Bases da Fisiologia da Terapia Manual (Marcel Bienfait,Summus, 2000)
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Por Angela Santos

No início da década de 1980 Marcel Bienfait publicou
a primeira versão de Fisiologia da Terapia Manual na
França. Traduzido, foi publicado no Brasil em 1988.
Aqui, assim como na França e na Itália, serviu como
base para o estudo teórico em numerosos seminários
de formação contínua em Terapia Manual para
fisioterapeutas, ministrados pelo próprio autor.

Anos de trocas entre professor e alunos levaram-no
a visualizar novos aspectos dessa teoria e aprimorar
a forma de transmiti-la. Era inevitável que este
texto básico fosse reescrito e aqui está ele,
atualizado e editado no mesmo formato e com a
mesma qualidade dos dois outros volumes do mesmo autor, já publicados
pela Summus - Os desequilíbrios estáticos e Bases elementares - técnicas
de terapia manual e de osteopatia - com os quais forma uma trilogia.

Neste livro Marcel Bienfait desenvolve dois aspectos fundamentais para a
formação do fisioterapeuta: o estudo do micromovimento e o estudo da
função da musculatura estática da dissociada da função da musculatura
dinâmica.

O Estudo do Micromovimento

O micromovimento é possível em todas as articulações graças à
elasticidade da cápusla e ligamentos articulares. Ela permite um "jogo"
entre as duas peças ósseas dentro da articulação. Algumas articulações
só têm micromovimentos. São aquelas que precisam combinar mobilidade e
estabilidade, como a maioria das articulações dos pés; ou aquelas que
também necessitam proteger órgãos nobres como as articulações da
coluna vertebral.

Outras, de movimentos amplos, necessitam do micromovimento para a
adaptação entre as superfícies articulares.

Além de serem condicionados pela elasticidade ligamentar e articular, os
micromovimentos o são pela forma das superfícies articulares. Para
entendê-los, diagnosticar possíveis bloqueios e estudar técnicas para
liberá-los é necessário atento estudo da anatomia e fisiologia articulares.
Este é o primeiro aspecto desenvolvido neste livro, o que desperta o
fisioterapeuta para a necessidade do estudo da osteopatia. Esta é a
técnica por excelência da reabilitação do micromovimento.

A Função da Musculatura Estática e a Função da Musculatura
Dinâmica

A fisiologia descreve dois tipos de fibras musculares: a estática, de
contração lenta e permanente, destinada ao controle postural, e a
dinâmica, de contração rápida e intermitente, destinada ao movimento
propriamente dito.

Para os anatomistas, que em princípio se preocupam com a forma, a
função dos músculos é sempre a do movimento.

Assim, apesar de encontrarmos em todos os livros de fisiologia muscular o
clássico exemplo do tríceps sural dividido em sóleo, de fibras lentas,
estáticas, e gastrocnêmio, de fibras rápidas, dinâmicas, nenhum livro de
anatomia atribui a eles funções diferentes. Para todos são os três flexores
plantares do pé.

Os grandes compêndios de anatomia para a área médica são, em geral,
escritos por médicos. Essa diferenciação é importante para o
fisioterapeuta. Por isso creio que a ele caberá generalizar para toda a
musculatura a pesquisa que a fisiologia realiza com o tríceps sural há
décadas, mapeando o corpo humano e propondo a partir daí uma nova
cinesiologia, na qual dinâmico é responsável pelo movimento, estático
impede o movimento ou o controle sempre que impedir não for possível.

O estudo da função estática e dinâmica diferenciada proposto neste livro
por Marcel Bienfait é de sua própria responsabilidade. Foi realizado
mediante a observação da forma do músculo, a experiência com
reabilitação de pacientes portadores de seqüelas de poliomielite e o bom
senso. Por exemplo: no caso do tríceps, se ao sóleo cabe papel estático,
este só pode ser de controle da perna na posição ortostática, impedindo-a
de cair para a frente. Ao gastrocnêmio, de fibras surais longas e menos
tônicas, cabe a flexão plantar intermitente para o impulso da marcha.

Esse tipo de raciocínio Marcel Bienfait propõe para os principais grupos
musculares de cada região do corpo, observando a forma de suas fibras,
seu posicionamento e, a partir daí, atribuindo a cada músculo, ou porção
muscular, função dinâmica ou estática.

É possível que muitas de suas hipóteses não sejam exatas, mas juntas
formam um painel rico em sugestões para pesquisa. É um maravilhoso
legado para a novas gerações de fisioterapeutas pesquisadores em
fisiologia que, quem sabe, daqui poderão reescrever muitos capítulos da
cinesiologia clássica.



Leia também os comentários sobre os livros "Fáscias e
Pompages", de Marcel Bienfait, e
"A Coordenação Motora", de S.Piret e M.M. Bézier.

 

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