Capítulo 19 - Prior Incantato (Parte I)
 

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A semana de provas havia chegado, e, como sempre, Hermione havia programado as revisões dos três.

-         Fred e Jorge que são sortudos! – reclamou Rony – estão trabalhando varinhas falsas e por isso, conseguiram com Dumbledore que perdessem os exames!

-         Verdade – disse Harry, concentrado em um resumo sobre múmias.

-         Mas vai ser bom – disse Gina – quer dizer, se eles conseguirem vender para a Zonko’s, vamos conseguir um bom dinheiro.

-         Ah – lembrou Rony – pediram para te dar essa, Harry. Os dois disseram que se parece com a sua!

-         Parece mesmo! – opinou Harry, guardando o presente entre as vestes.

-         Será que podemos voltar para as revisões? – perguntou Hermione, aborrecida.

-         O que significam essas datas marcadas em tons diferentes? – perguntou Rony, examinando seu calendário de provas.

-         O dia das provas, além de trabalhos – e apontou uma data, que parecia ser em dois dias – nosso primeiro compromisso é a redação de Flamel.

-         Redação de Flamel? – perguntou Harry, surpreso – não pode ser! Me esqueci disso!

-         Bem, você tem dois dias para entregá-la – respondeu Hermione, cheia de censura.

Sem ao menos se despedir dos amigos, Harry puxou uma lista de assuntos de Alquimia de Hermione e se dirigiu à biblioteca.

-         Espere um pouco, vou ver se eu acho esses livros para você – disse Madame Pince à um Harry ofegante.

A bruxa desapareceu entre as prateleiras e Harry se deixou desabar sobre uma cadeira próxima. Então ele fixou o olhar na seção reservada. Aconteceu muito de repente: ele sentiu uma fina pontada na cicatriz.

-         Ai! – exclamou ele, cheio de dor na voz.

-         Você está bem? – indagou Madame Pince, depositando meia dúzia de livros grossos na sua mesa.

-         Sim – gaguejou Harry, nervoso – não foi nada.

-         Aqui estão seus livros, mas, eles não podem sair daqui. Consulte-os aqui mesmo – e se retirou.

Harry se sentou e folheou cada um deles. Sentindo-se demasiado farto, entregou-os para a bibliotecária.

-         Você achou? – indagou Madame Pince.

-         Não, prefiro tirar essa dúvida diretamente com o professor Flamel. Obrigada, Madame Pince.

Harry ainda escutou a bruxa resmungar algo sobre tempo perdido. Ele se dirigiu em direção à sala de Alquimia, escolheu o caminho certo e disse a senha para a entrada.

O professor Flamel estava sentado em sua mesa, parecendo bastante distraído.

-         Com licença, professor, eu vim tirar umas dúvidas sobre a redação com o senhor.

-         Ah, claro, Harry, pode perguntar – respondeu o professor cordialmente.

-         Bem, eu...

Mas Harry não pode tirar suas dúvidas, porque da boca do professor saltou uma enorme cobra verde e manchada. O corpo do professor caiu duro no chão e se contorceu. Harry berrou de pânico, tentando sair da sala.

A cobra tomou formas humanas e Lord Voldemort apareceu diante dele. Com um estalar de seus dedos, a sala transformou-se em brasas.

-         Olha só, meu amiguinho Potter – ironizou Voldemort.

-         O que você fez com o professor Flamel? – rosnou Harry.

-         Conhece a palavra “matar”? – e deu uma risada alta e assustadora – é tão divertido! Já matei a mãe de Claire, a Hufflepuff, minha irmã bastarda, agora o professor Flamel!

-         PARE COM ISSO! – ordenou Harry, cheio de lágrimas nos olhos, tomando o corpo de Flamel junto ao seu.

-         Isso não é hora de sentimentalismos! – bradou Voldemort, rispidamente – eu vim aqui para matar você, e dessa vez não vai ter nada que me impeça!

Ele riu novamente e pegou sua varinha:

-         Como prefere morrer? Eu deixo você escolher a forma menos dolorosa.

Harry soltou o corpo do professor e pegou sua varinha, encarando Voldemort.

-         AVADA KEDAVRA! – um jato verde saiu da varinha do menino e lançou-se sobre o coração de Voldemort. Mas não teve nenhum efeito.

-         Você é bonzinho demais para executar esse feitiço, Harry Potter. Mas eu não.

Quando Voldemort ergueu a varinha em direção a Harry, alguém gritou a senha para entrar na sala do outro lado. Harry identifico a voz de Severo Snape. Voldemort desapareceu e levou consigo suas chamas.

-         HARRY POTTER! – berrou Snape – O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI?

E sua expressão passou de raiva para assombro, porque ele viu o corpo de Nicolau Flamel caído no chão. O professor tirou o pulso e se certificou:

-         Ele está morto... você é um assassino, Harry Potter...

Sem dizer nada, conjurou uma grande maca para o falecido, tomou a varinha de Harry e o arrastou em direção a uma sala que ele conhecia muito bem.

-         Senha? – perguntou o gárgula.

-         Rixisneilumps – respondeu Snape. A sala de Dumbledore se abriu para eles. O diretor apreciava uma música de câmara, sorridente.

-         Severo, Harry! O que os traz aqui?

-         Não chame mais essa pessoa pelo nome – rosnou Snape – hoje ele fez uma coisa que até mesmo seus pais devem ter se revirado nos seus túmulos.

-         O que Harry fez? – perguntou Dumbledore, sério.

Snape estalou os dedos e a maca que carregava Flamel pousou sobre a mesa do diretor.

-         Flamel... ele não está...

-         Está morto – respondeu Snape duramente – e eu encontrei Harry Potter em sua sala.

-         MENTIRA! – berrou Harry, chorando – EU NÃO MATEI O PROFESSOR!

-         Acalme-se, Harry – disse Dumbledore – vamos, deite-se aqui em minha cama enquanto eu e Severo conversamos.

Contra vontade, Harry deitou-se e fingiu dormir, apenas para escutar a conversa dos professores.

-         Convoque uma reunião urgente entre os professores, aqui em minha sala, o mais rápido possível. Eu vou despachar uma coruja para Perenelle.

-         Sim, senhor – disse Snape, eficiente – mas, só uma pergunta, diretor, que o senhor não quis me responder no começo do ano.

-         À vontade, Severo.

-         Depois que Potter destruiu a Pedra Filosofal, não era para Flamel e Perenelle morrerem?

-         Certamente sim. Mas Nicolau me confidenciou que tinha algum elixir guardado para os dois.

Harry escutou o barulho da porta batendo e uma pena se movendo rapidamente em um pergaminho. Em seguida, uma série de soluços:

-         Flamel... meu bom amigo Nicolau – Dumbledore estava chorando, e isso fez Harry se sentir muito mal.

 

Aos poucos, Harry pode identificar as vozes aflitas dos professores. Dumbledore precisou espocar várias bombinhas de sua varinha.

-         Apenas Sibila Trewlaney e Rúbeo Hagrid estão ausentes, diretor – informou Snape.

-         Obrigado, Severo – devolveu Dumbledore.

“Silêncio, prezados professores. Hoje aconteceu um ato muito trágico e doído para todos nós. O professor Flamel não está mais entre nós, ele faleceu.”

Houve um silêncio repentino e diversos murmúrios.

-         Sim. Papoula, por favor, quero que você nos diga como o nosso professor morreu.

Passos. Barulho. Suspiro.

-         Um feitiço negro, certamente – respondeu Madame Pomfrey, por fim.

-         Certo. Severo, conte em quais circunstâncias encontrou Nicolau.

Snape desfiou a história, acrescentando detalhes demasiados exagerados.

-         Pois bem. Harry Potter estava com Nicolau, mas eu não creio que ele possa ter matado.

-         Por que não, diretor? – indagou Claire R.

-         Porque... Nicolau Flamel é tio-tataravô de Harry Potter.

O coração de Harry afundou. Então ele se lembrou de quando sonhava com uma família sem ser os Dursley, e quando finalmente a descobre, seu tio-tataravô está morto.

-         Co...como? – gaguejou a profª. Sprount.

-         Perenelle Flamel era irmã da tataravó de Harry, apesar do menino desconsiderar a existência dela, Hilda Mary Potter.

-         Esse não é o momento adequado para se discutir a árvore genealógica dos Potters, Alvo – interrompeu McGonall.

-         Tenho provas que Harry Potter é um assassino, professor! – bradou Snape – a varinha!

-         Isso mesmo! – disse Flitwick, em sua vozinha fina – o feitiço Prior Incantato!

-         Você pode executá-lo, Flitwick? – indagou Madame Hooch.

-         Perfeitamente. Por favor, profº. Binns, pode me ajudar a subir na mesa?

Harry entreabriu a porta lentamente. Ele viu Snape colocando sua varinha em cima da mesa e Flitwick se preparando para executar o feitiço.

-         Prior Incantato! – da varinha de Flitwick saiu uma espécie de vapor que entrou na varinha de Harry, que mostrou aos professores o último feitiço que Harry tinha executado.

-         Avada Kedavra.

Os professores se entreolharam, aflitos.

-         É um feitiço negro – disse o profº. Flitwick, quebrando o gelo.

-         E a Constituição de Hogwarts mantém a pena de expulsão para o aluno que executar esse tipo de feitiços – lembrou o profº. Binns.

-         Não podemos, não podemos – murmurou Dumbledore.

-         Por que não? – perguntou Snape – ele quebrou uma regra gravíssima, além de matar. Apenas por que ele é Harry Potter? NÃO! EU EXIJO A EXPULSÃO DE HARRY POTTER!

Dumbledore apertou o peito, exausto e triste.

- Não me cabe decidir. Cancelem os exames do fim do mês em luto à morte do professor Flamel. Minerva, explique aos alunos que o professor morreu de velhice. E marquem uma reunião com o Conselho Escolar para decidir o futuro de Harry.