Trajetória  das  Famílias

 

1. De sua comunidade italiana ao Porto de Gênova

A maioria dos imigrantes italianos eram provenientes de Províncias do norte da Itália, das Regiões do Vêneto e da Lombaradia, devido serem as regiões de maior conflito pela unificação dos cinco Estados Italianos, gerando maior pobreza entre as populações. Por isso, o Porto de Gênova concentrava as atividades de controle e embarque das maiores correntes migratórias italianas para outros continentes.

            A família do nosso bisavô Giovanni Bolzan II é proveniente de Oderzo, Província de Treviso, enquanto que a família do bisavô Giovanni Battista Durlo II é originária de Terrossa, Comuna de Roncà, Província de Verona.

             É importante destacar que nossos familiares partiram para o Brasil, não como aventureiros movidos pela cobiça da fortuna fácil, nem pelo ouro, nem como degredados como os primeiros portugueses há quase 500 anos, nem como foragidos da justiça e nem como pessoas indesejáveis na sociedade italiana como comprova a letra do habitual canto deles: “Siamo partiti con nostro onore...”, “Nós partimos com nossa honra...”.

Com a documentação pronta, estavam liberados para  organizar a partida. No documento básico, o passaporte, continha a expressão “SEM RETORNO”, o que significava uma viagem de ida sem volta. Começava então os preparativos e as despedidas mergulhadas numa profunda tristeza, pois separava familiares, amigos, namorados, vizinhos e a própria Pátria-Mãe. Era a última vez que se viam, uma separação para sempre, como se fosse uma despedida de morte, pois acreditavam que só se  reencontrariam no céu, no paraíso, assim exclamavam: “Adio, adio, arrivederci in paradiso!”

As famílias se arranjavam como podiam, colocando suas coisas em caixas de madeira ou sacos, objetos, pessoais, calçados rústicos e algum equipamento agrícola. Apenas aquilo que era fácil de transportar. Toda bagagem era carregada em carroças, jogada e amontoada, caixas, baús, sacos, panelas, canecas, tachos... era uma confusão.

A Igreja mais próxima era o ponto de partida e despedida. Na Igreja todos, os que partiam e os que ficavam participavam das cerimônias religiosas, com muita emoção à comoção generalizada. Além da missa celebrava-se para aqueles que não tinham realizado, o batismo, a crisma, a 1ª comunhão, a renovação e bênção do  matrimônio para os casados. O padre dava conforto espiritual e coragem.

Depois das bênçãos finais, ocorria um profundo silêncio como se estivessem rumando ao cemitério, mas era em direção à estrada que os  levaria ao Porto de Gênova, onde um navio os aguardava para enfrentar a longa viagem pelo Mar Mediterrâneo  e travessia do Oceano Atlântico até o Rio de Janeiro e finalmente ao Porto de Rio Grande, no extremo sul do Brasil.

Pela estrada empoeirada devido ao movimento da caravana, os nossos imigrantes observavam com pesar as casas do núcleo comunitário até que desaparecessem, visualizando por último a torre da Igreja, ao som dos passos dos bois, que puxavam as carretas e o ranger das rodas em seus eixos, por falta de graxa, devido à crise e pelo peso do excesso da carga. Eles iam rezando o terço e cantando as ladainhas, pedindo que Nossa Senhora os levassem a salvo dos perigos das viagens, do desconhecido dos mares e do temido Oceano Atlântico, dos animais ferozes e dos índios selvagens que encontrariam pela frente na terra nova.

Depois de uma empoeirada e cansativa viagem chegavam na sede do município mais próximo que havia transporte ferroviário. A Comissão de Emigração visava o passaporte e encaminhava para os vagões do trem, que os levava até o Porto de Gênova, para embarcar no navio a vapor.

A foto mostra uma cena  no Porto de Embarque de Gênova, dos imigrantes italianos no final do século XIX

          2. De Gênova ao Porto do Rio de Janeiro

O navio não era tão confortável, mas também não era daqueles navios negreiros, que havia sido aposentado durante o processo de libertação dos escravos no Brasil. Afinal, eram famílias livres que estavam emigrando por “livre espontânea vontade” (induzidos) e que carregavam consigo um importante ingrediente para o Brasil, o ideal que não existia na prática no Brasil: “uma mentalidade nova, uma sociedade e uma economia liberal”, praticada na Europa há mais 100 anos, que antecedia ao período da imigração.

No navio, havia espaço para as refeições das famílias, para as bagagens, e os equipamentos. A janta representava o último e saudoso banquete na Pátria-Mãe, porque no silêncio do amanhecer, enquanto a maioria ainda estava dormindo, principalmente as crianças, o navio vagarosamente dava início à partida, tendo-se a impressão, que estava parado. “Assim cortava-se o cordão umbilical da Pátria-Mãe, para se construir uma nova Pátria, cheia de fé, esperança e progresso”.

Durante os longos dias que se passavam entre o azul das águas e o azul do céu, as mulheres faziam rodada de conversa sobre a viagem, sobre os familiares e amigos que permaneceram na Itália, intercalados por rezas.Os homens sonhavam e planejavam sobre o que fariam nos lotes que receberiam, onde gastariam o dinheiro que iriam receber do governo brasileiro, como construiriam suas casas, o que plantariam, nunca se esquecendo do cultivo da parreira, para fazer o saudoso e saboroso vinho. 

De repente todo esse entusiasmo e alegria mergulhava para o fundo do mar. O silêncio, a tristeza, a reflexão tomava conta do navio. Alguém havia morrido. A tristeza aumentava quando percebiam que o ente querido não podia ter um enterro digno e sem a presença de um sacerdote. A pessoa era enrolada em panos de algodão ou colocada em um saco de lona acompanhado de um peso nos pés, uma pedra para ir ao fundo do mar.

Durante a madrugada, quando os desbravadores do progresso dormiam, para evitar uma comoção geral, a tripulação do navio realizava o sepultamento, colocando o falecido sobre uma taboa na borda do navio, inclinando para fora e o ente querido deslizava sobre a superfície da água,  logo indo para o fundo do oceano.Era um ato doloroso, marcante que eles freqüentemente comentavam com seus descendentes. 

Em meio do Atlântico, as tempestades eram freqüentes abatendo o ânimo, especialmente das mulheres, que nas horas de perigo rezavam e cantavam cânticos religiosos. Após a tempestade voltavam os ânimos, os sonhos e a viagem transcorriam com certa normalidade, mas com muita desconfiança no que lhes aguardava pela frente, até a chegada no Rio de Janeiro.

 

3. Do Porto do Rio de Janeiro ao de Rio Grande e ao de Porto Alegre

 No Rio de Janeiro, capital brasileira da época, era feita a primeira escala na América, onde os imigrantes eram recebidos por uma Comissão Brasileira de Imigração, que inspecionava o navio, verificavam os passaportes, se havia problemas de saúde e outros. No Rio permaneciam vários dias, oportunidade para circular pela cidade e quais eram as surpresas deles? Abundância de produtos alimentares, de comida e diversificadas, frutas, bebidas e pessoas diferentes. Mas a grande surpresa foi que não encontravam os temidos “búlgari”, bugres, os índios com arco e flecha preparados para um possível  ataque contra aqueles estrangeiros que ali aportavam. O que mais intrigavam as crianças, era a presença marcante de negros e mulatos. Com freqüência queriam explicações sobre aquela gente. As respostas dos pais se tornavam comuns em tom de brincadeira: “... é que o sol forte deveria ter queimado...” Até faz certo sentido, pois quando os europeus iniciaram a expansão marítima pela África após 1400, acreditavam que as populações do centro-sul africanas eram pretas por estarem mais próximas do sol, da faixa equatorial, “onde o sol fazia ferver o mar e queimar as pessoas”, por isso a resistência de muitos marinheiros europeus da época em embarcar naquelas expedições: “Não queriam ficar pretos”.

            Do Rio de Janeiro, os navios com os imigrantes eram encaminhados, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As primeiras levas foram conduzidas para o  desembarque no Porto de Santos, em São Paulo e depois encaminhados de trem para o interior paulista, onde se desenvolvia com grande intensidade a cultura do café. É claro que muitos navios aportavam diretamente no Porto de Santos. Nas décadas de 1870 e 1880, quando ocorria no Brasil o processo de libertação dos escravos negros e aí entrava a mão-de-obra do imigrante. Lá foram enganados com muitas promessas pelos “vendedores de mão-de-obra”, que intermediavam entre as Comissões de Imigração Governamental e os barões do café (proprietários dos latifúndios produtores de café).

No sul o processo foi diferenciado, pois nossas famílias se dirigiam ao porto gaúcho de Rio Grande e na costa brasileira não era mais o bate papo, as rezas, os jogos, os planos, nem as brincadeiras das crianças que tomavam conta dos aventureiros no ambiente do navio, mas a ansiedade e a curiosidade sobre a sobre a nova terra, chamando-lhes atenção as montanhas costeiras e a surpresa, as quais não tinham neve como as da Itália, as ilhas com densa floresta inabitada, as extensas praias com areias brancas, outras cobertas por palmeiras.

Quando o navio entrava no canal de Rio Grande, encontro das águas da Lagoa dos Patos com as do Oceano Atlântico, nossos imigrantes recebiam do comandante o aviso que a viagem estava findando. Era uma festa, com uma gritaria misturada com aplausos, os abraços e a emoção tomavam conta dos aventureiros e da tripulação. Nossa gente se despedia da tripulação parecendo que  a aventura havia acabado. Engano, teriam muitos quilômetros de águas e de chão firme até a terra prometida.

Em Rio Grande, eles eram transferidos para navios menores, barcaças sem qualquer conforto, navegando pela Lagoa dos Patos rumo a Porto Alegre, onde eram novamente vistoriados e registrados por uma Comissão de Imigração. Após as formalidades legais, os imigrantes eram alojados em galpões localizados na Praça da Harmonia, onde aguardavam seu destino. Nesses galpões a família de nosso bisavô Giovanni Battista Durlo II, permaneceu durante 23 dias. Em Porto Alegre aproveitavam para conhecer a cidade que era ainda pequena, em torno de 55 mil habitantes, impressionando-lhes a fartura de comida, frutas e verduras.

4. De Porto Alegre a Silveira Martins e a Jaguari

            As primeiras famílias de imigrantes italianos que se dirigiram a  Silveira Martins ocorreu em torno de 1877, compondo-se inicialmente em torno de 70 famílias que aguardaram no “Barracão”, hoje em Val de Buia, para receberem lotes de terra no primeiro Núcleo de Imigrante, na região central da Província do Rio Grande do Sul, depois denominada de Colônia Silveira Martins.

            Do estuário do Guaíba, em Porto Alegre, enquanto as maiores correntes de famílias italianas se dirigiam pelos rios Taquari e Caí rumo a região do Rincão dos Bugres, hoje região serrana de Caxias do Sul e adjacentes, nossas primeiras famílias rumaram com seu vapor pelo rio Jacuí, navegando normalmente até Rio Pardo. Na época de chuvas freqüentes, quando o Jacuí estava cheio, se podia chegar de barco até Cachoeira do Sul, onde eram impedidos de navegar devido ao declive e degrau que há no Jacuí, hoje corrigido pela eclusa de  Fandango.

             Na região de Rio Pardo ou de Cachoeira do Sul, as primeiras famílias tinham que se virar. Não recebiam aquela ajuda prometida pelos órgãos governamentais, por isso tinham que apelar pela ajuda dos fazendeiros proprietários da região, que muitos temiam, possuíam medo de perder suas terras para os imigrantes, por isso ofereciam ajuda e contavam maravilhas das regiões serranas selvagens, desabitadas, distantes de suas propriedades planas e férteis, as quais eram usadas apenas para a criação de gado. Os fazendeiros gaúchos temiam também a concorrência da agricultura com a sua pecuária extensiva, que se desenvolvia na região por mais de um século.

            Nem todas as famílias recebiam ajuda dos fazendeiros. Estes procuravam identificar e classificar os imigrantes, para receberem ajuda com destino a “Terra da Promissão”. Sem saberem, os imigrantes italianos estavam sendo testados. Inicialmente começava com um cumprimento, o qual envolvia um aperto de mão. Se a mão fosse áspera e com calos era gente boa, trabalhadora e merecia ajuda, era proveniente do Norte da Itália. Mas se a mão fosse lisa, não era gente boa, muito menos trabalhadora, era proveniente do Sul da Itália, era considerado vagabundo e anarquista. Outros aspectos também eram observados como: - as calças que nos joelhos fossem rasgadas e remendadas eram trabalhadores, enquanto que outros que houvesse rasgos e remendos no assento (bunda) eram preguiçosos; - os calçados, principalmente chinelos que a sola, salto fossem inteiros era trabalhador, porque caminhava rápido, enquanto que o outro que tinha a sola, salto gasto era preguiçoso, porque caminhava arrastando os calçados.

            Em função das grandes dificuldades que passavam, toda a ajuda era vem vinda. As famílias de gente boa recebiam carreta, bois, cavalos e o acompanhamento de empregados da fazenda até o local do destino, geralmente no “Barracão”, próximo a Silveira Martins. Recebiam ainda alimentação básica como carne de gado e de ovelha, leite porque os animais eram criados em abundância na região, enquanto que os produtos agrícolas eram escassos e caríssimos. Aliás produtos agrícolas eram sonhados pelos fazendeiros e pelos órgãos governamentais, os quais deveriam ser produzidos pela gente que estava chegando, os imigrantes.

 

             4.1 Família do bisavô Giovanni Bolzan II

                   Nossos bisavós e avós vieram em épocas diferentes:

A família dos nossos bisavós Giovanni Bolzan II e Marina Paledoro, com seus filhos Giuseppe Bolzan, Rosa Bolzan, nossa avó e Maria Madalena Bolzan no ventre materno, partiram do Porto de Gênova em 31 de março de 1887, passando pelo Rio de Janeiro e chegaram em Porto Alegre em 3 de maio de 1887. A bisavó Marina e a filha Maria Madalena recém nascida faleceram em Silveira Martins, em casas de familiares Bolzan que se fixaram anteriormente na região, enquanto aguardavam a liberação dos primeiros lotes de terra no núcleo de Jaguari. A morte das duas mãe e filha ocorreu em 10 de junho de 1887, um mês após a chegada em Silveira Martins.  As causas das mortes não foram descobertas, mas ao que tudo indica, a senhora grávida faleceu devido a uma associação de fatores como as penosas viagens desde a Itália até Silveira Martins. Por isso, não era permitida a viagem de senhoras grávidas e nossa bisavó conseguiu esconder seu estado de gravidez. A fome, a miséria, a paupérrima alimentação durante as viagens gerando debilitação do organismo, tornando-o venerável a qualquer simples doença, principalmente com o aglomerado de muitas famílias no mesmo barracão, somando-se ao péssimo atendimento médico.

O bisavô Giovanni Bolzan II e as crianças Giuseppe e a avó Rosa se fixaram num dos primeiros lotes, pois faziam parte do 1°  grupo de famílias italianas a se fixarem naquele núcleo, 23 famílias e 4 homens solteiros. Ocuparam o lote de n° 326 no Núcleo de Jaguari em 20 de setembro de 1888, permanecendo um ano e quatro meses em Silveira Martins aguardando pela fixação na terra jaguariense, Linha 6 dos Bolzan.

            Sua família passou por inúmeras dificuldades citadas anteriormente  no deslocamento de Porto Alegre a Silveira Martins, pois somente após o ano de 1888 as viagens entre Porto Alegre e Santa Maria melhoraram, quando se fazia de Porto Alegre  a “Estação Margem”, onde hoje se localiza General Câmara, às margens do Rio Jacuí, de barco a vapor. Depois tomava-se o trem à vapor, seguindo em direção a Santa Maria, desembarcando na “Estação Colônia”, onde hoje se  localiza-se Camobi, distrito de Santa Maria. De Camobi as famílias eram encaminhadas para a Colônia de Silveira Martins, embarcados em carroções, à cavalo ou a pé. Em Silveira Martins as famílias eram abrigadas no “Barracão”, onde aguardavam seu destino, para os núcleos coloniais que estavam sendo criados na região.

            O deslocamento de Silveira Martins para Jaguari, dessas famílias foi penoso, pois além do desconforto, sobre carroções, à cavalo, outros à pé por rústicas estradas, tendo que enfrentar as intempéries do clima, a travessia de arroios, dos rios Toropi e Jaguari.

 

            4.2 Família do bisavô Giovanni Battista Durlo II

            A partir do início do ano de 1889, intensificou-se a fixação das famílias italianas, para o Núcleo de Jaguari e várias mudanças foram acontecendo na infraestrutura da Província Rio-Grandense, bem como no processo de imigração, em função das necessidades das fortes correntes imigratórias de muitas famílias italianas, que se deslocavam para o Núcleo de Jaguari. 

            Das mudanças destacamos a inauguração da ferrovia Santa Maria – Cacequi, o que muito facilitou o deslocamento das famílias. A família dos bisavós Giovanni Battista Durlo II e Taziana Franchetto, com seus filhos Giuseppe nosso avô, Teresa, Antônio, Maria, Luiggia e Giovanni, chegaram em Porto Alegre em 21 de setembro de 1891, partindo para  o Núcleo de Jaguari, em 13 de Outubro de 1891. A família se fixou no lote n° 470, na Linha 7, interior de Jaguari, onde hoje reside a família do tio Guilherme Durlo. Teve o direito de tomar posse ainda, o lote n° 333 na Linha 5, na localidade de Ernesto Alves. A posse ocorreu em 28 de novembro de 1891 e receberam o título de propriedade, em 1º de outubro de 1892. Ambos lotes rústicos, isto quer dizer terras de péssima qualidade, para a agricultura, de relevo montanhoso, mas com belezas naturais.

              É claro que também passaram dificuldades nas viagens, mas não tanto quanto a família do bisavô Giovanni Bolzan II e principalmente das famílias que abriram o processo imigratório na região de Silveira Martins e as primeiras famílias que se fixaram em Jaguari.

       Num período posterior, de Cacequi se deslocavam em carroças, a cavalo e outros a pé. Nesse período é importante destacar que o processo imigratório melhor organizado. Os imigrantes recebiam durante as viagens até a fixação nos lotes mantimentos. Os adultos acima de 15 anos recebiam o equivalente a três refeições diárias: carne verde, arroz, batata, feijão, pão, toicinho, açúcar branco, café e manteiga ou queijo. As crianças recebiam metade dos adultos e as menores de 2 anos recebiam mingau composto de 300 gramas de farinha de trigo e 150 de açúcar.

 

5.  JAGUARI: “A TERRA PROMETIDA”

Considerada 1ª foto da cidade de Jaguari, no final do século XIX. Vê-se entre as duas colunas de casas uma estrada, a qual deu origem a atual Av. 7 de Setembro.

 

            A origem do nome “Jaguary” significa rio das onças. “Jaguar” onça “hy” rio, segundo a língua dos indígenas guaranis, primeiros habitantes da região montanhosa, situada ao norte da Depressão Central e bacia do rio Ibicuí.

            Até 1626, a região era coberta por densa floresta e habitada apenas por Índios Guaranis, quando os padres jesuítas Ernot e Benavides, vindos da região jesuítica das missões espanholas, iniciaram um trabalho junto a essas populações indígenas.O trabalho jesuítico não obteve sucesso como na região missioneira, devido à ameaça dos bandeirantes, que matavam, saqueavam e aprisionavam índios para vendê-los no mercado de escravos. Somando-se a fome, ataque de animais selvagens, principalmente onças, que invadiam as aldeias, os campos de criação e as plantações. Essas populações foram dizimadas.

Em torno de 1887, como Silveira Martins e as terras dos núcleos nas regiões próximas estavam ocupadas, o Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, encaminhou projeto de Criação de novo Núcleo para abrigar os novos imigrantes que estavam chegando. A Assembléia Provincial, que aprovou a Lei 747, de 29 de abril de  1891, criando a “Colônia Agrícola de Nacionais e Estrangeiros na costa da Serra Geral, que margeia o Rio Jaguari Grande”. Quando o Núcleo  de Jaguari foi criado, a área era distrito de São Vicente do Sul, do então município de São Gabriel.

            A partir do ano de 1888, se fixaram as primeiras famílias de imigrantes italianos, em torno de 23, sob grandes promessas das autoridades governamentais que não eram verdadeiras e nunca foram cumpridas. Destacaram-se as famílias  com sobrenome Baccin, Bolzan, Sonza, De Simon, Nichelle, Guerra, Varraschini, Rotta, Antonini, Menusso, Marchiori, Lorenzoni, Taschetto, Biasi, das quais fazia parte nosso bisavô Giovanni Bolzan II, pai de nossa avó Rosa Bolzan.

           

A foto de Flávio Bolzan. É a vista que se tem do topo do Monte Durlo para o vale Linha 7 dos Bolzan. Mostra em sua parte central, a área onde localizam-se os antigos lotes que as várias famílias Bolzan tomaram posse no ano de 1888.

Observando-se na parte centro-esquerda, a área assinalada com n° 1  era o lote n° 326, do nosso bisavô Giovanni Bolzan II, hoje pertencendo a familiares Bolzan (bisneto). Vindo em direção ao canto esquerdo inferior da foto com n°2,  chegaremos ao lote n° 470, pertencente a família Durlo, do nosso bisavô Giovanni Battista II. O n° 3 encontro das duas estradas pequena capela de São José dos familiares Bolzan, antigamente construída em terras do nosso bisa Giovanni Bolzan.

 

O grupo de famílias Bolzan sob a liderança de nosso triavô Giácomo Bolzan se fixaram nos lotes 285, 286, 326, 327, 381 e 467, na linha 7, sendo que o lote n° 326 foi destinado ao bisavô Giovanni Bolzan II. Todos os lotes citados se localizavam próximo (observe foto acima), por isso, o lugar ficou conhecido como Linha 7 dos Bolzan. Somente o Agostinho Bolzan, irmão do bisavô Giovanni II, se fixou no lote 293, localizado no Chapadão, porque veio mais tarde, em 1891 ficando separado dos demais familiares.

As primeiras famílias tiveram que enfrentar verdadeiros desafios com a mata serrana, virgem e apavorante, as distâncias sem quaisquer recursos. Chegaram paupérrimos trazendo consigo saudades dos familiares e da Pátria-Mãe que deixaram para trás, lançando-se a uma aventura sem volta. Recebiam um pedaço de terra e tinham que se virar. As determinações do governo provincial eram ocupar a terra e produzir.

            Com muito sacrifício as famílias foram vencendo os grandes obstáculos graças a sua fé, pois o imigrante era muito religioso, tinha muita fé e vontade, bem como ajuda mútua. Era comum como o é ainda hoje naquela região, as famílias fazerem mutirões, uns ajudando os outros. Após uma semana de muito trabalho e sacrifício, o Domingo era reservado para rezar o terço e cantar as tradicionais canções italianas, acompanhadas de “uno goto de vino”, para alegrar o ambiente e anestesiar a alma. Cantavam para esquecer os problemas ou matar a saudade dos familiares e da Pátria que ficou para trás.

            As terras das famílias Bolzan/Durlo se localizaram entre as três comunidades que foram se formando: Linha 6, Marmeleiro e Fontana Freda. Próximo  comunidade menor e familiar, a Linha 7 dos Bolzan, onde nosso avô Giuseppe Durlo encontrou com nossa avó Rosa Bolzan.

            Foi tradicional a construção dessas comunidades de fé, de encontros semanais onde se erguiam as Igrejas, as Capelas de São Roque, na Linha 6, a de Santo Estevão do Marmeleiro, a de Santo Antônio de Fontana Freda e a de São José da Linha 7 dos Bolzan. As Capelas se constituíam locais onde principalmente aos domingos se encontraram os primeiros imigrantes, para rezar o terço, raramente celebrar a missa, cantar canções italianos recordando a Pátria, ponto de reuniões para conversas, jogos de bochas, festas em homenagem aos padroeiros, casamentos, batizados, velórios, catequese para as crianças. Ao lado da Capela geralmente se construíam o Cemitério, a Escola e futuramente os Clubes, os quais passaram a centralizar as futuras atividades sociais.

            A maior parte da população de Jaguari é proveniente de imigrantes italianos, mas outros povos também contribuíram com uma parcela importante como alemães, poloneses,  de menor importância russos, húngaros e outros.

           A terra jaguariense tornou-se município em 1920, marcada presença significativa de imigrantes que chegaram a partir de 1888, quando o Brasil ainda era governado por uma monarquia portuguesa, resquício do domínio português colonial.

 

Foto do atual Pórtico de entrada da cidade de Jaguari, visto ao sair da cidade ligando-se ao trevo de acesso rodoviário para as cidades de São Vicente do Sul e Santiago. (foto de Cleto, 22/9/05)

 

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