Capítulo 20 – Sentenças
 

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Walton fez uma pausa teatral e suspirou:

-         Nunca foi fácil... Sr. Harry Potter, o senhor está expulso da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.

Harry abriu a boca. Tudo passou muito depressa pela sua cabeça: os amigos perdidos, nunca mais ele seria um bruxo formado, todo seu mundo que se perdia, a volta para a casa dos Dursley!

Snape não deixou de comemorar. Dumbledore olhou para Harry, tristemente, e todos os professores preferiram não olhar para o garoto, que tinha seu rosto manchado por lágrimas.

-         Bem, antes da cerimônia de partir a varinha, gostaria de acertar umas coisas. Os demais conselheiros estão dispensados – decretou Walton.

Os nove conselheiros restantes se levaram e saíram em direção à porta, sem olhar para Harry, que viu a maioria deles serem cumprimentados por Lúcio Malfoy.

Walton se juntou a Dumbledore e chamou Harry no móvel.

-         Me desculpe, mocinho, a opinião dos demais prevaleceu – desculpou-se Walton.

-         Eu sei – respondeu Harry.

-         Meu Deus, o que diria Tiago? – indagou-se Dumbledore, fazendo Harry se sentir pior e baixando os olhos.

-         O que Lúcio Malfoy está fazendo aqui? – perguntou Harry de repente.

-         Parece que Draco Malfoy o informou que você seria julgado, Harry, e ele fez questão de vir – disse Dumbledore, com uma careta.

-         Ele vai ficar feliz em me ver expulso.

-         Não vai – respondeu Dumbledore, sério – todos vão sentir como você foi importante para Hogwarts.

-         Bem – pigarreou Walton, para retomar a vez de falar – é sabido que o senhor mora com trouxas, verdade?

-         Sim – respondeu Harry sem pestanejar – infelizmente.

-         E não há ninguém que o possa acolher até o período letivo acabe?

-         E porque eu não vou embora logo para a terra dos trouxas? – indagou Harry, se martirizando – eu não vou mais voltar para cá mesmo...

-         Há uma chance, Harry – tranqüilizou Dumbledore – remota, mas há. Eu e Simon faremos de tudo para tê-lo de volta.

-         Quantas vezes já julguei Tiago Potter? – e deu uma risada – porque não ajudaria o filho dele?

Enxugou uma fina lágrima e disse:

-         E então? Sabe com quem ficar?

Por um instante, Harry pensou em Sirius. Seria muito bom passar esse tempo com ele. Balançou a cabeça para espantar os pensamentos: afinal, Sirius Black ainda tinha seu nome sujo.

-         Não – respondeu Harry tristemente.

-         Sim – sorriu Dumbledore – Hagrid.

-         Rúbeo Hagrid? O guarda-caças? É uma ótima idéia! – aprovou Walton.

-         Então, eu vou poder ver meus amigos? – perguntou Harry, esperançoso.

-         Claro – respondeu Dumbledore, sorrindo.

-         Só tem um problema, Harry: vamos ter que quebrar a sua varinha. Mas depois que você voltar, compremos outra na Olivaras, não é? – disse Walton confiante.

Dizendo isso, saiu para confidenciar com Binns, que pareciam ser muito amigos.

-         É uma pena mesmo... – suspirou Dumbledore – não há varinha mais poderosa que essa...

Então Harry olhou para Dumbledore assustado. Por um instante, se lembrou da solução, que ele só poderia contar ao diretor:

-         Podemos procurar uma sala mais vazia?

-         Claro, Harry.

Os dois entraram em uma sala deserta e se acomodaram em poltronas imponentes.

-         Há uma solução. As varinhas Weasley!

-         O quê? – perguntou Dumbledore, sem entender.

-         Os gêmeos Weasley, diretor! Lembra que estão fazendo varinhas falsas? Então, me deram uma que parece muito com a minha!

Dumbledore sorriu de tal maneira que Harry pensou que ele seria capaz de beijá-lo.

-         E onde está essa varinha, Harry?

-         Aqui, comigo – sorriu Harry, ao mostrar a varinha.

-         Certo, certo... então fique aqui, que eu vou chamar os professores e Simon para partir a varinha. Entregue a falsa e não fale sobre isso à ninguém. Ninguém mesmo.

-         Sim, senhor – respondeu Harry prontamente.

Dumbledore saiu da sala e Harry tentou parecer triste ao máximo. Até uma lágrima ele deixou rolar. “Agora estou vivendo num mundo de mentiras... como preferia não ser assim...”

 

 

-         Eu... Simon Walton, declaro iniciada a cerimônia do rompimento da varinha de Harry Potter.

Todos os professores se olhavam, sérios. Harry mantinha os olhos baixos e Snape sorria largamente.

-         Por favor, gostaria que cinco dos professores assinassem como testemunhas. E que ambos “advogados” também. Claro, o réu.

McGonagall, Flitwick, Sprount, Claire R. e Madame Hooch assinaram. Em seguida, Snape e Dumbledore. Então, Harry se aproximou, com as mãos trêmulas e assinou:

 

Harry James Potter

 

-         Pois bem! – disse Walton, com a voz trêmula – vamos partir logo a varinha.

Harry agarrou sua varinha verdadeira e pegou a falsa, tomando cuidado para não se confundir:

-         NÃO! – berrou Harry – POR FAVOR, NÃO!

-         Não torne isso difícil, Harry Potter – disse Walton – facilite as coisas, vamos!

-         Potter – disse Snape entre dentes – entregue a varinha senão vai se ver comigo...

-         NUNCA! – gritou Harry mais alto, salpicando o professor de cuspe – VOCÊ SABE QUE EU NÃO TENHO PARA ONDE IR, OS DURSLEY...

-         PROBLEMA DOS DURSLEY! – berrou Snape ainda mais alto do que Harry – NÃO FAÇA PAPEL DE RIDÍCULO, POTTER!

-         Sim, sim – acrescentou Flitwick, nervoso – vamos, Potter, me dê sua varinha.

Harry tapou os olhos com as mãos, fingindo chorar. Madame Pomfrey acariciou sua cabeça maternalmente. Na verdade, Harry estava olhando por dentro das vestes para poder entregar a varinha falsa.

-         A...aqui está – gaguejou Harry.

-         Obrigado, obrigado – agradeceu Walton, nervoso.

E de dentro das vestes tirou um pequenino martelo dourado, em ouro maciço. Havia um pequeno “H” marcado na parte em que ele bateria na varinha falsa.

-         Eu, Simon Walton, decreto que Harry Potter está expulso dessa escola, sendo que sua varinha será quebrada, perdendo todos seus poderes de bruxo.

Ajeitou-a caprichosamente em uma mesa e Harry lançou-a um último olhar saudoso. Então, lentamente, como se fosse em câmera lenta, Walton levantou o martelo e o bateu com força na mesa, quebrando a varinha em duas partes exatamente iguais.

-         Bem, isso é só. Podem se retirar, senhores.

Dumbledore se aproximou de Harry, fingindo uma solidariedade muita bem fingida.

-         Não se preocupe, Harry, vamos conseguir a sua volta.

-         Eu não seria tão confiante, diretor – bradou Snape.

-         Não só sou, mas acredito cegamente que Harry ainda vai trazer muitas taças para a Grifinória, Severo – respondeu Dumbledore, extremamente calmo e confiante.

“Aconselho a você sair daqui e ir arrumar suas malas. Falarei com Hagrid, amanhã pela manhã você já pode se mudar para a cabana”.

-         Aproveite bem sua última refeição em Hogwarts, Potter – sussurrou Snape, em um tom cantarolado – afinal, a cama de Hagrid é desconfortável e a comida dele parece ração de hipógrafo.

E saiu, rindo a plenos pulmões. Uma risada fria e cruel, sem alguma piedade. Uma risada cortante, que destroçava, que deixou Harry exatamente como sua partida varinha falsa.

 

 

Harry desceu silencioso, ainda acompanhado por McGonagall, vestindo a capa vermelha.

-         Ração de hipógrafo! – disse McGonagall para a Mulher Gorda.

-         É um prazer revê-la, professora – disse a Mulher Gorda, abrindo passagem para os dois.

Praticamente todo o salão comunal da Grifinória parou para ver que Harry havia chegado.

-         Sei que as perguntas são muitas – interrompeu McGonagall, antes que qualquer aluno pudesse perguntar algo – as respostas serão esclarecidas no jantar. Obrigada.

E saiu pelo buraco. Todos os olhos pararam sobre Harry, inclusive três pares de olhos bem conhecidos:

-         HARRY! – gritaram os três ao mesmo tempo.

O menino continuou a subir as escadas, fazendo um discreto sinal para que eles o seguissem.

-         Por onde você esteve durante todo esse tempo? – perguntou Hermione, enquanto se jogava nos braços dele.

-         Na ala hospitalar – respondeu Harry, sério – Dumbledore me internou lá. Suspeitam que eu matei o profº. Flamel.

Harry contou a história para todos os amigos, que abriam cada vez mais as bocas:

-         Vocês não acreditam em mim – confirmou Harry, magoado.

-         Acreditamos sim, Harry – impediu Gina, afagando seus cabelos – acreditamos mais em você do que em qualquer outra pessoa – Rony e Hermione balançavam a cabeça, confirmando.

-         Obrigado – Harry deu um breve sorriso, mas ficou sério depois – mas não iria melhorar nada a minha situação.

-         O que aconteceu? – indagou Rony, preocupado com o tom do amigo.

-         Eu fui expulso de Hogwarts.

Hermione deixou seu corpo cair para trás, desabando em uma cama. Gina escondeu seu rosto e rompeu em lágrimas e Rony ficou boquiaberto.

-         Ex...expulso? – perguntou Rony.

-         Sim – respondeu Harry – partiram minha varinha e tudo mais. Snape os convenceu, ele sabe que eu não fiz nada!

-         Eu odeio Snape! – bradou Hermione chorosa.

-         E você vai voltar para os trouxas, Harry? – disse Gina, com lágrimas cristalinas correndo pelos olhos – nunca mais vamos nos ver?

-         Claro que vamos, Gina – falou Harry – estarei durante esse tempo na casa de Hagrid. Dumbledore e Walton disseram que eu tenho uma pequena possibilidade de voltar para cá.

-         Mas a varinha não será a mesma – disse Rony, triste – sua varinha era muito, muito boa.

-         Eu sei – suspirou Harry, sentindo uma dor fininha por dentro. “Será que mentir faz isso?”, indagou-se ele – mas posso achar outra na Olivaras.

-         Você seria um grande bruxo, Harry – disse Hermione, levantando-se e enxugando os olhos – de verdade.

-         Mas eu não sei um terço do que você sabe! – protestou Harry.

-         Eu já lhe disse uma vez e vou dizer de novo: os livros e inteligência não importam, o que conta é o temos aqui – e colocou sua mão sobre o peito de Harry.

Os quatros se abraçaram em um só abraço e passaram muito tempo ali.

 

 

Quando Harry entrou, os alunos tiveram a mesma atitude que os grifinórios: pararam para vê-lo entrar. O menino tinha todo o apoio de Rony, Mione e Gina, mas, claro, enfrentar um Salão Principal lotado onde todos o olhavam como um extraterrestre, nem mesmo o apoio de Cornélio Fudge bastava.

Malfoy tinha um brilho a mais nos olhos, encantado. Parecia que Snape tinha soltado algo para seu aluno predileto.

-         Não ligue, os ignore – aconselhava Rony ao pé do seu ouvido.

Harry se sentou ao lado de dois gêmeos que o olharam mais desconfiados do que o comum:

-         Sabe – surpreendeu Harry – eu não mordo.

-         Desculpe, Harry – começou Jorge.

-         Mas estão dizendo umas coisas... – explicou Fred.

-         O que? – perguntou Harry.

Dumbledore bateu com uma faca em seu copo, fazendo um barulhinho para chamar a atenção.

-         Prezados alunos, tomei conhecimento de alguns boatos que estão rondando a escola, e eu gostaria de chamar o senhor Harry Potter para conversarmos sobre.

Harry deixou os amigos e alcançou a mesa dos professores, parando ao lado de Dumbledore.

-         Algum aluno gostaria de perguntar algo para o Sr. Potter?

Malfoy levantou sua mão preguiçosamente:

-         Potter, é verdade que você foi expulso de Hogwarts?

Harry o olhou friamente:

-         Sim, é verdade.

Murmúrios se espalharam no Salão Principal como rastilho de pólvora. Os alunos protestavam, indignados, enquanto os sonserinos comemoravam sem nenhum pudor.

-         Silêncio! – ordenou Dumbledore – sim, Sr. Longbottom?

-         Bem – gaguejou Neville – o Harry foi expulso porque ele tentou seqüestrar o profº. Dumbledore e engravidou a Hermione?

-         Claro que não, Neville, francamente! – ralhou Harry, olhando para Mione, que corou.

-         O Harry vai voltar para a terra dos trouxas e explodi-los em pedacinhos? – perguntou uma terceiranista da Corvinal.

-         A parte de explodi-los, não, infelizmente. Mas eu vou ficar por perto.

-         O Draco Malfoy vai morar com você em Hogwarts? – perguntou Ana Abbout, da Lufa-lufa.

-         Graças a Deus, não.

-         O profº. Snape foi quem te condenou? – gritou uma grifinória do sétimo ano.

-         Em parte... – e completou – sim.

Harry respondeu mais uma porção de perguntas, algumas muito absurdas (As detenções ajudaram? É verdade que você pegou detenção por causa de Rony Weasley, que tentou te matar em um carro?), outras até certas (Você vai voltar para Hogwarts?).

-         Já chega – pediu Dumbledore – essa é a última noite de Harry em Hogwarts, ele vai passar uma temporada com Rúbeo Hagrid. Aqueles que acharem justo, uma salva de palmas para ele.

Rony, Hermione e Gina foram os primeiros a aplaudir. Aos poucos, alunos de todas as casas (até mesmo alguns poucos sonserinos) foram aplaudindo e se levantando, os aplausos ecoando pelo salão, junto com os assobios lançados pelos gêmeos Weasley.

Harry nunca pensou em sua vida que fosse tão amado. Os mesmos professores que o tinham expulsado o aplaudiam. Ele olhou em volta, sem saber se chorava ou ria.

O sabor da comida daquele jantar parecia estar especial, por ser (talvez) a última refeição dele em Hogwarts. Sentindo-se demasiado exausto por causa dos últimos acontecimentos, resolveu se recolher, sendo o primeiro grifinório a chegar no Salão Comunal, o que provocou uma visão estranha ao o ver silencioso.

Harry subiu para o seu dormitório, juntando todas as suas coisas e a trancafiando no malão. Seus olhos pararam nos álbuns de fotografia qual era dono: o primeiro de fotos dos seus pais e o segundo fotos suas e de seus amigos. Harry folheou o segundo sem alguma pressa.

-         Ei – disse Rony, que havia chegado e se jogou na cama em que Harry estava sentado – o que você está fazendo, Harry?

-         Olhando essas fotos – suspirou Harry – vou sentir saudades.

Rony tirou o álbum das mãos dele delicadamente e o ajeitou no malão:

-         Não se torture, Harry. Vem, eu vou te ajudar a arrumar suas coisas.

Os dois passaram muito tempo arrumando as coisas, então, por fim, faltava apenas só as vestes negras que Harry trajava.

-         O que é isso? – perguntou Rony, ao ver a varinha verdadeira de Harry.

-         A varinha que você me deu, Rony! – disse Harry, suando frio e arrancando a varinha da mão do amigo – não se lembra?

-         Mas por que você ficou com ela todo esse tempo? – indagou Rony, pressionando Harry.

-         Para poder me lembrar de vocês – explicou Harry – vamos logo, me ajude a procurar algo que tenha ficado de fora.

Harry abriu o armário e se deu com uma caixinha vermelha cor-de-tijolo, escrita “Ronald Weasley”. Curioso, Harry procurou pelo amigo, que procurava dentro do banheiro. Abriu a caixa e sufocou uma risada.

Rony guardava simplesmente todos os bilhetes que Hermione havia mandado para ele. O menino lembrou de bilhetes do primeiro ano até o que ela mandou para Rony quando Harry se hospedava na casa dos Weasley.

-         No banheiro não tem nada – e vendo Harry com a caixa, ficou mais pálido do que Malfoy – Harry! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM ISSO?

-         Desculpe – disse Harry, não segurando mais o riso – mas isso é muito curioso... isso é a peça fundamental!

-         Do que você está falando? – gaguejou Rony, tentando juntar os bilhetes e guardá-los novamente.

-         Você ama a Hermione! – riu Harry.

Rony deixou a caixa cair assustado.

-         Eu? Imagina, Harry, nunca eu amaria ela, a Mione é só minha amiga.

-         Não precisa mais fingir, Rony. Eu sou seu melhor amigo, poxa!

-         Eu acho que você precisa trocar seus óculos. E outra, você foi expulso do colégio, sabia?

-         Não me faça lembrar – Harry tampou a caixa, ainda olhando uma carta que Mione dizia estar preocupada com Harry, porque ele não respondia às cartas (segundo ano deles em Hogwarts) – onde estão as meninas?

-         Hermione está estudando. Parece que é um jeito dela ficar mais calma. E Gina está chorando no dormitório das meninas.

Harry se precipitou para frente, mas Rony o impediu:

-         Ela não quer deixar ninguém entrar. Colocou um feitiço de proteção e deu a senha às colegas dela. Você só entra se tiver a senha.

-         Bem, não tem mais nada para fazer. Então eu vou dormir – bocejou Harry.

-         Espere! – impediu Rony novamente – eu queria lhe dar uma coisa.

-         O que? – disse Harry, sentando-se novamente.

-         Não é muita coisa, sabe, mas o que importa é que foi de coração.

-         Deixe de enrolar, Rony, me diga logo o que é!

Rony tirou do bolso uma pequena esfera de vidro. Uma pequena miniatura do castelo de Hogwarts, que nevava quando balançava.

-         É lindo, Rony, obrigado.

-         Você não notou nos detalhes – sorriu Rony, apontando.

No lugar onde estava escondida a Pedra Filosofal, uma pequena foto de Mione e da Câmara Secreta, de Rony. O rosto de Sirius e Lupin apareciam no Salgueiro Lutador, o de Gina na torre da Grifinória, enfim, amigos de Harry estavam estampados nas janelinhas do imponente castelo.

-         Eu mandei fazer especialmente para você. Gostou?

Harry não disse nada, porque não havia palavras para agradecer.