Entidades repudiam palavras de ministra

Em documento, representantes dos movimentos dizem que Matilde Ribeiro estimulou o racismo e não promoveu a igualdade

JOSÉ AUGUSTO JÚNIOR

ESPECIAL PARA A CRÍTICA

Representantes do Fórum Afro da Amazônia (Forafro), Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia (Acra) e Movimento Pardo Mestiço Brasileiro, criticaram, em nota de repúdio, as declarações feitas na semana passada pela ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir). Segundo eles, o governo federal estimula a fragmentação da população em etnias, raças e territórios religiosos.

Em entrevista à BBC Brasil, a ministra teria afirmado que "não é racismo quando um negro se insurge contra um branco" e que "a reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural".

De acordo com Frnacisco Jony, do Forafro, tais afirmações mostram que o governo Federal, por meio de suas políticas públicas voltadas para a igualdade racial, tem estimulado o surgimento de conflitos raciais e religiosos. Em nota oficial, o fórum declara que tais idéias não expressam o modo de pensar da população afrodescendente brasileira e a tradição dos movimentos negros.

"Defender as idéias lamentáveis expostas pela ministra na citada entrevista é ir contra a luta de Zumbi, o qual morreu exatamente por não concordar com o fechamento do quilombo de Palmares a todos aqueles que nele buscassem abrigo, fossem eles de que cor fossem", diz o texto divulgado pela entidade.

Para um dos coordenadores do Fórum, Francisco Rodrigues Silva, 23, o,governo federal possui "outros interesses" ao incentivar as diferenças étnicas.

"Hoje é necessário evitar que populações afrodescendentes carentes sejam tribalizadas e transformadas em moeda de troca de verbas públicas e de apoio político. É preciso impedir a construção de uma 'indústria da diversidade'", afirmou Rodrigues.

CABOCLOS E RIBEIRINHOS

Coordenadora da Associação dos Caboclos e Ribeirinhos da Amazônia (Acra), Elda Castro também criticou as palavras da ministra Matilde. Entretanto, para ela, a Seppir erra não por estimular a fragmentação da população, mas justamente por esquecer a individualidade étnica dos mestiços.

"A secretaria só implanta políticas para brancos, negros e índios. Mestiços, como os caboclos, não estão inseridos. Para eles, pardos são negros. Se todos pensarem assim, o caboclo deixa de existir", argumentou a coordenadora.

De A Crítica, Manaus (AM), quarta-feira, 4 de abril de 2007, C2.