**FlOrBeLa EsPaNcA**
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Breve Biografia:
S
eu nome completo é Florbela de Alma da Conceição Espanca. Estudou Direito em Lisboa, publica dois livros sem sucesso. Separa-se do marido e tenta em vão outro casamento, retira-se do convívio social, desiludida, abatida e enferma.
Ocorre uma melhora e um novo casamento com um homem a seus gostos, vinham amenizar-lhe a vida, quando a morte a surpreende...
Morreu em 1930, enquanto dormia profundamente por causa do excesso de barbitúricos ingeridos. Acidente ou suicídio, não se sabe...
Sua grande sensibilidade excitada por fortes impulsos eróticos criam nela uma luta de sentimentos e tendências contrapostos. Desiludida com a sociedade que não entende a dimensão e a profundidade de seus íntimos conflitos, extravasa seu drama de forta erótica, o que é considerado imoral por aquela. A poetisa, como a despir-se internamente, deixa transbordar sem preconceito algum, seus profundos sentimentos de mulher apaixonada, em matéria de poética expressa em vernáculo, outra voz feminina igual, não se levantou até hoje. Uma mulher admirável, pertubada e à frente de seu tempo ....
Cantiga, Leva-as o Vento

A lembrança dos teus beijos
Inda na minh'alma existe,
Como um perfume perdido
Nas folhas dum livro triste

Perfume tão esquisito
e de tal suavidade
que mesmo desaparecido
revive numa saudade
SILÊNCIO

No fadário que é meu, neste penar,
Noite alta, noite escura, noite morta
Sou o vento que geme e quer entrar,
Sou o vento que vai bater-te a porta...

Vivo longe de ti, mas que me importa ?
Se eu já não vivo em mim ? Ando a vaguear
Em toda a tua casa, a procurar
Beber-te a voz , apaixonada, absorta!

Estou junto de ti, e não me vês
Quantas vezes no livro que tú lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

Trago-te como um filho nos meus braços!
E na tua casa ... Escuta ! ... Uns leves passos ...
Silêncio ... meu Amor ! ... Abre ! Sou eu ! ...
EU ...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutamente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...


Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio no mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
AMBICIOSA
Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar.
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O vôo dum gesto para alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar ...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem! - Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem - quando sonho o amor dum Deus!...
AS MINHAS MÃOS

As minhas mãos magritas e afiladas,
Tão brancas como a água da nascente,
Lembram pálidas rosas entouradas
Dum regaço de Infanta do Oriente.

Mãos de ninfa, de fada, de vivente,
Pobrezinhas em sedas enroladas,
Virgens mortas em luz amortalhadas,
Pelas próprias mãos de oiro do sol poente.

Magras e brancas... Foram assim feitas...
Mãos de enjeitadas porque tu me enjeitas ...
Tão doce que elas são... Tão a meu gosto !

Pra que as quero eu - Deus! pra que as quero eu !
Ó minhas mãos, aonde está o céu
... Aonde estão as linhas do teu rosto ...