Cinema

Irmãos Lumiére, se preocupem. Sua criação pode ser reduzida a um arquivo *.*mpeg.

 

         Escrever sobre Cinema durante os dias de hoje é algo extremamente difícil. Não é devido à postura dos militares ou à imposição da ditadura, mas – infelizmente – pelo fato de que a produção cinematográfica no Brasil resume-se a alguns nomes. Decerto o cinema nunca recebeu o tratamento que merecesse, mas daí simplesmente não criar condições para que o cinema nacional não cresça é digno de um país terceiro-mundista (o que reafirma nossa condição).

         Este descaso com a sétima arte inicia-se nas mãos dos “produtores intelectuais”, os universitários (palavra que se tornou “piada” de uns tempos para cá), os detentores do poder da profusão intelectual. Isso é tão nítido que na edição passada de IdéiasLETRASpalavras, pedi aos leitores (que já não são muitos) que escrevessem algo sobre cinema. Como resposta, obtive a mesma de sempre: um vazio tão grande quanto os personagens de Woddy Allen.

         E, no entanto, é comum ouvirmos brasileiros falarem que filme nacional é uma porcaria. O que é lastimável do ponto de vista do Cinema Novo ou de filmes como Ed Mort. Talvez nem conheçamos nosso próprio Cinema para podermos emitir uma opinião. O que motiva a maior parte dos brasileiros a utilizarem tal termo para se referirem ao Cinema nacional é a fase conhecida como a “fase da pornochanchada”, uma era de decadência do Cinema nacional cujos cenários de seus filmes eram, freqüentemente, a boca do Lixo da cidade de São Paulo. Ou até mesmo as adaptações dos escritos de Nélson Rodrigues para a televisão. Entretanto, filmes como Macunaíma de Joaquim Pedro de Andrade são absolutamente dissolvidos da memória (se é que um dia foram constituídos). Deus e o diabo na terra do sol de Glauber Rocha (um dos ícones do Movimento Cinema Novo, que influenciou outros movimentos como o Tropicalismo).

         O que causa tamanha ojeriza em nós, brasileiros, diante de um filme nacional? Talvez seja ver Renato Aragão, Angélica, Xuxa e os monstros contra o baixo-astral. Mas a trajetória do Cinema nacional é muito menos conhecida para limitarmos nossas opiniões sobre os filmes de férias para crianças. Durante os anos 60 e 70 – após a áurea fase da Atlântida nos anos 50 – cineastas como Glauber, Nélson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro (diretor da clássica obra cinematográfica usando a rapsódia Macunaíma de Mário de Andrade) alteraram o rumo do cinema nacional – o que deveria ser reconhecido como “cinema novo”.

         Citei a clássica recriação do personagem herói de nossa gente por ouvir – em demasia – as repetições da cena do nascimento de Macunaíma – personagem interpretado por Grande Othelo e Paulo José – por bocas preconceituosas. Ou deveria classificá-las como “incultas”?

         E, é esta minha luta. Não diretamente pelo cinema, mas pela cultura nacional que ao cultivar Caetanos, Gils, Gals (Bethânias não participavam do movimento tão diretamente quanto os outros baianos) e Vandrés (nome talvez desconhecido por muitos que jamais falaram às flores) apenas mistificam um movimento que – sem dúvida – contribuiu para o engrandecimento da cultura popular brasileira. Entretanto, escondem uma cultura muito maior, a cultura brasileira. Não a “de massa”, mas a “da massa”.

 

Eduardo Messias Oliveira é estudante de Língua e Literatura Brasileira da UMESP