataria. O que
não seria difícil, porque não comia há dias." – ela soluçou,
prendendo o
choro, ele estendeu um lenço e ela enxugou as lágrimas.
"Não continue se não quiser." – tocou a mão dela. Ela
respirou
profundamente e continuou.
"Então uma cigana aproximou-se. Parou ao meu lado. Apontou o
céu que
começava a escurecer. Disse que ela estava bem. Eu não
entendi. Ignorei-
a. Ela apontou as estrelas. "Melissa está bem ali, olhando
por você." Eu
encarei-a. Ela sorria como minha mãe. "Tudo ficará bem.Quando
precisar,
saiba que um desses pontos brilhantes é sua irmã." Eu
afastei-me. E nunca
esqueci o que ela disse. No dia seguinte eu andava pelo
mercado, atrás de
sobras de comida. Esbarrei com um homem alto, bonito, com um
sorriso
safado. Ele pediu-me em casamento. Foi ridículo, mas eu
pensei na fome
insuportável que eu estava passando há dias, e a primeira
coisa que ele
me prometeu foi muito dinheiro, uma vida de rainha. Eu
aceitei. Ele
levou-me para Georgia, para uma mansão de doze quartos. Ele
era um homem
que vivia de sua herança. Um verdadeiro maníaco sexual. No
começo era
nojento deitar-me com ele, mas era uma obrigação. Depois eu
fechava os
olhos e obedecia-o. Eu não tinha como escapar de tudo aquilo.
Ele era tão
viciado em sexo que levava os amigos para nossa cama e
programava orgias
sexuais. Eu era obrigada a participar. Levava prostitutas
para nossa
cama. Eu era obrigada a participar. Todas elas adoravam os
bacanais. Eu
só não me matava porque não tinha como, ele me cercava de
cuidados e
vigilâncias. Caso contrário eu teria cometido suicídio. Não
acreditava
mais em Deus e muito menos na religião. Afinal de contas, eu
tinha sido
abandonada." – ela baixou a cabeça e chorou.
"Dana, eu sinto muito, não sabia que tinha sido tão
terrível." – ele
acariciava os cachos ruivos com certo medo de tocá-la. Ela
voltou a
narrativa quando acalmou-se.
"Foi então que eu e uma das prostitutas começamos a
conversar. Ela também
não o suportava e numa dessa noites, em que ela era obrigada
a satisfazer
um banqueiro amigo de meu marido e eu a servir às loucuras de
Jean
Claude, que era o nome do meu esposo, nós duas travamos um
diálogo que
foi uma ajuda mútua. Ambas precisavam desabafar. E nos
tornamos amigas. O
nome dela era Susanna. Eu já tinha dezoito anos e já estava
conformada
com meu destino. Um marido estéril, maníaco sexual e louco.
Mas num dia
que eu estava sozinha, um homem pediu aos criados para ver-
me. Quando
bati os olhos nele, o reconheci. Era o médico que havia
tratado minha
irmã. Tudo o que ele disse foi que tinha um recado para mim.
E sob a mira
de uma faca, levou-me para o quarto e estuprou-me." – ela
voltou a chorar
convulsivamente. – "Mas Jean chegou, matou o desgraçado e
surrou-me. Eu
não suportei a violência e desmaiei. Ele achou que eu tivesse
morrido e
desesperou-se. Levou-me a casa de um amigo médico. Quando
acordei ele
declarou todo seu amor por mim. Eu o odiava mais do que nunca
e me odiava
também. Como estava muito mahucada, dormi aquela noite lá. No
dia
seguinte soube que Jean havia morrido do coração. Eu confesso
que fiquei
feliz. Fiquei mais feliz ainda quando disseram-me que ele
havia deixado
todo o seu patrimônio para mim. Então peguei tudo o que
possuia, vendi a
mansão e, com a ajuda de Susi, que conhecia muito bem Nova
York, viemos
para cá, recomeçar nossa vida. Compramos a casa, montamos o
Star of the
World. Então eu conheci Krycek, que fez do salão o melhor e
mais bem
frequentado da cidade."
"É daí que vem sua devoção a ele?" – ele perguntou. Ela
ignorou a
pergunta dele.
"Eu gostava dele no começo. Mas não me julgava propriedade
dele. Deitei-
me com mais um homem. Ele descobriu e matou-o. E disse que se
eu me
aproximasse de quem quer que fosse ele mataria a mim, às
meninas, à Susi
e quem estivesse por perto. Eu aprendi a ser dele. E tem sido
assim por
cinco anos." – ela suspirou e voltou ao seu estado normal,
como se nada
tivesse acontecido.
"Agora entendo porque você é arredia." – ele parecia
compreender o
sofrimento dela e parecia muito triste.
"Não tenho motivos para ser doce e educada com todos." – ela
o encarava,
tentando entender aqueles olhos verdes.
"Eu sinto muito, por tudo o que lhe aconteceu." – ele não
queria encará-
la.
"O que houve. Assustou-se com o que lhe contei? Julgava que
eu, uma
prostituta, pudesse ter um passado de regalias e finezas?" –
ela irritou-
se com as atitudes dele. Ele deu as costas a ela.
"Não diga bobagens. Saiba que me preocupo com você. Acho que
deveria
procurar alguém que a fizesse feliz, ao menos uma vez na
vida." – ele
permitiu uma lágrima, já que ela não podia ver seu rosto.
"Eu sei, Fox. Acho que sei onde posso encontrar essa pessoa."
– ela
falava com uma voz doce. Ele não olhou-a.
"Eu também sei." – ele sentia uma dor por dentro, consumindo
sua alma.
"Sabe?" – ela esperou por apenas uma palavra.
"Sei. Faça uma viagem. Europa talvez lhe faça bem. Ou a
Índia. Há poucos
homens capazes de vazê-la feliz, pode ser que um deles esteja
lá." – ele
odiou-se por sua covardia. Ela não acreditou no que ouviu, um
ódio
intenso consumiu-a. Ela levantou-se bruscamente.
"Farei sim uma viagem, Mister Mulder. Pelo mundo. Com Krycek,
assim que
ele chegar, dentro de duas semanas e meia. Ele gosta de mim e
me faz
sentir prazer. Posso ser feliz ao lado dele, basta querer. Há
qualidades
nele que eu admiro. É um homem corajoso e rico. Com ele posso
ser uma
rainha." – ela soltava toda sua ira sobre o homem que
mantinha-se de
costas para ela, ereto, respirando pausadamente, intocável.
Mas se ela
visse a face marcada pelas lágrimas descobriria que tudo era
aparência.
"Assim espero, Dana. Desejo muito que sejas feliz."
Ela retirou-se batendo a porta da biblioteca e a porta
principal. Ele foi
até onde ela tinha estado sentada, apanhou o lenço que tinha
enxugado as
lágrimas dela e aspirou o doce perfume.
"Dana, desculpe, mas não posso fazê-la feliz. Não sei quem
poderia,
depois de tudo o que sofreu, mas creio que eu não posso." – e
chorou,
observando a chuva pesada que caía lá fora.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Scully chegou ensopada no salão quando a noite caiu. Susi
recebeu-a
extremamente preocupada.
"Dana, onde estava? Estávamos desesperadas."
Scully ignorou-a e subiu as escadarias correndo em direção ao
seu quarto,
dando ordens as empregadas.
"Calih, meu banho! Luana, meu jantar! Dionis, seque essa água
toda do
meio do salão." – e trancou-se em seu quarto.
Todas perceberam o inchaço e a vermelhidão dos olhos dela e o
quanto ela
estava irada. Mas nada foi dito. Susi correu atrás da amiga,
que recusou-
se a esclarecer qualquer coisa.
"Não me perturbe, Susanna. Eu tomei chuva, porque não quis
tomar o coche
para voltar." – explicou à amiga.
"Onde foi, querida? Esperamos você toda a tarde." – e apanhou
uma toalha
para envolvê-la.
"Não devo satisfações do que faço." – ela tomou a toalha das
mãos de Susi
e olhou-a feio. – "Não descerei hoje. Cuide do salão." – e
entrou em seu
banheiro, expulsando a empregada que preparava seu banho.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
No dia seguinte, Dana foi sincera com Susi e contou-lhe tudo
que havia
passado na casa de Mister Mulder. Susi, mais uma vez,
reprovou-a, por uma
série de atitudes, mas aplaudiu-a por ter sido sincera e mais
aberta com
o homem pelo qual estava apaixonada.
"Estava, querida, estava. Quero esquecê-lo. Quando Krycek
chegar mudarei
minha vida de uma vez por todas. Talvez Mulder esteja certo.
Talvez a
Índia seja um lugar interessante. Preciso parar de viver em
função de
homens e buscar outros sentimentos como a paz. Também nunca a
encontrei.
Vou mudar minha vida." – ela parecia determminada a fazer o
que dizia.
"Está fugindo de novo. Mas faça o que quiser. Só quero que
sejas feliz."
– e encararam-se nos olhos. – "Mas eu sei que sente pelo
forasteiro algo
que nunca sentiu antes e nunca mais vai sentir. Ainda acho
que ele é a
única oportunidade de você ser uma mulher feliz."
"Eu vou esquecê-lo, Susanna. Um dia." – ela suprimiu as
lágrimas. –
"Agora vá se arrumar. Eu volto às noites do salão. Descerei
belíssima
hoje em comemoração à minha decisão."
"É assim que eu quero te ver, amiga."
"Verá."
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Ela preparou-se cuidadosamente naquela noite, observando a
Constelação de
Ursa Menor que brilhava pela sua janela. Escolheu o vestido,
o sapato, as
jóias, a maquiagem e o cabelo. Arrumou-se. Ali estava ela
numa saia e um
corpete de seda vermelha que destacava seu busto alvo e
desnudo. Adornada
com um rico colar de brilhantes e rubis, assim como os
brincos. Os cachos
ruivos, presos no alto da cabeça, que caíam até a metade do
pescoço,
emolduravam o rosto rosado muito bem maquiado e a boca
vermelha como
sangue. O toque final foi a diadema em sua testa, também de
brilhantes,
coroada como uma princesa. Trazia, presa à saia, na altura do
quadril, um
botão de rosa vermelha.
Encheu seu cálice de champagne e preparou-se para descer, mas
Susi surgiu
em sua porta.
"Dana?" – e contemplou a amiga, sorridente. – "Está linda!
Trouxe uma
visita pra você."
"Visita? Aqui? Aguarde que vou descer." – ela disse séria.
"Não." – Agora era Susanna quem falava duro. – "Deixe-o
entrar." – e
virou as costas acenando para alguém e retirou-se.
Mulder entrou no quarto, trajando um belo smoking e uma rosa
vermelha na
lapela. Não sorriu ao vê-la, pois sabia que o clima estava
pesado. Apenas
maravilhou-se em silêncio. Conteve-se para não agarrá-la.
"Dana..."
"O que quer aqui, Mister Mulder?"
"Tive que vir. Era algo que não podia suportar mais."
"Não há nada para conversarmos, Mister Mulder. Nunca mais." –
ela engolia
em seco, sentindo o ódio latejar no peito.
"Não diga isso. Vim para pedir perdão por ter sido covarde.
Por não ter
tido coragem suficiente para dizer-lhe o que sinto."
"O que havia para se dizer, ficou muito bem dito ontem,
Mister Mulder.
Não quero ouvir mais nada, por favor. Retire-se." – ela
tentava dominar
uma raiva incrível que queria explodir de seu peito.
"Droga, Dana. Será que não pode entender que eu não tive
coragem
suficiente para pegá-la em meus braços ontem e jurar-lhe um
amor eterno,
simplesmente porque não sei se todo o amor que sinto é
suficiente para
fazê-la feliz, porque você, mais do que ninguém, merece ter
toda a
felicidade possível?!" – ele dominava as lágrimas. Ela
parecia
irredutível. Sua insensibilidade parecia ainda maior, agora
que ele tinha
sido sincero.
"E quer que eu acredite num covarde?" – ela soltava fogo
pelos olhos
azuis. – "Você é igual a todos, Mulder. Mas enganou-me
somente durante 2
meses. Agora sei quem é. Percebeu que iria perder a
prostituta que estava
prestes a ganhar e voltou para refazer o negócio, não é? A
cocote de
graça, sem desperdiçar um tostão. É isso que quer?" – ela
apertou, com
desdém, os seios volumosos pelo decote. – "Só pode ser. Me
quer em sua
cama para poder dizer a todos que possuiu a mulher mais
desejada entre os
homens. Não esperava outra coisa."
"Não está dizendo isso para mim. Está dizendo o que você
espera escutar
de todos os homens. Mas engana-se. Eu não sou igual..." – ela
cortou-o:
"Sei muito bem o que dizem e o que pensam. Você está entre
eles. Não era
isso que eu queria, mas já deveria esperar." – ela arfava.
"Dana, pelo amor de Deus. Abra seus olhos. Olhe para mim. Não
é capaz de
ver o quanto a amo?" – ele aproximou-se tentando segurá-la
pelos braços.
"Me solte. É mentira. Todos vocês mentem. Você sabe mentir
melhor do que
ninguém. Quer, simplesmente, usar-me, como a uma vagabunda.
Tente me
desmentir. Tente. Não me farão de tola mais uma vez."
"Você está cega de medo. Permita-se enxergar, ao menos por um
minuto.
Olhe para mim e diga se não vê amor." – agora ele chorava.
"Sou cega, mas não burra. Se você me quisesse teria dito
quando fui a sua
casa."
"Não entende? Todas as minhas experiências com mulheres
resultaram em
desastre. Quando a vi, e me apaixonei, me julguei perdido,
porque estava
amando uma mulher de vida livre. Mas em nossa primeira troca
de olhares,
eu pude perceber que a vida que leva, é apenas de aparências.
Eu sabia
que era questão de tempo até estarmos juntos, mas como eu já
não
suportava ficar sem você, eu fazia de tudo para diminuir essa
espera. Até
que você me contou o quanto foi infeliz." – ela havia
escorregado pela
parede, até o chão e chorava desoladamente, encarando o rosto
do homem a
sua frente, que também havia sentado ao pés da cama. – "E
então eu tive
medo de me oferecer para mudar sua vida, para conduzí-la para
a
felicidade. Eu não sou o guia perfeito. Eu queria que
encontrasse alguém
que fosse perfeito. Eu não tive coragem e culpei-me durante
todo o tempo
pela imensa covardia que apoderou-se de mim ontem. Eu vim
aqui reparar o
meu erro. Por favor, aceite minhas desculpas." – ela o
encarava como se
nada tivesse ouvido, tinha uma expressão de dor.
"Afaste-se de mim." – ela apanhou sua taça de champagne e
jogou contra
ele, sem acertá-lo. "Não posso... Não quero. Apenas levante-
se e vá
embora." – e como ele a olhava sem entender, ela gritou, aos
prantos. –
"Vá! Vá embora!" – ele levantou-se, olhou-a confuso.
"Você é irracional. Mas eu a amo, apesar de não poder
provar." – ele
ainda fez menção de tocá-la mas ela esquivou-se.
"Vá!"
Ele deixou o quarto como um raio e, em poucos minutos, Susi
adentrava o
cômodo, chamando pela amiga. Ao encontrá-la caída e
soluçando, sentou-se
ao lado dela e deu-lhe colo tentando acalmá-la. Em vão. Ela
parecia uma
criança birrenta que continuava a gritar: "Eu o odeio.
Odeio!" Susi pedia
para que ela parasse mas os gritos continuavam. Susanna
ergueu-a e
estalou-lhe um forte tapa na face direita. Na mesma hora
Scully calou-se,
encarando a amiga surpresa e magoada. Susi trouxe-a ao peito.
"Agora acalme-se e me conte tudo o que aconteceu."
Scully contou-lhe tudo o que havia se passado, e só então,
deu-se conta
de como tinha sido irracional. Susi não precisou, em momento
algum,
reprovar-lhe. Ela mesma foi arrependendo-se de suas atitudes.
"Porque fiz isso? O que há comigo? Nunca ninguém me fez tanto
bem quanto
Mulder e, no entanto, agi como se o odiasse."
"Você sofreu demais na mão dos homens, amiga. Sempre quis
mostrar-se mais
forte do que realmente é. Mas não soube como parar, nem
quando. Não viu
que ele era o único a lhe ser fiel, a lhe tratar bem. A amar-
lhe de
verdade."
"Perdi-o. Como pude ser tão burra?" – ela voltou a chorar
baixinho. –
"Nunca poderei tê-lo. Ah, minha amiga, o que eu fazer agora?"
"Vai reparar seu erro."
"Não há como. Agora ele me odeia."
"É verdade. Mas, quanto mais cedo você for até ele, e dizer-
lhe o quanto
foi burra, e que quer reparar o erro, mais cedo ele voltará a
amar-te." –
as duas ficaram muito tempo em silêncio, até que Dana
levantou-se do colo
da amiga.
"Tem razão, querida. Eu tenho uma idéia." – Susi sorriu.
"É assim que gosto de vê-la."
"Assim que o salão esvaziar-se, avise-me e chame um coche
para mim."
"O que vai fazer?"
"Vou atrás de minha felicidade. Não se preocupe por mim."
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Eram duas horas da manhã, quando o coche negro parou diante
da mansão de
pedras e a mulher de vermelho desceu e tocou o sino. Depois
de algum
tempo, o mordomo abriu a porta e sua expressão piorou ao ver
quem era.
"Mister Mulder, por favor." – ela pediu, constrangida.
"Madame, são duas horas da manhã, Mister Mulder está
dormindo." – o velho
preparava-se para fechar a porta.
"Por favor, preciso falar-lhe." – ela parecia suplicar.
"Madame, já lhe disse..."
"Pode deixar, Louy. Vá dormir." – a voz de Mulder vinha de
algum lugar,
no interior da casa.
O velho olhou contrariado para a cocote a sua frente e dando-
lhe
passagem, fechou a porta, assim que ela entrou, e desapareceu
pelos
fundos da casa. Ela caminhou alguns passos a frente e viu-o
no alto da
imensa escadaria, em meio a escuridão.
"Mulder..."
"Diga o que tem a dizer e vá embora." – agora era ele quem
tinha raiva.
"Eu preciso conversar." – ela subiu os primeiros degraus.
"Já disse tudo o que tinha para dizer." – ele subiu alguns,
em direção ao
segundo andar, sem dar-lhe as costas.
"Não disse. O que eu disse foram insanidades. Loucuras que
brotaram de
uma alma cheia de dor. Não era a verdade." – ela continuava
subindo e ele
continuava afastando-se, evitando olhá-la.
"Disse o que sentia. Não tente mascarar-se agora."
"Não, agora é a verdade. Estava mascarada pelo ódio, por todo
o
sofrimento da minha vida. Pelo medo. Compreenda, eu precisava
de tempo
para pensar." – ele atingia o corredor do segundo andar e
continuava a
distanciar-se. – "Não fuja. Me ouça. Pare, por favor!"- ela
suplicou. Ele
parou, encarando-a seriamente:
"Não podia provar meu amor. Você não quis compreender a minha
covardia.
Minha vergonha. Isso serviu para eu ver que o sentimento que
me tomava
não era recíproco."
"Fox, é. É recíproco. É verdadeiro. É intenso. É a primeira
vez que sinto
algo assim. Mas o medo está sempre presente. Há algo que me
atormenta,
que não me deixa viver, me torna irracional e insana: Krycek.
Ele me
mantém sob constante vigilância. Tenho medo do que ele possa
fazer com
você. Já matou um. Tem vários sob sua mira. Sou propriedade
dele. Meu
corpo o pertence. Mas eu o odeio. Nada posso fazer e não
posso colocar-te
em perigo por minha causa. Mas eu tenho certeza que só um
grande amor
poderia me transformar numa mulher segura e feliz. Mas esse
amor só
existe se for de ambas as partes. É de minha parte. E da
sua?"- ela
chorava cada vez mais.
"Desde que a conheci. No primeiro minuto que a vi descer as
escadarias,
com um vestido azul da cor de seus olhos. Brilhava como uma
estrelas.
Ali, naquela hora, eu tive certeza que era só com você que eu
poderia
alcançar a felicidade." – ele, agora, caminhava lentamente em
direção a
ela. – "Eu não sei como provar. Mas acho que se me permitir
tocá-la, me
aproximar, então acreditará em mim." – ele a olhava, como
pedindo
autorização para deixar seus sentimentos fluirem. Ela sorriu,
querendo
sentir algo que nunca havia sentido. A autorização estava
dada.
Ele aproximou-se, sem saber como agir, olhavam-se
intensamente, ela
exugou as lágrimas para parecer mais forte. Ele fez o mesmo,
incoscientemente. Ele tocou o rosto rosado com as mãos
trêmulas.
Acariciou os lábios entreabertos. Ela beijou levemente a
ponta dos dedos
dele. Ela levou as mãos à boca carnuda de Mulder. Sentiu-a
úmida. Ele
beijou e tocou com a língua os dedos que passeavam sobre seus
lábios. Ela
fez o mesmo. Fecharam os olhos e sentiram o toque um do
outro.
Aproximaram-se, sentindo o ar quente que corria entre eles.
Tocaram os
lábios sem acreditar no que faziam, e, aos poucos,
entregavam-se ao beijo
ardente. Um desespero tomou conta de ambos e selaram a paixão
com aquele
toque de línguas, de mãos. Ele apertava-a, firmemente, pela
cintura,
contra seu corpo e ela afagava, com certa gana, os cabelos
castanhos
macios.
Ficaram naquele estado durante muito tempo. Impossível
calcular. Só
sentir. Eles só sabiam que precisavam de um quarto, ou
amanheceriam no
meio do corredor e, aí sim, o mordomo a odiaria. Sem parar o
beijo,
atropelaram-se até o quarto dele. Amplo, com poucas velas
acesas, sob a
penumbra. Ele aproximou-a da cama, mas notou um detalhe: ela
estava
inteiramente vestida.
"O que faço com essas roupas complicadas?" – ele perguntou
quando
conseguiu afastar-se da boca dela. Ela sorriu alegre. Livrou-
se dos
braços que a apertavam e virou-se de costas.
"É fácil." – ela levou a mão às costas e puxou o laço da fita
que
trançava o corpete. Desatou o primeiro x. – "Coloque o dedo
aqui e puxe,
devagar, para desmanchar o trançado, de baixo até em cima."
"Complicado demais." – ele sorriu enquanto empreendia o
trabalho
minucioso com a mão direita e puxava-a contra si com a mão
esquerda,
levando sua boca ao pescoço desnudo dela.
"Mas compensa." – ela tinha um sorriso malicioso, que logo se
transformou
em gemido com as mordidas que ele dava em seu lóbulo. Ele
susurrou:
"Tudo com você compensa."
Quando, finalmente acabou de desatar o trançado do corpete,
percebeu que
teria que fazer o mesmo serviço com o espartilho.
"Não diga que tenho que fazer tudo de novo." – ele sorriu
incrédulo.
"Só se quiser." – ela sabia como convencê-lo. Ele não perdeu
tempo e fez
o serviço, enquanto ela tirava a saia, as anáguas e a
armação.
Quando ela concluiu o seu trabalho ele ainda não tinha dado
conta do
serviço. Ela terminou pra ele. Antes que ela pudesse derrubar
o
espartilho a seus pés, ele já a puxava para ele, envolvendo a
barriga
lisa com seus braços grandes e subindo para os seios que
acomodaram-se às
suas mãos. Ele virou-a e beijou-a loucamente enquanto ela
livrava-o do
robe e da calça de dormir. Ele carregou-a para a cama,
beijando todo seu
corpo. Só restavam as jóias que contrastavam com a brancura
dela. Ele
retirou a diadema como se coroasse uma rainha.
Eles estavam calmos e aproveitavam cada segundo pois não era
a primeira
vez de nenhum dos dois, mas eles sabiam que aquele era um
momento mágico,
que nunca tinham presenciado: o amor. Ele acariciou os
cachos, fitou-a
longamente e sorriram com a mesma intensidade. Juraram amor
ao mesmo
tempo, quando atingiram, juntos, o clímax.
Passaram a noite compensando toda a dor, a dúvida e a solidão
que os
havia consumido desde o nascimento, até o momento em que seus
lábios
tocaram-se. Ignoraram a manhã que veio quente e continuaram
amando-se
como se só houvesse os dois naquele mundo. Mas tiveram que
levantar-se.
Mulder enrolou-se no robe que estava aos pés da cama e lavou-
se. Ela o
fitava, ainda largada na cama. Sua única roupa era o colar de
brilhantes
e rubis.
"Fox? Tenho sede." – ela sorria como uma menina.
"Ainda? Bebemos um do outro toda noite e ainda quer mais
amor?" – ele
aproximou-se do corpo estendido de atravessado na cama, em
meio aos
travesseiros.
"Desta vez preciso de água..." – ela apuxou-o com as pernas
para cima
dela.
"Mas eu preciso de beijos." – ele agarrou-a sem piedade e
cubriu-a com
seu corpo, brincando com sua língua pelo pescoço esguio.
"Vamos, Fox. Pare com isso. Eu preciso de água."
"Vamos almoçar juntos, então." – ele sorria.
"Sabe que não posso. Se alguém nos ver... Há Krycek." – agora
ela estava
séria e tentava afastá-lo de cima de si. O rosto dela
mostrava tormento.
Mulder pegou-a levemente pelos pulsos e deitou-a sem dizer
nada, apenas
encarando-a. Ela continuava a tremer e dar mostras de choro.
"Krycek nunca tocará, nem em mim, nem em você. Eu lhe
prometo. Se não
quer almoçar, se não quer sair, não se sinta pressionada. Eu
só farei o
que você quiser. Mas ninguém atrapalhará o nosso amor. Nós
iremos para
algum lugar onde possamos estar em paz. Ele nunca destruirá a
minha única
razão de viver." – ela assentiu e abraçou-se a ele jurando
que nunca se
separariam. – "Nunca." – ele repetiu.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Nas duas semanas seguintes foram raros os momentos que Dana e
Fox se
separaram. Uma ou outra noite ela tinha que comparecer ao
salão, para as
recepções, ou, durante uma tarde ou outra, ela tinha que ir
até lá,
verificar se estava tudo em ordem. Nessas horas, Mulder
aproveitava para
liquidar os assuntos da fábrica de seu tio, que ele tentava
vender.
O mordomo da casa acabou acostumando-se com a presença de
Scully e passou
a tratá-la melhor. As noites eram passadas no quarto de Fox,
e, a maioria
dos dias, também. Eles almoçavam juntos, sentavam-se, durante
as tardes
quentes, no chão da varanda da biblioteca, e Dana lia um
livro para o
homem deitado em seu colo, sobre a saia de seu vestido. Eles
eram capazes
de permanecer horas assim, um escutando o outro, acariciando-
se ou vendo
as estrelas. Era uma mágica que nunca acabaria, Dana dizia.
Mas enganou-
se.
Quando chegou, logo após o almoço, no salão, Susi a esperava,
com uma
expressão preocupada.
"Tenho uma má notícia, Dana." – ela desmanchou o sorriso que
trazia na
face, alegre pelo amor que vivia.
"O que houve, Susi?"
"Há uma hora o St. German aportou... proveniente da
Inglaterra." – ela
disse, esperando a expressão da amiga.
"Não me diga que..." – Dana engoliu em seco, transfigurada,
segurando as
lágrimas que rapidamente brotaram.
"Sim... Krycek chegou." – Susanna finalizou, sem encarar a
amiga.
Scully respirou profundamente, várias vezes, para não chorar,
sentou-se
no degrau da escada e escondeu o rosto nas mãos. Assim ficou
cerca de 10
minutos, e, sem mover-se, mandou a amiga reunir toda a casa
imediatamente. Quando todas as meninas e os empregados
postaram-se a sua
frente, preocupados, ela levantou-se, com ódio no olhar.
"Krycek chegou. Prestem bastante atenção no que vou dizer.
Nada aconteceu
de anormal aqui. Eu quase não saí. Não recebi ninguém e, as
noites que eu
não compareci às recepções, foi porque estive em meu quarto."
– ela
olhava cada um nos olhos, certificando-se da fidelidade
deles. – "Eu
conto com vocês, quando ele entrar, para não cometerem
deslizes." – ela
virou-se e subiu as escadas, gritando: - "Calih! Venha até
meu quarto.
Susi, me ajude."
Ela entrou em seu quarto como um raio, e pôs-se a escrever um
bilhete,
enquanto dava instruções à empregada:
"Calih. Quero que pegue esta carta, alugue um coche, e vá até
a casa de
Mister Mulder. Chegando lá entregue isto em mãos, nada de
mordomo ou
empregados. Somente Mister Mulder, entendeu?" – e diante da
afirmativa da
criada, continuou. – "Espere ele responder e me traga a
resposta
imediatamente. Só entregue a mim. Mas só se eu estiver
sozinha. Caso
contrário, entregue a Susi. Mas Krycek não pode ver. Ninguém
pode ver.
Entendeu? Em mãos!" – e entregou a carta e algumas moedas a
Calih. –
"Agora vá, depressa!"
"O que pretende, Dana?" – perguntou Susi assim que a
empregada saiu.
"Não sei ainda, querida. Mas já havia conversado sobre isso
com Mulder.
Talvez eu tenha que partir, atrás de minha felicidade." – ela
encarou-a
nos olhos. – "Vou precisar de você."
"Você pretende fugir?" – ela sentou-se na frente de Scully,
sobre a cama,
contendo as lágrimas.
"Não. Eu fugi minha vida inteira. Agora eu estou correndo
atrás de um
amor." – elas deram-se as mãos, engolindo em seco.
"Para onde vão?"
"Não sei. Nem quando, nem como, nem para onde. Nem sei se
conseguiremos.
Krycek pode ficar em cima de mim. E então eu não terei
oportunidade
nenhuma. Tudo está dependendo de Fox."
"Se é isso que quer... conte comigo." – Susanna permitiu as
lágrimas. –
"O que posso fazer?" – ela soluçava.
"Primeiro, prometa que ficará bem." – a amiga acenou
afirmativamente. Ela
continuou. – "Agora prometa que cuidará do salão como cuidou
de mim todos
estes anos." – ela acenou novamente. Abraçaram-se. – "Bom...
Eu também
vou precisar de alguém que arrume as malas sem ninguém
perceber, porque
isso vai ser uma segredo, viu?!"
"Eu farei tudo, amiga. Tudo. Só prometa que não é para
sempre." – elas
abraçaram-se ainda mais forte.
"É só até Krycek me esquecer, tomar um novo rumo, você me
avisa quando
tudo estiver bem, e eu volto."
"Prometa que vai me escrever."
"Todos os dias, querida. Todos os dias."
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Calih chegou com a resposta antes das seis da tarde. Dana
comunicou a
decisão à Susi e as providências começaram a ser tomadas, em
segredo. Às
sete da noite, Susanna entrou assustada em seu quarto
encontrando Scully,
que separava as roupas, os sapatos, as jóias e os perfumes e
colocava-os
em grandes baús.
"Ele está aí."
Scully, serena, sorriu e perguntou, ingenuamente:
"Quem?" – estava absorta em seus pensamentos e na arrumação
das malas.
"Krycek." – um arrepio percorreu-lhe a espinha ao escutar o
maldito nome,
e ela fechou os olhos, com medo. Ela levantou-se e caminhou
em direção à
porta sem encarar Susi, suspirando fundo e descendo as
escadas.
Alex vinha pelo salão, cumprimentando as meninas, que faziam
rodas a sua
volta, com beijos sedutores em suas mãos. Quando viu Dana,
abriu um vasto
sorriso e dirigiu-se à escadaria.
"Minha rainha! Quantas saudades... Como precisava te ver." –
e a agarrou
pela cintura beijando-a. – "O que fez enquanto estive fora?"
"Nada. Vivi enjaulada, como nos últimos cinco anos." – ela
olhava-o com
nojo.
"É assim mesmo que tem de ser. E continuará sendo." – ele
passou as mãos
pelos seios dela. – "Quero aproveitar o tempo perdido. Não
sentiu minha
falta?" – perguntou enquanto arrastava-a escada acima. Ela
ignorou a
pergunta cretina e baixou os olhos, triste pelo que viria.
Ele foi agressivo como sempre e, no início, ela tentou
imaginar que era
Mulder quem estava a sua frente. Mas era impossível iludir-
se.
"Alex, por favor. Eu não quero. Hoje não. Estou cansada."
"Cansada?" – ele deu uma gargalhada. – "Mentirosa. Teve três
meses para
descançar e acha que vou ceder às suas frescuras?"
"Por favor eu estou com dor de cabeça." – ela quase
implorava.
"Problemas é seu. Eu quero agora."
"Alex, por favor, não." – ela começou a chorar, e tentar
desvencilhar-se.
"Não dificulte as coisas. Será como eu quero." – ele
segurava-a cada vez
mais forte.
"Me solte. Maldito! Tire suas mãos imundas de cima de mim." –
ela
debatia-se. Ele agarrava-a pelos pulsos, apertando.
"Cale a boca. Imunda é você, sua vagabunda. Colabore ou
encho-a de
socos." – ele jogou-a na cama e acomodou-se sobre ela, que
lutou,
inutilmente, por algum tempo, cedendo em seguida. Olhava para
fora,
procurando a Constelação de Ursa Menor. Ela não estava ali.
Chorou em
silêncio, enquanto aquele homem a violentava, e ela tentava
convencer-se
de que não estava traindo seu amor.
Uma hora e meia depois, ele vestiu-se e, arrancando o lençol
no qual ela
havia se enrolado para esconder sua nudez, acaricou os seios
alvos com
rudeza.
"Não sei porque insistiu em agir como uma virgenzinha sendo
estuprada.
Não se esqueça" – e aproximou-se da boca dela. – "que você é
apenas uma
prostituta. Ninguém vai tocá-la além de mim. E se tocarem, eu
mato. Se
quiser sentir prazer, será comigo. Por isso, trate de fazer
seu serviço
direito, porque eu pago muito bem."
"Eu não quero seu dinheiro podre, seu filho da puta." – ela
gritava, com
ódio.
"Amante. Amante da puta." – ele ria, divertido. – "Cale a
boca e deixe de
ser histérica. Eu volto amanhã a noite. Comporte-se." – e
saiu batendo a
porta. Ela ficou ali, tremendo de raiva e de tristeza, até
Susi chegar e
levá-la para seu quarto, onde preparou um banho quente e
ajudou-a a
banhar-se.
"Está tudo pronto?" – Scully perguntou, enquanto enxugava-se.
"Está. Eu venho avisar-lhe quando todos estiverem dormindo."
– e deitou
Scully em sua cama, que adormeceu rapidamente.
Quando a madrugada caiu, um coche de aluguel parou nos fundos
do salão e
Dana e Susanna pararam na calçada, despedindo-se, enquanto as
malas e
baús eram colocados no veículo.
"Prometo que escrevo assim que chegar."
"Tudo dará certo, amiga."
"Eu espero que sim. Não se esqueça que você não sabe de nada.
Não deixe
que Alex a manipule. Vá a polícia, aos jornais, fale com os
amigos. Faça
o que tiver que fazer, mas não deixe que ele ameace, nem
você, nem as
meninas. Eu deixei um envelope sobre minha cama. Amanhã de
manhã, mande
chamá-lo e diga que eu sumi e deixei uma carta, que você
achou. Que é
para ser entregue a ele." – Dana subiu no coche e deu as mãos
a amiga.
"Seja feliz. Só isso."
"Você também."
"Me escreva. E volte logo."
"Escrevo. Veja como umas férias distantes. Assim que eu
estiver
descançada, eu volto."
"Seu lugar vai estar guardadinho."
"Eu sei, querida."
"Até logo, amiga."
"Até logo, querida." – e o coche partiu.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Às seis horas da manhã, o navio "King of the Nile", partia em
direção ao
mar aberto. Em uma das cabines de primeira classe, estava um
casal que
acabava de arrumar suas coisas e sentar-se, ladoa lado, na
cama de casal.
"Está tão calada, desde que nos encontramos. Não queria vir?"
– ele
perguntou aflito pelo estado dela.
"Não é isso, meu amor. Estou deixando cinco anos para trás e
toda uma
família." – ela não queria emocionar-se.
"Construiremos nossa família. E assim que tudo melhorar, nós
voltaremos."
– ele queria consolá-la, apertando, com delicadeza, a mão
trêmula.
"Fox?" – ela evitava o olhar dele.
"Diga?" – ele ajoelhou-se na frente de Scully, olhando em
seus olhos.
"Eu menti para você." – ela respirava fundo para não chorar.
– "Krycek
esteve no salão ontem a noite. Ele... me... obrigou a...
fazer..." – ela
não pôde concluir, escondendo o rosto nas mãos. Ele entendeu.
Levantou-
se, cheio de ódio.
"Desgraçado." – andava de um lado para outro, como um leão
enjaulado. –
"Porque não me disse antes? Ele sabe ameaçar uma mulher. Mas
não teria
coragem de tentar nada contra mim. Eu poderia ter matado-o.
Maldito.
Porque não...?" – ela interrompeu-o, aos prantos.
"Porque ele é violento, perigoso. Eu nunca poderia, sequer
imaginar,
perder-te. Por isso deixei para contar-lhe só aqui, onde não
poderias
fazer nada." – ela gritava.
Ele abaixou-se, abraçando-a.
"Ah, meu amor. Prometa que nunca mais irá me esconder nada.
Prometa que
me deixará protegê-la, que me deixará defender sua honra,
sua..."
"Honra? Eu sou uma prostituta, esqueceu-se?" – ela voltou a
gritar.
"Não é. Você foi. Agora é meu amor. Uma mulher íntegra,
inteligente,
carinhosa, corajosa." – ele sacudia-a levemente. – "Vamos,
Dana. Esqueça-
se de tudo de ruim por que passou. Só tenha lembranças boas.
Agora
teremos a mais bela vida. Uma que jamais imaginou que teria.
Eu vou fazer
de você a mulher mais feliz do mundo. Eu juro, meu amor." –
eles
deitaram-se, abraçados.
"Eu te amo, Fox. Te amo." – ela chorava.
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
xxxxxxxxxxxx
Um ano depois.
"Querida Susi,
Daqui da janela da minha varanda posso avistar o ápice de uma
gigantesca
pirâmide. Sobre ela, estrelas. As mesmas que brilham em Nova
York,
brilham aqui. Os nomes são diferentes, mas a beleza é igual.
Conheci o
deserto e o calor infernal que faz aqui. Mas é um lugar
encantador.
Inclusive Fox me levou a uma das expedições que ele tem feito
nas
proximidades da cidade juntamente com os professores de
Oxford. Gostaria
que conhecesse os monumentos de areia que existem aqui. É um
lugar mágico
e misterioso.
Fazemos planos de voltar dentro de um ano, ou dois. Por
enquanto, iremos
à França e passaremos alguns meses lá, pois as condiçoes
médicas são
precárias aqui e Fox e eu queremos total atenção à minha
gravidez. Já
estou de quatro meses. Uma barriga redonda, grande. Deve ser
uma menina.
Fox deita todos os dias sobre o meu ventre e conversa com a
criança
dizendo que elas podem escutar e responder a todos os
estímulos. Eu
acredito no que ele diz porque o bebê chuta. Quando ele canta
o bebê
acalma. Quando ele faz carinho, também.
É um verdadeiro paraíso poder estar aqui, com uma família,
uma bela casa,
uma bela vista e muita paz. Gostaria que estivesse aqui,
amiga. Tenho
tantas saudades...
Aguardo mais uma resposta sua, me contando como está o salão
e as
meninas.
Carinhosamente
Dana Katherine Scully
Cairo, 12 de setembro de 1895.
P.S.: Estou muito feliz por saber que finalmente Krycek
mudou-se para o
Brasil. Agora estamos seguras."
Scully dobrou a carta e colocou-a no envelope endereçado ao
salão de Nova
York. Levantou-se e dirigiu-se à varanda, onde Mulder estava
sentado num
banco de madeira, lendo um livro de psicologia. Ela
aproximou-se e tocou
os cabelos castanhos. Ele acordou do transe que estava e
fitou-a
sorridente. Deixou o livro de lado e abriu os braços para
recebê-la em
seu colo.
"Venha, meu amor." – e deu-lhe um beijo carinhoso. – "Estive
pensando.
Tens certeza de que não é arriscado viajarmos agora?" – e
acaricioua
barriga que já estava grande.
"Tenho sim. É melhor que cheguemos logo em Paris, enquanto
estou de
quatro meses. Mais tarde pode ser perigoso para o bebê." –
ela passava os
dedos delicados pela boca carnuda dele.
"E para a mãe." – ele tentava conter-se diante do olhar
provocativo dela.
– "Iremos de navio, nada de cavalgar."
"Eu sei que não posso." – ela aproximou-se da boca, mas
afastou-se,
deixando-o na expectativa de um beijo quente. – "Estive
pensando no
nome..."
"Não comece a querer me enlouquecer..." – e sorriu diante da
expressão
ingênua dela.
"Eu disse que penso em um nome." – ela voltou a aproximar os
lábios mas
distanciou-se, deliciando-se com a cara de desejo contido que
ele fazia.
"Delicia-se com meu sofrimento, hein?" – ele tentava não
agarrá-la.
"Se não presta atenção em mim, vou deitar-me." – ela
levantou-se,
fingindo-se zangada. Caminhou pela varanda, insinuante. A
camisola
transparente e fina, realçava o movimento do quadris.
"Dana!" – ele chamou autoritário, entrando na brincadeira,
embevecido
pela imagem da mulher sob a luz tênue que adentrava a
varanda.
"Sozinha. Hoje a cama é só minha e do bebê. Você dorme aí, no
banco da
varanda." – e, parando na porta, voltou-se para ele. – "Boa
noite."
"Ah, menina. Venha já aqui!" – ele tentava manter-se sentado,
no banco,
mas o desejo consumía-lhe. Escutou o barulho da cama, quando
ela deitou.
Correu até a porta e fitou-a, deitada entre os lençóis finos.
"Não me olhe com essa cara, Fox." – ela continuava com o
sorriso
travesso. – "Estou grávida e o bebê não gosta de peso em cima
dele."
"Não é isso que vem dizendo todas as noites, nos últimos
quatro meses." –
e foi até a cama, deitando-se ao lado dela e trazendo-a para
seus braços.
– "Qual é o nome?"
"Agora não..." – e puxou para beijá-lo. Mas ele impediu o
beijo e deixou-
a apenas com a vontade. – "Não faça isso, Mister Mulder."
"Não fique brava, madame." – e trocaram um beijo ardente,
prévia do que
seria mais essa noite.
A porta da varanda ficara aberta, e um vento soprava,
agitando as
cortinas finas. As estrelas luziam na cúpula negra sobre o
Nilo. Dentro
daquele quarto, o casal finalmente achara a felicidade.
Consumaram-na no
pequeno ser que estava por vir. O passado não mais importava.
Esqueceram
as tristezas e o sofrimento que enfrentaram. Finalmente
estavam lado a
lado, completando-se, possuíndo-se, amando-se. Nunca, nada,
pôde destruir
aquela união, que ficou eternizada no brilho das estrelas.
               (
geocities.com/br)