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São Paulo 2008
Aconteceu comigo e minha filha no dia 27 de fevereiro de 2008 às 18:45, na estação de trem Brás. Eu nunca havia andado de trem, na verdade nem sabia que existia a CPTM; mas precisei ir para Itaquaquecetuba e acabei conhecendo a ligação entre metro e trem. Realmente lamentável a CPTM! Experimente desembarcar do trem na estação Brás às 18:45... Impossível e por isso aterrorizante, pois por experiência própria juntamente com minha filha fomos quase pisoteadas pelos transeuntes que entravam pela mesma porta do trem das quais nós e outros saiam. Ficamos impossibilitadas de qualquer movimento, apertadas às paredes do trem, sem podermos quase respirar e quanto mais tentávamos nos movimentar em direção á saída, ou seja à porta do trem onde entravam desesperadamente um número enorme de pessoas, mais éramos levadas ao fundo do trem. A única forma que encontrei deante de tal terror foi a de gritar desesperadamente socorro empurrando com toda minha força os transeuntes que entravam em direção contrária a minha saída e a de minha filha. Em estado de pânico, quase desmaiando saímos do trem reclamando alto pelo ocorrido, deante da subhumanidade reconhecida ; pela existência de um mundo, do qual eu não sabia que existia; pude ver ao meu redor nada mais que uma neutralidade naqueles rostos sofridos e cansados. Como um “bando de Zumbis” voltando do trabalho, maltratados pela vida, cuja única intenção era a de chegarem as suas casas, nem que para isso se comportassem como “animais em bando”, agindo de forma irracional, gerando perigo. Dirigi-me ao andar superior, onde somente lá encontrei alguns guardas de fardas escuras que conversavam descontraidamente, ao lhes narrar os fatos acontecidos minutos antes pude notar a mesma neutralidade no olhar como se “tudo aquilo!” fosse normal. Disseram-me tranqüilos que “Tudo aquilo!” Era normal por causa do horário, ao que retruquei, não achando possível aceitarmos aquela situação subhumana nem mesmo em horários de pico. Nem mesmo minha filha adolescente ainda chorando e tremendo abalou o olhar frio daqueles guardas que conversavam entre si, parecendo que estavam num outro lugar, bem diferente daquele em que nos encontrávamos, tranqüilos sem tarefas a desempenhar no momento.. Pensei então porque eles não estavam lá embaixo, porque de acordo com meu modo de entender, as presenças deles por si sós já imporiam certa ordem àquele caos existente nas saídas e entradas de transeuntes, nos trens, naquele horário, mas não me atrevi a falar nada com medo de mal entendido, frente ao meu estado de ânimo no momento e do da minha filha; simplesmente lhes perguntei quem seriam os responsáveis pela ordem daquela estação de trem e eles rapidamente me apontaram outro grupo de guardas com uniformes beges, que estavam mais a frente encostados na parede parecendo vigiar o local, me alertaram a perguntar sobre o telefone da ouvidoria. Fiz atentamente o que me mandaram, me dirigi aos guardas de uniformes claros e lhes contei os fatos que ocorreram minutos antes na saída do trem comigo e minha filha, e eles naturalmente sem mostrarem espanto com o fato terrível, agindo como se aquela subhumanidade fosse normal me disseram que nada podiam fazer. E eu pensei novamente que alguns deles poderiam estar lá embaixo no embarque e desembarque dos trens, porque de alguma forma imporiam um pouco mais de ordem com certeza. Mas não ousei, simplesmente lhes perguntei sobre o responsável e eles me passaram o telefone da ouvidoria; um deles, o que mais me deu atenção, disse-me para ligar que com certeza eles me dariam uma resposta. Agradecida, acreditando que poderia tomar alguma atitude, com o telefone da ouvidoria continuamos viagem, eu e minha filha. Na verdade eu iria ou pelo menos tinha como meta continuar as baldeações entre metrô e trem, já que era permitido e havia dessa maneira, forma de eu chegar ao meu destino, sem ter que pegar mais um ônibus. No entanto fiquei com medo de novamente nos depararmos com uma situação análoga. Saimos da CPTM rapidamente e fomos ao metrô e lá me deparei com uma nova situação, uma realidade bem diferente, bem melhor (talvez normal, mas por termos vivenciado “o terror de quase termos sido pisoteadas”, o metrô apresentou-se a nós como uma visão maravilhosa, como se estivéssemos num país de 1º mundo: pelo menos nesse momento quando vimos guardas nas saídas dos desembarques, e vimos e ouvimos que havia comunicação deles com os passageiros via altos falantes e televisões expostas nas portarias, e também uma ordem muito diferente da dos trens ou da CPTM.). Não entendo o porque desta diferença alarmante se o preço da passagem é o mesmo e porque não a mesma ordem e as mesmas exigências aos transeuntes, não custa mais a não ser organização, não è? Não entendo essa situação em qualquer lugar que seja e aceito ainda menos a aceitação dessa situação subhumana pelos responsáveis, como se essa subhumanidade fosse normal, fazendo crer aos transeuntes que isto é vida. Que vida? No dia seguinte pela manhã,depois das 9:00 liguei para a ouvidoria 0800550121 , estimulada a ajudar resolver um grave problema de ordem social, emocional etc, a fim de exercer minha cidadania e ajudar a população menos esclarecida do país! Liguei muito, bastante mesmo, talvez 20 ou 30 vezes e não fui atendida. Desligavam o telefone e nada falavam. Resolvi então escrever este relato e tornar público esse terror que acontece nas estações de trem nesses horários chamados de “pico”. Peço como cidadã brasileira que sou, depois de passar com minha filha essa experiência degradante, aterrorizante, a atenção dos responsáveis e a construção de uma estrutura mais organizada dentro da CPTM, a fim de que nós brasileiros não sejamos confundidos com animais irracionais, tratados sem a mínima segurança e humanidade. Que fique aqui, neste relato a prova da minha consciência como cidadã brasileira e da minha atuação como tal, a fim de ajudar àqueles que não sabem como fazer frente a estes maltratos da sociedade brasileira, que fique aqui registrado um pedido de socorro aos filhos brasileiros menos favorecidos, que necessitam trafegar pelas linhas de trem deste país.
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