Manual de observações para um pequeno telescópio
 
   
Por Ednilson Oliveira
Departamento de Astronomia
Instituto Astronômico e Geofísico - USP




Observações Planetárias
Cometas

A Lua - Mapa da Lua

Aglomerados de estrelas

Nebulosas

Estrelas duplas





Observações Planetárias
 

MERCÚRIO: O planeta Mercúrio é o primeiro planeta em ordem de distância ao Sol. Este planeta afasta-se no máximo  28o do Sol, isto significa que ele poderá ser visto, inclusive a olho nú, até duas horas depois do pôr do Sol ou duas horas antes do Sol nascer. Mercúrio é de difícil observação, com um pequeno telescópio você verá um disco planetário amarelo-alaranjado. Sua magnitude varia de + 4.8 até em torno de -1.8.
 
 

VÊNUS: O planeta Vênus é o segundo em distância ao Sol. É o astro mais brilhante depois do Sol e da Lua e é visível a olho nú em algumas ocasiões até durante o dia. Vênus é a chamada estrela da Alvorada ou estrela D'alva. Este planeta distância-se do Sol no máximo 48o, assim você nunca o verá mais do que três horas depois do pôr do Sol ou três horas antes do nascer dele. Com um pequeno instrumento é possível notar as sucessivas mudanças das fases de Vênus e as mudanças de seu brilho, bem como a mudança do diâmetro planetário, que varia muito ao decorrer de sua órbita. Sua magnitude varia de    -3.3 até em torno de - 4.7.
 
 

 MARTE: O planeta Marte é o quarto planeta em distância  ao Sol. É visível, a olho nú, boa parte da noite, durante cerca de oito meses por ano. Este planeta é muito interessante pois possui fases, calota polar, tempestade de areia, nuvens na atmosfera, regiões de planaltos (Syrtis Major). Isto tudo é possível (com certas restrições) de ser observado com um instrumento de 100mm de diâmetro. O disco torna-se muito visível nas chamadas oposições (a cada dois anos, 1997, 1999, etc), principalmente nas oposições periélicas (a cada 15 ou 17 anos, a próxima será em 2003). Assim, é hora de observar e acompanhar as mudanças deste planeta. Porém, na maioria do ano, Marte decepciona. As boas observações mesmo ocorrem de dois a três meses a cada dois anos e as excelentes a cada 15. Durante essa maior aproximação Marte chega a brilhar com magnitude da ordem de -2.8, superado apenas por Vênus. Este planeta muda muito sua magnitude e cor no decorrer do ano e também muda o tamanho de seu disco, é muito interessante acompanhá-lo sempre que puder. Interessante também é observá-lo a olho nú e verificar seu movimento entre as constelações: se você o acompanhar, verá as laçadas que perfaz em sua trajetória. Sua magnitude varia de +1.5 até em torno de -2.8.
 
 

JÚPITER: O planeta Júpiter é o quinto planeta em distância ao Sol. É o maior planeta do Sistema Solar. Com um pequeno telescópio é possível ver o gigante disco planetário e verificar que este possui um achatamento nos pólos, irá perceber também as faixas  escuras perto do equador do planeta e, ás vezes, em condições excepcionais, quando o planeta estiver em uma boa altura no céu, a famosa mancha vermelha, que tem um aspecto ovalado e cor róseo clara. Mas são os seus quatro principais satélites, Io, Europa, Ganimedes e Calisto, que revelam porque Júpiter é o planeta dos amadores: você poderá acompanhar diariamente as posições destes quatro satélites pois são facilmente visíveis com um pequeno telescópio, verá os eclipses dos satélites, as ocultações e os trânsitos. Com um instrumento de 80mm o aficcionado já começa a calcular as órbitas destes satélites e verificar suas posições. Este planeta também é visível boa parte do ano. Sua magnitude varia de - 1.8 até em torno de -2.7. Júpiter é facilmente observado a olho nú. Depois do Sol, Lua e Vênus, é o astro mais brilhante do firmamento.
 
 
 

 SATURNO: O planeta Saturno é o sexto em distância ao Sol. Não é o único que contém anéis, mas estes são os únicos acessíveis à maioria dos telescópios terrestres. Com um refrator de 80mm você poderá ver o globo do planeta ligeiramente achatado e em volta dele os belíssimos anéis. Em condições excepcionais, quando o planeta estiver em uma boa altura, é possível ver com certa dificuldade a divisão dos anéis, chamada de divisão de Cassini. Seu principal satélite, Titã, é visível com facilidade e possui uma magnitude de 8.4. Já os demais satélites raramente serão visíveis (recomenda-se um refletor de 150 mm), mas não é impossível. Seguem em ordem de magnitudes, Rhea (9.7), Tethys (10.3), Dione (10.4) e Encelados (11.8). Este último já precisa de um refletor de 200 mm. O interessante de Saturno é o bamboleio de seus anéis, ora são bem visíveis com toda sua abertura (1990) ora quase desaparecem (1995). Atualmente os anéis são relativamente bem visíveis. O planeta também é visível boa parte do ano, inclusive a olho nú. Sua magnitude varia de + 1.0 até em torno de -1.4.


Bamboleio dos Anéis de Saturno (imagem do Hubble Space Telescope)



 URANO: O planeta Urano é o sétimo em distância ao Sol. Com uma magnitude média de 5.9, no telescópio você poderá identificá-lo facilmente entre as estrelas, para isso você terá que saber sua posição exata no firmamento. É possível notar sua coloração esverdeada destacando-se entre as estrelas, mas não fique decepcionado pois não verá mais do que isto. O planeta também é visível boa parte do ano.
 

NETUNO: O planeta Netuno é o oitavo em distância ao Sol. Com uma magnitude de 7.8, já começa  a ser de difícil observação, você terá que ter um bom atlas e saber sua posição exata, mesmo assim é facilmente confundido com uma pequena estrela. O planeta também é visível boa parte do ano, mas nunca a olho nú.
 
 

PLUTÃO: Último planeta em ordem de distância ao Sol. Com uma magnitude de 13.6, não é visível com um pequeno instrumento, você precisará de um refletor de 250 mm de espelho e, mesmo assim, o verá com uma certa dificuldade entre as estrelas, como um pequeno pontinho de luz.
 


Cometas
 
 

    Cometas são corpos celestes pertencentes ao nosso Sistema Solar que gravitam em torno do Sol. Geralmente são objetos difusos e de difícil observação. Os cometas são constituídos de um aglomerado de gelo, poeira e gás e de pequenos fragmentos rochosos mas, ao aproximar-se do Sol, este aglomerado de poeira, que chamamos de núcleo, começa a volatizar-se, formando uma coma ou cabeleira. Muitas vezes aparecem também as caudas, que são constituídas de pequenas partículas. Quando os cometas estão perto da órbita da Terra muitas vezes começam a ser visíveis a olho nú. Daí o espetáculo começa, de um objeto pequeno e difuso ele apresenta-se grandioso, com um brilho que muitas vezes pode ser visto durante o dia. Muitos cometas, como por exemplo o recente Hale-Boop apresenta-se com uma brilhante cauda.


A Lua

    A melhor maneira para familiarizar-se com a paisagem lunar é acompanhá-la, dia após dia, no decorrer de todo o tempo de uma lunação (~ 29 dias e 12h). Com a ajuda de um mapa lunar e de um pequeno telescópio, tudo fica bem mais fácil, o instrumento permitirá horas agradáveis com o discernimento gradual do relevo lunar.
    Em geral, para uma boa observação, deve-se esperar pelo terceiro dia de lunação, ou seja, depois da lua nova. A cada dia você verá crateras diferentes, e aquelas que você já viu na noite anterior também aparecerão com um aspecto diferente. Aconselho a procurar as crateras de maiores dimensões como a Petavius (160 km), Clavius (230km), Tycho, Copérnico (96 km), Platão (80 km), etc.
    Uma mapa simplificador segue abaixo, onde voce comeca a desvendar as regioes dos mares lunares, e depois disso segue um mapa mais detalhado com os nomes das principais crateras lunares.
 
 


Acima mapa simplificado do relevo lunar, feito por Julio C. Klafke (IAG-USP), abaixo uma mapa mais detalhado com a lista de suas principais caracteristicas.
 
 


 Mapa da Lua

NOMENCLATURAS DO MAPA LUNAR


CRATERAS
MONTANHAS
 21 - Albategnius
 A - Vale Alpine 
 22 - Alphonsus
 B - Mt Alpes
 23 - Arago
 E - Mt Altai
 24 - Archimedes
 F - Mt Apennine
 25 - Aristarchus
 G - Mt Carpathian
 26 - Aristilus
 H - Mt Caucasus
 27 - Aristóteles
 K - Mt Haemus
 28 - Arzachel
 M - Mt Jura
 29 - Atlas 
 N - Mt Pyrenees
 31 - Autolycus
 R - Vale Rheita
 32 - Bessel 
 S - Mt Riphaeus
 33 - Bullialdus
 V - Spitzbergen
 34 - Cassini
 W - Canal Reto
 35 - Catharina
 X - Muro Reto
 36 - Clavius 
Y - Mt Tarus 
 37 - Cleomedes
 Z - Mt Tenerife
 38 - Cook
 
 39 - Copernicus
 MARES
 41 - Cyrillus
 
 42 - Delambre
 LS - Lacus Somniorum
 43 - Endymion
 MC - Mare Crisium
 44 - Eratosthenes 
 MFe - Mare Fecunditatis
 45 - Eudoxus
MFr - Mare Frigoris 
 46 - Fracastorius
 MH - Mare Humorum
 47 - Furnerius
 MI - Mare Imbrium
 48 - Gassendi
 MNe - Mare Nectaris
 49 - Grimalde
 MNu - Mare Nubium
 51 - Halley
 MS - Mare Serenitatis
 52 - Hercules
 MT - Mare Tranquilitatis
 53 - Herschel
 MV - Mare Vaporum
 54 - Hevelius
 OP - Oceanus Procellarum
 55 - Hipparchus
 SA - Sinus Aestuum
 56 - Julio César
 SI - Sinus Iridum
 57 - Kepler 
 SM - Sinus Medii
 58 - Langrenus
 SR - Sinus Rogis
 59 - Lansberg
 
 61 - Longomontanus
 
62 - Macrobius
 SONDAS LUNARES
 63 - Maginus
 
 64 - Manilius
 2 - Luna 2 (13/09/1959)
 65 - Maskelyne
 7 - Ranger 7 (31/07/1964)
 66 - Maurolycus
 9 - Luna 9 (03/02/1966)
 67 - Mersenius
 11 - Apollo 11 (20/07/1969)
 68 - Newcomb
 12 - Apollo 12 (19/11/1969)
 69 - Petavius
 14 - Apollo 14 (05/02/1971)
 71 - Piccolomini
15 - Apollo 15 (30/07/1971) 
 72 - Plato
 16 - Apollo 16 (21/04/1972)
 73 - Plinius
 17 - Apollo 17 (11/12/1972)
 74 - Posidonius 
 
 75 - Ptolomeus
 
 76 - Reinhold
 
 77 - Ross
 
 78 - Schckard
 
 79 - Schiller 
 
 81 - Snellius
 
 82 - Stevinus
 
 83 - Taruntius
 
 84 - Theophilus
 
 85 - Thimocharis
 
 86 - Tycho
 
87 - Wilhelm
 

 

 


Aglomerados de estrelas
 
 

     Os aglomerados de estrelas dividem-se em duas categorias: ?abertos? e ?globulares?. Os abertos, ou galácticos, são mais acessíveis ao observador graças à sua relativa proximidade. De modo geral, eles compreendem centenas de estrelas. O exemplo mais famoso são as Plêiades (M45), notável aglomerado aberto na constelação de Touro visível a olho nú. Outro aglomerado famoso e também visível a olho nú na constelação de Touro são as Híades, perto deste aglomerado aberto está a estrela Aldebaran, a alfa desta constelação. Na constelação de Gêmeos temos o aglomerado aberto (M35), em Câncer destacamos o aglomerado do Presépio (M44) e em Escorpião vemos dois belíssimos aglomerados facilmente visíveis, são os aglomerados abertos (M6) e (M7). Na constelação do Cruzeiro do Sul, perto da estrela Beta Crux, está o aglomerado aberto chamado popularmente de Caixinhas de Jóias. Existem vários outros aglomerados abertos, mas deixamos para você, que agora começa a ser um colecionador de estrelas, descobrir estes belíssimos objetos.

    Os aglomerados globulares são muito mais ricos e densos em estrelas que os abertos porém, devido à distância em que eles se encontram, aparecem como uma nuvem de estrelas, onde a parte central funde-se numa grande luminosidade. Para o nosso hemisfério o mais visível e bonito é o aglomerado globular Ômega Centaurus, na constelação de Centaurus. Encontra-se a 15.000 anos-luz e aparece como uma estrela envolta de névoas, mas ao telescópio a visão é surpreendente. Além dele destacamos o aglomerado globular (M22) na constelação de Sagitário e, na constelação de Escorpião, perto da estrela Antares, temos o pequeno globular (M4), este aglomerado será ótimo para testar suas habilidades com o instrumental.
 



Aglomerado Globular Ômega Centauri


Nebulosas
 
 

    Numa noite límpida e estrelada, um observador atento não tardará em perceber que determinados objetos celestes apresentam-se com um aspecto nebuloso, como se fossem estrelas desfocadas. Na Antiguidade, tais objetos receberam o nome genérico de ?nebulosas?.  Nebulosas tratam-se pois de grande nuvens concentradas de matéria interestelar, que poderão dar origem às estrelas ou são o resultado da explosão delas em sua etapa mais avançada de evolução.
    A mais famosa é a nebulosa de Orion, que recebe este nome devido à constelação em que é localizada. Em Sagitário temos três nebulosas famosas e bem visíveis, são a da Lagoa (M8), Trífida (M20) e a nebulosa de Ômega (M17). No começo do século destacava-se a nebulosa de Andrômeda, facilmente visível e de extensa nebulosidade no céu, hoje sabemos que trata-se de uma galáxia, a galáxia espiral de Andrômeda, situada nesta constelação. Geralmente as nebulosas dividem-se em três grandes categorias, as de emissão (ex. M42), de reflexão (ex. M45) e de absorção ou escuras (ex. Saco do Carvão).


Nebulosa de Orion (M42)


Estrelas duplas
 

    As Estrelas Duplas dividem-se basicamente em duplas óticas e duplas físicas ou binárias. As duplas óticas são estrelas que não estão ligadas gravitacionalmente entre si e, na verdade, trata-se de um efeito de perspectiva. Já as binárias são sistemas em que as estrelas estão ligadas gravitacionalmente entre si, ou seja uma gira em torno da outra. Um clássico exemplo é a estrela Alfa da constelação do Centauro, com um pequeno telescópio ela torna-se facilmente resolvida, ou seja, você verá duas estrelas uma do lado da outra. Na realidade são três estrelas, mas a terceira não é possível de ser resolvida com um pequeno telescópio. Este sistema está a cerca de 4.3 anos-luz de nós, sendo assim, é o sistema estelar mais próximo. Outra estrela célebre é a Castor, Alfa da constelação de Gêmeos, trata-se de uma dupla física com 2? de separação com magnitude de + 2.0, destacamos também a dupla Épsilon Lyrae, na constelação da Lyra, com separação de 3.5??.
 

    No Cruzeiro do Sul há muitas duplas, assim como em várias constelações , por exemplo: Leão, Escorpião, etc. A Alfa do Cruzeiro, a estrela Acrux, é um bom exemplo de duplicidade, quando você aponta seu telescópio para ela, irá notar uma estrela dupla ótica, mas se você prestar mais atenção, verá que a estrela mais brilhante das duas também é dupla, mas só que agora esta dupla é uma dupla física (ou binária), portanto você vai ter três estrelas no campo de sua ocular.
 

     Deixaremos para você procurar as estrelas duplas de cada constelação, você vai notar uma infinidade de duplas, com distâncias diferentes, magnitudes diferentes e cores diferentes.

   Agora só lhe resta ter um tempinho, pegar um mapa celeste, um agasalho, uma lanterna , seu binoculo ou seu telescópio e ir para um local escuro, deslumbrar-se com os fantásticos objetos que irá pouco a pouco colecionar.