SONO DA ALMA: HERESIA OU ENSINO BÍBLICO?

 

 

Alguns grupos religiosos, como adventistas, testemunhas de Jeová e CCB negam a existência consciente do crente após a morte, adotando uma doutrina estranha ao cristianismo conhecida como “sono da alma”.Essa doutrina ensina que quando os cristãos morrem, eles entram em um estado de inconsciência e que voltarão à consciência somente quando Cristo voltar e ressuscitá-los para a vida eterna. Para sustentarem essa doutrina uns confiam em “revelações” supostamente dadas pelo Espírito a um grupo de anciãos, que é o caso da CCB, outros, através de textos bíblicos isolados e tirados fora do contexto montados como numa colcha de retalhos, que é o caso dos adventistas e das testemunhas de Jeová.

Mas o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto? Precisa a alma do corpo para continuar sua existência no céu ou no inferno? Que significa a expressão ‘dormir’ quando em referência a morte? Seriam Davi e Salomão doutrinadores do sono da alma? O que quer dizer  a expressão ‘a morte é inimiga’? E o ladrão na cruz, foi ao Paraíso após a morte, ou até hoje está inconsciente aguardando a ressurreição?

 

1.A Bíblia e o sono da alma

A Palavra de Deus nos ensina que o homem é um ser constituído com três partes: corpo, alma e espírito (Hebreus 4:12; I Tessalonicenses 5:23), sendo que na criação com a fusão do corpo com o espírito (fôlego de vida) teve origem a alma humana (Gênesis 2:7). A alma é a personalidade do homem (Provérbios 2:10, 19:2; Jô 7:15, 6:7; Cantares 1:7;etc.).Quando os animais foram criados, foram segundo a sua espécie (Gênesis 1:20, 24; 9:10), já o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus(Gênesis 1:26-27).

O grande problema dos que advogam o sono da alma é a confusão que fazem do significado de termos como ‘morte’, ‘alma’ e ‘imortalidade.

‘Morte’ tem o sentido primário de ‘separação’, por isso vemos que a morte física é a separação das partes interiores do homem(espírito e alma) do corpo (Gênesis 35:18); morte espiritual é a separação entre o homem e Deus (Efésios 2:1); e morte eterna é a separação definitiva entre o homem e Deus, que se processa em dois estágios: primeiro- com a permanência do ímpio temporariamente no inferno (Lucas 16:23), e, segundo- no Dia de Cristo onde será lançado o corpo ressurreto unido as partes interiores no lago que arde com fogo e enxofre (Apocalipse 20:14-15). Tendo este conceito bíblico de morte em mira, podemos dizer que as partes interiores do homem (alma e espírito) já estão mortas (verbo no tempo passado), conforme em Efésios 2:1, em delitos e pecados, portanto separados de Deus. E neste mesmo sentido podemos dizer como em I Timóteo 6:16 que Deus é o único que possui imortalidade. Mas porque? Porque ao contrário do homem Ele não recebeu a mancha do pecado, e, portanto não tem morte em Sua natureza divina (Romanos 5:12), a imortalidade Nele é intrínseca. Cristo por meio do evangelho, neste mesmo sentido, veio trazer vida e imortalidade, de tal forma que quando cremos recebemos vida em nossas partes interiores, somos em outras palavras ‘vivificados pelo Espírito’(Efésios 2:1-5), e nosso corpo num tempo futuro será ressuscitado e transformado, de uma forma corrupta, para um forma incorruptível (II Timóteo 1:10;I Coríntios  15:54). Por isso, que na criação Deus havia dito para Adão e Eva que no dia em que eles pecassem certamente morreriam (Gênesis 2:17). E isso aconteceu conforme o Senhor havia dito, Adão e Eva transgrediram e morreram no mesmo dia. Mas em que sentido eles morreram? Será que adormeceram em inconsciência? Não! Eles morreram no sentido primário da palavra ‘morte’ que é ‘separação’ Eles morreram, ou seja, ficaram afastados espiritualmente de Deus (Efésios 2:1-2). Neste sentido, repito: podemos dizer que as partes interiores do homem: alma e espírito já estão mortas (separadas de Deus) e que por meio de Cristo são vivificadas.

Quando os cristãos usam o termo ‘alma imortal’ ou ‘imortalidade da alma’, não querem dizer que a alma não foi afetada pela morte (separação), mas que não se extingue como o corpo material, que se desfaz no pó após a morte física. É claro que quando falamos da morte do corpo, temos também, e só no caso dele, além do sentido de separação, o de destruição, já que o corpo é uma parte corruptível e material do homem, por vezes chamada de casa ou tabernáculo nas Escrituras.

Tanto é que Jesus faz essa distinção em Mateus 10:28 – ‘Não temais os que matam o corpo e NÃO PODEM MATAR A ALMA; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo.’

E Paulo também em II Coríntios 4:16 – Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior[o corpo] se corrompa, contudo, o nosso homem interior [espírito e alma] se renova de dia em dia.

Muitos irmãos até mesmo usam o termo ‘alma eterna’, para dar ênfase a continuidade da alma, mas sempre lembrando que quando usamos o termo, temos em vista que a alma depois que foi criada por Deus, existirá (futuro) eternamente.

A Bíblia é clara em afirmar que a alma está consciente numa outra dimensão após a morte, seja no céu ou no inferno. Temos por exemplo o caso do rico e do Lázaro em Lucas 16:19-31, o de Moisés que deixou seu corpo e posteriormente apareceu a Jesus no monte da transfiguração (Deuteronômio 34:5-6; Mateus 17:1-3); o das almas dos mártires que clamavam audivelmente por vingança (Apocalipse 6:9-11),  as almas que foram vistas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus (Apocalipse 20:4),e o de Jesus e Estevão que entregaram seu espírito para serem recebidos no céu pelo Pai (Lucas 23:16; Atos 7:59).

 

2. Alma e corpo:

Podemos basicamente dividir a alma em três partes: mente, vontade e emoção; enquanto o corpo podemos dividir em carne, sangue e ossos. Corpo é parte material, palpável do homem, enquanto a alma é espiritual. Admitir que a alma precisa do corpo para ter existência consciente é muito incoerente, haja vista que Deus e os anjos são espirituais e possuem existência consciente sem terem corpos. O homem como foi criado a imagem e semelhança de Deus, pode continuar sua existência após a morte, assim como Pedro declarou em sua segunda carta –

‘Também considero justo, enquanto estou neste TABERNACULO[ele faz referência ao corpo], despertar-vos com essas lembranças, certo de que estou prestes a deixar o meu TABERNÁCULO[ele faz referência a sua morte física], como efetivamente, nosso Senhor Jesus me revelou.’ (II Pedro 1:13-14)

E como Paulo declarou em Filipenses 1:21-24 – “Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne traz fruto para meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e outro lado estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne.’ Observe que deixar o corpo[morrer] para Paulo era incomparavelmente melhor, e que seu desejo era partir[morrer] e estar com Cristo, não diz partir e dormir inconscientemente. É um absurdo acreditar que seria lucro para Paulo ficar inconsciente, sendo que consciente ele vivia em comunhão com o Senhor. Que lucro há em ficar inconsciente?

Aproveitando-se que os argumentos que estamos refutando é de origem adventista, vamos mostrar qual a definição adventista da experiência do sono da alma, para vermos se há algum lucro na mesma.

‘Para o cristão a morte não é mais que um sono, um momento de SILÊNCIO e ESCURIDÃO.’ (Livro adventista – ‘Subtilezas do erro’, página 272)

‘Silêncio e escuridão’ são lucro?

 

3. O uso da figura de linguagem 'dormir' para a morte

Prosseguindo, perguntamos – e quanto a expressão ‘dormir’ usada na Bíblia, se refere a alma ou ao corpo?

Quando as Escrituras falam da morte como “dormir” trata-se apenas de uma metáfora usada para indicar que a morte física é apenas temporária para os cristãos, como é temporário o sono. Isso é visto claramente, por exemplo, quando Jesus fala a seus discípulos sobre a morte de Lázaro.Jesus diz: “Nosso amigo Lázaro adormeceu, mas vou para despertá-lo” (João 11.11). Devemos notar que Jesus não diz aqui que a alma de Lázaro adormeceu, nem qualquer texto bíblico de fato afirma que a alma de alguém está dormindo ou inconsciente (declaração necessária para provar a doutrina do sono da alma). Em vez disso Jesus diz apenas que Lázaro adormeceu. João prossegue, explicando: “Jesus, porém, falar; com respeito à morte de Lázaro; mas eles supunham que tivesse falado do repouso do sono. Então, Jesus lhes disse claramente:

Lázaro morreu” (João 1.13, 14).

 

4.Ensino de Davi e Salomão sobre vida pós-morte

Os outros versículos que falam sobre dormir após a morte são igualmente metáforas que ensinam que a morte física é temporária.Já os textos dos Salmos que indicam que os mortos não louvam a Deus, ou que a atividade consciente cessa depois da morte, devem ser entendidos da perspectiva da vida nesse mundo. De nossa perspectiva, uma vez que pessoa esteja morta, ele não se envolve mais com atividades como essas. Davi jamais ensinou uma heresia como o sono da alma. O Salmo 115 apresenta a perspectiva bíblica plena sobre essa posição. O texto diz: “Os mortos não louvam o Senhor, nem os que descem à região do silêncio”. Prossegue, porém, no próximo versículo com um contraste indicando que aqueles que crêem em Deus bendirão o Senhor para sempre: “Nós, porém, bendiremos o Senhor, desde agora e para sempre. Aleluia!» (SI 115.17-18). Este uso metafórico da palavra sono é apropriado por causa da semelhança na aparência entre um corpo dormente e um corpo morto; tranqüilidade e paz normalmente caracterizam ambos. O objetivo da metáfora é sugerir que assim como aquele que dorme não deixa de existir enquanto o corpo dorme, assim a pessoa morta continua a existir, apesar de sua ausência da região na qual aqueles que ficaram podem ter acesso ao corpo morto, e que, assim como sabemos que o sono é temporário, assim será a morte do corpo.

É evidente que só o corpo está sob consideração nesta metáfora:

(a) por causa da derivação da palavra koimaomai, de keimai, `deitar-se´;

(b) pelo fato de que no Novo Testamento a palavra dormir é usada somente em alusão ao corpo(Mateus 27:52);

(c) porque em Daniel 12.2, onde os fisicamente mortos são descritos como `os que dormem no pó da terra´, a linguagem é inaplicável à parte espiritual do homem; além disso, quando o corpo volta de onde veio (Gn 3.19), o espírito retorna a Deus que o deu (Ec 12.7). É evidente que a palavra `dormir´, onde é aplicada aos cristãos que partiram, não tem a intenção de transmitir a idéia de que o espírito está inconsciente”.

Resumindo: A alma por ocasião da morte: Gênesis 35.18, 1 Reis 17.22, Mateus 10.28, Ap 6.9-10: a) a alma sai; b) a alma retorna; c) a alma não fica inconsciente; d) as almas clamam.

Salomão, filho de Davi, também não ensinou o sono da alma em Eclesiastes. Salomão costumava pregar para multidões (Eclesiastes 1.1), também recebia ilustres visitantes de todas as nações para ouvi-lo (Mateus 12.42). Nessa pregação Salomão discursa sob uma perspectiva debaixo do sol ou debaixo do céu. O pregador demonstra que o dia-a-dia retrata uma condição miserável em que a humanidade se encontra, onde a injustiça parece predominar. Ele enfaticamente, cerca de 30 vezes, alerta que está relatando sua observação nas eventualidades sob o sol, excluindo, portanto, a realidade além do céu ou sol! Não poderia o livro de Eclesiastes ter sido escrito precisamente para despertar os materialistas que aquilo que eles conseguem ver não retrata a realidade eterna? Os sectários usam os versículos  de Eclesiastes 9. 5,6 para advogarem o sono da alma. Lemos no texto: Mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tem mais recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. Mas em relação a quê os mortos não sabem coisa alguma? O versículo 6 responde: em coisa alguma do que se faz debaixo do sol. Salomão não está referindo-se a condição pós-túmulo. Ele está dizendo que, por exemplo, o ambicioso e egoísta, não terá ciência do destino e uso de seus bens após a morte. O que o homem sabe, o que administra e como administra está condicionado apenas a realidade humana.

5.Morte: amiga ou inimiga?

Quanto ao fato da morte ser inimiga da humanidade e não amiga, os cristãos também entendem desta forma. A morte não foi o ideal de Deus para o homem, mas era o desejo do Senhor que o homem tomasse do fruto da arvore da vida, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Então a morte veio como decorrência do pecado, e se tornou uma intrusa na experiência humana. Mas Deus não assistiu isso passivamente, Ele abriu caminho até se encarnar em Cristo, e por meio da morte, destruir o poder da morte (Hebreus 2:14). Satanás pensou que tinha pego o ser-humano com a morte, mas através da própria morte foi derrotado, porque Cristo sofreu a pena da morte, e justamente por meio desta liberou vida, e vida com abundância (João 10:10). Em outras palavras: por meio da morte, destruiu o império da morte. Por isso o cristão não tem mais o pavor da morte, como os ímpios tem (Hebreus 2:15), porque sabe que tem vida em Cristo, e vida esta que jamais poderá ser sobrepujada pela morte, até mesmo a morte física que carrega em si a destruição do corpo, será vencida quando da ressurreição dos mortos. Em resumo, o cristão tem consciência que a morte é uma intrusa, uma inimiga e que não era o desejo de Deus para a humanidade, mas também sabe que Cristo venceu a morte e liberou vida, e por isso não tem pavor da morte.

6. A situação do ladrão na cruz após a morte

Para finalizar vamos nos deter agora quanto a questão da tradução de Lucas 23:43, lemos em nossas Bíblias(inclusive a que os adventistas e a CCB usam, excetuando apenas as Testemunhas de Jeová que criaram uma nova tradução cheia de deturpações):

"E disse [o ladrão] a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso" (Lucas 23.42,43).

Vimos anteriormente que a Bíblia não ensina o ‘sono da alma’, muito pelo contrário indica a consciência da alma após a morte. Somente isso seria o suficiente para rejeitarmos o sentido que os sectários querem dar a esse verso. A declaração de Jesus ao ladrão arrependido é a mais clara aplicação da salvação pela graça, mediante a fé, conforme Efésios 2.8-9. Além disso, o texto revela a dualidade do homem, a separação e continuidade da alma por ocasião da morte. Tão grande pedra no caminho dos sectários não poderia deixar de ser rejeitada com muito alarido e pouca consistência. Apresentam objeção, se firmando no fato do texto original não ter pontuação, para assim introduzirem seus pensamentos hereges. O ladrão arrependido passou a fazer parte do reino de Deus no momento em que aceitou o senhorio de Jesus. A Bíblia é clara em afirmar que a salvação daquele que crê é instantânea (João 3:36; I João 5:12-13) Sabendo que o ladrão morreria naquele mesmo dia, e que, na qualidade de salvo, sua parte imaterial iria para o céu, Jesus declarou sem rodeios: "Hoje estarás comigo no paraíso". É muito provável que o ladrão não conhecesse o ensino da volta de Jesus. A interpretação mais provável, portanto, é "quando entrares no seu reino".De qualquer modo, Jesus nos ensinou que as almas dos crentes seguem direto para o céu. Com isto, o ladrão morreu com a certeza de se encontrar com Ele no paraíso. Na Tradução do Novo Mundo, das Testemunhas de Jeová o verso é vertido da seguinte forma: ‘E ele lhe disse: Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso.’ Em outras palavras as Testemunhas além de deixarem de colocar a virgula antes da palavra hoje, como as traduções de acordo com o entendimento ortodoxo e do sentido geral das Escrituras colocam, acrescentaram dois pontos depois da palavra hoje. Como se o texto estive em discrepância durante vinte séculos de cristianismo, e que só foi harmonizado pela Sociedade Torre de Vigia com o lançamento de sua novel tradução! Tomando também por base a distorção das Testemunhas se tomarmos sua tradução e observarmos todos  os versos em que Jesus usa a expressão ‘em verdade vos digo’ e ‘em verdade te digo’. Perceberemos que as palavras que aparecem antes e depois da expressão ‘em verdade’ em cada, todas as virgulas estão alinhadas com exceção de Lucas 23:43. Este é o único versículo que eles postaram de maneira diferente, para que possam incluir o elemento tempo na primeira metade do versículo- uma prova óbvia que os tradutores da Sociedade Torre de Vigia alteraram este versículo para que se encaixe nas doutrinas da seita. Outro fato importante é que a expressão 'em verdade , em verdade' ou simplesmente 'em verdade' são encontradas 80 vezes nos evangelhos e nunca ele acrescentou 'hoje', o que demonstra que esta palavra em Lucas 23:43 tem o sentido da imediata entrada do ladrão arrependido ao Paraiso. Para finalizar esta questão devemos também atentar para  a ênfase no contexto. Logo após garantir que o malfeitor estaria com Ele no paraíso, Jesus, para confirmar tal assertiva, entregou ao Pai seu próprio espírito.