A FRAGMENTAÇÃO DO PODER

O Império Carolíngio estava dividido em torno de 250 condados, territórios administrados pelos condes, representantes e vassalos diretos do rei, responsáveis pela aplicação da justiça, pela arrecadação das taxas e pela manutenção da ordem. O conde podia nomear auxiliares - os viscondes - que exerciam o poder na sua ausência.
Os territórios localizados nas fronteiras eram denominados marcas e seus titulares - os marqueses - gozavam de autoridade civil e militar. Existiam ainda os reinos e os ducados, áreas tradicionalmente independente, anexadas ao Império nas últimas campanhas de Carlos Magno e com tendências saparatistas. Seus titulares, os príncipes e os duques, tinham bastante autonomia local, mas deviam fidelidade e tributos ao soberano carolíngio. A Frísia, o Saxe, a Baviera eram reinos e a Lombardia, a Bretanha e a Gasconha eram ducados.
Carlos Magno morreu em 814. Foi sucedido por seu filho Luís, o Piedoso, que governou até 840, tendendo mais para uma postura cristã e para manter a paz e a justiça. Com isso, as guerras de conquista diminuíram, assim como os lucros obtidos com as pilhagens, de forma que o rei tinha que remunerar os vassalos com suas próprias terras, base de seu poder, enfraquecendo a monarquia.
Após a morte de Luís, seguiu-se um período de lutas sucessórias entre seus três herdeiros, pois os francos desconheciam o principio da primogenitura. Em 843, sob a inspiração da Igreja, foi feito o Tratato de Verdun, que deu origem a três reinos: Lotário I recebeu a Lotaríngia (Países Baixo, Suiça e norte da Itália); Luís, o Germânico ficou com a Germânia(parte oriental) e Carlos II com a França.
No final do século X havia na França cerca de 50 divisões políticas, destacando-se os condados e ducados de Flandres, da Normandia, da Aquitânia, de Toulouse, da Ile-de-France, de onde se originaram os reis Capetos, dinastia que governou a França de 987 a 1328.
Na Germânia (Alemanha), a dinastia carolíngia extinguiu-se em 911. Otão I, da Saxônia, foi eleito rei pelos seus pares, apoiado pelo Papa. Renascia o Império Franco, que resultava da reunião da Itália, da Alemanha e da Borgonha, passando a se chamar Sacro Império Romano Germânico. Entretanto, o poder do rei era fraco em todas as três regiões, devido ao poderio militar dos nobres em seus principados e ducados e à influência da Igreja.
A monarquia carolíngia, ao esforçar-se para conseguir a centralização política, chegou a um resultado oposto, parcelando o poder dos reis, processo acelerado pelas invasões de vikings, muçulmanos e húngaros ocorridas na Europa, nos séculos IX e X. Na prática, o monarca transformou-se em suserano de seus vassalos, aos quais estava muito unido por laços de fidelidade, em troca de terras e privilégios políticos. A ligação entre benefício e vassalagem se tornou tão forte, que os nobres obedeciam ao rei, não por serem súditos, mas por serem vassalos beneficiados com a posse do feudo.


AS INVASÕES DE MULÇUMANOS, VIKINGS E HÚNGAROS

A Europa Ocidental enfrentou nova onde invasões nos séculos IX e X, o que contribuiu para reforçar a ruralização e diminuir ainda mais o poder dos monarcas carolíngios, cujo Império, a partir do século X, não existia mais.
Os habitantes do litoral e das ilhas do Mar Mediterrâneo e os navios que por aí circulavam se tornaram alvo dos constantes atos de pirataria dos árabes muçulmanos que, provenientes do norte da África, haviam se fixado na Espanha desde 711. Conquistaram a Córsega e a Sicília e pilharam os principais centros italianos durante todo o século IX como Palermo, Messina, Siracusa, Roma, Florença.
Vindos da Escandinávia, ao norte, chegaram os vikings ou normandos, irrompendo nas costas da Inglaterra, da Irlanda, da França e da Espanha. Também durante o século IX, pilharam ricas abadias e cidades como Ruen, Nantes, Hamburgo, Paris, chegando até Lisboa e Sevilha. Hábeis navegantes, com seus barcos velozes passavam do mar para os rios menos profundos, explorando ao máximo as vias fluviais.

A PIRATARIA NORMANDA

"Anos de 852-862 - O número dos navios aumenta. A multidão dos Normandos não deixa de crescer; por toda a parte os cristãos são vítimas de massacres, pilhgens, devastações, incêndios cujos testemunhos subsistirão enquanto durar o mundo. Tomam todas as cidades que atravessam sem que alguém lhes resista; tomaram as de Bordéus, Périgueux, Limoges, Angoulême e Tolosa. Tours, Angers, como Orleans são destruídas; muitas cinzas de santos são roubadas. Assim se realiza, pouco mais ou menos, a ameaça que o Senhor proferiu pela boca do seu profeta: "Um flagelo vindo do norte se espraiará sobre os habitantes da terra."
Alguns anos depois, um número incalculável de navios normandos sobe o rio Sena. O mal aumenta nessa região. A cidade de Ruão é invadida, pilhada, incendiada; as de Paris, Beauvais e Meaux são tomadas; a praça forte de Melun é devastada; Chartres é ocupada; Evreux é pilhada, assim como Baveux e todas as outras cidades são invadidas sucessivamente. Quase não há localidade ou mosteiro que seja respeitado, todos os habitantes fogem e raros são os que ousan dizer: "Restai, restai, lutai pelo vosso país, pelos vossos filhos, pela vossa família!" (FREITAS, p.134)


A Europa cristã foi também saqueada pelos húngaros, que vindos do leste, como os hunos, a partir de 899 atacaram as regiões da Germânia, da França, do norte da Itália, tendo sido finalmente derrotados pelo rei Ótão, da Saxônia (na Germânia).
Os invasores buscavam ouro, prata e jóais, entesourados principalmente nos mosteiros e nas igrejas. O resgate de prisioneiros era também uma forma de obter riqueza. Os senhorios e as aldeias perderam parte de seus camponeses, levados como escravos. Muitos servos, fugindo dos ataques, estabeleceram-se em outros domínios, ao serviço de novos senhores que os explorassem menos.
A defesa da Europa coube aos nobres guerreiros que com suas armaduras e espadas defendiam propriedades e camponeses. Surgiram fortificações em torno das aldeias, dos mosteiros e dos castelos. No decorrer do século X, a Europa contava com uma eficiente rede de castelos fortificados. Tolhido o ímpeto dos invasores, sedentarizados e convertidos ao cristianismo, normandos e húngaros passaram ajudar os antigos inimigos a se defenderem dos muçulmanos no Mediterrâneo e dos mongóis a leste dos Bálcãs.