RESUMO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA



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Nota:
Esse resumo foi elaborado a partir da grande obra História da Filosofia de Humberto Padovani e Luis Castagnola da Editora Melhoramentos, S. Paulo, 15ª Edição, 1990.

Tem como finalidade fornecer um apanhado geral do texto para propiciar sua leitura e dar uma visão geral dos diversos períodos do pensamento filosófico.

Também, com esse resumo, ficará mais fácil nos situarmos ao lermos qualquer assunto pertinente ao tema.

Procuramos manter o texto empregado pelos aurtores, fazendo poucas adições e dando uma formatação própria.

Observação: quando aparecer [G] no final de uma palavra, quer dizer que sua definição consta do glossário no final do artigo. Ex.: imanentismo [G]

Apresentamos, também, ao lado, uma divisão, em períodos, da história e, clicando aqui você irá para uma tabela com os principais períodos da história alinhados no tempo.

Períodos da Historia:


Pré-história – anterior aos 4.000 anos a.C. quando iniciou a escrita.


Idade Antiga – dos 4000 anos a.C. até 476 anos d.C. quando se deu a queda de Roma.


Idade Média – dos 476 anos até 1453 anos, quando terminou a Guerra dos 100 anos e finalizou com a queda de Constantinopla para os turcos otomanos.


Idade Moderna – de 1453 até 1789 a.C. quando começou a Revolução Francesa.


Idade Contemporânea – de 1789 até os dias de hoje.




Distribuição do texto


A) O pensamento grego
    1) Período naturalista.
    2) Período sistemático.
    3) Período ético.
    4) Período religioso.

B) O pensamento cristão
    1) O cristianismo.
    2) A patrística.
    3) A escolástica.

Glossário
C) O pensamento moderno
    1) A Renascença.
    2) O racionalismo.
    3) O empirismo.
    4) O iluminismo.

D) O pensamento contemporâneo
    1) O criticismo kantiani.
    2) O idealismo.
    3) O espiritualismo do século XIX.
    4) O positivismo.
    5) A filosofia do século XX.


A) O PENSAMENTO GREGO
Compreende quatro períodos: Naturalista, Sistemático, Ético e Religioso. Vai do século VI a.C. ao século VI d. C.

(INÍCIO DO SÉCULO VI a. C.)

1) PERÍODO NATURALISTA:
A especulação dos filósofos é voltada para o mundo exterior.

Os Jônios:
Surge nas colônias gregas da Jônia (Ásia Menor) e da Magna Grécia (Sul da Itália). Esses filósofos julgaram achar a substância última das coisas numa única matéria animada por uma força interior (hilozoismo). Tales de Mileto, fundador da escola Jônica (624-546 a. C.), sustentava ser a água a substância de todas as coisas. Para Anaximandro, também de Mileto (610-547 a. C.) o elemento primordial seria o indeterminado (ápeiron), infinito e em movimento perpétuo. Anaxímener (585-528 a. C.) também de Mileto julgava ser o ar.

Os Pitagóricos:
Pitágoras fundador da escola pitagórica nasceu em Sanos (371 a. C.) mas foi para a Itália meridional onde fundou sua escola filosófica, com tendência também religiosa e política. Segundo o pitagorismo, essência, o princípio primordial da realidade é representado pelo número, isto é, pelas relações matemáticas.

Heráclito:
Natural de Efeso (Jônia) viveu entre os séculos VI e V a. C, o princípio primordial é o fogo. Revesar-se de vida e de morte.
Eleatas:

Escola surgida em Eléia na Magna Grécia. O fundador foi Xenófanes nascido em Cólofon (Ásia Menor) (580 a. C.), O maior expoente foi Parmênides de Eléia. A substância, o princípio primordial das coisas, é o ser uno, imutável, eterno. Zenão foi discípulo de Parmênides.

Empédocles:
De Agrigento (Sicília) (492 a. C.), divide o ser uno dos Eleatas em quatro elementos fundamentais: terra, água, ar e fogo.

Anaxágoras:
De Clazomena (Jônia) (500 a. C.) concebe a realidade como constituída por uma infinidade de partículas mínimas, eternas, e imutáveis (homeomerias)

Demócrito:
De Abdera na Trácia (460 a. C.) é o maior expoente da escola Atomística fundada por Leucipo. Divide ele o ser de Parmênides em uma infinidade de corpúsculos simples e homogêneos (os átomos)

(FINAL DO SÉCULO V a.C,)

2) PERÍODO SISTEMÁTICO (OU ANTROPOLÓGICO):
Ao contrário do período anterior com o interesse filosófico voltado para a metafísica e a natureza, o Sistemático volta-se para o homem e o espírito.

SOFISTAS:

Protágoras, Górgias, Hipias, Pródicos com centro em Atenas. A teoria sofista é substancialmente sensível, subjetiva e cética, demolidora da ciência e da moral. O homem não deve dar freio ao egoísmo, se preciso esmagar os outros para chegar aos objetivos.

NÃO SOFISTAS:

Sócrates:
Nasceu em Atenas (470 a. C.), interessava-se pelo homem, ao contrário dos sofistas, interessava-se pelo homem em geral, para finalidades morais. A construção racional de Sócrates é a gnosiologia, não a metafísica, ele deu-nos um método de ciência. É fundador da ciência moral, mediante a doutrina que identifica eticidade com racionalidade. A escola socrática maior é a platônica.

Platão:
Nasceu em Atenas (428 a. C.). Ao contrário de Sócrates que limitava a investigação filosófica, conceptual, ao campo antropológico e moral, Platão estende tal investigação ao campo metafísico e cosmológico quer dizer, a toda a realidade. O sistema metafísico de Platão caracteriza-se e culmina no mundo divino das idéias, a que é contraposta à matéria. Entre as idéias e a matéria estão o Demiurgo (arquiteto do universo) e as almas donde desce das idéias para a matéria o tanto de racionalidade que nela aparece. A divindade platônica é representada pelo mundo das idéias com a idéia do Bem se destacando. O Demiurgo introduz a alma na matéria. Todo o universo tem alma (é animado).

Aristóteles:
Nasceu em Estagira (384 a. C.). Fundou a escola chamada Liceu e também Peripatética. As questões principais da metafísica geral aristotélica podem-se reduzir a quatro: potência e ato, matéria e forma, particular e universal, motor e coisa movida.

(FINAL DO SÉCULO IV)

3) PERÍODO ÉTICO:
Abrange os três séculos a partir da morte de Aristóteles (322 a. C.) até o início da era vulgar. (Era vulgar é substancialmente a idade do império romano: 1a fase - conquista da Itália; 2ª fase - império mediterrâneo, domínio pelos bárbaros, séculos III - V d. C.). Tem essa designação porque o interesse da filosofia é voltado para os problemas morais.

ESTOICISMO:
O fundador da escola estóica foi Zenão da ilha de Chipre (334 a. C.). Estóica devido ao costume de ensinar num dos pórticos (stoá em grego) da cidade. A filosofia é cultivada unicamente em vista da moral, para dar ao homem a virtude e a felicidade. O fim supremo é a virtude. A verdadeira virtude estóica é a indiferença e a renúncia a todos os bens do mundo, os quais não dependem de nós, porquanto nos podem ser tirados, e por conseguinte nos amargurar. Todo o nosso conhecimento deriva dos sentidos.

EPICURISMO:
Fundada por Epicuro que nasceu em Atenas (341 a. C.), o epicurismo como o estoicismo divide a filosofia em lógica, física e ética. Todo o nosso conhecimento, mesmo o intelectual, deriva da sensação (sensista). Contrariamente à moral estóica e em contradição com seu sistema, é admitido como vértice da vida humana os prazeres espirituais positivos (amizade, arte, pensamento).

CETICISMO E ECLETISMO:
Começa com Pirro (362 a. C.). O ceticismo tenta demolir criticamente o conhecimento sensível, bem como o intelectual e o da opinião.

As ciências naturais na idade helenista:
Nessa idade o vigor declina filosoficamente até o ceticismo e o ecletismo e se despedaça e torna-se empírico nas ciências particulares. O centro cultural é Alexandria com o seu famoso Museu. As ciências nessa época são: a metafísica e a física (Euclides e Arquimedes), a astronomia e a geografia (Ptolomeu e Strabão), as ciências naturais e médicas (Galeno).

O pensamento latino:
O pensamento romano depende essencialmente da filosofia grega do 3º período, de caráter pragmático, moral, que condizia com o temperamento prático romano. Após a conquista romana da Macedônia (168 a, C.) a Grécia torna-se efetivamente uma parte do império romano. Começa a influência grega sobre a civilização romana. Entre as escolas gregas as que tiveram maior influxo em Roma foram a eclética, a estóica e a epicurista.

Ecletismo e epicurismo:
Marco Tulio Cícero (106 - 43 a. C.). Para ele o critério da verdade é a utilidade moral. O estoicismo romano difere do grego, porquanto se limita quase exclusivamente aos problemas morais, dai sua superioridade sobre o grego. Destacam-se entre os estóicos da idade imperial: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio.

O direito romano:
A obra universal que na Grécia foi a filosofia, em Roma foi o direito. Do direito civil levantou-se até o direito das gentes - e até o direito natural, a que a filosofia chega pelas vias da razão.

A educação romana:
O espírito prático romano manifesta-se também na educação, que, entre os romanos, se inspirou nas idéias práticas e sociais. O teórico principal da pedagogia romana é Quintiliano, autor da Instituição Oratória.

(FINAL DO SÉCULO I a. C.)

4) PERÍODO RELIGIOSO:
Abrange os primeiros cinco séculos da era vulgar (a idade do império romano) e a patrística cristã, séculos II - VIII d. C. da era vulgar com que o neoplatonismo tem contatos, intercâmbio e polêmicas. O centro desse movimento filosófico é Alexandria do Egito. Denomina-se religioso porquanto o espírito humano procura a solução integral do problema da vida e da moral na religião ou nas religiões. O sistema metafísico predominante nesse período é o neoplatonismo e o seu expoente maior é Plotino, nascido no Egito (204 - 270 d. C.), que teve como discípulo Porfírio.

Para Plotino o conhecimento tem os seguintes graus: sensação, razão, intelecto, êxtase (Uno, Deus) e assim, quatro são os graus do ser: matéria, alma, noûs (inteligência) e Uno. A doutrina do êxtase é uma fulguração divina superior à filosofia; e é afirmada uma relação específica com a Divindade. O pensamento grego termina com o neoplatonismo oficialmente em 529 d. C. quando Justiniano, imperador do Oriente, mandou fechar oficialmente a escola de Atenas.

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(SÉCULO VI)

B) O PENSAMENTO CRISTÃO:

O início dessa época se superpõe ao período anterior.
Compreende três partes: 1- o Cristianismo, isto é, o pensamento do Novo Testamento, enquanto solução o problema do mal. Corresponde aos fatores históricos do cristianismo: a religião israelita, o pensamento grego e o direito romano. 2- a Patrística, isto é, o pensamento cristão do século II d. C. ao século VIII d. C., a que se deve particularmente a construção da Teologia católica. 3- a Escolástica, isto é, o pensamento cristão desde o século IX ao XV d. C., criador da filosofia cristã verdadeira e própria.

(SÉCULO I d. C.)

1) O CRISTIANISMO:
Os fatores históricos são: a religião israelita, o pensamento grego e o direito romano. De Israel o cristianismo torna o teismo, o conceito de uma revelação divina na história, bem como o de um reparador do mal e do pecado. O pensamento grego justifica os pressupostos metafísicos e o direito romano sistematiza o novo organismo social, a Igreja.
Uma vez demonstrado filosoficamente o teismo, a demonstração da divindade de Cristo se faz por via histórica; e a demonstração da divindade da Igreja é fundamentada sobre Cristo, que se torna garantia por ela.
Os principais conhecimentos sobre Cristo se fazem através dos escritos de seus discípulos - Novo Testamento - que abrange escritos históricos - os Evangelhos e os Atos dos Apóstolos - proféticos - o Apocalipse, de João - e didáticos - as Epístolas.

O problema do mal:
Não há dúvida de que o problema do mal foi o escolho contra o qual debalde se bateu a grande filosofia grega, como qualquer outra filosofia, visto ser o mal, um problema racionalmente insolúvel. É o mal, o chamado mal físico e moral, porquanto é limitação da natureza, verdadeira imperfeição de um determinado ser. O mal moral, espiritual, que domina no mundo humano se dá quando o instinto assenhoreia-se da vontade, com a maioria dos homens tendo vivido e vivendo cegamente, contra as exigências da própria natureza racional, mesmo quando a verdade é considerada pelo intelecto.

O pecado original:
Para resolver o problema do mal, não resolvido pela filosofia, apresenta-se a religião cristã, dizendo de uma queda do homem no começo de sua história, e afirma e demonstra esta verdade, bem como o conjunto de seus dogmas, como sendo divinamente revelada. Segundo a Revelação, o homem não só teria sido criado por Deus no estado de natureza íntegra, mas também teria recebido a mais, os assim chamados dons preternaturais - por exemplo, não morrer - e sobrenaturais - como a participação da própria vida de Deus. Devido ao pecado original, - pecado de orgulho, de rebelião contra Deus - o homem teria perdido os dons referidos; ademais, a sua própria natureza tem sido ferida. Transmitido o pecado a todos os homens fica deste modo explicado o ingresso do mal no mundo.

A redenção pela cruz:
Deus assume natureza humana, em Cristo, precisamente para reparar o pecado original. Desse modo, Cristo se sacrifica até à morte de cruz. As conseqüências da redenção de Cristo, a respeito da humanidade, são as seguintes: ao homem, restituídos os dons sobrenaturais, a graça, a divina adoção. Não lhes foram porém restituídos os dons preternaturais e tampouco a integridade da natureza, a fim de que mediante esta pena pudesse espiar esta culpa original e as atuais, e colaborar, na medida de seu poder, com a redenção de Cristo.

(SÉCULO II d. C.)

2) A PATRÍSTICA:
Este período é assim designado porquanto representa o pensamento dos Padres da Igreja, que são os construtores da teologia católica, guias, mestres da doutrina cristã. A Patrística é contemporânea do último período do pensamento grego, o período religioso, com quem tem fecundo contato, entretanto dele diferenciando-se profundamente, sobretudo como o teismo se diferencia do panteísmo.

É dividido em três períodos:
2.1- antes de Agostinho - período em que filosoficamente, interessam especialmente os chamados apologistas e os padres alexandrinos. 2.2- período de Agostinho - o maior dos Padres. 2.3- depois de Agostinho - que, logo após a sistematização, representa a decadência da Patrística.

2.1- Patrística pré-agostiniana:
Essa patrística é dividida em três grupos: 2.1.1- padres apostólicos, 2.1.2- padres apologistas e 2.1.3- padres controversistas.
Interessam-nos particularmente os segundos, pela defesa racional do cristianismo contra o paganismo; ao passo que os primeiros e terceiros têm uma importância religiosa, dogmática, no âmbito do próprio cristianismo.

2.1.1- Chamam-se apostólicos os escritos canônicos que nos legaram as duas primeiras gerações cristãs, desde o fim do século I d. C. até a metade do século II d. C. Seus autores receberam o nome de padres apostólicos porque floresceram no tempo dos Apóstolos conhecendo-os ou sendo seus discípulos.

2.1.2- Chamam-se padres apologistas os escritores cristãos do século II d. C., que procuraram demonstrar a inocência dos cristãos, para obter em favor deles a tolerância das autoridades públicas; e provar por outro lado o valor da religião cristã para lhe granjear discípulos. Os apologistas, mais cultos que os apostólicos, freqüentemente são filósofos. O maior dos apologistas é Sto Justiniano (Flávio Justino), mártir que nasceu na Palestina no início do século II d. C.

2.1.3- Os controversistas são afins aos apologistas, também do século II d. C.. Distinguem-se desses últimos (antipagãos e hebreus) porque defendem a doutrina cristã contra os hereges. A heresia que mais atrai a atenção deles é o gnosticismo, que se pode considerar como uma forma de racionalismo dos primeiros séculos cristãos, porquanto pretendia mais ou menos resolver a religião - revelada e sobrenatural - na gnose, na filosofia.
O cristianismo, sem mudar a sua fisionomia original, está em condições de desenvolver do seu seio um pensamento, uma filosofia, uma teologia, que representarão a sua essência doutrinal. Esse desenvolvimento, o cristianismo filosófico, se verifica principalmente em Alexandria do Egito. Tiveram grande destaque Clemente e seu discípulo Orígenes.

Clemente (Tito Flávio Clemente):
Nasceu provavelmente em Atenas no ano 150 d. C., distingue os cristãos em : simples cristãos e em gnósticos. O gnóstico cristão, diversamente do simples fiel ou crente, é consciente de sua fé, justificando-a e organizando-a racionalmente, filosoficamente.

Orígenes:
Nasceu em Alexandria do Egito no ano de 185 d. C., é o maior expoente filosófico da escola alexandrina. Foi ordenado sacerdote no ano 230 d. C. Pode ser considerado o verdadeiro fundador da teologia científica, bem como o primeiro sistematizador do pensamento cristão em uma vasta síntese filosófica.

Da igreja latina do século III d. C. destacou-se Tertuliano que nasceu em Cartago entre 150 e 160 d.C. Foi ordenado sacerdote pelo ano 200 d. C.. Tertuliano, o doutor africano, não é um filósofo. Não desconhece a filosofia e, por vezes, se serve dela, mas ignora a especulação propriamente dita; desconfia da filosofia e vê nela a fonte de todas as heresias.

Especialmente a segunda metade do século IV d. C. representa a idade de ouro da Patrística. Os padres dessa época possuem profunda cultura filosófica. Destacaram-se: Àtanasio, Basilio, Gregório Nazianzeno, Gregório de Nissia, João Crisóstemo, Ambrósio de Milão e Jerônimo.

A igreja católica foi declarada livre pelo Edito de Milão (313 d. C.), protegida por Constantino, torna-se religião do estado com Teodósio.
A grandeza da Patrística nesse século é mais dogmática e teológica do que científica e filosófica.
As grandes heresias da época obrigaram os padres a defender racionalmente e filosoficamente a doutrina católica, atacada especialmente por Ário (256-336 d. C.), padre alexandrino oriundo da Líbia, negador da divindade do verbo. A heresia ariana - arianismo - foi condenada pelo concílio de Nicéia (325 d. C.), sendo Sto Atanásio o mais destacado e forte opositor.

2.2 Patrística Agostiniana:
O maior destaque dessa época é Aurélio Agostinho que se inspira em Platão, ou melhor, no neoplatonismo. Nasceu em Tagasta (354 d. C.) cidade da Numidia, se preocupando fundamentalmente com os problemas práticos e morais: o mal, a liberdade, a predestinação.

O pensamento, a gnosiologia: Agostinho sente praticamente e platonicamente a filosofia da vida como solucionadora do problema da vida, a que unicamente o cristianismo pode proporcionar uma solução integral.
Admite ele que os sentidos e o intelecto são fontes de conhecimento.

A metafísica: a alma e o corpo não formam a unidade metafísica, substancial, como a concepção aristotélico-tomista, graças à doutrina da forma e da matéria.

A moral: naturalmente a moral agostiniana é teísta e cristã e, portanto, transcende a ascética. O mal: a solução do mal constitui talvez, a maior glória especulativa de Agostinho. O mal é, fundamentalmente, privação do bem - privação do ser.

2.3 Patrística pós-agostiniana. (a decadência da Patrística):
Decaimento por motivos interiores: pela linha teológica da Patrística, isto é, da razão aplicada ao mistério, contido na Revelação, já não era mais possível um desenvolvimento fecundo. Era preciso mudar o objetivo da especulação, o campo da investigação racional; precisava passar do sobrenatural para a natureza, e dar ao pensamento cristão uma filosofia verdadeira e própria, como já tinha sido construída uma teologia. Será precisamente esta a grande obra de Tomás de Aquinino quase um milênio após.

Decadência por motivos exteriores: decadência do Império Romano, a sua cisão em ocidental e oriental (século IV d. C.); a queda do primeiro pelas invasões bárbaras (germânicas); a lenta agonia do segundo pelas investidas bárbaras (árabes). O último representante ilustre da filosofia no ocidente antes do fim da idade patrística foi Boécio que nasceu em Roma (470 até 480 d. C.).
Mencionamos aqui S. Bento de Núrcia, não pelo fato dele interessar à filosofia, mas porque é o clássico legislador do monaquismo no mundo ocidental, latino, prático, positivo. Nasceu em Núrcia em 480 d. C.. Bento concebeu o monaquismo como uma organização oriental, profundamente individualista.

(SÉCULO IX d. C)

3) A ESCOLÁSTICA:
Representa o último período do pensamento cristão, do começo do século IX d. C. até o fim do século XVI d. C., isto é, da constituição do sacro império romano bárbaro, ao fim da Idade Média, que se assinala geralmente com a descoberta da América (1492). (Nota: outros consideram a queda de Constantinopla em 1453). Esse período de pensamento cristão é designado por escolástica, porquanto era a filosofia ensinada nas escolas da época, pelos mestres, chamados por isso escolásticos. Surge, historicamente, do especial desenvolvimento da dialética. Diversamente da patrística, cujo interesse é sobretudo religioso e cuja glória está na elaboração da teologia católica, o interesse da escolástica será, sobretudo, especulativo e a sua glória será a elaboração da filosofia cristã.
Tal elaboração, porém, será plenamente racional e crítica apenas em Tomás de Aquino, com o qual a escolástica atinge o seu supremo fastígio. Até ao Aquinate, sobrevive a tendência platônico-agostiniana, característica da patrística; dai a impossibilidade de uma filosofia verdadeira e própria, por falta de distinção entre sobrenatural e natural, fé e razão, teologia e filosofia.

Podemos dividir a escolástica em três períodos: 3.1- antes de Tomás de Aquino (pré-tomísta), 3.2- Tomista e 3.3- Pós-tomista.

3.1- Escolástica Pré-tomista- vai do começo do século IX d. C. (Carlos Magno) até a metade do século XIII d. C. (Tomás de Aquino).
Carlos Magno pretendia dar uma unidade interior, espiritual, ao seu vasto e vário império e, portanto, educar intelectualmente, moral e religiosamente os povos bárbaros que o constituíam. Deste modo, restauraria a civilização e a religião, a cultura clássica e o catolicismo e lhes daria incremento. Para tanto, o meio natural eram as escolas, e o clero se apresentava como o mais apto e preparado docente, quer pelo seu imanente caráter de mestre do povo, quer pela cultura de que eram dotado.
Além das escolas monásticas (nos mosteiros fora das cidades) e episcopais (nas cidades), as quais Carlos Magno procurava incrementar, fundou junto da corte imperial a escola palatina, que pode ser considerada a primeira universidade medieval. Posteriormente, surgiram as escolas paroquiais, destinadas a ensinar ao povo os primeiros elementos do saber.
(Século IX e X d. C. e o problema dos universais)

Scoto Erígena:
Foi o iniciador da filosofia escolástica. Nasceu na Irlanda (Scotia maior, em língua céltica- Eriu, donde o nome do filósofo). Parte da revelação divina para, depois, penetrar nos mistérios mediante a razão iluminada por Deus. Tal pretensão de penetrar racionalmente os mistérios revelados, devia acabar logicamente no racionalismo e, por conseguinte, na supressão do sobrenatural, por mais ortodoxa que fosse a intenção do autor.
O problema dos universais (detalhe no texto)
(Séculos XI e XII d. C.: místicos e dialéticos)
Corresponde ao renascimento especulativo que tem início depois da decadência cultural que se seguiu à renascença carolíngea.

São Pedro Damião ( século XI d.C.):
Cardeal e arcebispo, enaltece a onipotência de Deus, até colocá-la acima de toda lei racional, incluindo o princípio de contradição; dai a vaidade da ciência, da filosofia para entender Deus e as suas obras.

Santo Anselmo (1033 d.C.):
Foi monge e posteriormente arcebispo de Canterbury na Inglaterra. Se propõe demonstrar a existência de Deus com argumentos meramente racionais e não escriturais. Pretende demonstrar a existência de Deus com um argumento simples e evidente, capaz de convencer imediatamente um ateu. É um filósofo platônico-agostiniano; seu lema é: creio para compreender, o que significa partir da revelação divina, da fé e não da razão; mas é preciso penetrar depois a fé mediante a razão.

Pedro de Abelardo (1097 d.C.):
Natural da Bretanha, professor famoso em Paris, centro cultural do mundo Católico. Foi condenado por heresia após uma aventura amorosa com Heloisa. Abelardo é ao mesmo tempo, filósofo e teólogo, grego e cristão, céptico e sistemático, com um grande pendor para a crítica e a dialética. No ensaio ético “Conhece-te a ti mesmo” valoriza, na vida moral, o elemento subjetivo, intencional - elemento descurado na Idade Média - em confronto com o elemento objetivo, legal. Abelardo sustenta ser mais moral um ato executado com reta intenção ainda que objetivamente mau, do que um ato executado conforme a lei, mas com intenção má,

3.2- Escolástica Tomista (século XIII d.C.)
É o século de ouro da escolástica e do pensamento filosófico cristão. O mundo latino-cristão, escolástico, depois de conhecido Aristóteles através da cultura árabe, apaixonou-se pela filosofia aristotélica, que estudou intensamente. Os árabes foram admiradores de Aristóteles e de sua filosofia, que salvaram das invasões bárbaras durante as trevas medievais do Ocidente latino. Os maiores filósofos árabes conhecedores de Aristóteles e que influenciaram profundamente sobre o Ocidente latino-cristão, foram Avicena e Averroés.

Nos meados do século XII d.C., uma sociedade de homens cultos da Espanha traduziu do árabe para o latim as obras de Aristóteles. Mais tarde, aconselhado por Tomás, Maerbeke fez a tradução direta do grego para o latim, o que proporcionou ao latinos o conhecimento genuíno Estagirita. Ao mesmo tempo se desenvolveram as grandes universíades medievais surgidas geralmente das escolas episcopais.
As mais famosas foram as de Paris e de Oxford. A de Paris desenvolveu a filosofia e a teologia, inspirando-se na mentalidade aristotélica; a de Oxford dedicou-se especialmente às ciências naturais, inspirando-se na mentalidade agostiniana.

Fizeram parte dessas universidades professores pertencentes às duas ordens religiosas surgidas no século XIII d.C.: os Dominicanos, fundados por S. Domingos de Gusmão, espanhol. e os Franciscanos, fundados por S. Francisco de Assis, italiano. Eram características dessas ordens a pobreza individual e coletiva, donde o nome de mendicantes, e também certa liberdade a respeito das obrigações conventuais, para melhor facultar o cultivo do estudo e a pregação apostólica entre o povo.

S. Boaventura (1221 d.C.):
É o maior representante do agostinianismo-aristotélico. Segundo Boaventura, a tarefa da filosofia não é teórica e racional, mas prática e religiosa, isto é, a filosofia deve levar a Deus. A psicologia de Boaventura sustenta que a alma humana é uma substância completa independente do corpo, composta de forma e matéria, auto-suficiente. Diametralmente oposto a este antiaristotelismo agostiniano, é o aristotelismo exagerado averroista, que aceita o sistema aristotélico sem crítica nenhuma, e, por conseqüência, será inteiramente infecundo. Esta orientação filosófica é chamada averroista porquanto admite - como admitia Averroés - que haja teses filosóficas em contraste com o teísmo da religião.

Siger de Brabante (falecido pelo ano de 1284 d. C.):
É o maior representante averroista, professor na universidade parisiense, condenado mais tarde pela Igreja. As teses mais notáveis em contraste com o cristianismo são: a negação da providência divina; a afirmação da eternidade do mundo; a afirmação da unidade do intelecto na espécie humana e a conseqüente negação da imortalidade pessoal do homem. Entre estas duas posições extremas - de idolatria ou de irredutível hostilidade - a respeito de Aristóteles, medeia Tomás de Aquino, que realizará a justificação da filosofia e da teologia.

Tomás de Aquino (nasceu em 1225 d. C.):
Após uma longa preparação e um desenvolvimento promissor, a escolástica chega ao seu ápice com Tomás de Aquino. Adquire plena consciência dos poderes da razão, e proporciona finalmente ao pensamento cristão uma filosofia. Assim, converge para Aquino não apenas o pensamento escolástico, mas também o pensamento patrístico. Representa Aquino a síntese do pensamento clássico cristão, hebraico e árabe. Aquino expõe, em todas as questões particulares, todas as teses dos adversários e a relativa crítica de modo que a solução racional das vária questões é baseada criticamente em toda a história positiva da filosofia.
Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, de família feudal era unido pelos laços de sangue à família imperial e às famílias reais da França, Sicília e Aragão; entrou na ordem dominicana e renunciou a tudo, salvo à ciência. Aquino foi iniciado no aristotelismo por Alberto Magno que também era dominicano.

Aquino lutou contra o averroismo de Siger de Brabante. Faleceu com 49 anos. Diversamente do agostinismo, e em harmonia com o pensamento aristotélico, Aquino considera a filosofia como uma disciplina essencialmente teórica para resolver o problema do mundo. Considera o conteúdo da teologia como arcano e revelado e o da filosofia como evidente e reacional.
A gnosiologia tomista - diversamente da agostiniana e em harmonia com a aristotélica - é empírica e racional, sem inatismos e iluminações divinas.

A metafísica tomista pode ser dividida em geral e especial. A metafísica geral (ou ontologia) tem como objetivo o ser em geral e as atribuições e leis relativas. A metafísica especial estuda o ser em suas grandes especificações: Deus, o espírito, o mundo. Daí temos a teologia racional (distinta da teologia revelada). A psicologia racional (porquanto é filosofia), distinta da moderna psicologia empírica (ciência experimental). A cosmologia ou filosofia da natureza (estuda a natureza e suas causas primeiras) e a ciência experimental (estuda a natureza em suas causas segundas).

O princípio básico da ontologia tomista é a especificação do ser em potência e ato. Potência quer dizer não-realidade, imperfeição, capacidade de conseguir concretizar-se; ato significa realidade, perfeição.
Tal passagem de potência ao ato é o vir-a-ser. Na filosofia de Aristóteles e Tomás de Aquino, toda substância corpórea é um composto de duas partes substanciais: complementares, uma passiva e em si mesma absolutamente indeterminada (a matéria), outra ativa e determinada (a forma).
Além destas duas causas constitutivas (matéria e forma), os seres materiais têm outras duas: a causa eficiente e a causa final. A causa eficiente é a que faz surgir o “sínolo” (síntese daquela determinada matéria com a forma que a especifica). A causa final é o fim para que opera a causa eficiente (que determina a ordem observada no universo).
Quando a forma é o princípio da vida, que é uma atividade cuja origem está dentro do ser, chama-se alma. A alma das plantas é a alma vegetativa (pois se alimentam, crescem e se reproduzem). A dos animais é a alma sensitiva (além da vegetativa, sente e se move). A do homem é a alma racional ou espiritual (além de vegetativa e de sensitiva, entende e quer).

Contrariamente à doutrina agostiniana que pretendia ser Deus conhecido imediatamente por intuição, Tomás sustenta que Deus não é conhecido por intuição, mas é cognoscível unicamente por demonstração; entretanto esta demonstração é sólida e racional, não decorre de argumentações a priori, mas unicamente a posteriori, partindo da experiência, que sem Deus seria contraditória.

Segundo a solução dualista grega, do problema metafísico, teológico, o mundo e o homem sai algo de verdadeiramente autônomo e independente de Deus, mas Deus fica limitado pelo mundo inexplicável; segundo a solução monista desse problema, o homem e o mundo são da mesma substância de Deus, mas Deus é resolvido no mundo e o mundo fica igualmente inexplicável; segundo a solução teísta do problema teológico, o homem existe verdadeiramente, mas depende totalmente de Deus, no ser e no agir.
Também no campo da moral, Tomás se distingue do agostinianismo, pois a moral tomista é essencia lmente intelectualista, ao passo que a moral agostiniana é voluntarista, quer dizer, a vontade não só é condição do conhecimento, mas tem como fim o conhecimento. A ordem moral, pois, não depende da vontade arbitrária de Deus, e sim da necessidade racional da divina essência, isto é, a ordem moral é imanente, essencial, inseparável da natureza humana, que é uma determinada imagem da essência divina, que Deus quis realizar no mundo.
Desta sorte, agir moralmente significa agir racionalmente, em harmonia com a natureza racional do homem.

O tomismo afirma-se como crítica que valoriza a orientação do pensamento platônico-agostiniano em nome do racionalismo aristotélico, que pareceu um escândalo, no campo católico ao misticismo agostiniano.
Ademais, o tomismo se afirma e se caracteriza como início da filosofia no pensamento cristão e, por conseguinte, como o início do pensamento moderno, enquanto a filosofia é concebida qual construção autônoma e crítica da razão humana.
Ao agostinianismo, separado pelo tomismo, voltará mais ou menos, anacronicamente, a escolástica pós-tomista, como veremos a seguir.

3.3 - Escolástica pós-tomista (século XIII d. C.)
O tomismo era, talvez, um movimento essencialmente novo e arrojado, para poder súbita e definitivamente impor-se no âmbito do pensamento cristão medieval. Houve, portanto, no mesmo século XIII, logo depois de uma reação violenta contra o tomismo, um retorno especulativo ao agostinianismo, que julgou encobrir o seu anacronismo, tentando uma superação do racionalismo tomista.
O centro desta escolástica pós-tomista é a universidade de Oxford, cujas tendências empiristas, experimentais, positivas, práticas, são conhecidas.
Seus representantes são franciscanos, de origem agostiniana.

Rogério Bacon (1210 d. C.):
Inglês, franciscano, aluno e professor em Oxford. Segundo Bacon, três são as fontes do saber: a autoridade, a razão e a experiência. A autoridade dá-nos a crença, a fé, mas não a ciência. A razão produz a ciência, mas esta não é eficaz sem a experiência. A ciência experimental constitui, portanto, a fonte mais sólida da certeza.

João Duns Scoto (faleceu em 1303 d. C.):
Também inglês, franciscano, agostiniano, estudante e professor em Oxford. Foi o maior vulto da escolástica pós tomista. Manifesta-se, sobretudo, no conceito de filosofia, obra da razão, concebida como instrumento para a inteligência da fé. Contra o intelectualismo tomista, Scoto mantém o primado agostiniano da vontade, não apenas no homem, mas também em Deus, de cujo arbítrio dependeriam as verdades metafísicas e as leis morais.

Guilherme de Occam (1300 d. C.):
Fez-se franciscano, estudou e ensinou em Oxford. Foi processado por heresia pela Sta. Fé, e pôs-se ao lado do imperador contra o Papa. Sustenta que o saber verdadeiro é o sensível (empirismo): nos dá a realidade, e é particular.
Daí se segue a ruína do conceito, da ciência, da filosofia, etc.; e portanto o ceticismo. Occam julga evitar o ceticismo, refugiando-se na Revelação; mas precipita-se no dideismo. Termina, assim, historicamente, a escolástica medieval.

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C) O PENSAMENTO MODERNO:

O grandioso edifício ideal da Idade Média, em que a religião e civilização, teologia e filosofia, Igreja e Estado, clero e laicado, estavam harmonizados na transcendente unidade cristã, foi de fato, destruído pelo humanismo imanentista, que construiu o espírito característico do pensamento moderno. Este pensamento começa com a prevalência dada aos interesses e aos ideais religiosos; e torna-se completo com a justificação dos primeiros e exclusão dos segundos.

No pensamento clássico a característica específica está na solução dualista do problema metafísico. Existem o mundo e Deus, mas são separados entre si: Deus não conhece, não cria, não governa o mundo.

No pensamento cristão, teista [G], tal dualismo não será negado, mas desenvolvido mediante o conceito de criação, em virtude da qual é ainda afirmada a realidade e a distinção entre o mundo e Deus, mas Deus é feito criador e regedor do mundo: o mundo não pode ter explicação a não ser em um Deus que transcende o mundo.

No pensamento moderno, ao contrario, há uma concepção monista [G]-imanentista [G] do mundo e da vida: não somente Deus e o mundo são a mesma coisa, mais Deus é resolvido num mundo natural e humano (contrariamente à transcendência).

Dado o caráter imanentista e humanista da Renascença, não é possível uma religião verdadeira e própria, porquanto à religião é indispensável o conceito de um Deus transcendental e pessoal. A Renascença teve, no entanto, a sua religião, ou um sucedâneo de religião. Tal sucedâneo pode procurar-se especialmente nas ciências ocultas – magia e astrologia – que desfrutaram então tamanho favor; pois, em todas a épocas de descrença, a superstição toma fatalmente o lugar da religião.

Não queremos dizer que o cristianismo esteja ausente, de fato, do pensamento da Renascença, e muito menos que esteja ausente da vida da Renascença. Mas o cristianismo, na sua genuína forma católica, transcendente e ascética, não é, de direito, harmonizável com o pensamento e com a vida renascentistas. O verdadeiro cristianismo da Renascença é representado pelo protestantismo, e, em especial, pelo protestantismo luterano.
Este – apesar de tantos de seus aspectos exteriores estarem em oposição com o espírito renascentista – exprime, no fundo, o mesmo ideal imanentista e individualista da Renascença.
Portanto, teremos de tratar da reforma protestante como sendo a religião da época nova, e, em seguida, da contra-reforma católica como natural reação, ou melhor, como desenvolvimento lógico do cristianismo católico, perante as duas novas tendências de pensamento e de vida: Renascença e Reforma.

Os períodos do pensamento moderno são:

1) A RENASCENÇA (séculos XV e XVI):
Abrange substancialmente os séculos XV (humanismo) e XVI (Renascença, propriamente dita) em que a concepção imanentista, humanista ou naturalista é posteriormente afirmada e vivida.
A Renascença tem como equivalente religioso a reforma protestante. É uma poderosa afirmação, particularmente no campo da prática, de humanismo e de imanentismo, o que é manifestado pelo seu individualismo, pelo seu ardente interesse pelo mundo a conquistar, dominar, gozar com meios humanos; pelo seu naturalismo que diviniza o homem material - como já aconteceu no paganismo antigo.
O humanismo moderno não descansará num tranqüilo gozo da vida, mas tenderá ao ativismo agitado e sem meta, característico da idade moderna.
Como pensadores dessa fase, destacam-se: Nicolau Krebs (1401 – 1464), Bernardino Telésio (1509 – 1588), Giordano Bruno (1548 – 1600), Tomás Campanella (1568 – 1639), Nicolau Machiavelli (1469 – 1572), Galileu Galilei (1564 – 1642).

1 a - O humanismo (séc. XV) é considerado um movimento literário e a Renascença (séc. XVI) um movimento mais vasto, cultural e filosófico. Ambos tiveram origem na Itália. O humanismo pode, com razão definir-se pela palavra: o homem potenciado, celebrado, exaltado até a divindade, livre de si mesmo, dominador da natureza, senhor do mundo. É logo um paganismo ainda mais radical que o antigo, porquanto espiritual e interior. Mas, fora da Itália o humanismo interessou-se mais pelos problemas e pelas questões religiosas. A Itália politicamente dividida e súdita do estrangeiro, ditava leis ao resto da Europa no campo da cultura, do pensamento, da arte, da ciência, da vida, dos costumes, da elegância, etc..

Na Idade Média o pensamento clássico, particularmente o pensamento aristotélico, era conhecido e apreciado, mas interpretado potenciado cristãmente. A Renascença é preparada pelo Humanismo, e tem como seu equivalente religioso a reforma protestante. O protestantismo é fenômeno essencialmente germânico. A figura dominante entre os grandes reformadores da época, é Lutero (1483 – 1546), alemão que determinou a separação dos povos germânicos da igreja católica. A Reforma, ao contrario da Renascença, como mostraremos adiante, se mantém ligada ao sobrenatural cristão, chegando até a uma concepção e praxe aniquiladoras do homem perante o Deus do Cristianismo. 1 b - Na Renascença (séc. XVI), tal pensamento será interpretado imanentisticamente, naturalisticamente, humanisticamente. A Renascença enaltece potentemente a divindade do homem e da natureza, esquecendo-se da transcendência de Deus e de Cristo. Todas as antigas escolas filosóficas são representadas, mais ou menos, na Renascença: platonismo, aristotelismo, estoicismo, epicurismo, ceticismo, representados por Cusa, Telério, Bruno, Campanella, Machiavelli, Galileu. Domina, porém, geralmente o neoplatonismo panteísta com base num fundo eclético.

2) O RACIONALISMO (séculos XVII e XVIII):
É o segundo grande período da história do pensamento moderno juntamente com o empirismo.
Como gnosiologias intelectualistas estão em antítese com uma gnosiologia sensista, concordam, no fundo, em um fenomenismo e subjetivismo comuns. O homem conhece as impressões das coisas (subjetivas) que as coisas exercem sobre ele, sobre seu intelecto (racionalismo) e sobre os seus sentidos (empirismo).
O racionalismo, como também o empirismo, tem estrita relação com as ciências naturais e exatas (física, astronomia, mecânica, matemática, etc.) dado o interesse da civilização e do pensamento moderno pela experiência.
Descartes (1596 – 1649) pode ser considerado o fundador do racionalismo moderno e da filosofia moderna.
Seguem depois: Espinosa (1632 – 1677), Malebranche (1638 – 1715), Leibniz (1646 – 1716), Wolff (1679 – 1754).

3) O EMPIRISMO (XVII – XVIII):
Alguma coisa já foi dita quando falamos de racionalismo, dada à semelhança de ambos, relativa ao fenomenismo. Salientamos apenas que o fenomenismo é empirista, sensista, antes que racionalista e matemático. Quer dizer, todo o nosso conhecimento é reduzido aos sentidos.
O iniciador do empirismo é Francis Bacon (1561 – 1626), depois vieram: Hobbes (1588 – 1679), Loke (1632 – 1704), Berkeley (1865 – 1753), Hume (1711 – 1776).

4) O ILUMINISMO (entre o final do século XVII e o final do XVIII):
Saída prática, social, política, moral e religiosa para o empirismo e o racionalismo. É o movimento cultural europeu que cobre o período entre a revolução inglesa (1688) e a revolução francesa (1789).

O racionalismo fornece ao iluminismo o método crítico, a atitude demolidora da tradição. O empirismo contribui para tudo isso fornecendo em procedimento simples, a fim de reconstruir toda a realidade por elementos primitivos mediante o mecanismo e o associacionismo. A obra literária fundamental é a Enciclopédia dirigida por D’Alembert e Diderot.

Fizeram parte desse momento: Voltair (1694 – 1778), Rousseau (1712 – 1778), Condillac (1715 – 1780), Wolff (1679 – 1754), Reimarus (1694 – 1768), Mendelsohnm 1720 – 1796), Lessing (1729 – 1781), Giannone (1676 – 1748), Genovesi (1712 – 1769), Spedalieri (1740 – 1795), Verri (1741 – 1816), Beccaria (1728 – 1794) e Vico (1668 – 1744).

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D) O PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO:

A filosofia contemporânea começa com Kant (1724 - 1804), cujo criticismo influi profundamente sobre o pensamento posterior. A filosofia contemporânea pós-Kantiana manifesta, antes de mais nada,duas tendências antagônicas: o idealismo e o positivismo.

A partir de Kant (o criticismo na segunda metade do século XVIII) levanta-se a renascença da filosofia racional – a metafísica clássica. Essa filosofia reivindica o valor da ciência da razão, influi profundamente sobre a cultura e a organização social no mundo contemporâneo e, torna-se o movimento filosófico mais marcante do tempo presente. As maiores correntes filosóficas contemporâneas são:

1) O criticismo ((XIII):
O fundador do criticismo é Emanuel Kant (1724 – 1804). Representa a síntese especulativa do fenomenismo racionalista e empirista modernos, donde derivará o idealismo moderno e, em geral, o pensamento contemporâneo. Kant foi, portanto, o centro da filosofia moderna. A tendência filosófica que se afirma com Kant toma o nome de criticismo, porquanto tal tendência institui uma investigação preliminar a qualquer outra sobre a possibilidade da razão; constitui uma crítica radical da metafísica (racionalista).

2) O idealismo (XIX):
Dominado pelo conceito de criatividade e liberdade do espírito. Além de Kant, a outra fonte essencial do idealismo alemão é Espinosa.
O primeiro e maior discípulo de Kant, que encaminhou decididamente o criticismo pela senda do idealismo imanentista, é Fichte (1762 – 1814). Outros que se seguiram: Schelling (1775 – 1854), Schleiermacher (1768 – 1831), Hegel (1770 – 1831).
Na própria Alemanha, e partindo do próprio Kant, se determina uma forte crítica ao idealismo que chega ao apogeu com o pessimismo de Schopenhauer (1788 – 1860), Herbat (1776 – 1841) tem uma posição comum a Schopenhauer.

3) O espiritualismo (XIX):
Ao lado da corrente criticista e idealista – cujo foco principal foi a Alemanha –, e da corrente positivista e sensista, cujos centros principais foram a França e a Inglaterra, houve também uma forte corrente espiritualista, especialmente na França e na Itália, desde o princípio do século XIX.
O positivismo, que negava toda realidade supra-sensível, e o criticismo e o idealismo que propugnava a realidade do conhecimento, levaram o pensamento às contradições do ceticismo.
Maine de Biron (1766 – 1824), Vitor Cousin (1792 – 1867).

4) O positivismo (XIX):
Dividiremos esse assunto em duas partes: 1 – A afirmação do positivismo e 2 – A reação antipositivista.

    1 - O positivismo representa uma reação contra o apriorismo, o formalismo, o idealismo, exigindo maior respeito para a experiência e os dados positivos.
A diferença fundamental entre idealismo e positivismo é o seguinte: o primeiro procura uma interpretação, uma unificação da experiência imediata, pura, sensível, como já fizera o empirismo.
O maior representante do positivismo francês é Augusto Comte (1798 – 1857); por motivo cronológico, é também considerado o fundador do positivismo em geral.
Outros positivistas, da França, Inglaterra, Alemanha e Itália, foram: Emilio Littré (1801 – 1903), Hipólito Taine (1828 – 1873), João Stuart Mill (1806 – 1873), Herbert Spencer (1820 – 1903), Ludovico Feuerbach (1804 – 1872), Carlos Marx (1818 – 1883), Frederico Engels (1820 – 1895), Ernesto Haeckel (1834 – 1919), Frederico Lange (1828 – 1875), Guilherme Schuppe (1836 – 1913), Ricardo Avenarius (1843 – 1906), Carlos Cattanes (1801 – 1869), Pasquale Villari (1827 – 1917), César Lombroso (1836 – 1909), Aristides Gabelli (1830 – 1891), André Anguili (1837 – 1890), Roberto Ardigó (1828 – 1920).

    2 – A reação antipositivista - A crítica ao positivismo, no seio do próprio positivismo, é vasta e vária.
As correntes positivistas mais importantes são: o neo-hegelianismo italiano de Spaventa; o psicologismo alemão de Wundt; o pragmatismo americano de James; o contigentismo francês de Boutroux.

    a) Neo-hegelianismo italiano – Spaventa (1817 – 1883), é independente e original intérprete de Hegel em sentido imanentista e humanista. Deixou alguns discípulos, que levaram o neo-hegelianismo italiano até o século XX, coligando-o ao idealismo atual de Croce e Gentile.
Um dos maiores colaboradores de Spaventa foi Francisco De Sanctis (1818 -1883).

    b) Psicologismo alemão – Na Alemanha, quem se opôs decididamente ao positivismo, partindo do próprio positivismo, foi Guilherme Wundt (1832 – 1920). Wundt pode ser considerado um dos grandes fundadores e mais ilustrados cultores da psicologia moderna experimental, especialmente da psicologia coletiva. Para Wundt, a filosofia teria uma tarefa específica: a sistematização crítica dos resultados das várias ciências em uma intuição unitária do mundo e da vida.
Para ele, a filosofia é necessária para satisfazer às mais altas e legítimas exigências teoréticas e práticas do espírito, às quais a ciência do positivismo não pode satisfazer.

    c) Pragmatismo americano – O pragmatismo dá ao pensamento, ao conhecimento, ao conceito, um valor apenas prático, econômico, útil, e, por conseguinte, destrói a ciência idolatrada pelo positivismo.
Aqui se destaca William James (1842 – 1910) psicólogo moderno, que, como Wundt, procura na psicologia uma saída da ciência para a metafísica, da experiência para o Absoluto. É sabido que James pôs em evidência como em volta de nossa consciência há uma zona de penumbra psíquica, de semiconsciência, isto é, a subconsciência.

    d) Contingentismo francês – Esse nome foi dado porque sustenta que a lei suprema do mundo é a contingência, a liberdade em lugar da necessidade e do determinismo da ciência positivista.
O maior representante desse pensamento é Emilio Boutroux (1845 – 1921).
A existência, em geral, é contingente, isto é, não pode ser deduzida a priori da idéia de possível, porque a realidade não se tira analiticamente da possibilidade, pois a realidade é bem mais rica que a possibilidade.

5) A filosofia do século XX:
A filosofia do século XX apresenta as tendências mais desencontradas, e as orientações mais opostas.
O pensamento da primeira metade do século XX representa uma viva reação à filosofia do século IX, idealista e positivista, bem como à filosofia moderna em geral.
Essa reação, pelo fato de ser realizada dentro dos limites da experiência, de conformidade com o espírito imanentista do pensamento moderno, tinha que acabar, logicamente, no profundo irracionalismo e pessimismo do existencialismo contemporâneo. É preciso evadir do mundo da experiência; mas isso é unicamente possível mediante a filosofia da metafísica clássica.

a) Intuicionismo. O expoente desse pensamento é Henrique Bergson (1859 – 1941). A filosofia toma o nome de intuicionismo, porque afirma constituir o verdadeiro conhecimento não nos conceitos abstratos, do intelecto racionalmente, mas na apreensão imediata, na intuição, como é evidenciado pela experiência interior e pela analise de nós mesmos.
Segundo Bergson, há dois caminhos para conhecer o objeto, duas formas de conhecimento, diversas e de valores desiguais: mediante o conceito e mediante a intuição.
A forma mediante o conceito é o caminho dos conceitos, dos juízos, silogismos, análise e síntese, dedução e indução; a segunda forma é o da intuição imediata que nos proporciona o conhecimento intrínseco, concreto, absoluto (p. 459 de História da filosofia de Padovani e Castagnola).
Na página 460 do mesmo livro, é apresentado o conceito de intuição de Bergson: “A intuição é a faculdade suprema do impulso vital, faculdade cognoscitiva do filósofo. Hoje, só raramente e com grande esforço, podemos chegar à intuição; no entanto a humanidade chegará um dia a desenvolver a intuição de tal modo que será a faculdade ordinária para conhecer as coisas. Então, desaparecerão todas as escolas filosóficas e haverá uma só filosofia verdadeira conhecedora da verdade e do ser absoluto.” (o destaque é meu)

Por mais que os conceitos de intuição difiram entre si, pelo menos as semelhanças muito os aproximam. Não é o que acontece, como foi visto no destaque, com o conceito de intuição de Bergson.
Temos a impressão de que ele está se referindo a outra coisa que não a intuição.

Bergson foi um dos primeiros a fazer referência ao inconsciente; diz ele: “Explorar as mais sagradas profundezas do inconsciente, labutar no subsolo da consciência; será esta a principal tarefa da psicologia no século que está começando. Não tenho dúvidas de que descobertas maravilhosas a aguardam nele.”

b) O modernismo é um vasto movimento herético do começo do século XX que tinha o propósito, em geral, de fazer uma síntese entre cristianismo e pensamento moderno, o que era, evidentemente impossível levando-se em conta o caráter essencialmente transcendental e humanista do pensamento moderno.
Fizeram parte desse pensamento: Mauricio Blondel (1861 – 1949), Luciano Laberthonnière (1860 – 1932) e Eduardo Le Roy (1870 – 1954).

c) O pensamento espanhol foi um vigoroso esforço, no século XIX, de renascença da filosofia escolástica tradicional.
O maior expoente foi Jaime Balmes Urpiá (1810 – 1848). Destacam-se também: Miguel de Unamuno (1864 – 1936) e José Ortega y Gasset (1883 – 1955).

d) O atualismo. Assim como na França, o espiritualismo anti-intelectualista do século XIX teve um desenvolvimento no sentido do intuicionismo bergsoniano e do ativismo blondeliano do século XX, na Itália, o idealismo hegeliano, renovado por Spaventa e seus continuadores no século XIX, retoma vida e se afirma no século XX com o historicismo de Croce e, sobretudo, com o atualismo de Gentile e seus discípulos.
Participaram desse movimento: Benedetto Croce (1866 – 1952), Bernardino Varisco (1850 – 1934), Pedro Martinetti (1872 – 1943) e Giovanni Gentili (1875 – 1944) o maior expoente do idealismo absoluto, atualista, que representa a ultima palavra do idealismo imanentista moderno. Gentile está, pois, de acordo com Croce na concepção idealista-imanentista da realidade, isto é, em conceber a realidade como criação do espírito.

e) Outras correntes filosóficas atuais. Diz Miguel Sciacca: “O imanentismo como tal, é uma posição filosófica desde já esgotada e que se destruiu a si mesma.” “A demolição da razão e da transcendência (metafísica) tem sido a demolição do homem, nem haverá solução da crise e reconstrução espiritual enquanto a razão (não uma razão abstrata) não for de novo a base do saber humano e o fundamento sobre o qual se deverá reconstruir a metafísica autêntica.”
Os filósofos mais notáveis das correntes filosóficas atuais foram:

 Na França, pertencem à corrente idealista: Lachelier (1832 – 1918), Hamelin (1856 – 1907), Brunschvicg (1869 – 1944).

Na Alemanha, Dilthey (1833 – 1912), Simmel (1858 – 1918), Eucken (1846 – 1926), Cohen (1842 – 1918), Natorp (1854 – 1924), Windelband (1848 – 1915), Rickert (1863 – 1936) e Münsterberg (1863 – 1916).

Na Inglaterra e nos Estados Unidos é mais vivo o interesse pelas ciências naturais e matemáticas.
Destacam-se: Balfour (1848 – 1930), Bradley (1846 – 1924), Alexander (1858 – 1938), Whitehead (1868 – 1948), Russel (1872 – 1970) e Satayana (1863 – 1952).

Na Itália destacam-se: Tarozzi (1866), De Sarlo (1864 – 1936) e Carabellese (1877 – 1948).

Apenas, para citar alguns.

f) A fenomenologia.
Edmundo Husserl (1859 – 1938) é considerado o fundador da fenomenologia.
A análise fenomenológica de Husserl dá ênfase ao fenômeno, isto é, ao dado imediato, à coisa que aparece diante da consciência. No fenômeno = dado é contida a sua essência (eidos = forma), cuja intuição originária e imediata é afirmada pela fenomenologia.
As essências (universais, necessárias) são os objetos da pesquisa fenomenológica (donde a ciência eidética, isto é, das essências): os fatos (particulares, contingentes) são os objetos da psicologia (ciência dos fatos baseados na experiência sensível).
O papel da fenomenologia é, unicamente, o de “conhecer e descrever” o mundo eidético (o mundo das puras essências universais contidos nos dados = fenômenos), prescindindo de todos os elementos referentes ao sujeito psicológico, à existência individual, à subjetividade empírica.

É justo reconhecer em Husserl um sério esforço para reivindicar a objetividade do conhecimento, mas o desenvolvimento lógico de seu sistema desemboca no idealismo, afirmando que o objeto é o que é dado ao sujeito, o que é presente à consciência.

Max Scheler (1873 – 1928) foi o mais brilhante discípulo de Husserl, mas deu à sua fenomenologia rumos diferentes e a sua temática é bem mais rica do que a do mestre.
Para Scheler, todos têm seu eu e sua alma, mas não todos são verdadeiramente pessoas, porque a pessoa requer reflexão, maturidade, poder de escolha. A pessoa não é a alma, nem é uma substância, mas a unidade de ser concreta de atos, e por isso existe somente na execução de seus atos, embora não consista neles.

Nicolai Hartmann (1882 – 1950), um fenomenologista, é pensador original, tendo orientado sua fenomenologia para os rumos da filosofia problemática e aporética (dificuldade de ordem racional, conflito entre opiniões, contrárias e igualmente concludentes em resposta a uma mesma questão).

g) O existencialismo.
O existencialismo contemporâneo – movimento vasto, profundo de significado da nossa civilização – representa uma reação e uma crítica ao racionalismo e ao otimismo imanentista do idealismo absoluto. É uma demolição do racionalismo idealista enquanto enucleia, despreocupadamente, todos os elementos negativos, contingentes e irracionais, da experiência humana, que, “absolutizada” imanentisticamente, torna-se contraditória.
Podemos dizer que o existencialismo é o grito do homem moderno e amargurado pelas trágicas conseqüências da filosofia imanentista, destruidora do ser e de Deus.

1 - O existencialismo alemão:
Sören Kierkengaard (1813 – 1855), contemporâneo e adversário de Hegel, foi o fundador do existencialismo alemão.
Kierkingaard pensa que a vida é um grave problema a resolver, especialmente por causa do mal e do pecado, ainda que a maioria dos homens não possa, não queira ou não saiba preocupar-se com esse problema. Ele, porém, concebe este ato existencial como mal e pecado: enquanto implicaria afirmação de si mesmo contra Deus.

Frederico Nietzsche (1844 – 1900) tem importância maior na constituição do existencialismo moderno com a sua doutrina do super-homem. Diz ele que o critério da verdade está no aumento da força e do poder. Deus é uma criação imaginária dos povos fracos; finalidade suprema deve ser a produção do super-homem, imortal, ateu, violento, tirano, egoísta, agarrado à terra sem nunca levantar os olhos para os céus. Tal superioridade do super-homem sobre a massa do povo, isola-o na solidão e na dor, porque o super-homem está aborrecido de ser homem. (Não devemos nos esquecer de que Nietzsche morreu louco).

Martin Heidegger (1889 – 1976) é considerado o maior filosofo do existencialismo.
Segundo o existencialismo de Heidegger, concebido como filosofia do finito, não é a essência que dá significado à existência, mas o contrário.
Par Heidegger, a filosofia deve desvendar a existência, determinar a essência do “estar no mundo”, noutras palavras, a filosofia é pesquisa, determinação do concreto, do individual imediatamente presente à consciência, concebido, porém, como dado, sofrido. A existência é “a problematização”, a “autoproblematização” do estar-no-mundo, para entendê-lo. Quer dizer, a filosofia torna-se metafísica, pois é transcendência do imediato estar-no-mundo, para resolver o problema da vida.
Depois de Heidegger, os dois maiores expoentes do existencialismo são Jaspers, alemão, e Barth, suíço.

Carlos Jaspers (1883 - 1969) distingue a investigação filosófica – concebida como resolvedora do problema da vida – em três momentos hierarquizados: orientação no mundo, esclarecimento da existência, metafísica.

No primeiro momento o ser é pensado – graças ao intelecto, à ciência – como puro estar-no-mundo, objetividade, visão de um mundo de coisas dado e unitário. Mas, tal visão do mundo fracassa, porque, não sendo objetiva e real, se resolve num ponto de vista relativo e particular a cada um, para orientar-se no mundo.
Tal perspectiva relativa e particular significa que, desde o primeiro momento, o individuo humano não faz questão do mundo, e sim de si mesmo, de sua interioridade, da sua existência.

No segundo momento, em que o individuo emerge da objetividade – existe, é consciente de si mesmo. Mediante a existência consciente, portanto, transcende-se o relativo e se atinge o absoluto. Esse fundo obscuro de nossa existência não se pode atingir pela clareza do intelecto, mas pela razão. Essa, porém, não o esgota, e dá ao individuo a consciência de sua limitação.

No terceiro momento, o individuo limitado, erige, constrói o limitante, o transcendente, como fundo constitutivo da sua existência, porque metafísica seria relação com a transcendência.

Carlos Barth (1886 – 1968). Para Barth, o existente humano, o estar-no-mundo do homem é contingência e domínio da carne; esta tendo fim na morte, embora apareça portadora da vida, resulta realmente via para a morte. Diante da morte toda coisa humana, mesmo os valores da cultura, manifestam a sua intrínseca nulidade pela incapacidade radical de dar ao nosso subsistir uma consistência real.

2 - O existencialismo francês:
Também o existencialismo francês conta com um precursor longínquo, Brás Pascal, de dois séculos, anterior a Kierkegaard e, certamente, maior do que ele. Pascal critica, antes de tudo, o racionalismo matemático, fenomenista, de Descartes, como incapaz de resolver o problema da vida e do mal, que são problemas espirituais e, logo, não quantitativos.
No pensamento de Pascal, inspira-se, certamente, o idealismo francês espiritualista-cristão.

Fizeram parte desse movimento:
Renato Le Senne (1882 – 1955). Julgamos que seja o maior expoente deste movimento. O traço característico do seu pensamento está na fenomenologia das contradições da experiência.

Gabriel Marcel (1888 – 1973) tenta uma forma de existencialismo cristão e católico. Apela ele para um empirismo místico (contato místico com o ser, experiência do divino, justificação da filosofia como livre escolha), que representa uma posição significativa baseada em postulados, fideísta, existencial, para transcender a existência, evadir da experiência.

Ao lado dessa corrente existe na França uma corrente existencialista abertamente atéia e imoral, em antítese com o existencialismo de Marcel.

João Paulo Sartre (1905 – 1980), é o maior expoente desse existencialismo francês e o seu traço característico está em uma análise profunda, em uma crítica radical, negativa, do mundo humano.

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GLOSSÁRIO

Está sendo ampliado

DA = Dicionário Aurélio
HFM = História da Filosofia (Melhoramentos)
HFD = História da Filosofia (Durant, W.)

Ascese: (DA) Exercício prático que leva à efetiva realização da virtude, à plenitude da vida moral.

Ascética: (HFM pág. 193) “... tomando-se esta palavra ‘ascética’ não no sentido rigoroso de renúncia aos bens criados, mas no sentido de que o homem, sendo criatura e portanto dependendo totalmente de Deus, deve reconhecer praticamente esta sua dependência absoluta, esse nada ser por si.” (DA) Devoção, mística, contemplação.

Ascetismo: (DA) Doutrina que considera a ascese como o essencial da vida moral. Moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem.

Cepticismo: (DA) Atitude ou doutrina segundo a qual o homem não pode chegar a qualquer conhecimento indubitável, quer no domínio das verdades de ordem geral, quer no de algum determinado domínio do conhecimento.

Cético ou céptico: (DA) Que duvida de tudo, descontente.

Determinismo: (DA) Quando relacionado a fenômenos naturais, o determinismo constitui o princípio da ciência experimental que fundamenta a possibilidade de busca de relações constantes entre os fenômenos. Quando se refere a ações humanas e a decisões da vontade, entra em conflito com a possibilidade da liberdade.
(HFD página 414) Diz Bergson: ”Se os deterministas tivessem razão, e todo ato fosse a resultante automática e mecânica de forças preexistentes, o motivo penetraria na ação com a facilidade de uma peça lubrificada.

Doutrina: (DA) Conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, científico, etc.

Emanatismo: Posição teológico-filosófica que situa num ser supremo e infinito o princípio ou a causa do mundo. O universo teria se desprendido de Deus, mediante uma emanação deliberada ou acidental de sua própria substância.

Epistemologia: (HFD) Epistemologia, gnosiologia ou teoria do conhecimento é a parte da filosofia cujo objeto é o estudo reflexivo e crítico da origem, natureza, limites e validade do conhecimento humano. A reflexão epistemológica incide, pois, sobre duas áreas principais: a natureza ou essência do conhecimento e a questão de suas possibilidades ou seu valor.

Gnose: Conhecimento filosófico e religioso acerca de Deus. Explicação esotérica e mística, transmitida por tradição, após ritos de iniciação.

Gnosticismo: (DA) Ecletismo filosófico-religioso surgido nos primeiros séculos de nossa era e diversificado em numerosas seitas, e que visava a conciliar todas as religiões e a explicar-lhes o sentido mais profundo por meio da gnose. São dogmas do gnosticismo: a emanação, a queda, a redenção e a mediação, exercida por inúmeras potências celestes, entre a divindade e os homens. Relaciona-se o gnosticismo com a cabala, o neoplatonismo e as religiões orientais.

Idealismo: (HFM) Tem como característica a criatividade e a liberdade do espírito.
(DA) Tendência, atitude ou doutrina que, em graus e sentidos diversos, reduz o ser ao pensamento ou a alguma entidade de origem subjetiva, considerando que o espírito, ou a consciência, ou as idéias, ou a vontade, etc. são o dado primário com base na qual se hão de resolver os problemas filosóficos.
Idealismo absoluto (doutrina de Hegel): que identifica a realidade com a razão (“todo real é racional”).

Imanentismo: (DA) Doutrina que sustenta ser a fé exigência de profundas necessidades do íntimo do ser e não uma graça de Deus.
(HFM) A filosofia da imanência é assim denominada porque sustenta a imanência, isto é, a resolução de toda a realidade no conhecer e, precisamente, na sensação.

Maiêutica: Método concebido por Sócrates que fazia vir à consciência, por meio do diálogo, conhecimentos que o interlocutor já tinha sem que o soubesse.

Monismo: (DA) Doutrina filosófica segundo a qual o conjunto das coisas pode ser reduzido à unidade, quer do ponto de vista da sua substância (e o monismo pode ser um materialismo ou um espiritualismo), quer do ponto de vista das leis (lógicas ou físicas) pela quais o universo se ordena (e o monismo será lógico ou físico).

Panteísmo: (DA) Doutrina segundo a qual só Deus é real e o mundo é um conjunto de manifestações e emanações.

Silogismo: (HFD) É um tipo de proposições das quais a terceira (a conclusão) segue-se da verdade admitida das outras duas (as premissas "maior" e "menor"). Por exemplo, o homem é um animal racional; mas Sócrates é homem; portanto, Sócrates é um animal racional. Desse modo, a estrutura do silogismo assemelha-se à proposição de que duas coisas iguais à mesma coisa são iguais entre si.

Teismo: Teoria filosófico-religiosa que afirma a existência de um Deus criador do mundo, revelado ao homem ao longo da história. Distingue-se do deísmo, que considera Deus o princípio do mundo, independente de qualquer revelação histórica.

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