A GLOBALIZAÇÃO DO SÉCULO XIX.

 

 

Autores: Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro
Apostila: Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, CP1-UFMG

 

 

0 PROTECIONISMO ALFANDEGÁRIO E A EXPANSÃO TERRITORIAL

A formação dos trustes e dos cartéis conduziu gradativamente os países industrializados à adoção de políticas protecionistas, com o objetivo de evitar a concorrência, no mercado interno, de grupos semelhantes de outros países, que poderiam oferecer produtos similares a preços mais baixos. Os Estados Unidos, a Alemanha, a França e mais tarde o Japão, que emergiam como potencias industriais de primeira ordem estimulando a concorrência no mercado internacional, começaram a erguer barreiras tarifárias aos produtos importados, tornando-os proibitivos em relação aos produzidos localmente.

Os Estados Unidos criaram suas primeiras taxas alfandegárias durante a Guerra Civil (1860/64); a Rússia, a partir de 1877; a Alemanha, em 1879 e a França, dois anos depois. Apenas a Inglaterra permaneceu defensora do livre comércio, que tão bem servira aos seus interesses de pioneira do processo de industrialização. Mas o crescimento industrial dos demais paises, com base no protecionismo, fez com que este fosse discutido dentro da própria Inglaterra:

"Nós fornecíamos outrora as nossas armas ao mundo inteiro. Hoje, a maior parte dos governos meteram-se a fabricá-las, e a América popularizou as suas armas de Springfield e Winchester... Ainda fornecemos as armas de luxo. Mas a Bélgica levou-nos todo o resto... Tínhamos o monopólio dos parafusos e pregos. Ao abrigo das tarifas aduaneiras, a Alemanha e a América desenvolveram as suas fábricas... Os botões que vendíamos a toda a Europa, chegam-nos hoje da Alemanha. 0 fio de ferro alemão vende-se hoje, nas nossas lojas de Birmingham... No reino, pode-se dizer que o interesse de Sheffield está ligado aos interesses da classe agrícola: é ela que compra os nossos utensílios e as nossas máquinas agrícolas e a nossa cutelaria... Ora, a ruína a da nossa agricultura pelas importações da América, da Índia da Rússia e de outros países é demasiado evidente... 0 camponês restringe (pois) o seu consumo. Fora, os Estados Unidos eram o nosso grande consumidor. Mas, de potência agrícola, eles quiseram tornar-se industriais e as suas tarifas protetoras permitiram às suas fábricas estabelecer-se. Esse mercado está-nos hoje fechado... A França duplicou as suas tarifas... Os russos também nos fechara os seus mercados... Nas nossas colônias, a concorrência estrangeira, as alfândegas e as más colheitas atuam igualmente contra nós,.. A Alemanha tomou o caminho de nossos mercados, o endereço de nossos clientes e, vendo nossos lucros, falsificou as nossas marcas.. Creio que o único meio de nos ajudar seria fundar entre a metrópole e as nossas colônias uma Federação, com o regime de livre-câmbio entre todos os seus membros e estabelecer o regime de reciprocidade com o resto do mundo". (Queixas de membros das câmaras de comércio de Birmingham e de Sheffield, in Víctor Bérard, A Inglaterra e o Imperialismo.)

Com os avanços tecnológicos alcançados, os países industrializados podiam produzir muito mais mercadorias do que conseguiam vender a seus habitantes. Assim, os empresários passaram a buscar novos mercados fora da Europa, onde pudessem vender seus produtos e ampliar seus negócios e seus lucros.

Além disso, era imprescindível garantir 'às indústrias, o fornecimento de matérias primas essenciais ao seu funcionamento, que muitas vezes não existiam dentro do país. As empresas siderúrgicas, químicas, farmacêuticas, têxteis, de equipamentos, que investiam capitais vultosos em grandes fábricas,, buscaram no mundo as reservas de petróleo (Oriente estanho (Ásia e América Latina), cobre (Chile, Peru, Congo, Zâmbia), borracha (Congo, Amazônia, Zâmbia), algodão (Índia), indispensáveis à produção de aço, material elétrico, motores, veículos, tecidos".

A partir de 1874, sofrendo forte concorrência no mercado internacional, devido ao protecionismo alfandegário adotado pelos demais países industrializados, a Inglaterra enfrentou a primeira crise de superprodução do sistema capitalista, que trouxe consigo estagnação e desemprego, Para enfrentar a concorrência, garantir o fornecimento de matérias primas às suas indústrias e buscar novos investimentos para seus capitais, superando a crise interna, a Inglaterra reiniciou a corrida colonial, conquistando e anexando vastos territórios da Ásia e da África. Essa política de expansão foi rapidamente seguidos pelos demais países industrializados, dando origem ao IMPERIALISMO, fenômeno característico do período de 1870/1945.

S Í N T E S E

0 desenvolvimento industrial e tecnológico trouxe novas formas e métodos de administração do capital e de especialização' do - trabalho nas fábricas acarretando enorme avanço do capitalismo. Ao longo do século XIX, este deixou de ser um sistema baseado na concorrência entre inúmeros produtores, para se tornar um empreendimento de um número reduzido de grandes empresas. -As fronteiras nacionais tornaram-se pequenas para essas corporações, levando-as à procura de novas fontes de recursos e de lucros em are as fora da Europa.

Autores: Olga Maria A. Fonseca Coulon e Fábio Costa Pedro
Apostila: Dos Estados Nacionais à Primeira Guerra Mundial, 1995, CP1-UFMG

 

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