O papel dos Anjos no Universo Criado



       Num êxtase, Santa Maria Madalena de Pazzi viu uma religiosa de sua Ordem (carmelita) ser tirada do Purgatório e levada ao Céu por seu Anjo da Guarda.
        E Santa Francisca Romana viu seu Anjo da Guarda conduzir ao Purgatório, para ser purificada, uma alma a ele confiada. O espírito celeste permaneceu fora daquele local de purgação, para apresentar ao Senhor os sufrágios oferecidos por aquela alma. E, ao serem estes aceitos por Deus, essa alma era aliviada em suas penas (1).
        Logo ao nascer, o homem recebe de Deus um desses angélicos guardiões, que o acompanhará durante a vida, protegendo-o e comunicando-lhe boas inspirações. Se a pessoa tiver vivido segundo a Lei de Deus, a ponto de se santificar e ir diretamente para o Céu, o Anjo da Guarda a conduzirá a esse lugar bendito. Se, de outro lado, o que é mais provável, ela precisar purificar-se no fogo do Purgatório, o Anjo conduzi-la-á depois ao Paraíso Celeste. Ou, caso contrário, se tiver rejeitado suas inspirações e bons impulsos, condenando-se para todo o sempre, abandoná-la-á às portas do Inferno.
        Em nossos dias, a par do materialismo e do ateísmo reinantes em tantas almas e em incontáveis ambientes, nota-se uma salutar reação – cada vez mais intensa e generalizada – a essas chagas da civilização contemporânea.
        O sentimento religioso, a crença em Deus e no destino eterno ganham sempre mais terreno, especialmente no seio da juventude atual. Um sintoma desse renascer dos valores espirituais é precisamente o interesse pelos Anjos, o aumento da devoção aos puros espíritos, bem como dos pedidos invocando sua intercessão. Embora tal revivescência, infelizmente, se manifeste em alguns casos mesclada a superstições e até manifestações de ocultismo.
        Para atender a esse sadio movimento de alma, propusemo-nos hoje apresentar a nossos leitores a atualíssima e atraente temática dos Anjos.
       
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        O Anjo só passa a custodiar o novo ser depois que este sai das entranhas maternas. Isso porque, desde o momento da concepção até o do nascimento do novo ser, o Anjo da Guarda da mãe cuida também da nova criatura, assim como quem guarda uma árvore carregada de frutos, juntamente com a árvore custodia também os frutos (2).
        Temos necessidade da celeste proteção angélica. Nossa alma imortal está destinada a ser, de futuro, companheira dos Anjos e ocupar a seu lado, no Céu, um dos tronos deixados vazios pela queda daqueles puros espíritos que se rebelaram contra Deus, transformando-se em demônios. Tal necessidade sobretudo provém da própria humana fraqueza para atingir esse objetivo.
        Que empenho não terá o demônio para que um recém-nascido não receba as águas regeneradoras do Batismo? Muitas vezes também procura causar-nos males físicos.
        "A função principal do Anjo da Guarda é iluminar-nos em relação à verdade e à boa doutrina. Mas sua proteção acarreta também muitos outros efeitos, tais como reprimir os demônios e impedir que nos sejam causados danos espirituais ou corporais". Eles "rezam por nós e oferecem nossas preces a Deus, tornando-as mais eficazes pela sua intercessão (Apoc. 8, 3; Tob. 12, 12), sugerem-nos bons pensamentos, incitando-nos a fazer o bem (At. 8, 26; 10, 3ss). Do mesmo modo, quando nos infligem penas medicinais para nos corrigir (2 Sam. 24, 16): e ¾ mais importante que tudo ¾ quando nos assistem na hora da morte, fortalecendo-nos contra os supremos assaltos do demônio" (3).
        Algumas almas muito eleitas, que conservaram intacta sua inocência e candura batismal ao longo da vida, por especial privilégio de Deus tiveram a dita de ver seu Anjo da Guarda. Assim sucedeu com São Geraldo Magela, Santa Francisca Romana, Santa Gema Galgani e outros Santos. Vejamos dois exemplos:
        · Santa Francisca Romana: dama romana da mais ilustre estirpe, queria fazer-se religiosa mas foi obrigada pelos pais a casar-se, tendo procurado santificar-se no estado de matrimônio. Desse casamento nasceram vários filhos. Um deles, João Evangelista, de extrema piedade, dotado do dom da profecia, faleceu angelicamente aos nove anos.
        Um ano após sua morte, apareceu ele a Francisca, resplandecente de luz, acompanhado por um jovem ainda mais brilhante. Fez conhecer à mãe a glória de que gozava no Céu; e comunicou-lhe que vinha buscar sua irmãzinha Inês, de cinco anos, para colocá-la entre os Anjos. E que, por ordem de Deus, deixaria aquele Anjo para -- juntamente com seu Anjo da Guarda -- assisti-la no que lhe restava de vida terrena. Era um Anjo de categoria superior, um Arcanjo.
        A partir de então, Santa Francisca via constantemente esse Arcanjo que, segundo ela, brilhava mais que o sol, de maneira que não conseguia fitá-lo. Se Francisca deixava escapar alguma palavra menos necessária, ou caso se preocupasse um pouco demais com os problemas domésticos, o Anjo desaparecia, ficando oculto até que ela se recolhesse de novo. Ele, com suas luzes, a auxiliava muitas vezes, defendendo-a contra os ataques do demônio, que constantemente a assaltava (4).
        · Santa Mariana de Jesus: cognominada a Açucena de Quito, após o falecimento do pai, sendo ainda um bebê, a mãe retirava-se para uma casa de campo levando-a ao colo, no lombo de uma mula. Na passagem de um riacho de águas muito céleres, a mula tropeçou e a criança caiu dos braços maternos... No entanto, a menina predestinada ficou sustentada no ar por seu Anjo da Guarda, até que a pressurosa genitora a recolhesse (5).




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