Adaptações fisiológicas ao treinamento de força

A força muscular é uma capacidade física muito importante no desenvolvimento de habilidades esportivas, e mesmo para a realização de tarefas cotidianas, sendo passível de desenvolvimento (Pereira, 1995), McArdle,(1991). Ainda segundo os autores, este desenvolvimento é o resultado de adaptações fisiológicas que ocorrem em todo o organismo humano, e que somadas resultam no nível de força muscular apresentado pelo indivíduo.

As adaptações fisiológicas que ocorrem quando um indivíduo é submetido ao treinamento de força são: neurais, que segundo McArdle,(1991) caracterizam-se por um maior nível de excitação e subsequente desinibição ou facilitação neural, resultando em uma exacerbação na excitabilidade dos neurônios motores alfa, e portanto, um maior recrutamento de unidades motoras, que poderiam dar origem a uma ativação plena dos grupos musculares, sendo este mecanismo o responsável pelo aumento inicial e rápido de força, que ocorre quando se inicia um treinamento com resistência, e que não estão relacionados a hipertrofia das fibras musculares.

A hipertrofia muscular, consiste num aumento de espessura de cada fibra muscular, e este processo está diretamente ligado à síntese de filamentos protéicos que constituem os elementos contráteis dos músculos.

As miofibrilas sofrem espessamento e aumento em número, ocorrendo aumento da síntese protéica e diminuição do fracionamento, resultando num aumento lento da força muscular, podendo este mecanismo ocorrer em grau elevado, resultando ao final de um processo que pode levar anos, num grande aumento da área de secção transversa do músculo, e do seu potencial gerador de força, sendo responsável pela maior proporção de grandes ganhos de força conseguidos através do treinamento , ocorrendo ainda um aumento da força dos ligamentos e tendões, e do conteúdo mineral ósseo (McArdle, 1991).

A hipertrofia muscular começa a ocorrer de maneira significante apenas após 16 sessões de treinamento (Kraemer, 1987).

Ocorre também a diminuição da capilarização e volume mitocondrial muscular (pois ocorre a hipertrofia sem aumento paralelo simultâneo do número de capilares sangüíneos e do volume e número total de mitocôndrias, reduzindo a relação entre os mesmos e o volume miofibrilar), aumento das reservas de glicogênio e de CP (creatina fosfato), a ATP (adenosina trifosfato)a também um aumento na atividade das enzimas do metabolismo anaeróbio, como creatinofosfocinase, miocinase, fosfofrutoquinase.

O grau em que ocorrem as adaptações nos indivíduos varia, e é resultante da interação de diversos fatores, como a herança genética, uma nutrição adequada, concentrações plasmáticas hormonais e inervação, sendo todos eles responsáveis pelo modelamento da resposta que o indivíduo apresentara com relação ao treinamento, tendo cada um deles um grau de influência diferente no nível final de força muscular apresentado (McArdle, 1991).

Para Hakkinen, (1989) a adaptação dos indivíduos não treinados ao treinamento de força ocorre de maneira rápida, sendo a contribuição inicial maior da adaptação neural, com crescimento gradual da contribuição gerada pela hipertrofia muscular. Segundo o autor, em atletas o desenvolvimento da força muscular se encontra muito mais limitado em virtude do nível de melhor condição inicial, sendo que a capacidade de desenvolvimento da força muscular encontra uma barreira devido a fatores genéticos, merecendo um programa de desenvolvimento de força em atletas considerações mais sérias em sua elaboração.

A magnitude e o curso de modificações neurais das mesmas em atletas ocorre de maneira diferente quando comparados a indivíduos sedentários, embora o mecanismo pelo qual a adaptação ocorra seja o mesmo, afirmando que em atletas que desenvolvem um treinamento de força por longos anos, um dos fatores limitantes para o desenvolvimento da força é o balanço hormonal endógeno entre os hormônios anabólicos e catabólicos apresentado pelo indivíduo, sendo esta relação capaz de criar um panorama da treinabilidade do mesmo.

Para se demonstrar este fato pode-se citar o estudo realizado por Narici, (1996) onde se observaram mudanças em todas as variáveis exceto aquela na qual os indivíduos demonstraram boas condições iniciais. O autor submeteu 7 indivíduos jovens do sexo masculino, que praticavam atividades físicas a nível recreativo, não mais do que duas vezes por semana, a um período de seis meses de treinamento para desenvolver a força dos músculos extensores da perna. Embora o autor tenha observado um aumento da área de secção transversa de cerca de 19,3 %, da musculatura do quadríceps, e 29,6% no torque máximo no ângulo de 100° sem se observar mudanças significantes na ativação neural, levantando a hipótese dos indivíduos do grupo já possuírem anteriormente ao estudo uma ótima capacidade de recrutamento das fibras musculares, devido aos valores altos de ativação na IEMG encontrados no pré-teste.

Existe uma certa controvérsia a respeito da mudança do tipo de fibra muscular em resposta ao treinamento de força.

McArdle, (1991) não observaram nenhum tipo de mudança no tipo de fibra apresentado pelo indivíduo submetido ao treinamento de força.

Heather et al, (1963) appud Kraemer, (1987) observou uma conversão de fibras musculares do tipo IIb para o tipo IIa, em um estudo onde um grupo de 13 homens de idade média de 36 anos, divididos em dois grupos, o controle (Ct), que não foi submetido a qualquer tipo de treinamento, e treinado (Tr), que desenvolveu um treinamento para desenvolver a força dos músculos extensores da perna durante 19 semanas, observando uma diminuição do porcentagem de fibras do tipo IIb de 18 para 1%, e um subsequente aumento da porcentagem de fibras IIa de 48 para 60% do total de fibras do grupo muscular treinado. Foi observado neste estudo a ocorrência de hipertrofia muscular (19%) através da biópsia do músculo vasto lateral.

Voltar