O Ano 1000
Aqui e ali formando alguns aglomerados clareiras cabanas de camponeses aldeias cercadas hortas pomares onde a maior parte dos alimentos campos cujo solo rende muito pouco apesar longos repousos que são submetidos logo seguir desmesuradamente extensas a área de caça, da colheita, da pastagem divagante. De longe em longe uma cidade. Quase sempre o resíduo de uma cidade romana; monumentos antigos grosseiramente remendados e convertidos em igrejas fortalezas; sacerdotes guerreiros a criadagem que lhes serve fabricando armas moeda os adornos o bom vinho todos devidos símbolos instrumentos do poder. (...) Por toda parte movimento: peregrinos mascates trabalhadores itinerantes aventureiros errantes". DUBY, G. A Europa na Idade Média. SP, Martins Fontes, 1988, p1/2).
A população da Europa Medieval possuía mentalidade profundamente religiosa; vivia apegada a superstições e profecias que prenunciavam o fim do mundo por volta dos anos 1000 ou 1033 e atormentada pelo medo da fome, da peste e das guerras. Entretanto, o que ocorreu a partir doséculo XI foi um grande crescimento populacional e amplo desenvolvimento da sociedade européia, contínua até o século XIV.

 

0 fim das invasões no século X permitiu o estabelecimento de uma relativa tranqüilidade no continente europeu. A ação da Igreja Catóica muito colaborou para a pacificação através do movimento denominado "paz de Deus", que protegia padres, peregrinos, camponeses, merca dores e seus animais de carga, mascates trabalhadores itinerantes e aventureiros de toda espécie que circulavam pelos caminhos; proibia também a luta próxima de lugares santos e entre a noite de quarta-feira até a manhã de segunda-feira.Ao limitar a guerra entre os cristãos e impedir a pilhagem, considerada pelos nobres uma forma legitima de ganho, a Igreja conduziu a nobreza a praticar uma "guerra santa" fora da Europa cristã - as Cruzadas - sendo os principais alvos o Islã e Bizâncio, concorrentes das cidades italianas.

AS CRUZADAS foram expedições organizadas pela nobreza sob a inspiração do Papado para libertar a Terra Santa, isto é, a Palestina, onde Jesus Cristo nascera, pregara e morrera, do domínio dos turcos. Estes, originários do Turquestão, haviam se convertido ao islã, e uma de suas tribos,  os Seldjúlcidas ocupara, em meados do século XI, a Mesopotâmia, a Síria, a Palestina e parte da Ásia Menor, proibindo as peregrinações de cristãos. Para "salvar" a Europa Oriental e a Terra Santa o Papa Urbano II convocou a nobreza européia dando origem em 1095 a 1a. Cruzada transformava assim guerra tão comum no Ocidente, em "guerra contra os infiéis". As Cruzadas, que se estenderam até o século XIII, tiveram como principal motivação a fé, seguida do gosto pela aventura e pelo interesse de cidades italianas em incentivarem o comércio, que já existia, com os muçulmanos.
O Crescimento demográfico e Agrícola
A partir do século XI, a Europa feudal conheceu um expressivo crescimento acompanhado por intenso desbravamento terras e expansão da área agrícola. Ocorreu também o aperfeiçoamento dos instrumentos e tecnicas de cultivo, que permitiu aumentar produtividade dos campos onde eram cultivados trigo,cevada, centeio, aveia, ervilhas vinhas.

0 desbravamento de terras era clandestinamente praticado pelos camponeses nas florestas dos domínios, para sua sobrevivência. Tornou-se agora uma prática deliberada dos senhores feudais, interessados em ampliar seus rendimentos para a manutenção da corte, de serviçais e de mesas fartas, símbolo do status da nobreza. A expansão da área agrícola se deu também através da ocupação de terrenos baldios dentro das reservas senhoriais e de pântanos, litorais arenosos e manguezais fora dos domínios e aldeias.
Entre as inovações técnicas, destacaram-se um novo sistema de atrelagem dos cavalos, que acrescia a capacidade de tração em até cinco vezes; o uso de ferraduras, aumentando a vida útil e o aproveitamento  dos animais em campos mais distantes; a utilização da charrua, que atirava a terra para o lado, permitindo arejar melhor a superfície e enterrar as ervas, substituindo o arado, que apenas fazia o sulco no solo.Todos estes instrumentos utilizavam obrigatoriamente o ferro, generalizando a metalurgia.
Um novo sistema de cultivo passou a ser praticado: o arroteamento trienal, em que a área cultivável do domínio era dividida em três partes ao invés de duas; na primeira, se fazia plantação para colher no inverno; na segunda, para colher na primavera e a terceira ficava em pousio no ano seguinte era feito o revezamento.

 

A maior produtividade da terra incrementou a oferta de grãos para a população e para o gado (aveia), assim como o cultivo de espécies comerciais como as vinhas e as plantas tintoriais para o setor têxtil. 0 arroteamento trienal contribuiu também para uma alteração importante nas relações entre o senhor e o servo, pois se fez necessário incentivar o trabalho em novas áreas. Muitos senhores substituíram a obrigação da corvéia pelo pagamento de uma renda fixa ou proporcional à colheita, o que levou os camponeses a vender sua produção excedente de lã, couros e mel nas feiras medievais. Isso ocorreu principalmente no norte da França e na Inglaterra.

Entretanto, as banalidades, imposto devido pelo uso obrigatório do moinho, do forno e do lagar do senhor, aumentaram à medida que novas terras eram desbravadas. A exploração do camponês continuou predominando e revoltas e outras formas de resistência como fugas e formação de bandos de assaltantes se tornaram comuns.

 

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

 

Volta