As doenças sexualmente transmissíveis (DST) são enfermidades que passam de pessoa para pessoa através de relações sexuais, obviamente, embora também, em alguns casos, por outras vias. Conhecê-las é a melhor forma de combatê-las. por isso, abaixo, apresentamos as mais comuns, entre a população em geral, e as que mais acometem as lésbicas em particular.
CANCRO MOLE |
Característica: lesão genital |
Tratamento: Com Antibióticos. As lesões costumam desaparecer em 4 dias |
CÂNDIDA (MONÍLIA) |
Característica: infecção vaginal |
Tratamento: Com antimicóticos. Dura de 5 a 15 dias. |
CLAMÍDIA |
Característica: infecção cervical |
Tratamento: Com antibióticos. Se não tratada por originar doença inflamatória pélvica. |
CONDILOMA ACUMINADO (VERRUGAS GENITAIS) |
Característica: infecção vaginal/cervical |
Tratamento: Através da eliminação das verrugas com aplicações locais de substâncias ou cauterização por meio de bisturi elétrico. O vírus, porém, permanece no organismo. |
GONORRÉIA |
Característica: infecção no colo do útero ou na uretra |
Tratamento: antibióticos. Desaparecimento dos sintomas em cerca de 24 horas. Se não tratada, pode causar esterilidade, problemas neurológicos, infecção nos ossos e coração. |
HERPES GENITAL |
Característica: lesão genital |
Tratamento: o herpes não tem cura, fica para sempre no corpo. Utilizam-se remédios à base da substância Aciclovir para amenizar os sintomas e diminuir-lhes a duração. |
SÍFILIS |
Característica: lesão genital |
Tratamento: com penicilina. No caso da sífilis primária, em cinco dias, desaparecem os sintomas e, em seis meses, todas as bactérias do corpo. Se não tratada, a sífilis pode levar até à morte. |
TRICOMONÍASE |
Característica: infecção vaginal |
Tratamento: de cinco a dez dias, com antibióticos. Se não tratada, pode levar à esterilidade. |
Todas estas DST, se não tratadas, podem passar para o trato ginecológico superior (útero, trompas, ovários) bem como para a bexiga e o reto, trazendo sérias complicações, inclusive por facilitarem a transmissão da AIDS. Em particular, a clamídia, a gonorréia e a sífilis podem causar doença inflamatória pélvica, inflamação do reto, infecção da uretra, das glândulas de Bartholin, problemas de coração, cegueira e até morte. Apesar destas graves conseqüências, a maioria das DST pode ser tratada rapidamente com antibióticos ou terapias naturais. Apenas o herpes não é passível de cura definitiva, havendo, entretanto, formas de mantê-lo "adormecido".
DST nas relações entre mulheres
As DST mais frequentemente transmitidas nas relações entre mulheres são:
1) a candidíase (monília), a tricomoníase e a vaginite causada pela bactéria Gardnerella vaginalis via contato genital-genital (chanacomchana) e digital-genital (dedo-vagina);
2) o herpes genital e a hepatite A, B e C através de contato oral-genital (chupada), oral-anal e genital-genital (chanacomchana);
3) as causadas pelo papiloma vírus humano, como as verrugas genitais e as lesões no cervix associadas ao câncer cervical, por meio do contato vulva-vulva.
Vale a pena lembrar que muitas destas DST são transmitidas também via assento de banheiro, toalhas úmidas, lençóis e roupas íntimas. É bom saber ainda que vaginites, causadas, por exemplo, por cândida e gardnerella vaginalis, são frutos de desequilíbrios de nossos próprios organismos. A cândida é um fungo e a gardnerella uma bactéria que vivem normalmente na flora vaginal e no reto, contribuindo
inclusive para manter a acidez natural da vagina. Por razões que vão do estresse a desequilíbrios hormonais e depressão até consumo exagerado de açúcar e álcool, passando pela menstruação, o pH da vagina fica mais alcalino dando chance a cândida e a gardnerella, entre outros microrganismos, de se proliferarem. Não vá, portanto, pedir o divórcio à companheira se ela tiver alguns desses probleminhas e repassá-los para você. Basta tratar.
Embora a AIDS também seja uma doença sexualmente transmissível, nós preferimos abordá-la em separado, pois além, de tratar-se de uma síndrome, originando uma série de sintomas, permanece incurável até hoje.
De fato, a AIDS, sigla em inglês para Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, é causada pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, sigla também em inglês) que ataca o sistema imunológico das pessoas, ou seja, o sistema de defesa de nossos corpos contra as doenças. A partir do momento em que a pessoa é contaminada, inicia-se uma batalha entre seu sistema imunológico e o HIV, uma batalha que pode durar até mais de 10 anos. Em outras palavras, algumas pessoas vivem mais de 10 anos sem apresentar sintomas, isto é, podem ter o HIV sem desenvolver a AIDS.
E os sintomas? Cansaço, diarréia e gripes permanentes, fôlego curto, gânglios inchados, lesões na pele, candidíase oral,
demência, sangramentos repentinos, emagrecimento acentuado e coma. Na mulher, o emagrecimento é pequeno e são raros os casos de câncer de pele. Por outro lado, são comuns os problemas ginecológicos relacionados ao acometimento de outras DST, como a candidíase vaginal, gonorréia, clamídia, herpes, e ao aparecimento de tumores cervicais e uterinos e de doença inflamatória pélvica.
Assim como em relação a outras DST, as lésbicas não são imunes a AIDS. Nos países industrializados, já existem pesquisas e relatos feitos com lésbicas e por lésbicas descrevendo casos de transmissão do HIV na relação sexual entre mulheres. Pondera-se que o baixo índice de casos públicos de AIDS, entre lésbicas, pode dever-se, por um lado, ao fato das lésbicas serem incluídas estatisticamente na categoria "mulher", em geral, permanecendo, portanto invisíveis, e por outro, às próprias vias de transmissão do vírus, mais limitadas nas relações entre mulheres (haveria menor quantidade de HIV nas secreções
vaginais, por exemplo).
Seja como for, é essencial saber que risco pequeno não significa nenhum risco. Como você sabe, o HIV é transmitido através de sêmen, sangue (incluindo o menstrual), secreção vaginal e leite materno contaminado por meio de alguma “porta aberta” no corpo das pessoas.
Essa “porta aberta ou de entrada” pode ser uma microfissura na região genital, produzida durante uma transa ou por um problema ginecológico, um arranhão ou eczema nas mãos, alguma feridinha na boca ou irritação na gengiva, ou seja, por qualquer via que permita ao vírus entrar na corrente sangüínea.
Assim, na relação genital-genital (chanacomchana) ou oral-genital (chupar chana ou ânus) ou mesmo na penetração manual ou com instrumentos sexuais, havendo contato de secreção vaginal ou sangue menstrual contaminados, na presença de alguma porta de entrada, uma mulher pode sim passar o HIV para outra.
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Agora que nós já falamos sobre algumas DST e sobre a AIDS em particular, vamos ver como utilizar certos recursos para previni-las. Vamos conversar sobre sexo seguro. |
HIV caso você fique exposta ao mesmo.
Então, voltando ao sexo seguro. Do que se trata?Bem, sexo seguro é uma forma de evitar os riscos de contrair ou transmitir DST / HIV. Compreende uma série de atividades, das menos arriscadas às totalmente seguras, que procuram evitar, especialmente no caso do HIV, a penetração de sangue (incluindo o menstrual) ou fluido vaginal na corrente sangüínea. O sexo seguro pressupõe a não transferência de fluidos ou sangue através:
- da penetração vaginal ou anal com proteção (luvas de látex ou dedeiras), em especial na presença de cortes, rachaduras, feridas, eczema e outros problemas cutâneos nos dedos e/ou nas mãos. Nunca usar a mesma luva na vagina após penetração
- do sexo oral com barreira de proteção, em especial na presença de problemas na boca (herpes labial, gengivites sangrantes etc.) ou durante o período menstrual. É importante cobrir toda a
área genital para prevenir que qualquer quantidade de secreção vaginal ou de menstruação alcance a boca.
- Com relação aos instrumentos sexuais (vibradores, consolos, etc.), estes são seguros quando esterilizados e não compartilhados. O melhor seria utilizar uma camisinha para cobri-los. Uma nova camisinha deve ser usada a cada nova parceira.
- Algumas técnicas sadomasoquistas que utilizam instrumentos cortantes ou perfurantes (facas, giletes, agulhas, etc.) requerem esterilização apropriada dos mesmos.
Sexo oral
No Brasil, não contamos com dental dam, um quadrado de látex reutilizável após lavagem com sabão neutro. No entanto, podemos construir um a partir de uma luva cirúrgica, conforme figura acima. Muitas mulheres reclamam da espessura do material que interfere com a sensibilidade oral-genital. Sem problemas: construa uma barreira a partir da camisinha. Não interfere tanto com a sensibilidade e é descartável.
Alguns materiais educativos recomendam o uso de cling film (Magipack, Rolopack etc.). Outros sequer o mencionam. O certo é que este produto obedece a critérios de qualidade para preservação de alimentos e não para prevenção de DST, embora possa ser indicado na ausência das barreiras descritas acima.
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Instrumentos sexuais: Para uma penetração segura e higiênica, ao usar vibradores ou consolos, coloque uma camisinha. Antes de compartilhar instrumentos, troque de camisinha.
O HIV é transmitido através do sangue, do sêmen e das secreções vaginais. Nenhum destes fluidos deve penetrar em você ou em sua parceira através da boca, da vagina, do ânus ou de cortes na pele. Não há evidências de que o HIV seja transmitido através da saliva. As lésbicas que desejam engravidar, através de inseminação artificial, devem certificar-se de que o material não contém HIV.
TOTALMENTE SEGURO
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- esfregar corpo com corpo |
- fazer sexo sem intercâmbio de fluidos corporais
- não compartilhar agulhas, seringas e utensílios para mistura de drogas injetáveis
Provavelmente Seguro
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- beijo francês (com saliva) |
Não Seguro / Arriscado
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- sexo oral desprotegido, especialmente durante a menstruação |
Ao usar drogas injetáveis, as pessoas colocam substâncias direto na corrente sangüínea. Portanto, compartilhar agulhas e seringas não esterilizadas é uma forma direta de disseminação do HIV e do vírus da hepatite B. O melhor é ter seu próprio equipamento. Caso não seja possível, deve-se esterilizar agulhas e seringas antes de compartilhá-las. Faça o mesmo com os demais utensílios para preparo da droga.
Especialmente parceiras(os) portadoras(es) do HIV devem fazer sexo seguro e droga segura. O HIV tem diversos tipos que diferem estruturalmente (cepas), e a re-infecção com cepas diferentes compromete ainda mais o sistema imunológico.
Como esterilizar agulhas e seringas
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Nas páginas anteriores, falamos sobre saúde ginecológica como um item em separado, mas, de fato, saúde de verdade só pode ser entendida e, sobretudo, obtida por meio de uma perspectiva integral. |
São um pouco conseqüência das ações do preconceito que muitas vezes não conseguimos driblar. No caso do alcoolismo, não é preciso ser genial para perceber que, se as lésbicas só tem bares e boates como pontos de encontro, o estímulo para beber se torna muito grande.
Buscar outras formas de socialização, portanto, é um ponto básico para a saúde lésbica. Hoje, no Brasil, já existem alternativas de contato, além dos bares e boates, como agências de turismo específicas, grupos organizados de lésbicas, clubes de correspondência, etc... Você encontra informações sobre estes serviços aqui conosco da Rede ou em revistas especializadas da praça.
Da mesma forma, já existem alternativas - embora poucas - de atendimento médico não-preconceituoso em clínicas de mulheres e com profissionais progressistas. Lembre-se ainda de que, apesar do receio da discriminação, fugir da(o) ginecologista não é uma boa. Razões já demos de sobra, não é?
Enfim, a expressão-chave
para a saúde integral das lésbicas é saber driblar o preconceito. O estresse que sofremos em função de manter uma falsa realidade, cheia de mentiras, o medo exagerado de perder a aceitação da família e de outras pessoas com quem convivemos, afetam diretamente nossa saúde psicológica e a qualidade de nossas vidas. Assim, buscar alternativas de socialização e o convívio de outras lésbicas (não só para arrumar namorada), assumir-se gradualmente para pessoas mais abertas, livrar-se dos sentimentos de culpa e vergonha por ser lésbica, levantar a auto-estima, enfim, são condições imprescindíveis para a manutenção da saúde. Tenha em mente que, contra a discriminação, viver bem é a melhor vingança.