O PERÍODO ARCÁICO (SÉCULOS VIII a.C.)

 

O desenvolvimento da pólis  

Nas comunidades da Jônia, na costa ocidental da Ásia Menor, os imigrantes aqueus, estimulados pela localização geográfica que lhes  facilitava o contato com outros povos, desenvolveram o comércio, o artesanato e a navegação. Houve também o reaparecimento da escrita, derivada do alfabeto fenício, entre 800 e 750 a.C..

Foi na Jônia que pela primeira vez ocorreu a fusão de várias aldeias em uma só, dando origem à pólis (cidade-estado), num processo denominado sinecismo, que posteriormente se estendeu por outros territórios da Grécia. As póleis eram núcleos urbanos independente e autônomos, de lavradores e proprietários de terras cujos rendimentos provinham principalmente da produção de azeite e vinho.  

O território das póleis era reduzido e o solo não muito fértil. Em cada uma havia a Acrópole, colina fortificada e centro religioso; a Ágora, local central onde se situavam os edifícios públicos, o mercado e a praça de reunião dos cidadãos; o  porto e o território rural. A população se aglomerava em volta da Acrópole ou se espalhava na área rural, constituindo, entretanto, campo e cidade, uma só unidade.  

A organização política das cidades-estado era oligárquica, baseada no domínio da nobreza hereditária sobre o restante da população. Os cidadãos descendentes das famílias gentílicas proprietárias das melhores terras exerciam o poder, como Magistrados e como membros do Conselho de Anciãos e da Assembléia dos Cidadãos, funções e órgãos que existiam em cada cidade e aos quais somente os aristocratas tinham acesso. Aos pequenos proprietários rurais, comerciantes, artesãos, armadores, estrangeiros e escravos não era permitida qualquer atuação nos negócios.

Nas cidades gregas, o trabalho escravo esteve sempre presente, desde os tempos homéricos. Nessa época, os escravos eram estrangeiros adquiridos no mercado ou prisioneiros de guerra. Posteriormente, os pequenos proprietários que se endividavam e não conseguiam saldar seus compromissos, eram transformados em escravos do devedor, bem como toda sua família.  

O grande número de cidadãos escravizados e de cidadãos livres que não possuíam terras nem direitos civis trouxe insatisfação e conflitos sociais nas póleis, contribuindo para que o sistema político de muitas delas se modificasse. Assim, os gregos experimentaram em suas cidades diferentes formas de governo, como oligarquia, tirania e democracia, de acordo com a menor ou maior participação dos cidadãos livres nos negócios da pólis, e do menor ou maior poder dos Conselhos de Nobres ou das Assembléias de cidadãos.  

Esparta e Atenas representam o tipo clássico de cidades respectivamente oligárquica e democrática. Em Esparta, o poder permaneceu sempre nas mãos dos cidadãos proprietários de terras – os esparcistas. Em Atenas, as lutas políticas levaram à extensão da cidadania a todos os atenienses livres, tornando-se pois democrática, apesar da existência de grande número de escravos estrangeiros. As demais póleis gregas seguiram de perto a organização de Esparta ou de Atenas.

 

A COLONIZAÇÃO GREGA

A pobreza do solo que não produzia alimento suficiente para uma população em crescimento, a escravidão por dívidas e a concentração cada vez maior das terras nas mãos da aristocracia foram fatores que levaram a um amplo movimento migratório dos gregos durante os séculos VIII a VI a.C., em direção aos mares Negro e Mediterrâneo.  

Grupos de colonos, com recursos fornecidos pelo governo de suas cidades de origem, partiam em busca de terras cultiváveis, onde fundavam novas póleis, tais quais as existentes no território grego. Assim, as colônias fundadas ao norte, nas costas da Trácia, do mar de Mármara e do mar Negro, e a oeste, nas ilhas do mar Jônio, no sul da Itália e da Sicília (a Magna Grécia), no sul da França e norte da Líbia se constituíram em saída para a crise agrária e foram fator de progresso econômico e cultural.

Os gregos fundaram dois tipos de colônias: de povoamento e de exploração comercial. Nas primeiras, denominadas “apoikias”, como Siracusa, Cirene, Tarento, Bizânico, os cidadãos se estabeleciam definitivamente, construindo cidades com acrópoles, templos e teatros. Independentes e autônomas desde a fundação, as “apoikias” mantinham apenas ligações religosas, culturais e comerciais com as respectivas "cidades-mães”.

As colônias de exploração, em menor número, eram chamadas de “emporion” e serviam de entreposto comercial, permitindo o fornecimento de produtos e matérias primas à metrópole. As mais conhecidas foram Náucratis, fundada no delta do rio Nilo, no Egito, e Al Minas, na foz do rio Oronte, na Síria.

A colonização promoveu uma intensa troca de produtos agrícolas, metais e artesanato, trazendo o crescimento das riquezas e das cidades. Das colônias do mar Negro, chegavam à Grécia, o trigo, o peixe, o ouro, as peles e os escravos. Da Magna Grécia, provinham o trigo, o azeite, o vinho, o ferro e o estanho. Em meados do século VI a.C., quando a expansão grega foi interrompida, devido à resistência de fenícios e etruscos que também disputavam o domínio do litoral do mar Mediterrâneo, havia centenas de póleis espalhadas em solo grego e no estrangeiro, todas situadas a menos de 40 quilômetros da costa.

A colonização beneficiou grandes e pequenos proprietários de terra, que dedicavam ao cultivo da vinha e da oliveira, produzindo vinho e azeite para exportação. Favoreceu os proprietários de oficinas artesanais(cerâmica, tecelagem, metalurgia, construção naval), cuja produção cresceu, facilitada pela divisão do uso da moeda. Ampliou a classe dos comerciantes e armadores e incentivou o progresso cultural, sobretudo nas cidades gregas da Ásia Menor.

Em função das transformações econômicas e da expansão da riqueza, os gregos foram abandonando as tradições e o mitos gentílicos e desenvolveram uma mentalidade individualista, racional e criativa, que já transparece claramente ns obras dos cientistas e filósofos jônios do século VI a.C., como Tales, Anaximandro, Anaxágoras, da Escola de Mileto. Criaram a lógica e a matemática, afirmando serem os sentidos e a razão os verdadeiros critérios para a compreensão das leis que regem o universo.

O resultado da nova visão grega de mundo foi um avanço impresssionante do conhecimento humano. Filosofia, literatura, história, geometria, arquitetura, escultura, teatro, leis, oratória, debate, voto, tudo isso desenvolveu-se entre os gregos, de uma forma original e até então nunca alcançada. O sábio Protágoras de Abdera(século V a.C.)expressou o humanismo tipicamente helênico, quando afirmou que o “homem é a medida de todas as coisas”, e a civilização grega comprovou isso.

“(...) os comerciantes(...) não só os das metrópoles, mas também os das colônias, irradiam o Helenismo para além das fronteiras étnicas. Transportam, juntamente com os carregamentos de mercadorias, a poesia, as lendas e a arte da Grécia. Por seu intermédio, os povos bárbaros ligam-se à civilização e os povos civilizados sofrem a influência que os permeia por todos os lados(...).” (GLOTZ, G. História Econômica da Grécia. Lisboa, Ed. Cosmos, p. 122, 1946)

 

 

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989