POESIA PARA UM SOLDADO SEM CABEÇA

 ou (Um pouco de absurdo, afinal, minha condição humana dita as regras do jogo)

  

Russos espancam camponês no Caucaso

Alemães estupram judia de dezessete anos e alguns meses

Elvis Presley toca suavemente em uma vitrola dos anos sessenta

F. S. Fitzgerald embriaga-se com uma vagabunda qualquer.

 

 

Varredores de rua dançam com suas vassouras

À luz da lua

Utilizando patrimônio público

Fato que constitui crime de peculato

Deixo-os dançar e refletirem seu semblante desengonçado no lago imundo

 

 

Um soldado grego, que teve sua cabeça arrancada por estilhaços de granada,

procura por ela desesperadamente, enquanto caminha trôpego

E acaba por tombar no solo onde Céline haveria um dia de pisar.

Ninguém vê nada.

 

 

Isso é fascinante.

O jeito como a História nos atropela,

Cegando-nos lenta e argutamente

Como uma sábia meretriz explorando marinheiros bêbados.

 

 

Vida sem sentido aparente

Mistura de porra, suor e sangue

Nunca se sabe quando é hora de começar a vivê-la

Por isso digo que somos pombos de parque

 

E é por isso que eu canto.

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João Carlos Dalmagro Júnior.