Belo Horizonte

 "Belo Horizonte vai ser a voz republicana da produção do espaço no Brasil, a primeira incursão, no urbano, da nacionalidade proclamada.(...) Beatriz de Almeida Magalhäes e Rodrigo Ferreira de Andrade.      

A mudança da capital de Minas Gerais foi cogitada já em meados do século XIX, quando o Presidente da Província Soares de Andréa propôs a mudança para Mariana ou Säo João Del Rey. Em 1867, o deputado Pe. Souza Paraíso, apresentou projeto transferindo a capital para as margens do Rio das Velhas. O deputado apontava duas razões para a mudança da capital de Ouro Preto: a situação topográfica desfavorável e a decadência da região mineradora.

Com a Proclamação da República e a instalação do Congresso Constituinte Mineiro, além das questões relativas à organização política e administrativa do Estado, o tema da mudança ressurgiu com nova motivação e apesar das pressões anti-mudancistas os constituintes, conseguiram introduzir nas disposições transitórias da Constituição Mineira, a mudança da capital do Estado .    

A implantação do regime republicano, criou nas zonas mais ricas, a Mata e o Sul de Minas, o pretexto para se iniciar uma campanha pela mudança da capital: "A força da Mata e do Sul se fazia sentir vivamente no Congresso. Ou tirava-se a capital de Ouro Preto ou arcava-se com conseqüências desastrosas para o Estado. A bandeira separatista era acesa no Congresso Constituinte ora por um, ora por outro congressista, especialmente os da Mata". 

Depois de muito debate, a Constituição Estadual, em suas disposições transitórias, determinava: "É declarada a mudança da capital do Estado para um local que, oferecendo as precisas condições higiênicas, se preste à construção de uma grande cidade." O local da nova capital ficou indefinido, pois os deputados favoráveis à mudança não chegaram a um acordo, devido aos inúmeros interesses regionais, que reivindicavam para si o direito de ter nova capital. Finalmente, a lei Adicional no1 da Constituição Estadual, determinava o estudo das seguintes localidades: Belo Horizonte, Paraúna, Barbacena, Várzea do Marçal e Juiz de Fora.

O governador Afonso Pena(1892-1894), para dar cumprimento a lei convidou o engenheiro Aaräo Reis, ex-colega de Ministério da Agricultura, para realizar os estudos técnicos para o melhor local de construção. Estes estudos foram concluídos em 16-6-1893 e fixou-se entre a Várzea do Marçal e Belo Horizonte. "Entre a Várzea do Marçal e o Belo Horizonte é difícil a escolha. Em ambas, a nova cidade poderia desenvolver-se em ótimas condições topográficas, em ambas, é facílimo o abastecimento d'água e a instalação de esgotos, ambas oferecem excelentes condições para as edificações e a construção em geral . ( Eng. Aaräo Reis )    

Os ouropretanos, inconformados com a mudança, ameaçavam com agressões os deputados constituintes mineiros, tendo as sessões do Congresso Mineiro sido transferidas para Barbacena. Finalmente, a proposta por Belo Horizonte foi aprovada por 30 votos contra 28 na sessão do dia 17 de dezembro de 1893. "A análise das votações revela nitidamente que a questão da determinação do local para a mudança da capital foi sobretudo uma luta entre zonas decadentes e zonas prósperas do Estado".

A escolha do local da capital buscava estabelecer um equilíbrio entre as zonas em desenvolvimento e as estagnadas. A implantação de uma nova capital nas regiões mais ricas agravaria o desequilíbrio e as tendências separatistas. Afonso Pena, defensor de uma maior integração do Estado, aprovou o novo local pois, era necessário levar "os trilhos de ferro" (progresso) para as regiões do Estado mais carentes e promover a integração do Estado. Belo Horizonte: uma cidade planejada.

A construção da capital teve início em 1894, sob direção do engenheiro Aaräo Reis, que coordenou os trabalhos até 1895 quando foi substituído por Francisco Bicalho que permaneceu até o final da construção 12 de dezembro de 1897, quando a cidade foi inaugurada. A cidade foi dividida em três setores: o urbano, o suburbano e o rural. A área urbana foi cuidadosamente planejada, como relata o próprio Aaräo Reis:

"As ruas fiz dar largura de 20m, necessária para a conveniente arborização, a livre circulação dos veículos, o tráfego dos carris e os trabalhos da colocação e reparações das canalizações subterrâneas. "As avenidas fixei a largura de 35 m, suficiente para dar-lhes a beleza e o conforto que deverão, de futuro, proporcionar à população. Apenas a uma das avenidas - que corta a zona urbana de norte a sul, e que é destinada à ligação dos bairros opostos - dei a largura de 50m, para constituí-la em centro obrigatório da cidade e, assim, forçar a população, quando possível, a ir-se desenvolvendo do centro para a periferia, como convém à economia municipal, à manutenção da higiene sanitária, e ao prosseguimento regular dos trabalhos técnicos. Essa zona urbana é delimitada e separada da suburbana por uma avenida de contorno, que facilitará a conveniente distribuição dos impostos locais" Relatório de Aaräo Reis.

A construção da cidade era uma oportunidade ao engenheiro Aaräo Reis de planejar científica e racionalmente o espaço urbano. A intenção era "privilegiar a circulação e ensejar ao Estado o controle sanitário, fiscal, policial e de desenvolvimento urbano.     A construção da Capital do Estado exigiu do governo de Minas empréstimos que foram feitos com o Banco de Paris e o Banco dos Países Baixos em 1897. Segundo estimativa de Paul Singer, ela teria custado em cruzeiros de 1965, uma quantia de aproximadamente 33 bilhões. A cidade foi inaugurada em 12 de dezembro de 1897 pelo governador Crispim Jacques Bias Fortes, sendo nomeado Alberto Ferraz como Prefeito. Contava com 10.000 mil habitantes e foi-lhe dado o nome de Cidade de Minas, que voltaria a chamar-se Belo Horizonte em 1901.    

A cidade criada para ser a sede administrativa do Estado de Minas Gerais e abrigar a elite estadual, privilegiou a zona urbana onde além do alto preço dos lotes, as construções deveriam obedecer às exigências do município. Os trabalhadores fixaram-se nos subúrbios, sendo criada em 1909 a primeira Vila operária a do Barro Preto. Belo Horizonte hierarquizava socialmente o seu espaço acompanhando os modelos das cidades burguesas européias.

A zona urbana estava reservada às classes ricas e aos funcionários públicos - servidores do Estado - enquanto que operários e artesãos localizavam-se na zona suburbana e rural. Dentro da zona urbana a região mais próxima ao Ribeirão Arrudas era destinada à estação ferroviária e ao comércio. Do outro lado estavam os serviços mais "nobres" como a Praça da Liberdade, a Prefeitura, o Teatro, etc. A cidade era abastecida pela "zona rural" onde um grande número de imigrantes italianos e espanhóis se estabeleceram. Foram criadas os colônias de Carlos Prates, Bias Fortes entre outras. Os imigrantes desempenharam papel importante na construção da cidade e outras atividades urbanas como pequeno comércio.    

A precariedade da infra-estrutura de transporte como o ferroviário, necessário para ligação com outros municípios e a carência de energia elétrica dificultava a instalação de novos projetos para desenvolvimento da cidade. Somente na década de 20 é que a cidade conhece um surto de progresso e crescimento demográfico e com ele o dos bairros operários. "Regiões como Venda Nova, Contagem e Capela Nova vieram se articular com o tecido da capital, através das ligações ferroviárias. Bairros a oeste(de coloração italiana) como Carlos Prates, Barro Preto, Calafate e Gameleira ganharam densidade populacional e melhorias urbanas".    

A cidade desenvolveu-se principalmente a partir da 2a. Guerra Mundial com o crescimento da Cidade Industrial, e a atuação da CEMIG. Na época do "milagre econômico" o crescimento da classe média, o aumento do número de automóveis e a atuação do BNH aumentaram a densidade populacional da cidade. Por outro lado a maneira como se deu o desenvolvimento brasileiro nas últimas décadas levou a uma grande migração e ao crescimento das favelas na cidade e uma grande expansão de loteamentos clandestinos sem infra-estrutura adequada.    

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