Capítulo 6 - Chaleiras voadoras
 

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- Eu ainda não consigo acreditar – repetia Rony, passando um exemplar do “Profeta Diário” para Harry:

- “Harry Potter agarra o pomo e dá o título para a Irlanda” – não acho que foi eu quem agarrei. Foi Bill.

- Corta essa, Harry! Toda a Irlanda está aos seus pés e você ainda tem modéstia?

Rony estava certo. Harry fora filmado, fotografado e não havia um irlandês que não se curvasse para Harry. Estavam a caminho da casa dos Granger, onde a Sra. Weasley e Gina tinham ficado. Hermione veio ao caminho deles aos pulinhos:

- Harry, mal posso acreditar! Você saiu no jornal, todo mundo está falando que Harry Potter ganhou o título para a Irlanda! – disse Hermione, sorrindo - Rony, você também saiu no jornal! – acrescentou ela, ao ver a cara de Rony.

- Saí, foi? – ele perguntou, encabulado.

- Saiu, sim, Rony – respondeu a Sra. Weasley, sapecando um beijo estalado em Rony, o que fez Fred e Jorge rirem.

Depois das despedidas, todos entraram no carro. Fred e Jorge não pararam de contar a partida com os mínimos detalhes para Gina:

-... então o pomo veio voando na nossa direção. Harry apanhou-o – contava Fred.

- Acho que todo o estádio parou para ver Harry – acrescentou Jorge.

- Harry girou o braço e mandou o pomo para Bill, não foi Harry?

- Ahã? O que?

Harry estava repassando mentalmente toda a alegria daquele dia. “O dia mais feliz da minha vida, talvez”., ele pensou.

- Parabéns, Harry. Foi realmente um enorme feito – Gina olhava para ele com uma profunda admiração, o que fez Harry corar. Gina não era mais uma menininha bobinha do primeiro ano. Estava mais madura e mais bonita, também. Amadurecera muito nos últimos anos, já enfrentava Harry com os olhos e dirigia a palavra para ele. Às vezes, até sorria.

A Toca já era vista ao longe. O velho vampiro colocou a cara para fora da janela e fez uma careta ao ver que os donos haviam chegado. O Sr. Weasley estacionou bruscamente, que fez os cabelos da Sra. Weasley ficarem em pé:

- Arthur! Seu irresponsável!

- Desculpe, Molly querida – desculpou-se o Sr. Weasley – acho que algo deve ter dado errado, mas, estou feliz que meu carro está bem.

- SEU CARRO? – berrou a Sra. Weasley, cujo berro fez Harry encolhe-se no banco. Gina piscou para ele – AINDA BEM QUE NÓS ESTAMOS BEM!

- Vamos descer – sussurrou Rony – ela vai ter um ataque.

Harry e Rony desceram do carro e entraram na Toca. Subiram até o quarto de Rony e Percy, que estava concentrado em um livro intitulado: “Ingresse no Mistério da Magia já!”.

- Harry – ele suspirou – li o que você fez no jornal. Todos no Ministério só falam disso. Achei que isso não foi certo.

- Percy olhe só: Harry ganhou o título para a Irlanda. O que há de errado nisso.

- Rony olhe só – disse Percy, imitando Rony – não imagina o risco que Harry está correndo. Escutei no Ministério...

Percy parou nervoso. Roeu as unhas e olhou para Harry aflito.

- Percy, se você escutou que eu vou morrer, pode contar – encorajou Harry – conta logo!

- Seguidores... de Você-Sabe-Quem búlgaros, estão atrás de você, Harry. Querem sua cabeça. Fudge estava pensando em mandar alguns dementadores vigiá-lo e...

- NÃO PRECISO DE PROTEÇÃO DE NENHUM DEMENTADOR! – berrou Harry, nervoso – MANDE OS BÚLGAROS VIR! ACABO COM TODOS ELES!

Rony agarrou Harry, impedindo-o de avançar em Percy. Ele se levantou, foi até a porta do quarto e suspirou:

- Harry, meu jovem, tome cuidado. Esses caras são loucos. À propósito, passei no teste. Faço parte do Escritório de Controle do Uso Indevido da Mágica, e não vou perdoa-lo se fizer mágica fora de Hogwarts.

Rony fez uma cara de mais profundo nojo depois que Percy fechou a porta:

- Dá pra acreditar que é meu irmão?

Lá de baixo, a Sra. Weasley gritava de alegria: “Não acredito, Percy! Você conseguiu!”. Harry desabou na cama:

- Esses seguidores estão mesmo atrás de mim?

Disso, uma coruja começou a bater furiosamente no vidro da janela de Rony. Rony abriu a janela e a coruja jogou um bilhete em cima de Harry. Depois, foi embora.

Harry abriu o bilhete e leu:

 Harry Potter nunca mais será o mesmo depois de dar a vitória para a Irlanda. Espere que você terá seu troco. Phillipe Hason manda lembranças.

 Harry ficou branco e passou o bilhete para um Rony curioso:

- Harry, isso é uma ameaça de morte! – disse Rony, trêmulo – você deve mostrar para papai imediatamente e...

- Não vou mostrar nada à ninguém – decidiu Harry – não quero preocupar seus pais.

- SUA VIDA VALE MAIS QUE A PREOCUPAÇÃO DE MEUS PAIS!

- Rony, querido! – a Sra. Weasley gritou lá de baixo – o que está acontecendo? Desça para comemorar o ingresso de Percy no Ministério!

Rony olhou para Harry ameaçador. Harry rasgou o bilhete e jogou-o pela janela, o que fez Rony bufar. Os dois amigos desceram as escadas sem se dirigirem uma palavra.

A Sra. Weasley havia preparado uma festa em poucos minutos. Fred e Jorge estavam, com certeza, preparando uma para Percy, que estava estufado de orgulho. O Sr. Weasley deixava lágrimas de felicidade rolarem pelo rosto enquanto fazia um discurso emocionado. A Sra. Weasley abraçou Percy (o que a fez ficar do tamanho de um anão de Gringotes) e chorava compulsivamente.

Fred e Jorge estenderam o certificado para Percy, que gritou de choque. Gina tomou da mão de Percy e leu em voz alta:

-       Certificamos que o Sr. Percy Weasley Tremendo Chefão teve êxito em seu teste de ingresso ao Ministério. Pena que ele tenha transformado o Sra. Matilda Hopkirk, chefe do Escritório de Controle do Uso Indevido da Mágica, em um enorme dragão velho. Esse fato é verdade e dou fé. Cornélio Fudge, Ministro da Magia – todos, em exceção da Sra. Weasley (e Percy, que estava paralisado de choque), gargalharam.

-       Eu... sempre... tive vontade... de transformar a velha Matilda em um dragão – disse o Sr. Weasley, limpando as lágrimas do rosto.

-       FRED! JORGE! – mas, Fred e Jorge não estavam mais lá. A Sra. Weasley tinha transformado os dois em ratos. Fred era malhado e Jorge, preto. – EXPLIQUEM-SE! PERCY, COITADO, PARECE TER SIDO ATINGIDO POR UM FEITIÇO DE PETRIFICAÇÃO!

-       Mamãe – guinchou o rato malhado – é apenas uma brincadeira. Nos transforme de volta, mamãe.

-       VOCÊS MERECERAM! – a Sra. Weasley bufava de raiva, seu rosto estava vermelho. Harry e Rony se encolheram no sofá e Gina abraçou o Sr. Weasley.

-       Mamãe – o rato preto suplicou em guinchos – o feitiço é temporário. Daqui a quinze minutos, o certificado voltará à ser como sempre foi e...

-       FEITO! – ela berrou – FICARÃO COMO RATOS ATÉ QUE O CERTIFICADO VOLTE AO NORMAL – a Sra. Weasley apanhou uma gaiola e trancafiou os gêmeos dentro dela. E deu um soco ameaçador em direção aos que não participaram da briga – E AI DE QUEM SOLTÁ-LOS!

Harry sentiu um grande medo dentro de si. Mas, segundos depois, a Sra. Weasley voltou a ser doce e meiga, enquanto sussurrava palavras de carinho para Percy, tentando reanimá-lo. Harry sentiu sono e pediu licença aos presentes; Rony resolveu esperar até que Fred e Jorge voltassem ao normal para poder caçoá-los. Harry desabou sobre a cama e dormiu, sem ao menos tirar os óculos. Amanhã seria dia de voltar para Hogwarts. Voltar para casa.

 

A manhã seguinte foi bem confusa. Todos estavam se apressando, arrumando as coisas. Percy (que não ia para Hogwarts), coordenava tudo com a experiência de sete anos. Gina e Harry acabaram se trombando diversas vezes, o que fez ambos ficarem corados. Fred e Jorge tentavam empurrar a mala para caber um terço da grande compra que fizeram na Zonko’s. Rony estava discutindo furiosamente com Percy, que insistia para Rony levar o kit de alquimia no bolso interno do malão. Até a Sra. Weasley colocou sal no lugar de açúcar no chá de Harry:

- Desculpe-me, meu querido – desculpou-se ela e deu-lhe uma nova xícara de chá para ele, dessa vez, com açúcar – essa confusão está me deixando doida.

O Sr. Weasley esqueceu do jornal dentro do fogão, que ficou totalmente carbonizado. Por fim, todos terminaram de se arrumar. Harry ajeitou o seu malão no carro do Sr. Weasley:

- Ok, todos estão prontos? Fred, onde está o Jorge? Gina, não se esqueceu de nada? Rony, pare de discutir com Percy! – ordenava a Sra. Weasley – Harry, querido, a gaiola de Edwiges está bem presa? ARTHUR! AS CRIANÇAS VÃO CHEGAR ATRASADAS!

Rony bufou: “Ela vai nos chamar de criança até sermos homens barbudos como o Hagrid”.Harry riu do comentário do amigo.

-         Certo – disse o Sr. Weasley – talvez não caiba todos. Molly, prefiro que você aparate até a estação. Percy não vai?

- Ele precisa se concentrar – explicou docemente a Sra. Weasley – amanhã é seu primeiro dia de trabalho.

Fred e Jorge seguraram a risada. Harry subiu no carro e sentou-se ao lado de Gina:

- Chegue para lá – ela ordenou – nunca vi mamãe aparatar.

Harry lembrara que também nunca viu ninguém aparatar. Percy andou dizendo que era uma arte complexa, mas, não foi difícil de aprender. Harry e Gina apuraram a vista e observaram a Sra. Weasley, que disse meia dúzia de palavras. Um forte lampejo surgiu, e no segundo seguinte, Molly Weasley tinha desaparecido.

- Incrível! – exclamou Gina – você conseguiu distinguir alguma coisa?

- Não – disse Harry, intrigado. – mas, não vejo a hora de aprender.

O Sr. Weasley ligou os motores. Fred e Jorge se juntaram a Harry e Gina no banco traseiro. Rony pulou depressa no banco da frente.

- Para você, está mais perto – suspirou Gina – puxa, quarto ano! Estou com medo de não me dar bem no terceiro.

- Você vai aprender depressa – animou Harry – a terceira série não é difícil. Você vai ver, é tão fácil como a primeira e segunda série.

Harry não tinha tanta certeza. Talvez, pelo ano perturbado que foi o anterior, não avaliara o terceiro ano direito. A descoberta de Sirius, Rabicho... Harry torcia para que pudesse ter um ano normal.

- Sabe, Harry – ela começou, e fez Harry tremer por dentro – queria muito ser sua amiga. Sabe, fazer parte do trio fantástico! O famoso Harry Potter, a inteligente Mione Granger e o esperto Rony Weasley!

- E a adorável Ginny Weasley! – acrescentou ele sorrindo – por mim, você já está dentro.

Gina sorriu para ele como nunca sorrira antes. Um sorriso puro, com todos os dentes, que fez Harry arrrepiar até a nuca. Os cabelos cor-de-fogo de Gina tremulavam no vento, os olhos verdes (não tão vivos como os de Harry) contrastavam. Gina Weasley, não adianta negar, estava realmente linda.

- Ei, Rony! – ela virou-se para o irmão e cochichou algo em seu ouvido. Rony fez uma cara branca em direção a Harry, que acenou com a cabeça.

- Ok, Gina – ele suspirou – fale com a Mione. Ela vai concordar. Então Gina, você faz parte do quarteto!

O carro ia se aproximando da estação King’s Cross, parou e estacionou. Harry desceu e pegou o malão junto com Rony e Gina.

Entraram na estação, onde a Sra. Weasley os esperava impacientemente:

- Por que demoraram? O trem vai sair em quinze minutos!

Dirigiriam-se para o espaço entre as plataformas nove e dez:

- Ok, Rony e Harry passam primeiro. Se algo der errado, estaremos aqui para ajudá-los – a Sra. Weasley se referira ao que acontecera no segundo ano, quando não conseguiram embarcar e tiveram que usar o carro do Sr. Weasley para ir para Hogwarts.

Os dois esperaram que um grupo de turistas ligeiramente vermelhos alcançasse a plataforma dez e se dirigiram para a plataforma. Harry fechou os olhos.

Quando abriu, lá estava o Expresso de Hogwarts. Alunos em vestes negras guardavam as malas e se espremiam para conseguir lugares. Uma bruxa com uma voz enguiniçada anunciou:

- Atenção, alunos. O Expresso de Hogwarts partirá em dez minutos. Por favor, pais e responsáveis, deixem a plataforma para o embarque.

- RONY! HARRY!

Hermione vinha correndo em sua direção com um grande sorriso no rosto. Arrastava o malão e Bichento corria ao seu lado:

- Que... bom! Estão... aqui – disse Hermione, recuperando o fôlego. – tenho uma... cabine, por ali! Vamos!

- Espere – Harry puxou-a – Gina. Ela pode ser nossa amiga?

O rosto de Hermione se iluminou:

- Ginny? Claro! Ela já devia estar conosco há tempos... onde está ela?

Respondendo à pergunta de Hermione, Gina atravessou a barreira e se juntou aos novos amigos. Harry, Rony, Hermione e Gina sentaram em uma cabine vazia, no fim do trem. A cabine em que conheceram Lupin e encontraram o dementador.

- Não me traz boas lembranças – disse Gina, deixando-se cair sobre o assento.

O apito do trem soou. Rony e Gina colocaram a cabeça para fora para escutar as recomendações do Sr. e da Sra. Weasley. Harry e Hermione ajeitavam os malões dos quatro. O trem começou a andar e Rony e Gina finalmente se despediram:

- O de sempre – resmungou Rony – cuide de Gina, não apronte nada e não se meta em encrencas.

- Não preciso que cuide de mim! – retrucou Gina.

De repente, algo varreu os pensamentos de Harry. Um cachorro negro, estava sendo maltratado por um homem que vestia uma camisa da seleção de quadribol da Bulgária. Um búlgaro e...

- SIRIUS! – berrou Harry da janela.

Rony e Hermione o seguraram. O cachorro livrou-se do búlgaro e saiu em disparada em direção ao trem. Pulou alto e Harry o agarrou. Ferido, foi arrastado para dentro da cabine:

- Finite Incantatem – bradou Rony com a varinha.

As formas de cachorro desapareceram e Sirius apareceu homem. Harry tapou a boca de Gina antes que ela pudesse gritar e Hermione travou a cabine por dentro.

- Gina, calma – explicou Harry – Sirius Black é do bem! Ele não matou ninguém, é inocente. E acima de tudo, é meu padrinho.

Gina pareceu extremamente assustada quando Harry tirou a mão:

- Depois nós explicamos – disse Rony.

- Sirius – ofegou Hermione – o que você está fazendo aqui? Quem era aquele homem?

- Vim ver Harry – explicou Sirius, enquanto Rony improvisava uma atadura para a perna ferida do padrinho de Harry – estava com saudades do meu afilhado. Daí, aquele homem me pegou.

- O que ele queria? – perguntou, enfim, Gina.

- Me matar. Era um seguidor de Voldemort búlgaro. Ah, Harry, se você soubesse... esses homens querem a sua cabeça!

- Eu sei – disse Harry, lendo o bilhete recebido para todos os presentes da cabine. Hermione e Gina ficaram chocadas e Sirius pareceu preocupado.

- Harry! – falou Gina – por que você não me contou, não contou à ninguém lá em casa?

- Não queria preocupar vocês – explicou Harry.

- RONY! – brigou Hermione – como deixou Harry fazer essa besteira?

- Não me convenceu – defendeu-se Rony – não gostei, é claro, mas, Harry sabe o que faz.

- Harry – disse Sirius, arrepiando os cabelos de Harry – cuidado, garoto. Os búlgaros são perigosos e...

Disso, alguém bateu na porta furiosamente.

- Potter! Abra logo essa porta – a voz fria e arrastada de Draco Malfoy o ameaçava pelo outro lado da porta.

- Sirius, vá embora, depressa! – disse Harry.

- Como? – perguntou Rony – não tem como parar o trem!

- Eu aparato. Comprei uma varinha nova. Trinta centímetros, corda de coração de dragão.

- VÁ! – berraram os quatros amigos.

Sirius aparatou e segundos depois, Malfoy arrebentou a porta com um feitiço Alorromora:

- Que diabos vocês estavam fazendo aqui? – perguntou o jovem Malfoy – ah, não precisa responder – zombou ele, ao ver os quatros ofegantes.

Crabbe e Goyle riram como hienas. Harry olhou para ele com o mais profundo nojo:

- Dê o fora, Malfoy. – o cenário lá fora mudava, o que indicava que estavam chegando à Hogwarts.

- Desculpe, não queria atrapalhar os casaizinhos – zombou ele novamente.

Gina se aproximou com a varinha em punho e gritou:

- Waddiwasi! – o malão de Rony saiu voando e atingiu Malfoy, que caiu desmaiado no chão.  Crabbe e Goyle carregaram Malfoy para a outra cabine.

- GINA! – gritou Rony – parabéns! Derrubou Malfoy! Mas, como você sabia esse feitiço?

- Andei praticando o verão inteiro – sorriu Gina – para caso Fred ou Jorge me jogassem um rato.

Harry, Rony e Hermione explicaram para Gina tudo o que aconteceu no ano passado.

- Malfoy não é o primeiro a apanhar de uma menina – caçoou Rony – Hermione meteu a mão na cara dele ano passado.

- Até hoje eu me pergunto o que me deu naquele dia – perguntou a doce Hermione, fazendo os três rirem.

A bruxa da carrocinha passou na cabine e os quatro compraram sapos de chocolate, feijõezinhos de todos os sabores, delícias gasosas e tortinhas de abóbora e caramelo. Hermione fez todos rirem ao dizer que estava de regime e recusar uma delícia gasosa:

- Ah, Mione, vamos, só uma! Você vai flutuar com as novas delícias!

Mione mordeu um e flutuou meio metro do assento. Os quatros se divertiram muito com a brincadeira de flutuar. Gina foi a campeã; flutuou por mais ou menos quarenta centímetros.

- Estaremos chegando em Hogwarts dentro de cinco minutos. Organizem-se e deixem os malões no trem, que eles serão levados para seus dormitórios em suas casas.

Os quatros saíram da cabine e deram de cara com Malfoy com um enorme galo na cabeça, olhando ameaçador para Gina:

- Sua metidinha enganada pelo Lord das Trevas – ele disse com o mais profundo nojo – amiga de um garoto ridículo e sua cicatriz em forma de raio, um ruivo desengonçado e uma sangue-ruim.

O sangue subiu até a cabeça de Rony, que avançou em Malfoy e socou-o até perder as forças. Malfoy quebrou dois dentes, ficou com os olhos roxos e hematomas. Crabbe e Goyle avançaram também para cima de Rony, batendo e deixando-o desmaiado. As garotas berravam desesperadas, principalmente Gina e Hermione. Simas Finnigan controlou a situação:

- Tudo bem, pessoal, afaste-se! Harry, ajude a acordar Rony. Vocês dois – disse ele, apontando para dois estudantes do sétimo ano – tirem esses dois panacas daqui. E Dino, leve o Malfoy para frente.

Simas e Harry davam tapas no rosto de Rony, que não acordou até o trem desembarcar.

- Alunos... – começou uma voz familiar.

- HAGRID! – berrou Hermione – Hagrid, Rony precisa de ajuda! Crabbe e Goyle o desmaiaram, Rony não está nada bem!

- Calma, Mione – tranqüilizou Hagrid, abraçando-a. Hermione chorava muito – vamos pegá-lo. Madame Pomfrey vai curá-lo, aposto um ovo de dragão.

Hagrid pegou Rony, que estava em uma maca que a bruxa da carrocinha havia conjurado. Pareceu um bonequinho frágil nos braços fortes de Hagrid.

- Ok – ele disse – peguem as chaleiras que Rony vai comigo nos barcos – ALUNOS DO PRIMEIRO ANO POR AQUI! – berrou ele em seguida.

Harry, Gina e Hermione, extremamente preocupados, seguiram o resto da escola. E chegaram em um lugar, um barranco, onde haviam em vez das velhas charretes, enormes chaleiras.

- Chaleiras? – perguntou Harry desanimado.

- Podem ser chaleiras encantadas! – disse Hermione, empolgada.

- Só saberemos se subirmos – disse Gina, puxando os dois amigos. Os quatros subiram em uma enorme chaleira dourada, que quando sentiu o toque da porta tremer, começou a girar. Harry olhou para Hermione enjoado: a menina pulava de emoção.

- Sempre adorei montanhas-russas!

- O que é montanha-russa? – perguntou Gina.

Mas não deu tempo de responder. A chaleira foi levantando vôo rodando, rodando e rodando... lá de baixo, Harry pode ver os barquinhos atravessando o lago. Olhou para a chaleira negra do lado: Crabbe, Goyle e... Malfoy! Com os olhos roxos, dois dentes quebrado e extremamente verde, como no dia em que Harry e Hagrid (verde como Malfoy) pegaram o vagonete desgovernado.

- Ei, Malfoy! – zombou Harry – cuidado pra não vomitar!

A chaleira de Harry, Hermione e Gina tomaram a dianteira antes que Malfoy pudesse responder, ou se Malfoy pudesse responder. Gina estava branca e Hermione dava gritinhos de excitação. Harry desviou o olhar das duas e voltou-se para a lua cheia que brilhava no céu.

Um brilho anormalmente estranho. Harry fixou o olhar na lua. E viu. Viu alguém passar voando em uma vassoura. Harry viu a sombra dessa pessoa. De repente, sua cicatriz começou a dor... ecos...

“O Harry não, o Harry não, por favor, o Harry não!”

“Afaste-se, sua tola... afaste-se, agora...”

“O Harry não, por favor, não, me leve, me mate no lugar dele...”

Uma respiração muito forte...

“Tiago está morto, Voldemort... você conseguiu, levou o herdeiro, meu marido, o pai desse bebê... mas não Harry!”

“Não vou sossegar até que todos os Potter estejam mortos... até uma sangue-ruim como você!”

Uma luz verde muito forte... um grito, um choro de bebê.

“Harry não! Por favor,... tenha piedade... tenha piedade...”

A voz foi murchando... uma gargalhada fria e alta.

- Harry! Você está bem?

Hermione e Gina estavam o encarando. A chaleira ainda voava.

- O que aconteceu? – perguntou Harry, enxugando a testa de suor.

- Você viu algo – explicou Gina, trêmula – aí você fechou os olhos e começou a se contorcer. Você disse algo de herdeiro...

- Você teve uma visão muito triste – concluiu Hermione.

- Eu vi algo e juro que não estou louco! – gritou Harry. Hermione tapou a boca dele e disse calmamente:

- Ok, Harry, conte-nos. Mas, por favor, não grite.

Harry contou tudo para as amigas. Da sombra que viu, da cicatriz, dos ecos da morte da mãe e mais algo de novo que ele ouviu.

- Algo do meu pai ser herdeiro... – tentou lembrar Harry – não tenho certeza.

- Harry – disse Hermione – você pode ter visto alguém que voltou Harry. Ah, Harry, você corre perigo! Você sabe quem está por perto quando sua cicatriz dói.

- Voldemort – disse Harry.

Gina e Hermione tremeram. Até a chaleira pareceu tremer de medo.

- Vejam! – apontou Gina – estamos chegando em Hogwarts!

O castelo estava aumentando ao longe. As torrezinhas e torres deslumbravam para eles. O castelo estava belamente iluminado. A chaleira foi descendo, descendo, até dar um furioso tranco no chão.

A enorme porta de carvalho se abriu para os estudantes que estavam nas chaleiras voadoras. Harry apreciou o saguão e pensou: “Aqui estou seguro. Nada de mal me acontecerá.”