Capítulo 19 - Prior Incantato (Parte II)
 

--------------------------------------------------------------------------------

Os alunos ficaram confusos quando receberam a notícia da morte do professor (mas ficaram felizes com o cancelamento dos exames). “Ele estava tão cheio de vida”, “Que pena, vou sentir a falta dele”, eram os comentários que rondavam pela escola.

Harry foi isolado na ala hospitalar por ordem de Dumbledore. Nem mesmo Rony, Hermione e Gina poderiam visitá-lo.

-         Por favor, Madame Pomfrey – implorou Harry – deixe-me apenas escrever uma carta para eles. Meus amigos estão preocupados comigo, afinal, estou faltando as aulas e não posso vê-los!

-         Está bem – cedeu Madame Pomfrey – depois me entregue a carta que eu a despacharei por uma coruja.

Depois de muito pensar, Harry finalmente terminou a carta. Ele releu para verificar se estava tudo certo:

 

Rony, Mione e Gina,

Estou na ala hospitalar. Como vocês estão? Espero que bem. Contraí uma doença contagiosa e estranha, por isso Madame Pomfrey preferiu que eu permanecesse aqui, para que ela pudesse a estudar melhor. Não se preocupem, estou bem.

Afetuosamente,

Harry.

 

Madame Pomfrey examinou a carta, desconfiada, antes de despachá-la.

Por dentro, Harry se sentia mal. Era difícil mentir para seus melhores amigos, mas as circunstâncias eram as piores possíveis. Harry estava encrencado.

-         Potter, visita pra você – anunciou Madame Pomfrey, deixando Dumbledore entrar.

-         Olá, Harry – cumprimentou Dumbledore – como tem passado?

-         Bem – e acrescentou – melhor se pudesse ver meus amigos.

-         Isso é pro seu bem, Harry. Vim aqui porque acho que lhe devo uma explicação.

“Primeiramente, queria avisar que sua situação não é das melhores. Você tem uma reunião marcada com o Conselho Escolar amanhã, na hora do pôr-do-sol.”

Harry balançou a cabeça, sério.

-         Será como um julgamento: Severo será o promotor e eu irei te defender.

-         Diretor, o senhor não acredita que eu matei Flamel, não é? – disse Harry, com uma voz cheia de súplica.

-         Acredito em você, Harry. Porque nenhum aluno do quarto ano consegue executar um Avada Kedavra.

Harry contou à Dumbledore tudo o que aconteceu na sala de Alquimia, incluindo o Avada Kedavra frustrado.

-         Foi como Voldemort disse, menino. Você é muito bom para executar esse feitiço. E a bondade prevaleceu. E sei que você só estava tentando se defender. Mas não é sobre isso que eu quero conversar com você.

Harry fez cara de intrigado e com um gesto, pediu para Dumbledore prosseguir.

-         Nicolau Flamel tinha um grau de parentesco com você. Harry, ele era seu tio-tataravô.

-         Meu...tio-tataravô? – Harry se fingiu de surpreso.

-         Sim. Eu sei que isso lhe choca demais, mas é a pura verdade.

-         Eu sempre sonhei com um parente que viria me buscar da casa dos Dursley... – choramingou Harry.

-         Perenelle Flamel era irmã de Hilda Mary Potter, por acaso, sua tataravó.

-         E porque vocês não me deixaram com os Flamel quando meus pais foram assassinados? Eu preferia viver com meu tio em uma família de bruxos do que com os piores trouxas possíveis.

-         Porque a fama lhe subiria à cabeça, Harry. E além do mais, ambos já estavam muito velhos para educar uma criança.

Harry olhou para um canto, chateado.

-         Coma uns desses sapos de chocolate que eu lhe trouxe. Quem sabe você tira uma figurinha que te falta.

Dumbledore saiu do aposento, deixando Harry abrindo seu sapo de chocolate (que foi colocado na boca de uma vez só) e abriu a figurinha.

-         Nicolau Flamel – sussurrou Harry, olhando a figurinha, com uma lágrima escorrendo pela face.

Harry repousou a figurinha na sua cômoda e dormiu, ainda pensando nos momentos que ele passou com seu tio-tataravô anônimo.

 

 

Madame Pomfrey acordou Harry cedo.

-         Dumbledore permitiu que você desse uma volta pela propriedade, Potter. Você sairá assim que a primeira aula começar, acompanhado por mim, claro.

-         Nossa, vai ser interessante.

-         Tome seu café e troque-se. Quando o sinal bater, venho te apanhar.

-         Gostaria de visitar Hagrid – pediu Harry.

-         Está bem, nós vamos – sorriu Madame Pomfrey.

Andar por Hogwarts sem escutar nenhum ruído, as vozes dos estudantes e sem esbarrar em nenhum aluno era extremamente maçante. Harry escutou a voz de McGonagall bradando com um estudante e a voz de Madame Hooch magicamente ampliada em uma aula de quadribol.

Hagrid estava tocando uma flauta, parecendo triste. Canino repousava sua cabeça no colo do dono. Ao ver Harry, o cão latiu de alegria e começou a lamber Harry.

-         Bem, Hagrid, vou deixar o menino sobre sua responsabilidade. Vocês tem vinte minutos, eu estarei esperando-o no saguão – e olhando para Hagrid – não vá contrariar as ordens do diretor.

-         Pode deixar, Madame Pomfrey – respondeu Hagrid – como você vai, Harry?

-         Mal – respondeu o menino – não me deixam ver meus amigos, estudar, jogar quadribol, além da minha situação estar feia.

-         Eu sei – disse Hagrid, baixando os olhos – ei, Canino, você está molhando as vestes de Harry! Rony, Mione e Gina vieram me procurar.

-         Sério? O que eles queriam? – perguntou Harry, quase se engasgando com o biscoito.

-         Estavam preocupados com você. Mas, Edwiges trouxe sua carta no exato momento, e eles se controlaram melhor, eu acho.

-         Ah, Hagrid, está sendo horrível, horrível – e se debulhou em lágrimas, com Hagrid o acolhendo – eu não matei meu tio-tataravô.

-         Eu sei, Harry, eu sei.

Passaram o resto do tempo discutindo sobre as aulas, as chances da Grifinória ganhar mais um campeonato de casas e sobre Rony, Hermione e Gina.

-         Que cabeça a minha! – disse Hagrid, dando um tapa na testa – já passamos vinte minutos! É hora de voltar ao castigo.

Harry deu um sorriso tímido e acompanhou Hagrid e Canino até o saguão. Do alto, viu cabelos ruivos em uma janela. Poderia ser qualquer um dos Weasley, mas Harry desejou que fosse Rony ou Gina. “Para não dizer que não os vi nesses dias.”, pensou o menino, triste.

Se perguntasse a Harry o que ele fez na tarde que antecedeu à reunião, ele não saberia responder. Até que, enfim, chegou a hora do pôr-do-sol.

Madame Pomfrey deu vestes negras para Harry, mais ou menos na hora do julgamento.

-         A tradição pede para que você as use – disse ela, estendendo as mesmas para Harry.

-         Obrigado, Madame Pomfrey – dizendo isso, foi tomar banho e se trocar.

Enquanto trocava de roupa, achou a varinha dada pelos gêmeos. Carinhosamente, guardou-a consigo. Afinal, era uma forma de lembrar dos amigos.

Depois de já vestido, distraiu-se olhando a enfermeira dando uma dose de medicamento para um quintanista que estava cheio de pêlos pelo corpo.

-         Harry? – Dumbledore chamou, enfiando seu rosto quarto adentro – é hora de ir.

Dumbledore ajeitou uma capa vermelha-sangue sobre os ombros de Harry.

-         Essa capa é o símbolo do réu, obrigatória para todos os conselhos. Pena que ela tenha que ser usada novamente, pois a última vez que vimos ela foi quando Hagrid foi expulso.

Harry balançou a cabeça, sério:

-         Eu não matei o professor, diretor.

-         Acredito em você, Harry. Mas você tem que provar isso aos conselheiros. O deixarei com McGonagall, ela o levará para o julgamento.

A sala de McGonagall estava vazia e suja, sinais óbvios que os alunos já estavam desfrutando o máximo de seu jantar.

-         Potter – ela disse, com uma voz semi-túmulo – As reuniões do Conselho Escolar são pontuais, mas eu realmente preciso arrumar essas redações

Harry se sentou e olhou para o lado de fora. Seus olhos trombaram com outros, cinzentos e frios. O dono dos olhos saiu correndo e Harry escutou a voz arrastada de Draco Malfoy:

-         HARRY POTTER VAI SER JULGADO PELO CONSELHO ESCOLAR!

 

 

McGonagall guiava Harry em um corredor escuro e úmido, empunhando um castiçal. “À essa altura, todos de Hogwarts já devem saber onde estou indo”, pensou Harry, amargurado. A professora olhava firme para frente, de vez em quando murmurando algo como “Nunca um aluno da Grifinória me deu tanto desgosto”. Ao chegar em uma tapeçaria aparentemente roída por traças, McGonagall bradou:

-         Draco Dormiens Nunquam Tittilandus!

Com um baque surdo, a tapeçaria se abriu e abriu uma passagem. Havia uma salinha sem nenhum tipo de mobília, pintada de branco.

-         Certo – disse Minerva McGonagall, conjurando uma enorme poltrona preta para Harry – sente-se aqui, Potter, que em breve eu virei chamá-lo.

Fechou a porta de deixou um Harry cheio de tremores por dentro.

Minutos depois, ela tornou a abrir a porta.

-         Venha, Potter.

A sala era gigantesca, monumental. Havia milhares de bancos espalhados e um tapete vermelho. Harry identificou Lúcio Malfoy acomodado em um dos bancos, sorrindo amargamente para o menino.

Todos os professores estavam acomodados em uma tribuna, como o júri, devidamente identificados por plaquetas.

Em frente à ele, um enorme móvel de madeira, onde dez senhores velhos e com aspecto severo. Usavam vestes bem-alinhadas e também tinham plaquetas. Ao lado direito do último, deles, Alvo Dumbledore, o diretor de Hogwarts, e do lado esquerdo, Severo Snape, o promotor e a maior ameaça para Harry.

-         Os senhores à frente são do Conselho – explicava McGonagall – os professores formam o júri. Alvo lhe defenderá, enquanto Snape o acusará, como já sabe. Boa sorte, Harry Potter.

A professora acomodou Harry em uma bancada preparada para ele e foi se sentar com os demais professores.

-         Harry Potter – disse o mais velho dos conselheiros, chamado Simon Walton – você está sendo julgado pelo crime de ter assassinado seu professor de Alquimia, o estimado Nicolau Flamel. Fazei o juramento.

Harry passou os olhos pelas plaquetas dos conselheiros e leu os nomes de cada um: Johnny Barnes (que tinha rugas pelo rosto), Andrew Lee (o mais severo), Paul Christmas (o mais sorridente), Jeff Bunton (uma enorme verruga preta na ponta do nariz), Dave Yuki (o mais novo), Sally Morgan (a única mulher), Hector Knows (o mais sério), Marco Rhonda (tinha olhos frios) e Larry Limes-Jakes (cujo ostentava a maior peruca que Harry já viu na vida).

Dave Yuki se aproximou de Harry trazendo um enorme livro sobre leis mágicas:

-         Harry Potter – disse Limes-Jakes – você jura sobre a Constituição Mágica que falará somente a verdade?

-         Si...sim – gaguejou Harry.

-         Pois bem – continuou Andrew Lee – que continuemos o julgamento. Severo Snape, pode começar.

O professor girou em suas vestes negras, como um morcego, se virando para o conselho.

-         Senhores, vocês não imaginam a cena chocante que foi ver esse senhor aqui julgado com o corpo duro do profº. Flamel...

E falou por mais trinta intermináveis minutos, sempre inventando coisas que não aconteceram. Harry foi ficando cada vez mais revoltado com Snape, a ponto de poder transformá-lo em uma lagartixa manca ali mesmo, em frente aos professores e ao conselho.

-         Basta, Severo Snape – disse Sally Morgan, por fim (um alívio para Harry) – por favor, Alvo, apresente a defesa para o menino.

-         Obrigado, Sally, querida.

Então Dumbledore falou o dobro que Snape, e palavras mais verdadeiras que as de Snape.

-         Todos nós sabemos – disse Dumbledore, fechando seu discurso – que o Avada Kedavra é um feitiço negro, que eu mesmo não consigo realizar. Harry Potter fez o feitiço sim, para se defender de Voldemort. E nenhum garoto da quarta série consegue fazer nenhum feitiço negro, a não ser que seja super-dotado. Muito obrigado.

Então o Conselho fez reconstituições, levando em conta as palavras de Snape e Dumbledore. Chamou Harry, que deu sua opinião.

-         Eu não matei, já disse e vou dizer quantas vezes for preciso, conselheiros – explicou Harry.

-         Basta – interrompeu Hector Knows – pausa para um intervalo. Depois, nos reuniremos com os demais professores para decidir.

Dumbledore deu a Harry uma garrafinha de cerveja amanteigada:

-         Você deve estar com sede.

-         Estou – disse ele, dando um grande gole – eles não me deixaram falar!

-         Será inútil, Harry. Eles jamais acreditarão em você, Nicolau teria que ressuscitar para lhe defender.

McGonagall chamou Dumbledore e os dois tiveram uma conversa séria, pelas expressões lidas nos rostos dos dois.

-         Retornemos à reunião! – chamou Johnny Barnes.

-         Por favor, todos os professores que formam o júri, nos acompanhe. Alvo Dumbledore e Severo Snape, permaneçam aqui – explicou Paul Christmas.

-         Queria que o grande Potter estivesse aqui agora, para defender seu bebezinho – sussurrou Snape, no ouvido de Harry.

-         Só porque o senhor tinha inveja dele! – bradou Harry, com raiva.

-         Eu nunca teria inveja de uma pessoa que já foi julgado duas vezes por esse mesmo conselho! – gritou Snape, esfregando seu dedo indicador no rosto de Harry.

-         Acalme-se, Severo! – pediu Dumbledore sereno.

-         Meu pai... já esteve aqui?

-         E se não fosse pelas notas, teria sido expulso na primeira série! – cortou Snape.

-         Por que o senhor o odeia tanto? Meu pai salvou sua vida, professor!

-         São motivos meus, nada que interesse a um pirralho metido como você!

-         CALE-SE! – berrou Harry, com todas as forças que tinha.

Snape estava a ponto de ferver, as faces rubras e com a varinha em punho.

-         Eu sou capaz de acabar com você, Potter...

-         Já chega, vocês dois! – mandou Dumbledore, cheio de raiva na voz. – o conselho está chegando.

Os professores retornaram aos seus lugares, sérios. Os conselheiros fitavam a todos, cheio de importância. Harry notou que Simon Walton segurava um envelope em branco.

-         O júri votou e o conselho já tem sua opinião formada.

Abriu o envelope lentamente, fazendo mistério.

-         Hoje, o Conselho Escolar se reuniu mais uma vez para decidir o futuro do Sr. Harry Potter. O Sr. Severo Snape, pediu para que o menino fosse internato no Instituto para Bruxos Delinqüentes Menores, para depois ser mandado para Azkaban.

Harry olhou para Snape surpreso e cheio de raiva.

-         O pedido foi negado.

Snape fez uma careta de desagrado.

-         A decisão sobre esse caso foi...