modelo da Fragata Amazonas
Modelo da Fragata Amazonas


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Captura do Navio Marquês de Olinda*

Tradução: Eduardo Galvão


"Essa agressão de maneira inesperada e tão insultante não deixou espaço para acordos e arranjamento de termos de paz."
          Charles A. Washburn

              Em 14 de outubro (1864), ocorreu a invasão da Banda Oriental pelas tropas brasileiras. A notícia chegou em Assunção, capital do Paraguai, somente depois de alguns dias e ninguém imaginava de que aa guerra pudesse envolver o Paraguai, nem mesmo o Presidente López considerava que o relacionamento de amizade com o Brasil pudesse ser interrompido tão repentinamente. Vianna de Lima, Ministro Representante do Brasil no país continuava residir em Assunção e suas atividades diplomáticas eram normais, assim como seu relacionamento com o Ministro dos Negócios Exteriores local. Nada sugeria que pudesse haver interrompimento do relacionamento entre os dois países, o tráfego de vapores paraguaios desciam e subiam normalmente os rios, passando pelas canhoneiras brasileiras, cujos comandantes não suspeitavam serem vasos inimigos.

              As relações entre entre o Brasil e o Paraguai continuaram normais até 9 de novembro de 1864. Nesse dia o vapor de passageiros brasileiro, Marquês de Olinda, chegou ao forte Humaitá, nas margens do rio paraguai, em sua viagem regular com destino a província de Mato Grosso. O vapor pertencia a uma companhia que o Governo brasileiro contratara para fazer oito viagens anuais, ida e volta, entre o Rio de Janeiro e a cabeceira do rio Paraguai. O percurso, parte marítimo, no trecho Rio de Janeiro para Montevidéo, e a parte fluvial, de Montevidéo até Corumbá, na província de Mato Grosso, era feita através do Maquês de Olinda; no trecho de Corumbá até Cuiabá era utilizado outro vapor de pequeno calado. O navio começou sua viagem regular sem suspeitar de nenhum perigo, ninguém supunha que o Paraguai pudesse tomar alguma ação em favor da Banda Oriental, já que haviam dois meses que o Paraguai fizera publicar um protesto contra a invasão do Brasil na República da Banda Oriental e além do protesto nunhuma ação concreta foi anunciada por parte do Governo daquele país que pudesse indicar uma possível guerra com o Brasil. Pelo contrário, as correspondências do Ministro brasileiro em Assunção com seu colega em Buenos Aires e outras que chegavam ao Paraguai, escritas depois da ocupação do território Oriental pelas tropas imperiais, não faziam nenhuma alusão à mudança no relacionamento entre os dois Governos. Quando o vapor chegou em Humaitá a tripulação fez as saudações de praxe ao forte e foram retornadas como de costume, e viagem prosseguiu até Assunção, onde chegou nas primeiras horas da manhã do dia 11 de novembro (1964). Nada de anormal aconteceu no porto e a mesma rotina foi seguida: a rápida disbribuição dos correios e a necessária provisão de carvão foi trazida para bordo. Ás treze horas do mesmo dia, o Marquês de Olinda reniciou sua viagem com destino a Corumbá.

              Aqui é necessário fazer alusão sobre o que vinha transpirando na região. Era do conhecimento do corpo diplomático que, durante no mês de julho, o Dr. Carreras** estivera no Paraguai para conseguir garantias do Presidente López - que contava com um grande e bem organizado exército - de que se envolveria na guerra em favor da Republica do Uruguai, como havia prometido anteriormente, para defender a independência daquele país no caso de interferência externa. Retornando ao seu país com essas garantias, Carreras assumiu o governo de Montevidéo e outros três importantes Departamentos do governo uruguaio, mas para sua decepção, nenhuma iniciativa concreta foi tomada pelo Ditador, além do protesto de 30 de agosto e outro junto ao Governo Argentino, que pudesse indicar uma interferência maior do Governo do Paraguai na guerra. Talvez, nessas ocasiões, ele somente quizesse assustar pelo terror de suas proclamações, em vez de se aventurar em uma guerra real.


*A seguinte narrativa, da captura do vapor brasileiro Marquês de Olinda, foi extraída de trecho Livro "The History of Paraguay, with Notes of Personal Observations, and Reminiscences of Diplomacy Under Difficulties" , de Charles Ames Washburn, antigo Embaixador dos Estados Unidos da América no Paraguai, acreditado naquele país entre os anos de 1861 a 1868. P. 554 a 562. volume I, parte 2.

** Antonio de las Carreras, advogado, homem de grande energia, violento partidário. Quando assumiu o Departamento dos Negócios Exteriores do Uruguai, foi lhe dado poder absoluto para acabar com a rebelião em Quinteros e sob suas ordens foram executados sumariamente todos os 14 líderes dessa rebelião. Ele teve uma terrível morte, alguns anos depois, sob as mãos de López. NT