Folha de São Paulo, em 01/05/2005

Pan refaz a conta e pede ao governo aumento de 176%

Administração federal promove devassa antes de o Ministério do Esporte responder se vai aceitar elevar sua parcela do orçamento da competição

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

A organização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, pede aos governos federal, estadual e municipal ao menos 176,45% além do previsto inicialmente.
Dados obtidos pela Folha mostram que a nova conta dos Jogos chega a, pelo menos, R$ 1,411 bilhão, somente em gastos governamentais. A verba pública será a maior fonte de recursos financeiros do Pan-2007. A Prefeitura do Rio e o governo do Estado acreditam que vão gastar mais do que os valores do atual orçamento.
A conta surpreende pelo alto valor. Em agosto de 2002, quando o Rio ganhou o direito de realizar o Pan, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e a prefeitura anunciaram que os Jogos custariam para os governos R$ 510,4 milhões em valores atuais (levando em consideração o câmbio da época -R$ 3,09- e a inflação acumulada de setembro de 2002 até março de 2005 -28,48%).
O Co-Rio, o comitê organizador dos Jogos, também vai investir no evento, mas não teve os seus gastos previstos no trabalho, que está sendo apresentado aos representantes dos três níveis governamentais envolvidos no Pan.
Além de cuidar da organização dos Jogos, cabe ao comitê buscar investimentos privados, mas não há previsão de quanto pode atingir essa arrecadação. Até o momento, o Co-Rio vendeu R$ 69 milhões em patrocínios da competição, realizada pela última vez no Brasil em 1963, em São Paulo.
Em 2002, os dirigentes do comitê de candidatura da cidade previam que o Co-Rio gastaria U$ 49 milhões (R$ 194 milhões atuais).
Pela conta atual, a participação do governo federal foi a que mais cresceu. Subiu de R$ 172,6 milhões para R$ 636 milhões. Na antiga divisão, a administração federal participava com 33,8%. Agora, com 45%.
O novo valor assustou o governo Lula. Técnicos estão devassando as contas antes de o ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, dizer se aceita ou não o cálculo.
A Prefeitura do Rio permanece com a maior fatia da conta. Terá que pagar 47%, que corresponde a R$ 663 milhões. Na previsão anterior, o município teria que desembolsar R$ 298,9 milhões -58,5% do antigo bolo.
Apesar de ter dobrado o valor a ser gasto no Pan, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), concorda com o novo orçamento. "Se levarmos em conta o valor de investimento nas concessões [Vila do Pan e Complexo do Autódromo], vamos muito além disso", disse o prefeito, acrescentando que não terá dificuldades para cumprir a sua parte. Uma das mais caras obras municipais é o Estádio Olímpico João Havelange, que deve custar R$ 250 milhões.
Embora tenha que arcar com a fatia menor, o Estado do Rio teve o seu orçamento inflado três vezes. Cresceu de R$ 38,9 milhões para R$ 112 milhões.
O secretário estadual de Esporte, Francisco Carvalho, também acredita que vai conseguir cumprir o pedido do Co-Rio. A maior parte do dinheiro será utilizada no complexo do Maracanã (estádio de futebol, ginásio e parque aquático). No total, o governo de Rosinha Matheus (PMDB) vai investir ali cerca de R$ 70 milhões.
O novo orçamento dos Jogos foi elaborado pelo Co-Rio e pela empresa australiana de consultoria, M.I Associates Pty Ltda, uma das maiores especialistas em planejamento de grandes eventos esportivos no mundo -trabalhou em Sydney-00 e Atenas-04, além de auxiliar os organizadores da Olimpíada de Pequim, em 2008.
O Co-Rio também conta com os serviços de outra consultoria australiana, a Intelligent Risks. A empresa é a responsável pelo plano de segurança do evento brasileiro.