Joãozinho e Maria

Hans Christian Andersen

Era uma vez um lenhador muito pobre que vivia em uma casinha no meio da mata.

Apesar de muito trabalhador, passavam fome. Numa noite, depois da ceia, a mulher disse que não havia coisa alguma que comer na manhã do outro dia. O homem começou a pensar  e acabou dizendo:
       — Não vale a pena eu estar com meus filhos juntos comigo para que morram de fome. É melhor deixar os dois na mata. Pode ser que encontrem uma alma caridosa e Deus tenha pena deles que são inocentes.


    
   A mulher não dizia nem sim nem não e rezava.
       Entre os filhos havia uma casal,  chamado João e Maria. Eram muito apegados um ao outro. Joãozinho ouviu a conversa do pai e compreendeu tudo.

 Pela manhã o lenhador pediu que se vestissem  e o  acompanhassem até a floresta  para  pegar  lenha. Joãozinho levou o bolso cheio de pedrinhas brancas do terreiro da casa. Iam andando, andando, e aqui e acolá o menino punha uma pedrinha marcando o caminho.

Perto  do meio-dia o lenhador parou e disse:


       — Fiquem aqui descansando que eu vou procurar umas abelhas e um pouco de mel. Quando ouvirem um assobio grosso, sou eu. Vão no rumo...
       E sumiu-se na mata escura. Joãozinho e Maria esperaram um longo tempo e nada de ouvir o chamado do pai.
  
     — Estamos perdidos, valha-me Deus, chorou Maria.


       — Vamos voltar para casa, respondeu Joãozinho.
       Botaram o pé no caminho, olhando as pedrinhas e lá para tantas da noite chegaram  em casa. Estavam todos ceando porque um devedor pagara a conta e havia dinheiro para vários dias. Fizeram muita festa e foram dormir.
   
    Quando o dinheiro acabou e a fome apareceu, o lenhador começou remoendo a idéia de deixar os dois filhos no meio da mata. Joãozinho não pôde apanhar as pedrinhas brancas porque a porta estava fechada e a chave tirada.

 Guardou o pão que recebera no jantar e, quando amanheceu, os três seguiram viagem. Joãozinho ia ficando atrás e espalhava pedacinhos de pão. Os passarinhos comiam. Sucedeu a mesma coisa da vez passada. O lenhador foi procurar abelhas e mel e  quando os filhos o procuraram não o encontraram mais . O menino quis voltar mas não viu mais os sinais que deixara, pois os passarinhos haviam comido tudo. Ficou triste mas não perdeu a coragem.


    
   Andaram, andaram. Quando ia escurecendo , Joãozinho subiu em uma  perna-de-pau que era muito alta. Lá de cima enxergou, ao longe, uma fumacinha. Desceu  depressa, e foi em direção a fumaça levando a irmã.
       Encontraram uma casa muito bonita, toda clara por dentro e uma pessoa cantando.

Chegando para mais perto as duas crianças viram que a casinha era feita de bolos e as telas açucaradas. Joãozinho quebrou um pedaço e entregou a Maria.

 Uma voz perguntou:
       — Quem está comendo a minha casinha ?


       Esconderam-se depressa mas voltaram para comer mais.
       E de novo a voz perguntou. Na terceira vez ouviram a voz bem descansada, bem nas costas deles:
       — Ah! São vocês, meus netinhos? Tão bonitinhos e magrinhos! Entrem...


       Entraram e a velha, que era uma feiticeira, deu um jantar gostoso para os dois  e depois levou-os para um quarto onde havia de tudo. Fechou a porta e deixou-os dormir. No outro dia, a comida passou  a ser apenas pão e água, e assim sucederam-se todos os dias. Joãozinho soube que a velha bruxa comia crianças e os estava engordando  para depois comê-los. 

 Joãozinho, então caçou uma lagartixa, cortou-lhe o rabinho e todas as  vezes em que a velha trazia comida e perguntava como eles estavam ele respondia:
    
   —Estamos muito bem.


       —Então mostre-me o seu dedinho!
       
Joãozinho mostrava a cauda da lagartixa.

 A velha bruxa , então dizia:
       — Você está  tão magrinho!Precisa comer mais , meu netinho. E o tratava muito bem.

Meses depois, Joãozinho e Maria estavam gordinhos, corados e fortes mas sempre mostrando o rabinho da lagartixa. Infelizmente, numa vez, Maria perdeu o rabo da lagartixa e quando a velha pediu que mostrassem o dedinho, Maria mostrou o dedinho. A velha apalpou, lambeu os beiços e disse:


       — Estão no ponto. Vão saindo, meus netinhos...
       
Deixou os dois saírem e deu um jantar de gente rica. Passou a noite fazendo arranjos e amassando pão. Pela madrugada acordou Joãozinho e disse que fosse buscar lenha cortada em toras. Ficou olhando para um lado e para outro pensando no que devia fazer quando ouviu umas vozes dizendo:
       — Joãozinho?
       — Oi?
       — Leva a lenha para dentro e quando a velha acender a fornalha  e pedir que você e sua irmã atravessem a tábua que ela colocou no meio, digam que é melhor ela atravessar primeiro para ensinar. Depois empurrem a velha no fogo e não tenham pena.


    
   Assim mesmo foi. A velha acendeu uma fornalha que dava para assar dois bois. Atravessou uma tábua no meio e pediu que as crianças passassem para o lado de lá. Joãozinho disse que era perigoso e que não sabia fazer. __Melhor  a senhora ensinar-disse.

 

 A feiticeira subiu  e quando estava bem na metade, os dois puxaram a tabua  bem depressa. A velha perdeu o equilíbrio  e caiu  na fornalha e morreu.
       Joãozinho e Maria correram a casa toda e viram que os quartos estavam cheios de riqueza:  roupas, pedras preciosas , muita comida e muita bebida.
       Encheram uma porção de sacos com mantimentos e riquezas  e foram  para a casa dos pais onde chegaram, depois de muitos dias.

 O lenhador, muito arrependido, ficou quase doido de contente, e abraçou os filhos chorando.

A mãe e os irmãos choraram de alegria. E , assim, viveram todos felizes para sempre.

 

 

Hans Christian Andersen

Com Amor

 

Odinéia

 

 

 

Voltar