Guerra do Paraguai

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              Vamos tomar vantagem dessa pausa para descrever o terreno que formava um ângulo, pela junção dos rios Paraguai e Paraná, que foi palco de importantes eventos que seguem e que sem uma clara compreensão de seus aspectos geográficos poderiam ser ininteligível. A principal base aliada que operava contra os paraguaios estava localizada nas margens do Paraná, que corre de leste para oeste, em direção ao canto sul do país, para fazer junção com o rio Paraguai. Ali, ele radicamente altera seu curso para o sul. A união dos rios Paraná e Paraguai formava a linha de comunicação aliada com as últimas bases e depósitos de armas em Buenos Aires e Montevidéo. O Tratado da Tríplice Aliança, em um de seus itens, estabelecia a destruição do forte Humaitá e a derrubada o governo de López. O primeiro objetivo dos Aliados, então, era tomar o forte Humaitá e segundo a capital Assunção, ambos situados nas do rio Paraguai. A primeira defesa paraguaia era uma baterias de canhões que fechava a foz do rio Paraguai. O primeiro passo dos aliados para atacar Humaitá, seria destruir essas baterias recentemente construídas, mais precisamente localizada em Curupaty, para poder abrir a navegação de navios aliados no rio Paraguai, para permitir que o exército subisse seu curso com a corbertura de sua força naval.
              O exército paraguaio ocupava o ângulo entre os rios, com base em Humaitá e todas as comunicações fluviais na parte superior, em direção a Assunção. Para desalojá-lo desse ângulo não era tarefa fácil.
              "Do ponto da junção do rio Paraguai e Paraná, no sentido de Curupaty e por muitas léguas em outra direção, as margens dos rios, numa largura de cerca de 5 quilômetros, era de alagadiço chamamado ‘carrizal’ – ou seja, terra cortada de profundas lagunas e lama, e entre as quais existe uma impenetrável floresta ou capim, de altura média de 3 metros, igualmente impassável. Quando na época de enchentes todo ‘carrizal’, com algumas pequenas execeções, fica debaixo da água e quando as águas do rio baixam é necessário esperar a lama secar para poder encontrar ponto de interligações entre as lagunas" P.128.
              Devido as lagunas, uma a nordeste do rio Paraguai e outra a noroeste do Paraná, os pontos rasos (vau) são as únicas estradas possíveis no lado do rio Paraná, próximo de onde os aliados estavam acampados, para alcançar o Humaitá. No lado oposto dos aliados existe um local chamado Itapiru, onde a terra era mais firme. Margeando o rio pelo mesmo caminho e depois virando para o norte, a estrada que liga Humaitá passa entre duas lagunas em Passo la Patria. Esta posição foi fortificada e trincheiras foram cavadas ao longo de algumas terras elevadas, ligando uma lagoa à outra. Neste local, e não nas margens do rio, López estacionou seu exército de 30.000 soldados. Havia outra trincheira do mesmo tipo na retaguarda, que será depois descrita. Os Aliados estavam obrigados a atacar essa posição de frente, por não poderem virar para a esquerda, no sentido do Paraná, devido o impassável 'carrizal', que se extendia naquela direção. E ainda, devido o curso do rio ter muitos bancos de areia e forte correnteza, tornava impossível a passagem das canhoneiras. Na direita dos aliados, na direção do rio Paraguai, os Aliados não podiam passar por causa das baterias de canhões de Curupaty e Humaitá, que comandavam todos os cursos do rio. Assim, devido essas condições geográficas desfavoráveis, foram obrigados a atacar de frente.
              No final de março os aliados já tinham concentrado 50 mil homens e 100 canhões na margem do Paraná, lado oposto a Paso la Patria; uma flotilha de 8 canhoneiras, que carregavam entre 6 e 8 canhões cada, e quatro encouraçados,um deles monitor, equipado com dois canhões Whitworth de 150 libras – ao todo, levavam 125 canhões – e estavam pronto para cobrir a travessia. Cento e cinquenta canoas, trinta pontes flutuantes e trinta navios a vapor, capaz de embarcar, de uma só vez 15 mil homens, proveria o transporte das tropas. Um dia antes de cruzar o rio, a flotilha bombardeou Itapiru. No dia 16 de abril a travessia começou com o desembarque do General brasileiro Osório, no comando de 10 mil homens, a dois quilômetros acima das posições paraguaias; logo a seguir vieram os argentinos em suporte. A guarda avançada paraguaia tentou se bloquear o desembarque, mas sem sucesso. López abandonou Itapiru e voltou para suas linhas de trincheira em Paso la Patria, deixando os aliados atravessar o rio com traquilidade. Em poucos dias, todos seus homens, canhões e material militar já se encontravam no lado paraguaio do rio. No dia 19 de abril a flotilha foi para o lado oposto de Paso la Patria e abriu fogo pesado sobre as trincheiras. López se viu obrigado a deixar apenas uma guarnição neste local, para segurar essas linhas de defesa, e retirou seu exército para Paso Gomez, na estrada de Humaitá, posição alguns quilômetros atrás, fora do alcance dos mísseis do esquadrão naval. Quando ele já tinha acampado nessa posição, ordenou que as defesas de Paso la Patria fossem evacuadas e queimadas. Assim foi feito na manhã do dia 23 de abril, a posição foi então imediatamente ocupada pelos Aliados.
              Nesse momento López ocupava o canto sul da terra firme, que formava o começo do platô onde o estava localizado o forte Humaitá, atrás de uma estreita passagem vau que conectava a grande laguna chamada 'Estero Bellaco' com a laguna Piris, que surge do rio Paraguai, através da qual era única passagem acessível para Humaitá.


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