JAMAIS ENTENDEREI MINHA ESPOSA

No dia que ela se mudou para morar comigo, ela começou a abrir e fechar todas as gavetas dos meus gabinetes da cozinha, ofegando,
- Você não tem nenhum papel nas gavetas e prateleiras! Vamos ter que comprar antes que eu traga meus pratos.
- Mas...Por que? Perguntei inocentemente.

- Manter os pratos limpos, ela respondeu encerrando o assunto.

Eu não entendi como o pó vai magicamente pular fora dos pratos se eles tiverem um papel azul pegajoso debaixo deles, mas eu sabia quando tinha que ficar quieto.
Então veio o dia que eu deixei levantada a tampo do vazo no banheiro.
- Nós nunca deixamos a tampa levantada na casa de minha família. - ela ralhou - É indelicado.
- Não era indelicado na casa de minha família, eu disse meio tímido.
- Sua família não tinha garotas.

Além destas lições, aprendi também como eu deveria apertar o tubo de pasta de dentes, que deveria pendurar a toalha após o banho e onde deveria colocar as colheres quando colocasse a mesa. Eu não tinha idéia de como eu era tão sem educação.

Não!, eu jamais entenderei minha esposa.

Ela guarda os temperos em ordem alfabética, lava pratos antes de colocá-los na lavadora de louça, e a roupa para lavar é empilhada em tipos diferente antes de ser lançada na lavadora de roupa. Dá para entender?

Ela tem um casaco que a faz parecer com o Sherlock Holmes.
- Eu poderia lhe comprar um casaco novo, ofereci.
- De jeito nenhum. Este aqui foi da minha avó, ela respondeu, decidida, terminando a conversa.

Então, depois que tivemos as crianças, ela passou a agir de forma estranha. Usava pijamas o dia todo, tomava o café da manhã à 1:00 da tarde, pra todo lado carregava uma bolsa de fraldas do tamanho de uma minivan, falando resumidamente com parágrafos de uma sílaba.

Minha esposa também escolheu amamentar o bebê até quando desse e mais um pouco, apesar de alguns conselhos de suas amigas que a deixava aborrecida. Ela pegava o bebê sempre que chorasse, embora as pessoas lhe falassem que era saudável deixar chorar.
- É bom para os pulmões dela, diziam.
- E para o coração dela é melhor sorrir, ela respondia.

Um dia um amigo meu riu do adesivo no pára-choque de nosso carro : "Ser uma mãe dentro de casa é trabalhar com o coração".
- Minha esposa deve ter colocado isso aí, eu disse.
- Pois a minha esposa trabalha, ele falou orgulhoso.
- A minha também! Respondi sorrindo.

Uma vez, eu estava preenchendo um formulário e escrevi "dona de casa" como a ocupação de minha esposa. Grande erro. Ela deu uma olhada e depressa me corrigiu.
- Eu não sou dona de casa. Eu sou uma mãe.
- Mas não existe essa categoria aqui, gaguejei.
- Acrescente! Ela disse.

Eu fiz.

E então um dia, alguns anos depois, ela fica na cama, sorrindo, quando me levantei para ir trabalhar.
- O que está acontecendo? Eu perguntei.
- Nada. Está tudo maravilhoso. Eu não tive que levantar essa noite para acalmar as crianças. E eles não rastejaram pra cima de nossa cama.
- Oh, eu disse ainda não entendendo.
- Foi a primeira vez que eu dormi a noite toda nos últimos quatro anos.

Foi? Quatro anos? Isso é muito tempo. Eu nem tinha notado. Por que ela não reclamou nenhuma vez? Eu teria.

Não! Eu nunca entenderei minha esposa.

E sabe o que mais? Nossa filha está agindo cada vez mais parecida com a mãe dela.

Se ela, ao crescer, se tornar como a mãe, algum dia, haverá um sujeito mais sortudo deste mundo, agradecido por ter papel separando os pratos no armário.

Tradução de SergioBarros do texto de Steven James


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