Os irmãos Larry e Andy Wachowski, diretores e roteiristas de Matrix, cresceram escrevendo histórias em quadrinhos, devorando um mundo que funde ficção científica, cinema, mitologias clássicas, teologia, literatura, filosofia, artes gráficas, matemática avançada e a cultura cyberpunk. Confira as citações, referências e outras curiosidades que saíram desde liquidificador: 

Carrie-Anne Moss (Trinity) interpretou Liz Teel na série de TV "Matrix", de 1993. Na série, Steven Matrix é um bandidão que morre e vai parar em um purgatório onde vê os rostos de todos os homens e mulheres que assassinou. Matrix então ganha uma segunda chance, acorda em um hospital e deve começar a praticar boas ações para escapar do inferno.

Quando Neo implora a Tank (seria uma homenagem à Tank Girl dos quadrinhos?) pelo telefone para que o tire do espaço virtual da Matrix, Neo diz "Mr. Wizard, tire-me daqui". É uma referência ao desenho dos anos 60 Tooter Turtle. Em cada episódio, a tartaruga Tooter sempre anseia ser o que não é, e conta com uma mãozinha do lagarto feiticeiro Mr. Wizard (Sr. Mago) para se transformar em qualquer outra coisa. Como Tooter sempre se mete em encrenca, ele deve chamar Mr. Wizard e voltar para casa com as palavras mágicas: "Drizzle, drazzle, druzzle, drome, time for this one to come home." 

Os símbolos nas telas do computador consistem em letras invertidas, números e em dígitos japoneses. 

Todas as referências à esquinas (por exemplo: esquina de Wells e Lake) correspondem a cruzamentos existentes na cidade de Chicago - a cidade natal dos diretores do filme. No entanto, o filme obviamente não se passa nesta cidade ou em qualquer outra cidade existente na vida real (apesar de ter sido filmado em Sydney, Austrália). 

Neo esconde seu dinheiro em um livro chamado "Simulacro e Simulação", clássico ensaio teórico do filósofo Jean Baudrillard, um dos pensadores a focalizar a influência da mídia sobre a apreensão da realidade. Quando Neo abre o livro, aparece o capítulo "Sobre o niilismo". Muito sugestivo, já que Neo vivia infeliz e insatisfeito com os limites apertados de sua existência. 

"Siga o coelho branco". Quando Neo obedece à instrução, encontra Morpheus, que diz a Neo: "Você vai descobrir quão funda é a toca do coelho". É o coelho branco quem leva Alice ao País das Maravilhas de Lewis Carrol.

Preste atenção aos números dos quartos de Trinity e Neo. Quando os policiais perseguem Trinity na cena inicial, o número é 303 (uma trindade?). O quarto de Neo é o 101. 

Coincidência ou não, "Matrix", "Trinity", "Morpheus", "303" e "101" são, todos, tipos ou modelos de sintetizadores de música. 

Quase todas as frases ditas pelo "cliente" de Neo no começo do filme prenunciam a verdadeira identidade do herói ("Você é o meu salvador", "Você não existe.", e assim por diante). 

A cultura cyberpunk é uma das referências básicas do filme. Neuromancer, de William Gibson, e Piratas de Dados, de Bruce Sterling, publicados em meados da década de 80, são as pedras fundamentais da literatura cyberpunk. O movimento teve origem na ficção científica, mas imagina um futuro sombrio e ultraviolento, onde a realidade virtual, mundos paralelos, controle financeiro de grandes corporações e a ação dos hackers formam o cenário. Sua gênese é atribuída ao escritor Anthony Burgess (de Laranja Mecânica) e Philip K. Dick, autor de Blade Runner. Cidade das Sombras e Blade Runner, obra-prima sci-fi de Ridley Scott, são dois grandes exemplos da cultura cyberpunk no cinema. 

Na Odisséia de Homero, os oráculos são consultados antes de decisões importantes. A figura mítica do oráculo também se manifesta na mitologia grega com a vidente cega Cassandra, que prenuncia desgraças, assim como as sombrias previsões do Oráculo de Matrix.

A música de fundo do encontro entre Neo e o Oráculo é de Duke Ellington, "I'm Beginning to See the Light", uma referência ao processo vivenciado pelo personagem. Na sala de espera, onde Neo encontra o garoto "Não Existe Colher", a televisão mostra Night of the Lepus, de 1972, um clássico do terror B na linha "vingança da natureza", em que coelhos gigantes se transformam em assassinos. Ao deixar o apartamento do Oráculo, a tela da TV mostra um homem ameaçador em uma capa preta. A imagem pertence a uma antiga série de TV de 1967, The Prisioner. 

Morpheus é o deus do sono e dos sonhos na mitologia romana. É também o outro nome de Sandman, o senhor dos sonhos, o enigmático personagem do mago dos quadrinhos Neil Gaiman. Provável referência dos diretores de Matrix, Gaiman também se utiliza do cinema, da literatura e mitologia pra compor histórias onde a realidade possui várias e instigantes camadas. 

Cypher, o traidor do grupo, bem pode ser uma referência ao diabo vivido por Robert de Niro em Coração Satânico, de Alan Parker: Louis Cypher. Lúcifer.

A nave rebelde de Morpheus, Nabucodonosor, é o nome de um rei bíblico que vivia atormentado por estranhos sonhos.

O nome dos personagens são carregados de simbologia. Neo, o codinome hacker do personagem de Keanu Reeves, é um anagrama de One. Ou seja, o primeiro... O Predestinado, como é chamado no filme, uma referência bíblica ao Messias. Trinity é literalmente trindade em inglês, mais uma referência à tradição cristã. 

O verdadeiro nome de Neo é Thomas Anderson. "Anderson" significa "Filho dos Homens", como Jesus é freqüentemente chamado. 

A Oráculo diz que Neo não é o Escolhido, mas que possuía o Dom - talvez em uma outra vida ele seria. Pois bem, antes de Neo demonstrar ser o Escolhido, ele "morre", ressurgindo como o predestinado. 

Nesta mesma seqüência, a da morte de Neo, Trinity (Trindade) o trás de volta a vida com um beijo. Pode-se fazer uma analogia com Jesus que retornou à vida graças a Santa Trindade.