Verbos
-- Acentuação


Acentuação

 

As regras de acentuação aplicam-se às formas verbais como a todos os outros vocábulos do português. Há que não esquecer que se dividem na mesma em agudas, graves ou esdrúxulas. Por exemplo, sempre que constituam palavras esdrúxulas, cuja regra não tem excepção, têm de levar o devido acento. Com os verbos, entre formas de tempos diferentes ou em relação a vocábulos de outras categorias, serve a acentuação para distinguir homógrafas. Assim como não raro se coloca o acento para desfazer o ditongo. Aqui chama-se simplesmente a atenção para formas a acentuar (ou não) que servirão de exemplo das milhentas ocorrências.

Comprá-lo — Dif. de compra-lo. Como dizê-las, repô-lo, fá-lo-emos, percebê-lo-ás, noticiá-lo-ia.

Quisésseis, comêsseis, tínheis, faríeis — São palavras graves terminadas em -eis.

Tem, tens; vem, vens — Não acentuadas.

Contém, conténs; retém, reténs ; convém, convéns — Porque -em é tónico e têm mais de uma sílaba, ao passo que em trazem, conhecem, vissem, dissessem, puserem, a terminação -em é átona.

Têm, contêm, retêm.

Vêm, convêm.

Crer: crê, crêem. Dar: dê, dêem. Ler: lê, lêem. Ver: vê, vêem.

Põe, pões, põem; dispõe, repões, supõem.

Caí, doía, esvaía, fluíste, ajuízara, ruíram, distraí-te, atribuí-o — Para desfazer o ditongo. Mas: retraia, saia; contribuirdes, remoinharam (não faz ditongo).

Saiu, atraiu, afluiu, contribuiu, redarguiu.

Averigúe(s), mas abrigue(s); argúi(s), mas redargui(s); obliqúe(s), mas verifique(s); delinqúi(s), mas retorqui(s).

Falamos-falámos, cantamos-cantámos.

Demos [ê] e démos.

Pode e pôde.

Anui-anuí; influi, influí; contribui-contribuí.

Outros casos: para mim, pára aí; péla as amêndoas, vai pela sombra; vem pôr o chapéu, por favor.

Pôr — É acentuado, mas nenhum dos seus compostos o é: antepor, compor, depor, dispor, repor, supor.

A 1ª pessoa do plural (nós), nos pret. imp. e mais-que-perf. do ind., no pret. imperf. do conj. e no condicional, é invariavelmente esdrúxula — e, portanto, acentuada: éramos, estivéramos, tivéssemos, haveríamos; falávamos, comêramos, dormíssemos, poríamos.

Enjoo, doo (de doar), roo (de roer).

Fora [ô], tanto do verbo ser como do ir, e fora [ò] só se distinguem no contexto da frase: Saiu porta fora; Não fora ele andar por perto, ninguém lhe teria valido.

For não é acentuada, ao contrário de pôr, que tem de se distinguir de da prep. "por".

Subst./adject. esdrúxulos — formas verbais: anúncio-anuncio; cópia-copia; débito-debito; dívida-divida; estímulo-estimulo; fórmula-formula; hábito-habito; injúria-injuria; lástima-lastima; ludíbrio-ludibrio; mágoa-magoa; notícia-noticia; número-numero; página-pagina; prática-pratica; récita-recita; renúncia-renuncia; trânsito-transito; último-ultimo; vício-vicio.

= existe; muito dif. de à (prep.+art.)

Poder e puder

Soube, mas pôde.


Concordâncias

O verbo concorda em princípio com o sujeito, mas também com o predicativo do sujeito, com verbos como ser, estar e parecer. Seguem-se alguns casos que suscitam mais dúvidas ou originam mais erros.

A concordância dos verbos com o sujeito é determinada em muitos casos, numa aparente irregularidade, ou pela dominância do elemento mais próximo ou por se dar mais ênfase a um dos elementos da frase.

Assim, por exemplo, numa frase com um sujeito composto, se há inversão de sujeito e predicado, a concordância faz-se espontaneamente com o mais próximo. Ex.: Chegou tarde o professor e o aluno.

Em frases com alternativas — ou… ou…; nem… nem… —, usa-se o singular se a acção de um dos sujeitos exclui o outro e o plural se abarca ambos. Ex.: Ou o pai ou o filho será nomeado para o cargo, mas nem um nem o outro parecem interessados nisso.

Quem e que a introduzir uma frase determinam concordâncias diferentes. Ex.: Fui eu quem chegou primeiro, não foste tu que chegaste primeiro; ou: Fui eu que cheguei primeiro, não foste tu quem chegou primeiroquem + 3ª pess. sing.; que + verbo a concordar com o antecedente do que.

A expressão (um) dos que é seguida de plural. Ex.: Foi um investigador incansável e um dos que mais contribuíram para o avanço da ciência; Ele é dos que gostam da vida bucólica. A influência da ênfase na determinação até de uma irregularidade é muito clara em frases deste tipo com ser na 1ª pess. sing., eu sou, e conforme se trate de afirmativa ou negativa. Ex.: Eu sou dos que mais trabalho (a mensagem essencial é "eu trabalho"); Não sou dos que protestam por tudo e por nada (se não protesto, não uso o verbo na 1ª pessoa).

Com expressões como o grosso de, o resto de, (a maior) parte de, a maioria de (seguido de subst. pl.), o verbo irá no singular, mas também pode ir no plural, recaindo a ênfase mais no conjunto ou mais nos elementos que o compõem. Ex.: Um grupo de ciclistas fugiu/fugiram do pelotão; O resto das pessoas perderam-se quando escureceu. O mesmo se dá com os subst. colectivos quando se especifica de quê. Ex.: Um bando de gaivotas sobrevoava os barcos de pesca; Uma matilha de cães vadios viraram os caixotes em busca de alimento.

A seguir às expressões cerca de, mais de/que, menos de/que, o verbo vai no plural. Ex.: Cerca de/mais de/menos de uma vintena quiseram continuar. Curioso é que com mais de um se usa quase sempre o singular. Ex.: Mais de um desistiu a meio. E com menos de dois (que não é bem um…) se mantém o plural. Ex.: Procurei em todos os jornais desde há um mês e faltam-me menos de dois.

N.B. — Há ou havia, no sentido de existir, e os compostos, como teria havido ou podia haver, bem como trata-se de ou tratava-se de são sempre usados no singular.


Particípios passados duplos

Em geral, um é regular, formado sobre o verbo em português e o outro é irregular, ou melhor, formou-se directamente do latim ou é uma forma contraída do primeiro — prendido, preso; expulsado, expulso. Também por regra se considera que a forma regular se utiliza com os auxiliares ter e haver e a irregular com ser e estar, bem como com ficar, andar, ir, vir — aceitado, aceite. Nada disto, porém, será muito taxativo, porque as excepções são mais que muitas. Acresce que grande parte dos ditos irregulares são antes adjectivos, pois nem se utilizam na passiva, com o aux. ser, mas apenas nas frases com estar, ficar, etc. — absorvido, absorto; convencido, convicto —, ou nem isso e são meros adjectivos formados de facto de um remoto particípio do verbo — abstracto, nato, surto. Eis uma listagem distinguindo o seu uso mais corrente:

 

ter, haver

ser

estar/ficar

adj./subst.

abrir

aberto

abstrair

abstraído

abstracto

aceitar

aceitado

aceite

acender

acendido

aceso

afligir

afligido

aflito

assentar

assentado

assente

atender

atendido

atento

cativar

cativado

cativo

cobrir

cobrido

coberto

completar

completado

completo

confundir

confundido

confuso

convencer

convencido

convicto

corrigir

corrigido

correcto

corromper

corrompido

corrupto

descalçar

descalçado

descalço

dispersar

dispersado

disperso

eleger

elegido

eleito

empregar

empregado

(empregue)

encarregar

encarregado

(encarregue)

entregar

entregado

entregue

enxugar

enxugado

enxuto

envolver

envolvido

envolto

escrever

escrito

expressar

expressado

expresso

exprimir

exprimido

expresso

expulsar

expulsado

expulso

extinguir

extinguido

extinto

fartar

fartado

farto

findar

findado

findo

fixar

fixado

fixo

ganhar

ganhado

ganho

gastar

gastado

gasto

imprimir

imprimido

impresso

incluir

incluído

incluso

infectar

infectado

infecto

inquietar

inquietado

inquieto

isentar

isentado

isento

inserir

inserido

inserto

juntar

juntado

junto

libertar

libertado

(livre)

liberto

limpar

limpado

limpo

manifestar

manifestado

manifesto

matar

matado

morto

morrer

morrido

morto

murchar

murchado

murcho

nascer

nascido

nato

ocultar

ocultado

oculto

omitir

omitido

omisso

oprimir

oprimido

opresso

pagar

pago

perverter

pervertido

perverso

prender

prendido

preso

pretender

pretendido

pretenso

repelir

repelido

repulso

restringir

restringido

restrito

revolver

revolvido

revolto

romper

rompido

roto

salvar

salvado

salvo

secar

secado

seco

segurar

segurado

seguro

situar

situado

sito

soltar

soltado

solto

submeter

submetido

submisso

submergir

submergido

submerso

sujeitar

sujeitado

sujeito

surgir

surgido

surto

surpreender

surpreendido

surpreso

suspeitar

suspeitado

suspeito

suspender

suspendido

suspenso

tingir

tingido

tinto

torcer

torcido

torto

vagar

vagado

vago

Notas diversas

Caem — do verbo cair; como saem, de sair; doem, de doer, ou roem, de roer. O som i que muitos pronunciam, como em "vou à(i) água", é um desvio na fala, que apenas se regista na escrita se for para salientar a característica da pronúncia.

Compostos — Recomenda-se atenção aos compostos a partir de verbos irregulares, que têm algumas formas "traiçoeiras" — intervir faz interveio, porque vem de vir e não de ver, ambos irregulares, de resto. Já requerer derivou de querer, mas conjuga-se de forma regular, por exemplo, requeri, requereste, requereu. Também se tropeça nos compostos de ter: ater, conter, deter, entreter, obter, suster.

Condicional — É um tempo verbal a usar com parcimónia, pois foge à precisão desejável num texto jornalístico. Eis um mau exemplo: De acordo com uma informação divulgada na Rádio Macau, teria sido o Governo de Lisboa que teria montado uma manobra de informação para divulgar as acusações de que Carlos Melancia teria recebido 50 mil contos. (...) [Carlos Melancia] negou a autenticidade da carta, cuja assinatura seria falsa, e também que ela tivesse dado entrada (...).

De que — Tal como aponta a construção, agora tão conhecida, "Penso eu de que", abusa-se desta regência. Pensar, dizer, afirmar e todos os outros verbos que explicitam formas de dizer não são regidos pela preposição de. É certo que se "tem provas de…", mas é porque se "pode provar que…".

Discurso indirecto — Há regras muito precisas para a passagem do discurso directo ao indirecto e os verbos, em princípio são sempre alterados, porque mesmo nos casos em que se mantenha o presente, mudam as pessoas do sujeito. Ex.: Não vou. — Diz que não vai. Se o discurso indirecto for introduzido com um tempo passado, então entra em jogo uma série de correspondências entre os tempos do disc. directo e os do indirecto. Ex.: Não sei se estará bom tempo. Se hoje não chover, mais logo vou fazer umas compras perto de tua casa. — Disse que não sabia se estaria bom tempo e que, se, ontem/naquele dia, não chovesse, mais tarde ia/vinha fazer umas compras perto de minha casa. N.B. — No discurso indirecto, em princípio, não se usa a primeira pessoa como sujeito.

Ensimesmar-se — Este verbo tem a particularidade de uma dupla flexão pronominal reflexa, conjugando-se mesmar-se antecedido da flexão de em+pron. pess. complem.: emmimmesmo-me, entimesmas-te, ensimesma-se, ennosmesmamo-nos, envosmesmais-vos, ensimesmam-se. O particípio passado varia segundo a mesma regra: fiquei emmimmesmado, ficaste entimesmado, ficou ensimesmado

For — Forma do verbo ser e do verbo ir. Nem num caso nem no outro é acentuada.

Fora — A forma dos verbos ser e ir não é acentuada e só no contexto da frase se distingue do advérbio fora, relativo a exterior.

Haver — No sentido de existir é impessoal e sempre no singular. Ex.: que tempos não te via! Havia muitos livros para arrumar. Mesmo nos tempos compostos. Ex.: Tem havido vários mal-entendidos; Pode ter havido factos que desconheces.

Informar — Informa-se alguém de alguma coisa ou de que… Ex.: Informou os passageiros de que o avião estava atrasado — informou-os do atraso. Mas, quando não está presente o compl. ind., pode-se suprimir o de. Ex.: Já informaram que o avião está atrasado.

Intervir — Composto do verbo vir, conjuga-se da mesma maneira: intervenho, intervinha, intervim, intervieste, interveio, intervindo (ou intervido) são alguns casos de formas que, às vezes, "saem" mal.

Pôr — Os compostos antepor, apor, compor, contrapor, depor, dispor, expor, impor, pospor, prepor, propor, repor, supor, transpor não levam "chapelinho".

Quis — Mas diz e fiz: quando um verbo não tem z no infinito, não o tem em nenhum outro tempo.

Reaver — Composto de haver, só se conjuga nas formas em que haver tem v, por isso, no pres. do ind., só tem reavemos e reaveis e não tem presente do conjuntivo.

Regências — Os verbos em português têm inúmeras mudanças de sentido através da simples alteração das preposições que os regem. Encontram-se listas bastante desenvolvidas nos dicionários de verbos conjugados ou mesmo dedicados apenas às regências.

Verbos defectivos — São os que não se conjugam em todas as formas verbais, em geral devido à pronúncia que assumiriam. As formas inexistentes costumam ser substituídas por outro verbo — acautelar-se, em vez de precaver-se, p. ex. — ou por uma construção perifrástica em que o auxiliar é que é conjugado. Alguns exemplos: abolir, aturdir, banir, brandir, colorir, demolir, entre outros, agrupam-se pelas mesmas limitações; comedir-se, falir, foragir-se, punir, remir e outros pertencem a outro grupo; e há uns quantos com maior especificidade: adequar e antiquar; transir, de que só existe a forma transido; reaver; precaver-se; concernir e outros.