Gene egoísta


O biólogo inglês Richard Dawkins, professor da Universidade de Oxford, defende uma idéia assustadora: todo ser vivo é na essência um escravo de seus genes e tudo o que faz se destina no fundo a garantir a sobrevivência, não exatamente de si próprio como indivíduo, mas dessas moléculas da vida. E a evolução seria o mecanismo que proporcionaria condições cada vez melhores à existência e à reprodução dos genes. Assim, dotados da extraordinária propriedade de criar cópias de si mesmos, os genes induziriam o processo de seleção natural sempre de modo a aumentar as suas chances de perpetuar-se. Isso equivale a dizer, por exemplo, que um peixe é uma máquina destinada a assegurar a sobrevivência de genes no meio aquático, assim como os pássaros no meio aéreo.O gene, de acordo com essa tese, poderia ser comparado a um patrão que tivesse uma e apenas uma idéia fixa — sobreviver a qualquer custo — e obrigasse os seus servos a trabalhar para sempre exclusivamente com tal objetivo. Isso engendraria o egoísmo humano, também absoluto, mesmo quando o que se manifesta é o seu oposto, o altruísmo, o comportamento capaz de desconsiderar conveniências pessoais em beneficio do outro. Nada disso, sustenta Dawkins. Toda conduta expressa uma insondável estratégia dos genes, como se eles tivessem procedido a uma análise exaustiva, em cada caso, do que assegura maior probabilidade de sobrevivência. Ou seja, o altruísmo seria o egoísmo mais eficiente para uma situação especifica. Dawkins jura que ele mesmo não consegue acostumar-se com essa sua idéia. Não deve ser o único.