Capítulo 2 - O reencontro com Lalau e os Weasley
 

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No dia seguinte, Harry acordou cedo. Apanhou os óculos na cômoda e fez um agrado em Edwiges. Desceu as escadas e viu que os Dursley estavam no hall, mas, não estavam esperando por Harry, com certeza.

Harry puxou a varinha do malão e os Dursley se afastaram. Ele guardou-a cuidadosamente dentro da blusa e disse:

- Tchau.

Não obteve resposta. Duda voltou para a cozinha, saltitando, tio Valter fingiu ler o jornal novamente e tia Petúnia regava as rosas. Harry foi caminhando até a caixa de correio e olhou para trás: todos os Dursley estavam espiando pela janela. Harry fingiu não vê-los. Virou a rua e foi se afastando. As três cabeças nas janelas o acompanhava. Harry entrou num beco escuro da já conhecida rua Magnólia e olhou para os dois lados, para ver se nenhum trouxa estava por perto. Harry gelou: uma mulher idosa vinha vindo. Ela piscou para Harry e disse:

- Não se assuste. Sou bruxa também. Estou esperando o Nôitibus.

- Que susto! Pensei que você fosse uma trouxa.

- Para onde você vai, querido? - a bruxa tinha um olhar materno nos olhos, olhando para Harry como se ele fosse uns sete anos mais novo.

- Para Londres - disse Harry - para dizer a verdade, para o Beco Diagonal.

- Vai fazer alguma coisa de especial? - perguntou, curiosa.

- Vou encontrar um amigo e iremos juntos para a Copa do Mundo de Quadribol.

- Ah, quadribol... já tive que punir muitos alunos por causa desse esporte. Jogavam olhos de cobra e corriam pelos corredores para apanhá-lo.

Harry olhou-a surpreso:

- E a senhora? Para onde vai?

- Beauxbatons. Fui zeladora do colégio durante anos, mas, resolvi ter uma vida pacata e abri uma loja no Beco Diagonal. Passarei no colégio para receber o que me falta da aposentadoria.

- Existem outros colégios de bruxos além de Hogwarts? - indagou Harry, admirado.

- Claro! Existem outras mais!

E contou à Harry sobre diversas escolas de bruxos da Europa. Conversando animadamente, viram o estranho ônibus roxo de três andares atropelando gatos, subindo em calçadas e batendo em hidrantes. O jovem Lalau desceu e recitou seu já conhecido verso:

- Bem-vindo ao ônibus Nôitibus Andante, o transporte de emergência para bruxos e bruxas perdidos. Basta esticar a mão da varinha, subir à bordo e podemos levá-lo aonde quiser. Meu nome é Stanislau Shunpikem, Lalau, e serei seu condutor por este dia... ei! Olá, Harry-Neville! Como vai?

- Bem - respondeu Harry baixinho, apenas para que Lalau ouvisse - é só Harry, Lalau.

Lalau estendeu a mão para a bruxa ao lado de Harry e ajudou-a a subir:

- Madame Malkin. Deixe-me ajudá-la a subir.

- Madame Malkin? A da loja de roupas? - Harry estava surpreso.

Madame Malkin deu uma piscada para ele:

- Sim, querido. Já o tinha visto duas vezes, Harry, quando comprou uniformes de Hogwarts no primeiro e terceiro ano. Achei estranho que não se lembrava do meu rosto. Quando precisar de uniformes, vá até minha loja. Farei um precinho bem camarada para você, querido.

Madame Malkin subiu a escada lentamente, se apoiando no corrimão.

- Como ela sabia o meu nome? - indagou o garoto.

- Madame Malkin sabe de tudo - respondeu Lalau, sério.

Harry entregou um galeão à Lalau e subiu, finalmente.

- Onde está Ernesto? - Harry perguntou ao notar que havia outro motorista dirigindo o Nôitibus.

- Férias - suspirou Lalau - como eu queria umas também.

Harry deitara na sua cama e tentou dormir uns minutinhos, mas o motorista acabou freando bruscamente e acordara Harry, assustado.

- Ei, Billy! - gritou Lalau, também assustado - não faça isso! Assusta os passageiros!

- Desculpe - exclamou Billy.

Lalau pegou o jornal dos bruxos, “Profeta Diário”, e leu a manchete para Harry:

- “Trouxa avista Sirius Black” - Lalau fez cara de desdém e Harry não pode deixar de empalidecer.

Sirius Black, acusado por um crime que não cometera, estivera preso durante anos na prisão dos bruxos, Azkaban. Sirius era padrinho de casamento dos falecidos pais e de Harry. Aquela manchete deixara Harry abalado, já que a morte era o destino do padrinho caso fosse encontrado.

- Para mim - exclamou Lalau, tirando Harry de seus pensamentos - Cornélio Fudge não vai encontrar mais o Black. Ele vive dizendo que estão perto de encontrá-lo, mas, acho que nem Merlin saberia dizer onde ele está.

- Black é bem esperto - suspirou Harry - eu sei disso.

O ônibus parou em Hogsmeade, a vila dos bruxos. Harry estava particularmente feliz, pois o padrinho o dera permissão para visitar a vila, coisa que os Dursley não fizeram. Mas, teria que apresentar a autorização direto para Alvo Dumbledore, o diretor do colégio. A Profa. McGonall nunca aceitaria, e para complicar, perguntaria quando Harry tinha visto seu padrinho. Dezenas de bruxos desembarcaram, esvaziando o Nôitibus. Sobrara um bruxo de cabelos dourados e cacheados, Madame Malkin no andar de cima, Harry e uma bruxa extremamente grande que carregava um gato no colo, alisando demoradamente.

- Ah! - exclamou Lalau, satisfeito - esportes! “Irlanda chega à final da Copa de Quadribol”... “depois de esmagar a seleção da França por duzentos a vinte, a seleção favorita, Irlanda, chega à final, jogando contra a Bulgária”. Puxa! Apostei com Ernesto que a Inglaterra chegaria à final, mas chegou até as quartas-de-finais...

- Eu vou assistir à final! - disse Harry, empolgado.

- Que bom - respondeu Lalau, com uma pontinha de inveja - queria muito ir, mas, não posso abandonar meu trabalho...

Passaram o resto da viagem discutindo as chances de cada seleção, os jogadores até que Billy gritou:

- Chegada no Caldeirão Furado!

Harry desceu e pegou seu malão e Edwiges, ajudado por Lalau.

- Então, tchau, Lalau! - despediu-se Harry.

- Tchau! - ele respondeu - mande-me uma coruja quando já houver um ganhador. Vai ser bem fácil de achar esse ônibus tão... discreto.

Harry riu com gosto e viu Lalau acenando do ônibus, que subiu na calçada mais uma vez. Entrou no bar arrastando o malão e foi ajudado por Tom, o balconista. Tom o dera um refrigerante e Harry seguiu para a parede.

A parede era encantada, e Harry abriu-o tocando no tijolo mágico. Logo avistou os cabelos vermelhos de Rony na sorveteria Florean Fortescue. Ele tomava um enorme sundae com o pai, Arthur Weasley.

- RONY! - gritou Harry.

O menino de cabelos vermelhos se virara: não era Rony, era Percy, o rapaz recém-formado em Hogwarts. Os cabelos bem penteados, óculos de tartaruga. Ele foi andando até Harry e estendeu sua mão:

- Harry - ele disse, como se fosse um político - que bom que está aqui. Rony não pode vir, estava ajudando mamãe. Venha, junte-se à nós.

Percy ajudou Harry com o malão e colocou o malão ao lado da mesa. O Sr. Weasley deu um sorriso amigo para Harry:

- Ainda bem que nenhum Black esteve com você, Harry.

O Sr. Weasley trabalhava no Ministério da Magia e um ano antes, tinha avisado à Harry que o fugitivo estava atrás dele.

Harry cumprimentou Florean e pediu um sundae para ele também:

- E então, Harry, como chegou aqui? - perguntou Percy.

- Paguei uma cama no Nôitibus Andante.

- Ótima saída - respondeu Percy, sorrindo.

- Percy não quis ir para a Copa do Mundo - disse Sr. Weasley, estufado de orgulho - Vai ter um teste para ingressar no Ministério da Magia, precisa estudar.

Percy estufou o peito com orgulho. Harry comeu o sundae demoradamente e perguntou ao Sr. Weasley como voltaríamos para a casa da família.

- Pó de flu - respondeu.

Harry tivera uma experiência meio traumatizante com o pó de flu: fora parar num lugar errado. O Sr. Weasley pareceu ler seus pensamentos:

- Tudo bem. Não haverá maiores problemas dessa vez.

Sr. Weasley pegou o pote da planta que dava o pó de flu. Deu uma pitada para Percy, outra para Harry e apanhou uma para si. Voltaram para o Caldeirão Furado e Harry entrou debaixo da lareira, prendendo Edwiges no pulso e ajeitando o malão para mais perto de si:

- O que eu tenho que gritar? - perguntou Harry, suplicante.

- "Casa dos Weasley". - respondeu Percy - não esqueça, Harry, grite bem claro.

- Po-pode deixar - gaguejou Harry.

Fechou os olhos e pensou: "Bem claro, Harry, bem claro".

-    Casa dos Weasley - gritou Harry.

Os ruídos voltaram, e a mesma sensação de ser sugado por um ralo. Harry girava forte em chamas verdes, segurando para que o sundae do Florean ficasse onde está. De repente, Harry caiu em uma pedra.

Não queria abrir os olhos, com medo de onde estivesse caído:

-  Ei, Harry! – exclamou alguém empolgado.

Harry foi abrindo os olhos devagar e viu que o rosto sardento de Rony o encarava com um sorriso. Harry levantou-se e limpou-se, achando-se completamente idiota.

-  Fez boa viagem? – perguntou Rony, ajudando-o com o malão – onde estão Percy e papai?

-   Devem estar chegando – murmurou Harry.

Os gêmeos Weasley, Fred e Jorge, desciam as escadas murmurando algo. Cumprimentaram Harry e pegaram o malão e Edwiges, subindo as escadas e levando para o quarto de Rony e Percy.

Rony levou-o para fora e mostrou-o a vassoura de corrida que ganhara, uma Nimbus 2000, a antiga vassoura de Harry:

-  Quase não acreditei quando vi – disse Rony, empolgado – papai me deu quando passei de ano. Não entendi porque, já tinha passado de ano outras duas vezes...

A Nimbus 2000 era uma boa vassoura, mas, não se comparava a Firebolt de Harry, a melhor vassoura de corrida do mercado. Harry sabia que Rony estava muito bem com a vassoura, já que os Weasley não tinham muito dinheiro.

Rony subiu na vassoura e disse para Harry:

-   Vamos jogar quadribol. Estou treinando para ser o mais novo goleiro de Grifinória.

Harry subiu na sua Firebolt e provocou:

-   Vamos ver quem chega primeiro no campo.

-   Não vale! Você tem uma Firebolt! – resmungou Rony.