A Revolução de 1930.  

A crise final da República Velha ocorreu quando o Presidente paulista Washington Luís indicou outro paulista, Júlio Prestes, como candidato a sua sucessão ao invés de um mineiro. O governador de Minas Antônio Carlos, preterido, reagiu, assumindo uma postura oposicionista: "de conservador, transforma-se num liberal, patrocinando congressos; faz sua propaganda gastando dinheiro público e subvencionando jornais; aproxima-se da Igreja adotando o ensino religioso obrigatório nas escolas públicas; pede reformas como: voto secreto, para agradar o povo".

A oligarquia mineira para não ficar isolada na luta contra São Paulo e correr o risco de perder as eleições e vantagens do poder, buscou aliados à oligarquia gaúcha. Antônio Carlos ofereceu a candidatura a presidência da República ao gaúcho Getúlio Vargas.(17 de junho de 1929) conseguindo fazer a aliança com o Rio Grande do Sul e ainda a adesão da Paraíba e do Partido Democrático paulista, formando a ALIANÇA LIBERAL.  

A Aliança Liberal.  tinha como candidato à presidência, Getúlio Vargas. e à Vice-presidência João Pessoa da Paraíba, disputando as eleições contra o candidato oficial Júlio Prestes e seu vice Vital Soares. O programa da Aliança Liberal era reformista:  voto secreto, anistia para os tenentes e reformas sociais como direito a aposentadoria, regulamentação do trabalho dos menores, aplicação de lei de férias, conquistando com isso o apoio dos grandes centros urbanos.  

A eleição de 1930 foi muito disputada e bastante violenta, com conflitos entre aliancistas e governistas. Em Minas Gerais, na cidade de Montes Claros, o vice governador do Estado Melo Viana que apoiava Júlio Prestes foi ferido e o comício terminou com saldo de três mortes. No dia 1o de março de 1930 foram realizadas as eleições, com a "máquina do governo" conseguindo dar a vitória ao candidato Getúlio Vargas, apesar do entusiasmo que o programa da Aliança Liberal. desperta no país. Júlio Prestes obteve 1.027.000 contra 809.307 dados a Getúlio Vargas.

O candidato vencido denunciou fraudes existentes, mas reconheceu a derrota. Entre os aliancistas, políticos mais jovens como Virgílio de Melo Franco, Francisco Campos, Osvaldo Aranha, Lindolfo Collor, João Neves, Maurício Cardoso, Paim Filho conspiravam contra o governo, procurando aproximar-se dos tenentes no exílio.  

O depoimento do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, em artigo sobre a Revolução de 1930, relata: " como repórter parlamentar, acompanhei, de perto, as marchas e contramarchas da Revolução de 1930, e fiquei entre os que não acreditavam na possibilidade de sua deflagração, até o instante do assassinato de João Pessoa (26-07-1930) na cidade do Recife.

A Revolução para depor o Presidente Washington Luís começou no dia 3 de outubro, quando Osvaldo Aranha e mais 50 homens atacaram em Porto Alegre, o Quartel General com o comandante rendendo-se aos revoltosos. Nos demais Estados, acontecia a mesma coisa; soldados dissidentes do exército e soldados da Força Pública atacavam e dominavam os quartéis e postos de comando governistas.

Em Belo Horizonte. os revolucionários encontraram resistência no 12o Regimento de Infantaria no Prado, que rendeu-se após cinco dias de cerco. "Na quarta feira, 8 de outubro, a bandeira branca foi hasteada e a guarnição se rendeu às Forças da Polícia Militar do Estado. Dirigi-me ao quartel e vi a  guarnição se retirar às duas horas da tarde. Os edifícios do quartel apresentavam as marcas brutas e buracos causados pelas balas e algumas residências haviam, também, sofrido sérios estragos. Um civil morto no chão e mais adiante via-se um outro e uma criança.

A população de Belo Horizonte. sofreu algumas baixas por causa de balas perdidas durante cinco dias do sítio (...) Um dos empregados da "Machine Cottons Ltda", uma firma britânica, foi morto e um francês do Banco Hipotecário foi ferido levemente no braço (...) A maioria das casas dentro do perímetro de alcance do fogo recebeu balas e a nossa não constituiu exceção."  No norte do país, a Revolução foi liderada por Juarez Tavora; na Bahia por Juracy Magalhães e Agildo Barata. Em São Paulo, na cidade de Itararé ocorreu o confronto decisivo entre as tropas rebeldes e as do governo. Do lado dos revolucionários havia 7.800 soldados e do lado legalista, 6.200 combatentes. Contudo a luta não ocorreu pois as tropas do governo comandadas pelo coronel Paes de Andrade, renderam-se.

No Rio de Janeiro foi formada uma junta governativa que acabou entregando o governo a Getúlio Vargas. que tomou posse no dia 3 de novembro de 1930.  A Revolução de 30. foi fruto da dificuldade das oligarquias em manter sob controle os centros urbanos, com a classe média e os operários insatisfeitos com o aumento do custo de vida, a falta de empregos e a farsa eleitoral. A insatisfação alcançou os militares (tenentes) descontentes com o papel secundário do Exército e a corrupção do regime, considerando-se os únicos capazes de moralizar o país.

Os tenentes criticavam o liberalismo do regime, preocupado basicamente com a proteção ao café, a descentralização administrativa, a fraude eleitoral. Propunham um governo centralizado e nacionalista com preocupações industrializantes.  Mas a Revolução não ocorreu devido à atuação direta dos tenentes, dos operários ou da classe média e sim devido à cisão entre as oligarquias que disputavam o poder e não conseguiram manter a antiga unidade, face aos interesses regionais divergentes numa conjuntura de crise econômica.

O movimento de 30. tornou-se um marco político importante inaugurando algumas reformas no campo econômico e social e a emergência de um Estado forte preocupado em regulamentar as relações de trabalho, incentivar o desenvolvimento das indústrias, sem contudo alterar a estrutura agrária baseada no latifúndio.  

Texto de: Fábio Costa Pedro.

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