MEIA-TARDE 

Para Daniela 

 

Cansei de buscar as ruelas de Viena,

Os chaminés tristonhos de algum subúrbio londrino,

O prazer efêmero de uma tragada de neblina.

 

Atrelei-me à insensatez, passei uma temporada com os loucos, reverenciei os dois lados da moeda.

Fui romancista, pintor, escultor, músico, viajei de ácido, mastiguei as folhas ralas do teu peiote.

Procurei algo que me trouxesse sentimento semelhante à paz.

Curioso que tudo que tive foi inquietude...

A natureza agitada e evasiva

Um vulcão que parece temer em cuspir sua lava.

 

Enquanto o ar cinzento envolve nossos telhados, tudo o que posso fazer é apertar  a xícara de café quente com minhas mãos, levemente.

Sentir um pouco o calor, devanear...

Deixar o pensamento levar minha mente cansada.

A única saída talvez seja entregar-se aos clichês.

 

Mas, pelo menos, que sejam clichês dos anos 70.

 

E todos essas idéias que inundam minha cabeça,

Todas essas angústias que me apertam o peito, confinando-me ao silêncio,

Tudo esqueço quando vejo o néon do posto de gasolina, a noite escorrendo como leite morno;

Quando leio um verso de Drummond,  

Degusto um vinho suavemente adocicado,

Sinto teu lábio úmido, abraço-te, desligo o abajur do criado-mudo e, junto a teu ouvido, digo “boa noite”.

 

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João Carlos Dalmagro Júnior.