Folha de São Paulo, 19 de Junho de 2005

PAN-AMERICANO

Professores e pesquisadores universitários ficarão "de olho" no orçamento dos Jogos e nas intervenções urbanas

Grupo cria comitê para fiscalizar Rio-07

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Preocupados com os rumos do Pan-07, professores e pesquisadores universitários criaram uma comissão a fim de ficar de ""olho no orçamento e nas intervenções urbanísticas provocadas na cidade" para realizar o evento no Rio.
O Comitê Social do Pan, nome dado ao movimento, reúne integrantes do Fórum Popular do Orçamento do Rio de Janeiro, do Fórum Popular de Acompanhamento do Plano Diretor do Rio de Janeiro, além de pesquisadores do Instituto Virtual dos Esportes e representantes de associações de moradores de bairros da cidade.
Eles pretendem analisar todas as contas do evento e não descartam realizar passeatas para chamar a atenção da população para a "falta de transparência" do Pan.
"Como o evento é financiado praticamente por recursos públicos, queremos abrir todas as contas, que vão das obras do Engenhão [estádio Olímpico] até a compra dos direitos de transmissão dos Jogos. Como está não pode ficar. Ninguém sabe quanto custa o evento", disse o economista Luiz Mario Behnken, coordenador do Comitê Social do Pan. Ele é um dos coordenadores do Fórum Popular do Orçamento.
Há cerca de dois meses, o Co-Rio (comitê organizador do Pan) apresentou uma nova conta para os governos (federal, estadual e municipal). O valor atinge R$ 1,411 bilhão, só em gastos governamentais -176,7% a mais do que o previsto inicialmente.
A quantia surpreendeu e obrigou o Co-Rio a divulgar um outro valor. No final de maio, ele anunciou que o custo operacional dos Jogos será de R$ 691 milhões. Não entraram nessa conta a construção de instalações esportivas permanentes e os gastos com segurança, cujos cálculos ainda não estão finalizados. O valor é quase 80% superior ao que foi apresentado em 2002, quando o Rio obteve o direito de organizar o Pan.
Gilmar Mascarenhas, professor de geografia urbana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, critica o projeto do Pan, que concentra a disputa na Barra da Tijuca, bairro nobre. "A cidade que emergirá dos Jogos tende a consolidar modelo excludente e segregador. Temos que interferir", diz ele, que desde abril atua nas reuniões semanais do comitê social.
A entidade ainda se preocupa com os atrasos nas obras. Já foi anunciado que os quatro últimos prédios da Vila do Pan e o Complexo Esportivo do Autódromo serão entregues em 2007. No início, o Co-Rio exigia tudo pronto até dezembro de 2006. "Não dá para cravar, mas a tendência é que o Pan vire um caos. Vamos tentar evitar isso", disse Behnken.