Sábado,
14 de maio de 2005
Jornal
O GLOBO
PROBLEMAS BUROCRÁTICOS EMPERRAM OBRA DO PAN
Falta de
assinatura de contrato poderá fazer com que Parque Olímpico só seja inaugurado
às vésperas dos jogos.
A demora da prefeitura para assinar o contrato de construção no Autódromo
Nelson Piquet, em Jacarepaguá, do Parque Olímpico do Rio, destinado ao
Pan-Americano de 2007, poderá fazer com que as obras só terminem às vésperas do
início dos jogos, marcados para acontecer entre os dias 13 e 29 de julho de 2007.
O cronograma proposto pelo grupo vencedor da licitação previa que as obras,
orçadas em R$460 milhões, deveriam começar até 1ºde janeiro para que o complexo
esportivo fosse concluído em dezembro de 2006. Mas, quase cinco meses depois, o
contrato ainda não foi assinado por problemas burocráticos.
A conclusão das obras com antecedência permitiria a realização, antes do Pan,
de eventos-teste no parque aquático, no velódromo e na arena poliesportiva.
João Borba Filho, diretor do consórcio Rio Sport Plaza, admite dificuldades
para cumprir o prazo. Ele apresentará à prefeitura um novo cronograma propondo
o fim das obras para 28 de junho de 2007:
— O atraso na assinatura do contrato não foi responsabilidade nossa. O novo
cronograma tem o objetivo de tornar o projeto viável. E não haverá prejuízos
para o Pan. Cumprir o prazo original é possível, mas, no caso, os custos fariam
com que tivéssemos prejuízos.
Apesar de o cronograma já estar estourado em 134 dias, o secretário municipal
do Pan-Rio 2007, Ruy Cézar, adota o discurso do otimismo:
— O prazo das obras do autódromo será rigorosamente cumprido.
Já Adilson Pires, secretário-adjunto da Secretaria Executiva dos Jogos
Pan-Americanos, que gerencia as ações da União no evento, diz que o governo
federal está preocupado.
— Os Jogos Pan-Americanos são suprapartidários. A questão do autódromo nos
preocupa pela importância que os jogos têm não apenas para o Rio como para o
Brasil. O sucesso do evento será importante para termos êxito numa candidatura
às Olimpíadas — disse Adilson.
Vários problemas levaram ao adiamento das obras. A construção do Parque
Olímpico dependia da aprovação de uma lei na Câmara de Vereadores permitindo
outras atividades no local além de corridas. Isto só ocorreu em janeiro. Como o
projeto sofreu emendas, foi preciso redigir um novo contrato de concessão. A
prefeitura concluiu a nova versão no fim de abril e a enviou para análise do
Tribunal de Contas do Município. A legalidade do documento será avaliada na
segunda-feira.
A possibilidade de atraso está prevista no novo contrato que será debatido no
TCM. A minuta inclui cláusula que permite a revisão do cronograma por motivos
“fortuitos, de força maior (....) ou atraso na concessão de licenças“. Hoje, o
prazo mais apertado é para a construção da arena poliesportiva, que deve ficar
pronta até julho de 2006 para que, em setembro, seja inaugurada com jogos do
Mundial de Basquete Feminino. No novo cronograma, o consórcio propõe a
conclusão da obra em 22 de dezembro.
No caso do parque aquático, o prazo original é dezembro de 2006. O consórcio
vai propor o adiamento para o fim de maio de 2007. Se isso ocorrer, frustrará o
presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Coaracy
Nunes, que planeja realizar ali um torneio internacional no primeiro trimestre
do ano do Pan:
— Todas as informações que recebemos da prefeitura sobre a obra são otimistas.
REMOÇÃO DE FAVELAS ESTÁ PREVISTA
A nova versão do contrato conta com uma cláusula
em que a prefeitura se compromete a remover a Vila Autódromo e a Vila Camorim —
favelas vizinhas ao futuro Parque Olímpico do Rio. É a primeira vez que o
município admite que realmente vai retirar as 306 famílias do local. Até então,
técnicos do município afirmavam que havia a hipótese de os moradores permanecerem.
O destino dos moradores foi selado num acordo entre a governadora Rosinha
Garotinho e o prefeito Cesar Maia. As favelas estão localizadas em terrenos do
estado que, em abril, foram transferidos para a prefeitura num convênio voltado
para o projeto do Parque Olímpico.
Em 1996, em sua primeira gestão, Cesar Maia já havia tentado remover as duas
favelas, sem sucesso. Na época, o então governador Marcello Alencar distribuiu
títulos de posse válidos por 99 anos, mas que podiam ser cancelados a qualquer
momento.