As férias de verão que Harry estava passando, sem sombra de dúvidas,era as melhores de sua vida. Pela primeira vez da sua vida, era respeitado pelos tios e o enorme primo Duda. Respeitado nem era a palavra. Temido, talvez.
Valter Dursley, um homem bigodudo, era o tio de Harry. Ocultava Harry com todas suas forças. Mas, de vez em quando, não conseguia: Harry Potter era um famoso bruxo, que estudava na escola de bruxos mais famosa da Inglaterra, Hogwarts.
- Valter Dursley - disse tio Valter, ao atender o telefone.
- É da casa do Harry Potter? - tio Valter ouviu uma voz fininha, que parecia estar falando pela primeira vez ao telefone.
- Não tem nenhum Harry Potter aqui - respondeu tio Valter, mal-humorado.
Sorte que Harry estava descendo as escadas para abrir o armário que morara durante anos e pegar seu exemplar da “História da Magia” (o Prof. Binns passara uma redação de no mínimo, dois pergaminhos sobre a história de Hogwarts).
- É pra mim, tio Valter? - perguntou Harry, surpreso.
- Volta pro quarto, moleque
- bradou tio Valter. Mas Harry, usou seu olhar
maligno, o que estava salvando-o nessas férias. Da última
vez, transformara tia Guida, irmão de tio Valter em um grande balão.
Tio Valter olhou-o assustado e passou o fone:
- Seja breve. Se ficar
por mais de dez minutos, corto sua cabeça.
O que parece para muitos
uma terrível ameaça, para Harry foi um elogio. Já
vivera coisas muito piores com os Dursley.
- Harry Potter - atendeu
Harry, numa discreta imitação do tio.
- Harry? Sou eu, Rony!
Ronald Weasley, o melhor
amigo de Harry em Hogwarts. Filho de bruxos, Harry admirou-se em ouvi-lo
falando no telefone corretamente. Rony não sabia usar o telefone,
e no ano passado teve uma lamentável experiência com o aparelho.
- Como conseguiu usar o
telefone?
- Papai está me
ajudando. Como está de férias?
- Bem melhor que no ano
passado, juro - sibilou Harry.
Tia Petúnia, irmã
de Lílian Potter, mãe de Harry, passara pelo telefone, segurando
um pente e sentando-se ao lado do gordo Duda:
- Venha, Dudinha,
vamos comprar seu presente de início de férias. Penteei seu
cabelo, querido - disse ela, dando um lambuzado beijo nas enormes bochechas
de Duda.
Duda olhava cheio de raiva,
querendo fazer inveja no primo. Tia Petúnia estendera a mão
e Duda a apertara. Harry achava ridículo, que, Duda com quatorze,
ainda precisava de segurar a mão da mamãe para sair. Tia
Petúnia passara Duda bem longe de Harry e saiu, batendo a porta
com extrema violência.
- Papai conseguiu
ingressos para a final, Harry! - falou Rony, entusiasmado.
- Final de quê? -
perguntou Harry.
- Você não
se lembra? A final da Copa do Mundo de Quadribol!
Harry deu um gritinho de
satisfação. Quadribol era o esporte mais popular do mundo
mágico e Harry tinha o orgulho de ser o apanhador (responsável
por pegar uma minúscula bola dourada chamada pomo de ouro) do time
da casa de Grifinória.
- Claro! Como pude
esquecer? Vou falar com tio Valter, ele não me quer mais por aqui
mesmo.
- Mamãe disse
que poderia passar o resto das férias aqui. Compraremos o material
da quarta série juntos. Harry! Como você vai vir para cá?
- Pegarei o Nôitibus
Andante até o Beco Diagonal - respondeu Harry, rapidamente.
- Ótimo! Nos encontramos
lá! - exclamou Rony.
- Ei, Rony! - falou
Harry, impedindo-o de dizer tchau.
- Sim?
- Aprendeu a usar o telefone.
- parabenizou Harry. - Hãn... obrigado!
Mas, só uma perguntinha: como se desliga essa coisa?
- Coloca o falador na caixinha
- simplificou.
- Ah, sim! Tchau, então!
Harry desligou e olhou
para a mesa de jantar, onde tio Valter lia o jornal e tomava uma xícara
de café:
- Humm... tio Valter?
- O que é? - respondeu,
grosseiramente.
- Eu queria te pedir uma
coisa...
- SE FOR PARA ASSINAR OUTRO
MALDITO FORMULÁRIO, PODE ESQUECER! - berrou tio Valter, cuspindo
nos óculos de Harry.
- Não é
isso - disse ele, limpando os óculos - bem, um amiguinho da esco...
digo, um amiguinho ligou para mim e pediu para eu visitá-lo amanhã
e passar o resto das férias com ele. O senhor deixa?
Tio Valter olhou para mim
com a cara mais idiota do mundo. Ele jogou o jornal em cima da mesa, bebeu
um gole de café e olhou nos meus olhos:
- SE PENSA QUE EU
O DEIXAREI NAQUELE LUGAR, ESTÁ ENGANADO! - berrou ele.
“Os bruxos também
não o queria lá...”, pensou ele consigo.
- Não precisa
o senhor me deixar lá.
- E como você pensa
que vai? - indagou ironicamente.
- Vou alugar uma cama no
Nôitibus Andante, o transporte coletivo dos bruxos.
Tio Valter caiu na gargalhada.
Harry sentiu-se mal por ter contado do Nôitibus. A barriga tremia
de tanto rir e os óculos iam escorregando pelo nariz.
- Você... está
doido? - tio Valter mal conseguia falar, de tanto que ria - pena Petúnia
e Duda não estarem aqui para ouvir essa idiotice...
- Me dê a permissão
que eu te deixo em paz - Harry já estava aborrecido com o tio.
- Vá, e nos deixe
em paz semanas antes. - respondeu, enfim, enxugando uma discreta lágrima
no canto do olho - além do mais, quero ver o tal Andante...
Harry virou-se e já
na metade da escada disse:
- Sairei logo cedo, avise
à tia Petúnia que não preciso de café da manhã.
- Petúnia não
se incomodaria com alguém como... você - disse tio Válter,
fazendo uma careta de nojo.
Harry abriu o armário
e pegou todos o material da escola e subiu. Do alto da escada, arriscou:
- Não preciso de
trouxas como vocês.
Sorte de Harry, que se
trancou no quarto e não escutou o palavrão que tio Válter
gritou quando ouviu ser chamado de "trouxa".