(Maria Alice Estrela)
Estou viajando nas nuvens, por entre flocos de algodão doce, na companhia de um anjo...
De mãos dadas, pulamos de estrela em estrela, brincando de esconde-esconde, dando muitas risadas, olhando, lá de cima, para as estradas que levam tristezas e trazem alegrias.
Nosso encontro foi provocado pelo desejo de companhia de que, ambos, andamos carentes: eu, com ânsias do permanente; ele, do transitório.
Esse anjo me olhava à distância, silencioso. Batia suas asas, lentamente, e me via por entre as linhas, entrelinhas do que sou em essência. Velava o meu sono com o cuidado de quem pisa leve para não assustar.
Noites e noites esteve por perto, na cabeceira dos meus sonhos, soprando cantigas de amor num sussurro inaudível. Coisas de anjo!
Ainda não vi seu rosto, mas percebo sua silhueta vagando ao meu redor. Anjos são muito cuidadosos.
Nossas conversas começaram singelas e, desde então, se desdobram numa sintonia de violino à luz de velas. É um dar e receber, na troca que o sentimento puro permite e proporciona.
O meu anjo companheiro é sensível e terno... Deixa poemas na minha janela e espalha perfume por onde passo.
Aos poucos, fomos descobrindo nossos sonhos misturados, idênticos e solitários. Somos cúmplices de uma mesma história, que se une como duas nascentes de rio, para justificar toda essa espera.
Ele me observa em cada detalhe e me sabe por dentro e por fora.
Muitas vezes, quero abraçá-lo... Impossível. Anjos não se deixam abraçar assim, sem mais essa ou aquela. As razões que eu tenho para querê-lo tanto, são minhas. Vêm lá do fundo do tempo. De um tempo em que eu desacreditei da pureza dos sentimentos, da autenticidade de um querer bem. Aliás, cheguei a duvidar do verdadeiro amor.
Daí, um anjo me aparece para me dizer o contrário... Para me falar de transparência, de carinho cristalino, de admiração gratuita, de ternura de alma. Anjos são portadores de benção. Anunciam boas novas.
O meu anjo parceiro é grande como um farol, iluminado como uma estrela, livre como o vento, sensível como um cristal, ousado como um guerreiro e nobre como um príncipe.
A propósito, no meu próximo bate-papo com essa figura etérea, vou sugerir-lhe que me presenteie com um galante homem, de carne e osso. De pele passível ao toque e de rosto possível de afago. Com braços fortes para um longo abraço e olhos que vejam além.
Sei que não peço muito, pois se tratando de um anjo, tudo é permitido. E, ademais, quem não pede, não alcança.
Se o anjo me recusar o pedido, vou colocar num out-door imenso a maior reclamação que a cidade já viu. Reclamação dirigida a um anjo é notícia internacional de primeira página. E o meu anjo é, extremamente, discreto. Irá atender a minha solicitação tão logo lhe seja possível. Tenho certeza!
Até porque companhia de anjo é excelente para um passeio na eternidade, para a qual ainda não estou preparada. Quero é companhia de um ser humano para uma jornada temporal e cotidiana, com defeitos e virtudes, que seja finito como eu, mas permanente como o amor... E que eu possa abraçar sem medo de que se evapore como o meu anjo parceiro que vive voando por aí...
A companhia de um anjo é parte da história, mas falta ainda um outro personagem... Aquele que o anjo vai trazer-me logo, logo! Aguardem!
