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POR UMA GEOGRAFIA NOVA NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL

Ariovaldo Umbelino de Oliveira

aos estudantes da FFLCH-USP em geral e em particular, aos estudantes do curso de Geografia que souberam neste ano de 2002, colocar a luta pela universidade pública, gratuita e de qualidade à frente de suas ambições individuais.

1. Introdução Esta conferência de abertura do XIII ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS "POR UMA GEOGRAFIA NOVA NA CONSTRUÇÃO DO BRASIL" tem, segundo a Associação dos Geógrafos Brasileiros- AGB, o seguinte significado: "O tema central do encontro faz homenagem ao professor Milton Santos, considerado um dos mais importantes geógrafos do Brasil e do mundo, falecido em junho de 2001. Ao fazer referência à sua obra "Por uma Geografia Nova", marco do pensamento geográfico brasileiro, o XIII ENG busca valorizar a Geografia e seus geógrafos que trabalham e lutam dia-a-dia nas salas de aulas das escolas do ensino fundamental, médio e superior, nos institutos de pesquisas, nos diversos níveis de governo, em organizações não governamentais e em empresas privadas. Todos nós, geógrafos, temos a nossa contribuição na construção de um país livre das injustiças sociais, com melhor distribuição de renda e ambientalmente saudável." Minha tarefa portanto, visará buscar as conexões entre a justa homenagem que este Encontro faz a obra de Milton Santos "Por uma Geografia Nova"e o papel histórico que os geógrafos brasileiros vêm desenvolvendo na luta cotidiana para a construção de uma geografia voltada para compreender o Brasil e sobretudo, para torná-lo de fato, o país de todos os brasileiros. Justiça se faça, quando o professor Milton Santos publicou o livro "Por uma Geografia Nova" no ano de 1978, já havia no Brasil e particularmente no seio da AGB, um grupo de geógrafos brasileiros que já liam seus textos e livros publicados no exterior. Lembro-me do esforço do Gusmão, velho companheiro da AGB-São Paulo, para publicar o livro "O trabalho do Geógrafo no Terceiro Mundo". Assim, quando Milton Santos retornou ao Brasil, já havia aqui este grupo de geógrafos brasileiros que estimulados pela vertente dialética e pelo marxismo, buscavam produzir uma geografia comprometida com os interesses dos trabalhadores deste país. A obra de Milton somada à obra de Yves Lacoste "A Geografia serve antes de mais nada para fazer a guerra"que havíamos publicado clandestinamente em São Paulo, formaram o material básico a partir dos quais passou-se a repensar a Geografia e com ela passou-se a repensar o Brasil. Esta importância a obra de Milton Santos teve e a história lhe reservou está posição pioneira. Dessa forma, o tema escolhido para esta conferência abre perspectivas para discussões profundas sobre os rumos que o Brasil vem trilhando desde o final do século XX. Como já afirmei em outra oportunidade,3discutir este tema é também, função básica da produção acadêmica. Discernir entre o político, o ideológico e o teórico, igualmente é tarefa da reflexão intelectual. Assim, esta apresentação caminhará entre as contradições que formam o entendimento do mundo atual, e dentro dele o entendimento do Brasil, e o estado da arte da Geografia brasileira. Alguns 1Conferência de abertura do XIII ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS ­ AGB ­ João Pessoa-PB, 21 a 26 de julho de 2002. 2Professor Titular do Departamento de Geografia ­ FFLCH ­ USP. 3"A Geografia Agrária e as transformações territoriais recentes no campo brasileiro" in Novos Caminhos da Geografia ­ (Org) Ana Fani Alessandri Carlos ­ Contexto, São Paulo, p.63/110.

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2 geógrafos engajam-se no establishment, outros criticam-no. Uns fazem da ciência instrumento de ascensão social e envolvimento político, outros procuram colocar o conhecimento científico a serviço da transformação e da justiça social. Não se trata pois, de encontrar de forma maniqueísta, o que está certo ou errado. Trata-se isto sim, de construir as explicações das diferenças, demarcá-las e revelá-las por inteiro. A produção intelectual da Geografia brasileira na atualidade, está marcada por estas diferenças, trata-se pois de aprofundá-las. E aprofundá-las, significa compreender também, que a ciência e a tecnologia tornaram-se forças produtivas. Deixaram pois, de ser mero suporte do capital para se converterem em agentes de sua acumulação. Consequentemente, mudou o modo de inserção dos cientistas e técnicos na sociedade, eles agora tornaram-se agentes econômicos diretos. A força do capital na atualidade, encontra-se no monopólio dos conhecimentos e da informação. Há muito tempo, que os investimentos de capitais no desenvolvimento de pesquisas, constitui-se na base da possibilidade do avanço tecnológico das empresas. A constituição de associações entre empresas tem visado a redução da relação custo benefícios destes empreendimentos. Os pesquisadores ou administradores a cada dia que passa, transformam-se em verdadeiros parceiros dos negócios. Transformam-se portanto, igualmente em capitalistas associados. Discutir estas contradições, é um dos objetivos desta apresentação, que procurará, além da necessária reflexão sobre a práxis, dar conta utopia para pensá-la como instrumento que permita a construção da liberdade, da autonomia e do compromisso social no interior da prática universitária. É pois, neste contexto, que entendo as transformações recentes ocorridas na configuração territorial do mundo e do Brasil no final do século XX e início do século XXI. Estas transformações revelam que o mundo mudou, revelam que o Brasil mudou. O capitalismo adquiriu novos padrões de acumulação e exploração. É esta nova feição do capitalismo que muitos chamaram de modernidade, pós-modernidade, etc. Como se sabe, a realidade é a única referência para se submeter à discussão nossas concepções teóricas. Desse modo, este debate deve estar submetido ao entendimento que tenho sobre os processos de desenvolvimento do capitalismo em nível mundial, pois, caso contrário, pode-se continuar, como tem sido regra na história do pensamento geográfico, a "geografizar" um debate que tem dimensões filosóficas, históricas e políticas. O primeiro ponto que quero destacar da influência do livro "Por uma Geografia Nova" refere-se à necessidade da discussão teórica e metodológica na Geografia. 2. A produção científica na Geografia A Geografia moderna, como a maioria das ciências humanas, nasceu no século XIX, sob a égide do debate filosófico entre o positivismo, o historicismoe por certo a influência da dialética. Penso que estas três correntes filosóficas de pensamento estão na formação das raízes do pensamento geográfico moderno. Os trabalhos de Manuel Correia de ANDRADE e Horácio CAPEL, iluminam nesta direção. Manuel Correia de ANDRADE4aponta para a existência de uma Geografia libertária representada pelos trabalhos de Elisée RECLUS5e Piotr KROPOTKIN6. Já CAPEL7faz referência a um geógrafo anarquista marginalizado. Este caminho, permite conhecer-se desde a gênese uma raiz dialética na ciência geográfica. Assim, estou assumindo uma posição crítica em relação a autores que tratam deste período da história da Geografia qualificando-o como Geografia Tradicional. Esta expressão, não permite revelar a raiz historicista da Geografia, e não dá conta do importante debate entre o materialismo e o idealismo nas ciências humanas, particularmente no século passado. Em minha tese de doutorado, em 1978, já apontava esta quest&atild