Pitty
(Clique na dobra da folha para ver os outros integrantes)
Nome:
Priscila Novaes Leone
Data de nascimento:
07/10/1977
Local de nascimento:
Salvador, Bahia
Signo:
Libra
Mania ou superstição:
Calçar sempre o pé direito primeiro
Um cantor:
Mike Patton
Uma cantora:
Billie Holiday
Banda nacional:
Todas que estão na correria
Banda internacional:
Queens of the Stone Age
Influências:
Livros, filmes, discos e pessoas
O que não pode faltar no
camarim: Água
Show inesquecível:
Festival de Verão
Qual música não pode faltar
no show? Máscara
Como você se prepara
para os shows?
Normal, não fazemos nada de
especial.
Um mico no palco:
Meu cabelo já prendeu no
baixo do Joe
Privacidade?
O máximo possível
Biografia
Desde a
infância em Porto Seguro que ela tem seus ouvidos atentos àquela música de
potencial subversivo e transformador. Começou com uma fita do conterrâneo Raul
Seixas que o pai, músico, tocava no seu bar. Passou pelos Beatles e Elvis,
ouvidos em casa pela mãe. E chegou aos decibéis de Faith No More, Nirvana e
Metallica, contrabandeados com algum inevitável atraso para Porto Seguro por
amigos, justo quando ela entrava na adolescência - fase crítica e decisiva, em
que começava a alçar vôo na vida. Pitty se lembra bem: "aquela música casou com
o meu estilo de espírito na época. Eu estudava em escola particular e não tinha
luxo em casa. Via as meninas com roupas de grife e não entendia como a imagem
poderia ser algo tão importante. Isso me levou a me questionar e me convencer de
que o melhor era ser eu mesma".
Forma e conteúdo se unem no trabalho dessa pequena
notável (Pitty foi o apelido que a menina Priscila ganhou por
causa da estatura), disposta a mostrar que o tabuleiro da baiana tem muito mais
coisas do que a nossa vã imaginação poderia sacar.
Na adolescência em Salvador, a cantora integrou a banda
de hardcore Inkoma, que lançou fita demo, participou de coletâneas e lançou no
ano de 2000 o CD Influir. "E o que impressionava não era o fato de eu ser
menina, mas o nosso som, que era muito tosco. É claro, porém, que rolavam
algumas piadinhas", diz Pitty.
Mas como tudo na vida, o Inkoma acabou. Atropelada pelos
acontecimentos, Pitty foi a luta. Aprendeu a tocar violão, foi estudar música na
escola da Universidade Federal da Bahia (onde Tom Zé, em outros tempos, teve
suas lições de música atonal com o maestro Hans-Joachim Koellreutter) e começou
a compor. As letras vieram dos diários que mantinha desde a infância - com eles,
por sinal, que ela começou a se alfabetizar. Sem a menor das expectativas, numa
tarde vazia, Pitty recebeu um telefone do produtor Rafael Ramos (de discos de
Los Hermanos, Raimundos, João Donato, Video Hits, entre outros), que era um dos
sócios do Tamborete, selo que lançara o disco do Inkoma. Informado de que ela
compunha para um possível trabalho solo, Rafael pediu uma fita com as músicas em
voz e violão. E o resto...o resto ainda há de ser história.
Admirável Chip Novo
Para gravar Admirável Chip Novo no Rio,
nos estúdios Tambor, sob o comando de Rafael, Pitty carregou dois dos melhores
músicos de rock de Salvador: o guitarrista Peu (do Dois Sapos e Meio) e o
baterista Duda (do Lisergia), que
tiveram
até um grupo juntos, o Diga Aí Chefe. Com punch e categoria instrumental, eles
ajudaram a cantora a moldar aquilo que define como "um apanhado sonoro" de tudo
que ouviu na vida. "Teto De Vidro" ("Quem não tem teto de vidro que atire a
primeira pedra") abre o disco com pulsação metal, indignação punk e uma
feminilidade que irá surpreender muita gente. Sem refresco, entra em seguida a
também pesada faixa-título que Pitty não esconde, é mesmo inspirada pelo livro
Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, um dos escritores favoritos dessa rata
de sebo fissurada por ficcção científica. Bombardeada de manhã cedo na internet
por todo tipo de mensagem publicitária, Pitty anteviu um mundo em que as pessoas
haviam se tornado robôs - e só ela era capaz de ver a verdade sobre a dominação,
como se fosse o herói do filme Matrix. Já o filósofo inglês Thomas Hobbes é a
referência de outra pedrada do disco, "O Lobo" ("o homem e o lobo do homem"). E
um conto de Edgar Allan Poe, sobre a possibilidade de se fazer parar o tempo,
deu a partida para a épica "Temporal", faixa que acabou ganhando uma roupagem a
altura das suas intenções: violoncelo de Jacques Morelembaum, violão de Moska e
violino de Ricardo Amado, num arranjo cheio de arabescos de Jota Moraes, que não
deixa nada a dever a um "Disarm" dos Smashing Pumpkins ou mesmo um "Kashmir" do
Led Zeppelin.
Apesar de estar cheio de músicas fortes, como "Só de
Passagem", "Semana Que Vem", "Emboscada" e "Do Mesmo Lado", Admirável Chip Novo
abre espaço para Pitty se aventurar numa power balada, "Equalize", que teve a
participação do mutante Liminha no baixo, (nas outras faixas, o instrumento foi
tocado pelo onipresente Dunga). Mais uma vez, surpresa: diferentemente de um
exemplar comum desse gênero popularizado por Kiss, Scropions e Bon Jovi, o
romantismo não é sinônimo de baba. Ao contrário: o componente mais forte da
música é o erótico, expresso em delicadas metáforas. "Não fiz uma música sobre
amor, mas sobre sexo", entrega Pitty. Algo que certamente Avril não escreveria
por conhecer ainda pouco da vida, e Alanis por estar mais preocupada em ser zen.
Mas Pitty, como de costume, não está nem aí para as comparações. E nem pensa
muito no futuro, bem ao estilo Kurt Cobain - o que importa é que o trabalho está
feito. "Tudo pode mudar. Eu pulei do penhasco e não sei se o pára-quedas vai
abrir. Mas se não abrir, também, tudo bem", diz.
Anacrônico
Ah, as loucuras cometidas em nome do
amor e do segundo disco. Sabe como é, o primeiro beijo enlouquece e acelera o
coração. A pessoa perde o sono, perde a fome, perde o chão. Só quer saber da
outra. O primeiro disco, quando pega, é assim também. O mercado fica louco, a
rádio fica louca, os fãs, caraca, os fãs ficam loucos A loucura é geral. Todos
querem (ouvir) mais.
Mas é no segundo beijo que o bicho pega. Afinal, é ele que sedimenta a paixão.
Desde que seja bem dado, claro. O mesmo vale para o segundo disco. É ele que dá
firmeza, sustenta a carreira e bota um nome definitivamente no mapa. E no
coração.
Pitty
está nessa fase. Depois de conquistar o Brasil com seu disco de estréia,
“Admirável chip novo”, ela avança para a etapa dois com “Anacrônico”. Avança
furiosamente, avança sem titubear. Produzido por Rafael Ramos, “Anacrônico” é
quase um beijo à força. Sem violência, claro, mas pegando no braço, encostando o
ouvinte na parede e fazendo uma nova declaração de amor. Uma declaração firme
como a faixa de abertura, “A saideira”: pesada, contundente, ameaçadora, as
guitarras rodando e soando como um mix de Mars Volta e King Crimson. É como se
ela dissesse: “E aí, garoto? E aí, garota? Vai me beijar ou vai ficar de
bobeira?”.
Na real, Pitty tem outras coisas para dizer sobre o disco, sobre essa fase dois
de sua vida. “Esse disco é uma seqüência muito natural do primeiro. Ele traz
coisas que a gente queria fazer desde o primeiro, mas não tinha o know how”.
Segundo ela, o “sabe como” veio com o tempo e com a vida na estrada. “A gente só
conseguiu gravar o disco como ele foi feito, quase de primeira, com todo mundo
no estúdio, porque acumulamos um bom tempo na estrada. Na verdade, o plano
inicial era pararmos de viajar e ficar só no estúdio. Mas não deu. O máximo que
conseguimos foi diminuir o ritmo das turnês para ensaiar. Mas foi bom assim
porque usamos os shows para testar as novas músicas”.
Na letra da faixa-título, ela meio que explica o que aconteceu com a garota que
num dia era integrante de uma relativamente obscura banda de hardcore baiana e
no outro era A — assim mesmo, em letra maiúscula — modelo de rocker à
brasileira. “Mas pare e perceba como o seu dia-a-dia mudou/Mudaram os horários,
hábitos e lugares/Inclusive as pessoas ao redor/São outros rostos, outras
vozes/Interagindo e modificando você”
“Essa letra é autobiográfica”, diz Pitty, “Mas ela também se aplica a qualquer
um. Todo mundo muda, todo mundo evolui. Eu mudei também, mas não perdi minha
essência. Trabalho pra caralho, mas hoje posso dizer que vivo do meu trabalho,
pago minhas contas com rock. Isso é legal”.
Falando nas quatro letras do barulho, “Anacrônico”, masterizado em Los Angeles
por Brian Gardner, que já trabalhou com David Bowie e Foo Fighters, é mais rock
do que o primeiro disco. É mais seco, direto e, sem dúvida, mais pesado. Basta
ouvir como as guitarras entram queimando em "Memórias". ("Eu vou despedaçar
você", completa Pitty, no mesmo tom da música). Ou reparar na fúria hardcore de
"Aahhh...!", um cuspe radioativo com pouco mais de um minuto, a bateria batendo
cabeça acompanhando os urros de Pitty. “Esse disco não é parecido com o
primeiro, mas mantém algumas características dele. É um avanço, mas sem repetir
fórmulas”, garante ela.
As letras, sim, continuam boas, sem papo furado. Em “De você”, ela canta “Esse
vidro fechado/E a grade no portão/Suposta segurança/Mas não são proteção/E
quando o caos chegar/Nenhum muro vai te guardar/De você”. Olhando as grades e os
muros em torno de prédios e casas aqui e ali, em toda a parte, você sabe do que
ela está falando. Correspondente da nossa loucura urbana, Pitty explica:
“Vivemos presos. Antigamente, todo mundo brincava na rua. Hoje, os moleques
vivem presos dentro dos condomínios. Isso é triste. É um reflexo da situação
caótica em que vivemos”.
Mais forte, porém, é a letra de “Quem vai queimar” (“Estuprem as
mulheres/Brutalizem os homens/E queimem as bruxas”). Qual é? Pitty explica: “Eu
adoro história, adoro ler sobre fatos históricos. E andei lendo muito sobre a
inquisição, sobre as barbaridades feitas em nome da religião. Fiz essa letra
pensando nisso e também no papel da mulher na história, sempre sendo vista como
a porta de entrada para o pecado”. Para o futuro, depois de sedimentar a paixão
geral com “Anacrônico”, Pitty diz que, além do hardcore usual, tem ouvido muito
blues, muito jazz, coisas bacanas como Etta James e Nina Simone. E brinca: “Quem
sabe não viro uma cantora de blues, bem velhinha, com um copo de uísque na
mão?”.
Pode ser, pode ser. Afinal, “Anacrônico” quer dizer “o que está em desacordo com
a moda”. E Pitty, definitivamente, faz o seu próprio estilo.
que se beneficiou de uma cena roqueira que na época abria brechas
no sufoco axé de Salvador, de bandas