ANÁLISE

Tudo acontece em uma grande cidade, numa noite de inverno.

-Me diga oque vc vê. Diz o homem com um óculos e um caderno, atrás de uma mesa.
-Morte, dor, destruição e flagelo, coisas naturais de sua espécie.
-Se julga de outra espécie? Pergunta, anotando compulsivamente.
-Claro, um humano não viveria 600 anos.
-Ahhh sim, 600 anos.. Repete o homem com desdém.
-.... sim.
-Bom, me conte algo, alguma lembrança vívida em sua mente. Diz o homem, virando a página.
-Certo..
Me ajeito na poltrona, acendo meu cigarro e começo.
-A noite era fria, o sol, a pouco já se escondera e eu acordei..
No meu refugio, uma casa velha, guardada de dia por uma lacaio, e com uma bela vista do da cidade, saio e caminho, por ruas movimentadas. A fome atacara novamente, tentando escolher uma presa fácil, caminho invisível para as pessoas..um truque que alguns de nós sabemos.
-Fome? Pergunta interessado.
-A necessidade de sangue, chamamos de fome. Respondo, fazendo uma pausa, e continuo meu relato.
-Avistei uma mulher, bélissima, que me lembrava meu passado...um amor antigo.
- De quanto tempo? Pergunta arrumando o óculos.
-De quando eu ainda era vivo..
-Caminhei até ela, e me deixei ver...achei que ela havia me reconhecido.
-E havia? Pergunta novamente.
-Sim, ela se aproximou de mim, e me chamou pelo meu antigo nome..
- E qual era?
- Adam.. Adam Sanscour, um belo nome..
- Bem, na sua ficha está escrito que seu nome é Adam Smith.
- Sim, eu sei..
- Bom, continue..
- Assustei-me, pensei que ela era uma de nós... mas me lembrei que eu a matara para saciar seu desejo.
- Sim, prossiga... Percebi o interesse do homem aumentar.
- O nome dela era Catherine, tão linda, com cabelos ruivos e olhos verdes.. meu primeiro e único amor, moravamos em uma vila, no interior da Inglaterra.
- A conheci numa primavera, o pai dela a trouxe de outra vila, onde morava com uma tia, tornano-mos amigos na infancia, companheiros na adolescencia, e amantes na maturidade.. até aquela maldita noite...
-Que noite? Rabiscando compulsivamente o caderno.
- Eu era apaixonado por lobos, passava várias noites os observando.. desejava ser um deles, mas hoje sou inimigo destes...
-Inimigo?
- Sim, por certo tempo andei com um grupo de Lobos, melhor, corri com os Garous, eles me aceitaram em sua matilha... Foram tempos felizes, de onde me alimentava só de animais.
- E Catherine? pergunta dando uma pausa na escrita.
- Calma, já chego lá..
-Corri com os Garous por seis anos... até Catherine, me chamar de volta.
-Haviam brigado?
-Não..eu me alimentei de nosso filho..
ME contenho, pois a lembrança ainda dói.
O homem só me olha assustado.
-Eramos amantes, um filho nasceu de nosso amor...Phillip.
-Certa noite, meu filho já estava com 7 anos..naquela época, moravamos juntos desde os 15.
-Ela tinha sua idade? Pergunta já esquecendo do caderno.
-Tinha.. bem, nesta noite, fui observar os lobos, e algo estranho aconteceu.. percebi que um lobo me observava.. fiquei aprensivo, esperando o ataque, mas ele me olhava de igual para igual.
- e...
-E.. ficamos olhando e analisando um ao outro por algum tempo.. até que ele sumiu, correndo pra escuridão, após isso, um homem, Sebastian, um vendedor que sempre passava pela vila, chegou a mim e perguntou se havia muitos lobos para observar, repondi que oque havia estado lá, fugira.. ele me respondeu, "não, ele não fugiu"... Estranhei a certeza, mas continuei a conversar.
-Já o conhecia... esse Sebastian.
-Sim, já o conhecia... ele, naquela noite, me contou muitas histórias sobre os lobos, contei as que eu sabia tbm..
-e...
-E.. era faltava quase uma hora para o amanhecer, quando não me lembro de mais nada daquela noite.
- Oque aconteceu?
-Eu morri..
<Doutor, seu último paciente está aguardando.> Diz uma voz no comunicador interno.
-Mais um minuto Thaís..
<Está bem, Doutor.>
-Continue, por favor..
-Certo.. voltando para casa, na outra noite, não lembrara oque acontecera comigo...ao ver meu filho, machucado em virtude de um tombo.. Algo aconteceu.
-Oque aconteceu?
-A fome.. e-eu o matei, e Catherine me viu tomando de seu sangue..
-E oque ela Fez?!?
-Chorando e com medo, gritou para que eu fosse embora, percebendo o monstro que me tornei,abandonei minha casa e comecei a correr com meu senhor e os Garous.. mas sempre que podia, ia até a vila ver como ela estava.
Uma pequena pausa para mais um trago..
-Seis anos depois, voltei a vila, como um humano, ela, na mesma casa, me pediu explicações,as dei, me chamou de volta, e eu voltei... me pediu para que a deixa-se junto com nosso f-filhinho.. Lágrimas de sangue, vem aos meus olhos..mas as "engulo seco".
- E oque vc fez..
-Oque eu fiz?... oque ela pediu... a levei ao paraíso...
-.... Espantado.
-É isso que sou, doutor. Um monstro, assassino e predador, sou um ser da noite, um vampiro, um Gangrel.
Me levanto da cadeira..
- Espere, vou mandar o último paciente embora, fique por favor.
-Não, preciso ir...mas infelizmente o último paciente terá que arranjar
outro Psicólogo.
-P-por que?
-Não posso quebrar a máscara... eu sinto, mas o procurei exatamente por
precisar falar a um de vcs e por não vc ter familia.
-M-m-mais..
Foi sua última palavra.

Um ataque rápido, a garganta arrancada, e um pouco de sangue pra me alimentar..
Um salto pela janela, Ofuscação para desaparecer, e uma caminhada pela rua..
A noite escura, o céu sombrio, as pessoas sem saber da minha existência.
Assim é minha vida...ou morte em vida.
Sou um Gangrel, meu nome é Adam.
Meu maior inimigo mora dentro de mim mesmo, a besta.
E minha história, é uma maldição.