Compartilhar
Ho’o
ka’ana
(Dividir
eqüitativamente com...)
As definições que
encontramos em Português, Inglês e Havaiano nos leva sempre
ao significado de
divisão, mas uma delas nos mostra o compartilhar dos
ensinamentos Huna
Compartilhar – Ter ou
tomar parte em, participar de, partilhar,
compartir
(Michaelis)
Partilhar – repartir,
dividir em partes, participar, fazer partilhas amigável ou
judicial. Tem também
o sentido de compartilhar.
To share=
Compartilhar
To Share
= mahele, ka’ana, pu’unaue – ho’o
ka’ana (Hawaiian
Dictionary
– mary K. Pukui
e Samuel H.
Elbert)
Ho’o ka’ana – dividir eqüitativamente entre
vários
Ka’ana – dividir
Mahele – Porção, divisão.
Pu’unaue – dividir
Ignorância – Visão
limitada.
Falar de compartilhar
no sentido Huna requer um estudo mais aprofundado dos sete
princípios do
xamanismo havaiano.
Nosso crescimento
depende das ações praticadas no dia a dia dos nossos
sonhos básicos de vida,
através das vidas sucessivas.
Pensemos que já
estamos com padrões que nos permitem intelectualizar e adquirir
conhecimentos
que nos propiciam a formação de memórias que
sustentam os pensamentos que são
as bases de nosso comportamento e crescimento.
Sendo assim esse
crescimento, estaremos praticando ações baseadas nos desafios (ignorância, limitação,
confusão e procrastinação). de um ou dos quatro primeiros Princípios (Ike, Kala,
Makia e Manawa) xamânicos havaianos, sem o uso dos talentos (visão, esclarecimento,
focalização e presença) Teremos então,
uma visão sem clareza das vivências,
devido à ignorância como desafio do
Princípio IKE. Conforme
vamos crescendo espiritualmente, os
desafios vão sendo usados e aprendemos que nossas
ações são frutos da
necessidade de somarmos cada vez
mais os bens mentais e físicos adquiridos. Subtraímos
do meio e das pessoas o que pudermos, nas negociações
constantes com uma visão
de possuir. Dessa matemática, originou o trocar
e com ele o apego e a posse, dando início ao desenvolvimento
e crescimento
do sonho básico de vida. Apegamo-nos
a tudo como uma garantia e segurança para a sobrevivência,
que passa a ser mais
exigente a cada posse adquirida.
Os
pensamentos são cheios de desejos de
multiplicar as posses para um futuro garantido para nós e o de
nossos
herdeiros, que farão uma divisão dos bens dentro dos
desafios, o que sempre gera confusão e
desagregação por não terem descoberto
a função dos talentos dos Princípios, muitas vezes
necessitando da intervenção
de um partidor.
Possivelmente o
primeiro passo seja a beneficência, doação das
posses sem deixar de multiplicá-las.
É uma mudança pelo início da
dinamização dos talentos, até o reconhecimento do
talento presença (perda da
procrastinação). Isso acontece quando começamos a
perceber os últimos três
princípios que estão num nível diferente.
É reconhecer as posses
e o apego para começar a perceber o que é dividir.
É o início da percepção dos
quatro primeiros princípios conduzindo não ao
entendimento, mas à compreensão
dos desafios dos três últimos princípios Aloha,Mana e Pono), chegando-se a uma
percepção
diferente.
A ignorância gera a
confusão encadeando o ciclo dos desafios que culmina sempre numa
dúvida.
Aprofundaremos um pouco sobre visão do
talento do IKE. Que não é a
visão sensorial - fisiológica.
Segundo o principio IKE – o mundo é
o que você pensa que ele é,
como sabemos tem como desafio a
Ignorância – que significa falta de visão, ou uma visão
superficial, dando como
resultado um IKE primitivo ou com
pouco crescimento. Isto é, um sonho básico com pouco
conhecimento.
O Princípio
em si é um arquétipo e como tal é
imutável; ele traz a essência em si mesmo e, só
pode por nós ser percebido
através dos símbolos. Suas manifestações se
dão por intermédio de seu talento
ou atributo.
Estamos dizendo que toda a dinâmica que
impulsiona a alma a um
desenvolvimento e a um crescimento está subordinada ao talento.
Ele guia o indivíduo para as experiências
conforme seu potencial fazendo com que sejam transformadas em
memória; é o IKE do aqui/agora.
Trabalhando com a ignorância aos poucos as
vivências vão dando forma e sentido às
experiências e a visão vai dinamicamente
orientando dando um sentido à vida.
É pela visão que percorremos todos os
desafios e seus princípios na busca do crescimento.
Ela é o primeiro passo para iniciar a
dinâmica da vida.
O uhane
só adquire qualidade de decisão quando tem a visão
clara do pensamento que vai
se transformar em ação. Com a visão sem
esclarecimento, as ações são
inadequadas e as memórias de pouco proveito para o crescimento.
É tornando dinâmica a visão que
enfrentaremos inicialmente os desafios, até que essa
dinâmica se modifique
clareando e direcionando o ser para um progressivo crescimento.
Ela funciona em vários níveis de acordo com
seu desenvolvimento dinâmico, o que proporciona as
vivências desde as do
dia-a-dia até as cientificas gerando o conhecimento e, quando a
visão se torna
bem clara desperta o ser para compreender outras linguagens que mostram
que
pode atingir outros princípios e chegar ao que tanto buscou: a
compreensão de
si mesmo, o caminho místico que conduz ao
PAI AUMAKUA, cuja visão é divina.
Conforme crescemos
espiritualmente os pensamentos vão formando memórias que
são transformadas em
valores e padrões que regem nossa percepção,
formando os costumes e leis.
Quanto mais dependemos dos desafios, mais rígidos são os
costumes e mais
severas as leis, pois tudo está na dependência do
julgamento.
As sociedades vão se
formando, crescendo e sofrendo transformações, de acordo
com o desenvolvimento
dos sonhos básicos através da história dos povos.
Nossa principal
função na vida é trabalhar esses desafios e
crescer para conseguirmos um
entendimento das coisas e chegar à compreensão de que
podemos aliviar nossa
ignorância clareando nossos caminhos, até atingirmos uma
condição de ter uma visão
que nos conduza às mudanças
constantes do Ike. Assim, a
dinâmica de
nossa vida passa a ter um novo elemento que desafia os desafios por ser
atributo real de desenvolvimento e crescimento. A necessidade de multiplicar os bens adquiridos toma um
novo sentido que envolve o social. O sentido religioso passa a ser
importante
mesmo que não seja compreendido e tenha uma razão
diferente do verdadeiro religare, mas a
benemerência passa a fazer parte dos
valores. Essa divisão está ligada ao
que adquiriu somando, subtraindo e multiplicando; o apego às
posses ainda é
fator preponderante nas ações.
Os sentimentos estão
na dependência das decisões do uhane que
são intelectuais e por isso, os
desafios ainda predominam em nossas ações.
A divisão é o
condutor do ser humano na direção do compartilhar.
No Evangelho de Tomé
item 72 Jesus se recusa a ser partidor mostrando que sua missão
está além dos
desafios que só interessam aos que estão em crescimento
espiritual.
Há razões deste
preâmbulo para se falar de compartilhar?
Creio que sim, pois
todas as definições que conseguimos de compartilhar
implica em divisão e para entendermos essa
divisão
acho necessário entender o ciclo de nosso crescimento espiritual
que está
ligado aos desafios dos sete Princípios do xamanismo havaiano,
segundo os
ensinamentos dados pela psicofilosofia Huna.
Enquanto estivermos
sob a ação dos três fatores, somar
subtrair e multiplicar,
nossa divisão estará subordinada ao apego e à
posse dos valores e padrões
adquiridos pelas ações e as conseqüentes
memórias formadas por esses padrões.
Isso quer dizer que ainda estamos buscando libertar-nos dos sete
desafios.
Possivelmente o
primeiro passo seja a beneficência, doação das
posses sem deixar de
multiplicá-las. É uma mudança pelo início
da dinamização dos talentos, até o
reconhecimento do talento presença
(perda da procrastinação). Isso acontece quando
começamos a perceber os últimos
três princípios que estão num nível
diferente.
É reconhecer as
posses e o apego para começar a perceber o que é dividir.
Agora, começa-se a
sentir como se soma, se diminui e se multiplica para perceber que a
verdade é a
divisão.
Este é o sentido do
compartilhar como divisão.
A visão adquirida
através dos vários sonhos básicos vividos quando
se formam os incontáveis Ikes vivenciados aos poucos nos conduzem à
clareza da percepção de adquirirmos novas formas de
pensar, sentir e agir. A
isso chamamos de crescimento espiritual.
São as primeiras
mudanças, são visões adquiridas pelas
mudanças dos sonhos básicos, é a
percepção de que tudo é arbitrário e por
isso estamos limitados. A saturação
das posses nos leva à renúncia do poder dado por elas,
sejam materiais ou
intelectuais.
É o caminho que o
amor conduz para se sentir e se conscientizar de que o mundo de Aloha em busca
do qual estamos, começa a se
delinear através de novos caminhos dados pela compreensão
dos Princípios. É um
encadeamento constante com conscientizações dadas por aumakua.
A partir dessa
compreensão estaremos dividindo no
sentido do compartilhar. O desapego não mais nos permite somar,
subtrair e
multiplicar através das trocas usuais por terem as posses outros
valores.
Dividimos somente o
amor de Aloha
que habita em nós e com o qual sentimos que a
separação que existia em tudo que
pensávamos não mais existe, por sermos
mais do que estarmos aqui/agora;
descobrimos a teia-aka na qual
sempre habitamos, mas não a percebíamos por tê-la
dividido em partes.
A nova concepção de
compartilhar vem de uma linguagem intuitiva que inicia com a
inspiração e
provoca a união do que sempre esteve dividido em uma realidade
que sempre
buscamos: Eu sou.
É uma
bênção que
conduz ao sentir que a realidade está numa dimensão
diferente da até então
vivida. COM-PARTILHAR.
Essa bênção
conduz à sabedoria
que faz do ser humano um verdadeiro xamã, o tecelão de
sonhos que compartilha
os seus sonhos por não haver mais dúvidas em suas
ações. É a visão que
buscamos, mesmo sendo ela inconsciente, por termos como companheiro um unihipili muito carregado de memórias
adquiridas com o uso dos desafios e sem a dinâmica dos talentos.
Até crescermos
e iniciar nossa evolução procuremos a harmonia entre
uhane e unihipili para um
dia sabermos que se dois viverem na mesma casa em paz e harmonia,
dirão a esse
monte: sai daqui!!! e
ele
sairá (Evangelho Segundo Tomé)
Para adquirirmos
condições de compartilhar no nível espiritual em
que agimos, teremos de aceitar
o caminho que estamos trilhando e perceber que não há
saltos para o início da
evolução espiritual; a meta da caminhada no ciclo de vida
e morte sempre esteve
nos esperando como crianças de Tane em seu regresso ao Seu seio,
ao Seu reino
de onde saímos e para onde voltaremos como ser trino,
imagem e semelhança de Deus, no gozo do eterno compartilhar.
Sebastião
de Melo
outubro 2004