Mosaicos de Gougon em mármore e granito
Minha arte musiva

Foi reparando no traçado das pedras nas ruas de Pirenópolis que despertei para a arte do mosaico, sem me dar conta do que estaria por vir. O isolamento secular da velha cidade goiana permitiu a seus habitantes identificar soluções geniais para adaptar-se a cada desafio que os novos tempos impunham a uma comunidade sem muitos recursos. Um deles foi a pavimentação. Ante o custo alto do asfalto ou do concreto, optaram por um piso à base de pedras da região, colocadas horizontal ou verticalmente, conforme o peso que iriam suportar, as primeiras para o calçamento, as outras para as pistas de trânsito. Comecei a olhar para aquilo e tomei gosto pelo segundo modelo, vendo pedaços de ardósias retas e sempre iguais fazerem curvas ao longo de seu trajeto. Ah, as curvas! Não é difícil compreender porque elas comovem tanto Niemeyer.
Dali para frente foi só experimentação. Comecei a quebrar cacos de mármores e granitos em pedaços ainda menores, a princípio com talhadeira. E segui em frente, verificando então que era escasso, quase nulo no país, qualquer estudo sério sobre a matéria. Livros brasileiros nem pensar. Tive que buscá-los fora, especialmente na França, que guarda uma tradição invulgar nesta e em tantas outras formas de arte.
Logo descobri respostas para muitas perguntas que me assaltavam. De onde vem esta arte? O que já se fez no passado? Como tratar os intervalos entre os pedaços do mosaico? Que material utilizar? Quais as ferramentas? Como faziam os antigos? E os modernos?
Quem percorrer este caminho vai descobrir que não há uma resposta comum para todas as perguntas. Há que se fazer escolha. E entendi também de fazer a minha, encontrar a trilha no labirinto musivo.
Não muito antes de Cristo, ali pelos séculos III ou II  a.C. os gregos já dominavam a técnica do mosaico, mas foram os romanos que o disseminaram por toda a vastidão do império. Deixaram um repertório basilar na matéria e definiram várias formas de produzir mosaicos. Interessei-me particulamente pelo método denominado “opus tesselatum” (obra de tesselas) que consiste na reunião de peças reduzidas e mais ou menos homogêneas. Achei de boa conduta adaptar o modelo às condições que dispunha, até para poder responder no meu tempo e no meu espaço às questões novas da arte.
Desde que me iniciei no mosaico, lá se vão sete ou oito anos, venho descobrindo todos os dias aplicações novas e surpreendentes para o seu uso com mármores e granitos. Neste período, realizei tampos de mesa, de aparadores, quadros, painéis escultóricos, ícones, totens, monumentos, quadros, soleiras, cornijas, cabeceiras de cama, espelho de escada, puxadores de porta, retratos, faixas de piso, faixas de parede, alegorias para paredes de piscina (golfinhos, peixes, cavalos-marinhos, etc.), para churrasqueiras (bois, bichinhos), mesinhas de centro, tapetes, decorações parietais variadas, bancos de jardim, cadeiras, balcões, enfim, praticamente tudo que me foi proposto. Tenho obras em área pública da cidade, como o monumento ao líder estudantil Honestino Guimarães, na UnB, assim como intervenções urbanas em quadras da Asa Sul, seja de forma individual ou coletiva, com alunos e companheiros de todas idades. Instalei dois totens em Pirenópolis, um deles na entrada do santuário Vagafogo. E aos poucos meus trabalhos se espalham um pouco por toda parte.  Estão presentes hoje em residências do Rio, de Belo Horizonte, do Triângulo, de Goiânia e em Brasília alcançam também áreas frequentadas como restaurantes, bares e cafés. Recentemente, entreguei à construtora Paulo Octávio um painel com a imagem da ex-primeira dama Sarah Kubitschek, já devidamente emoldurado por granitos negros, no hall externo do Residencial Dona Sarah, no Setor Sudoeste (inauguração prevista para fevereiro ou março).
Sinto-me feliz trabalhando com mosaico. Neste ano de 2002, em que se comemora o centenário de nascimento de JK,  já estou envolvido na elaboração de painéis com a imagem do ex-presidente para colocação em pontos diversos da cidade que ele construiu.
Até passado recente, era comum o uso de bustos em bronze para homenagear heróis e personalidades. Hoje, a arte do mosaico oferece uma alternativa considerável, colorida e atraente, tendo em vista que se trata de obra durável, perene, como evidenciam os trabalhos preservados de restauração musiva, tanto em museus quanto em áreas arqueológicas, às vezes cidades inteiras como a romana Conímbriga, próxima a Coimbra, em Portugal, que tive a alegria de conhecer e documentar no ano passado.





Gougon, em Brasília, janeiro de 2002
printemps (ícone em opus tesselatum com mármores e granitos. Obra escultórica 25x40 cm)
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Henrique Gougon
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