Minas Gerais no Século XIX.      

Ao contrário de São Paulo em plena modernização, a província mineira desde a decadência da mineração ainda no século XVIII, foi dominada pela produção doméstica, vendendo-se na própria região a produção de gado, porcos, milho, mandioca, farinha e aguardente. Comprava-se ferro para ferraduras, sal, vinho, cerveja, charutos, porcelanas, remédios etc. Apenas na zona da Mata e Sul de Minas, dedicadas a cafeicultura apresentavam um maior dinamismo.    

A paisagem mineira era dominada pelas fazendas, que ocupavam 96% do território mineiro e absorviam 79% dos escravos da Província. Estas fazendas abasteciam as Províncias vizinhas do Rio de Janeiro e de Säo Paulo, de sua produção excedente de queijos, porcos, toucinho e têxteis não chegando a constituir uma atividade significativa. Suas cidades principais eram Ouro Preto; Juiz de Fora; Barbacena; Säo João Del Rei, Diamantina. "A Fazenda Mineira não era uma plantation. Suas principais características eram a auto-suficiência e diversificação interna. Sua produção mercantil era limitada, e ela, praticamente não tinha ligações com mercados distantes. As fazendas mineiras não eram uma empresa: ela nunca se especializava na produção mercantil e suas decisões econômicas raramente eram determinadas por forças de mercado(...) o padrão de vida era baixo, mas não mais baixo que em outras regiões do Brasil e, certamente, mais alto que em várias delas". Economia escravista de Minas Gerais no Sec.XIX, Roberto Martins, in: textos para discussão 10, CEDEPLAR.    

Como em todo Brasil, a escravidão era uma instituição largamente utilizada em Minas Gerais. A província mineira "tinha mais escravos que as dez províncias situadas ao norte da Bahia, mais as de Goiás, Mato Grosso e Paraná reunidas".    

A razão para tantos escravos, era a dificuldade de encontrar homens livres dispostos a trabalhar. O inglês James Wells comentando a "preguiça" do homem livre em Minas afirmava: "ele não trabalhava por salário a não ser quando compelido pelo desejo de uma pequena soma para comprar alguma coisa para si ou para sua família. Do contrário, ele se balança em sua rede, fuma seu cigarro, e dedilha o violão ou dorme, informando está "muito ocupado" e talvez possa vir "se Deus quiser" na semana que vem ou outra".    

A explicação para este desinteresse pelo trabalho, residia no fato de que em Minas existia a possibilidade de sobreviver sem tornar-se empregado, comprometendo seu status de homem livre. As famílias podiam tomar posse de um pedaço de terras devolutas, cultivá-lo como posseiro, extraindo daí o necessário para a sobrevivência sem se empregar em trabalho regular. Na província de Minas, como em outras do Brasil, a escravidão dificultava o recrutamento de trabalhadores livres, ao mesmo tempo, a possibilidade de se ocupar terras livres (devolutas) pelos pobres, explicam porque mesmo uma economia de subsistência, como a mineira ocupava tantos escravos.    

A parte da província mais próspera era a região cafeeira que compreendia a Zona da Mata e do Sul de Minas, responsável pela maior parte da arrecadação de impostos. Entre 1895, 1896 e 1897 três quartas partes da receita global eram provenientes da exportação de café. A produção mineira era bem modesta em relação ao Rio de Janeiro e São Paulo. Depois do café, a pecuária era o segundo setor em importância, abastecendo os centros urbanos e exportando o excedente para Rio de Janeiro e São Paulo. A situação dos pecuaristas mineiros não era confortável pois tinham que enfrentar problemas com transporte, tarifas e concorrência de outros produtores.      

Minas Gerais não teve um surto industrial como Rio de Janeiro e São Paulo. No século XIX desenvolveu-se a indústria têxtil, cujos pioneiros foram os ingleses Pigot e Cumberland, que criaram a fábrica de tecidos Cana do Reino, em 1848, no município de Conceição do Serro, tendo existência irregular até ser fechada logo depois. A experiência de maior êxito foi a empreendida pelos irmãos Mascarenhas que fundaram em 1868 a fábrica de tecidos Mascarenhas e Irmãos Ltda, instalada em Caetanópolis com equipamento vindo de New Jersey (EUA), sendo o que de mais moderno havia na época.    

A indústria têxtil espalhou-se por toda Minas, mas principalmente nas zonas da Mata e Sul e cidades como Curvelo e Diamantina. A localização das indústrias estava condicionada ao fator água, pois a queda d'água era necessária para a geração de energia e muitas vezes, por questão de prestígio, ficava próxima à fazenda dos proprietários. As dificuldades para essa industria variavam desde a baixa qualidade da matéria prima, até o baixo poder aquisitivo da população que se abastecia na produção doméstica local.    

Na região central da Província a mineração tinha na mina de ouro de Morro Velho, pertencente a um grupo britânico, a mais importante empresa de mineração, aquela que mais empregava em Minas Gerais. A Morro Velho (St John del Rey Mining Company) foi um dos mais rentáveis empreendimentos ingleses, sendo responsável por mais da metade da produção de ouro em Minas durante o século XIX. A empresa utilizou-se com grande êxito da mão de obra escrava, sendo que o trabalho livre somente superou o cativo em 1880.    

A notícia da Proclamação da República surpreendeu os republicanos de Minas. João Pinheiro, um dos principais republicanos mineiros, encontrava-se na zona da Mata cuidando da campanha republicana, sem conhecimento do que ocorria no Rio de Janeiro.      

Autor: Fábio Costa Pedro

Volta