A Crise do Século III

A Anarquia Militar

Autores: Fábio Costa Pedro e Olga M. A. Fonseca Coulon.
História: Pré-História, Antiguidade e Feudalismo, 1989

 

 

A Anarquia Militar.

 

 

Nos
fins do século II, já sob a dinastia dos Severos(Sétimo Severo, Caracala, Geta, Macrino Heliogábalo e Alexandre Severo – de 193 a 235), surgiram os primeiros sintomas de criseeconômica no Império. O fim das guerras de conquista trouxe escassez de mão-de-obra escrava, que se tornou extremamente cara. Os grandes proprietários começaram a arrendar parcelas de terras a agricultores livres(colonos) em troca de uma parte da produção, iniciando-se o sistema de colonato.

A produção de metais diminuiu e a moeda era constantemente desvalorizada. Surgiram problemas nas fronteiras, com constantes ataques de tribos “bárbaras”. O grande número de funcionários e a manutenção do exército aumentavam as despesas do Estado, levando o governo a constantes elevações de impostos, que recaiam principalmente sobre os pequenos produtores e arrendatários.

O período de 235 a 284 foi de grande anarquia, pondo fim ao Principado. O exército passou a controlar o Estado, sucedendo-se mais de vinte imperadores militares no trono. A sede do poder político deixou de ser a capital Roma e foi transferida para o campo de batalha, onde o que valia era a vitória de um comandante militar sobre seus rivais.

 
Nesse período, a crise econômica do Império agravou-se. Com falta de trabalhador, a produtividade da terra diminuiu – o aumento da produção só podia ocorrer com o aumento da mão-de-obra(que estava cada vez mais difícil) devido à lentidão do progresso tecnológico verificado. As moedas perderam o valor e os preços elevaram-se. Revoltas militares e de escravos eclodiram em diversos pontos do Império. A escravidão entrou em declínio em função da dificuldade de se encontrar escravos e também devido à possibilidade de as classes superiores encontrarem trabalhadores livres dispostos a se empregar, em troca de proteção.

 
As fronteiras eram continuamente atacadas pelos bárbaros. Os saxões, na Bretanha, os francos, na Gália, os godos, na Ásia Menor, os persas, na Mesopotâmia e Síria penetravam profundamente para o interior. O comércio e as manufaturas decaíam. A crise econômica acentou as diferenças entre a parte oriental e a parte ocidental do Império, mais atingida, pois aí é o latifúndio e o trabalho escravo eram a base do sistema econômico.

 

O Dominato ou Baixo Império

 Diocleciano, em 284, pôs fim à anarquia e deu início a uma nova fase do Império, denominada DOMINATO, estabelecendo em Roma uma monarquia despótica de tipo oriental, em que os imperadores se intitulavam “Dominus et Deus” (Senhor e Deus), sendo adorados e reverenciados como os soberanos orientais.

 
A fim de deter a crise e manter a defesa e a ordem interna, Diocleciano aumentou os efetivos do exército para mais de 450 000 homens e dividiu o Império em 101 províncias, 17 dioceses e 4 prefeituras ou tetrarquias. Essa reforma militar e administrativa aumentou enormemente os gastos do Estado. Para enfrentar as despesas, foram lançadas novas taxações sobre a terra, o comércio e demais atividades. Foi também criado um imposto em gêneros – a “anoma” – recolhido pelos “curiales”, altos funcionários do governo, destinado à manutenção da burocracia e dos exércitos. Esses impostos oneravam principalmente os pequenos proprietários e os arrendatários.

 
Diocleciano foi sucedido por Constantino (306/337), que tomou medidas importantes como a mudança da capital de Roma para Constantinopla, o reconhecimento da religião cristã e a vinculação do colono à terra. A mudança da capital para a parte oriental do Império demonstrava o esvaziamento de Roma como centro econômico e político.

 
Constantino baixou decretos no sentido de vincular o homem à terra e às suas profissões urbanas, facilitando a cobrança de impostos.

 
No campo, os camponeses e os colonos foram proibidos de abandonar a gleba em que trabalhavam, beneficiando os grandes proprietários. Nas cidades, as atividades administrativas, comerciais e artesanais se tornaram obrigatoriamente hereditárias e seus membros foram proibidos de mudar de ramo, favorecendo os detentores de melhores cargos públicos.

 
As reformas introduzidas por Diocleciano e Constantino conseguiram manter o Império durante o século IV. Em 395, com a morte do imperador Teodósio, o Império foi dividido entre seus filhos Honório e Arcádio, em Império Romano de Ocidente e Império Romano do Oriente. Entretanto, isso não conseguiu evitar a crise econômica, política e militar que no século V se manifestou em toda a extensão da parte ocidental do Império, agravada pelas invasões dos povos bárbaros germânicos.

 

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