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Para W. H. Já se vão muitos anos. Na esperança de haver o tempo entorpecido tuas memórias mais dolorosas, ouso enviar-te esta numa intenção de suplica, embora reconheça que implorar-te perdão e pedir muito. Ao menos rogo tua compreensão. Devo-te algum tipo de explicação para os eventos que despedaçaram tua vida inocente. Embora tenha eu exibido algumas características surpreendentes diante de ti e de teus pares, a chama de Humanitas, ainda que errática, continua a arder em meu peito. O tempo e a natureza lutam para extingui-la, concluindo dessa forma minha descida ao Inferno da loucura e da bestialidade. Preciso, como qualquer sacerdote, guardar bem minh'alma, posto que o mais sutil lapso na vigilância deixa escapar a Besta, cujos atos viste com teus próprios olhos. Admito ser impraticável qualquer tentativa de reconciliação: toda uma eternidade a demandar perdão seria muito pouco tempo. Contudo, em sinal de penitencia, ofereço-te o documento anexo, ato que faz de mim um traidor de minha espécie. Rezo para que encontres nessas paginas alguma coisa que te ajude a compreender o tormento que te foi infligido, e com isso, talvez dispersar um pouco da tua dor. O tom, receio, e um tanto seco; pouca necessidade nutre um soldado pelos agradáveis floreios de poesia que seduzem um leitor. Pus-me meramente a redigir, da melhor forma que pude, tanto quanto sei. Tenho para contigo um debito que jamais poderá ser pago. Se em algum momento puder servir-te ou a tua família, estarei as ordens. Semper Servus V. T. |